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4 O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS 83 

4.4  Procedimento 120 

4.4.2 Julgamento e decisão 125

Em prosseguimento, é oportunizada a participação das partes e do Ministério Público, bem como das pessoas, órgãos e entidades interessadas na controvérsia, as quais poderão apresentar suas razões, juntar documentos e requerer diligências. Além disso, são admitidas a participação do amicus curiae e a realização de audiência pública para a oitiva do depoimento de experts (CPC/2015, art. 983 e parágrafos).

Com efeito, a doutrina diverge a respeito do conceito de parte, sendo, para uns485, aquele que figura nos polos ativo e passivo da ação originária que deu causa ao incidente, e, para outros486, os autores e réus de todos os processos suspensos.

Importante, ainda, notar a diferenciação feita entre interessados e

amicus curiae, sendo os primeiros considerados como terceiro interveniente487

e o segundo como auxiliar do juízo, que tem a função de prestar esclarecimentos úteis e necessários ao deslinde do incidente, em razão de interesse institucional.

Essas iniciativas estão de acordo com a tendência de ampliação do contraditório, encontrada na disciplina processual, e também são vistas em procedimentos complexos que privilegiam o extenso debate para a resolução da controvérsia, como o controle concentrado de constitucionalidade, realizado pelo Supremo Tribunal Federal, e o julgamento de recursos repetitivos pelo Superior Tribunal de Justiça, realizado à luz do CPC/1973.

Tal concepção, entretanto, está a meio caminho entre a liberdade conferida à atuação das partes nas ações individuais e a impossibilidade de

485 NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015. p. 1.974.

486 BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado cit., p. 625-626. 487 Como esclarece Daniel Assumpção, terceiros intervenientes têm a qualidade de assistente

litisconsorcial (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil – Lei 13.105/2015 cit., p. 508).

atuação direta dos substituídos nas ações coletivas, pois admite uma participação apenas limitada dos titulares das demandas isomórficas.

Tomadas as providências instrutórias, é marcada data para o julgamento do incidente, o qual terá prioridade diante dos demais processos, salvo nos casos de réu preso, habeas corpus (CPC/2015, art. 980) e, como é intuitivo, mandado de segurança (art. 20 da Lei 12.016/2009).

No ato do julgamento, poderão as partes e o Ministério Público sustentar oralmente as suas razões, pelo prazo de 30 minutos. Em adição, poderão os interessados apresentar sustentação oral, caso assim requeiram até dois dias antes da sessão de julgamento, pelo prazo de 30 minutos. O tempo para manifestação dos interessados é dividido igualmente entre os que se manifestarem nessa condição, podendo, porém, caso sejam muitos os inscritos, ser alargado (CPC/2015, art. 984 e § 1.º).

Julgado o incidente, a decisão deverá abranger todos os fundamentos relevantes, favoráveis e contrários à questão jurídica analisada, sustentados por aqueles que dele participaram (CPC/2015, art. 984, § 2.º).

A decisão obtida por meio do incidente gera efeitos perante a integralidade dos processos que discutam idêntica questão jurídica e que estejam tramitando no âmbito de atuação do respectivo tribunal, sejam eles individuais, coletivos ou de competência dos Juizados Especiais (CPC/2015, art. 985, I).

Não bastasse, a decisão tem eficácia vinculante, autorizando que órgãos, entes e agências reguladoras, conforme o caso, fiscalizem sua obediência, sendo ainda passível de aplicação a casos futuros (CPC/2015, art. 985, II e § 2.º).

A aplicação da tese jurídica, no entanto, não é automática, devendo ser feita uma análise de compatibilidade entre o decidido e as discussões encetadas nos casos concretos em que tem aproveitamento potencial, sob

pena de infringência aos arts. 10, 489, § 1.º e incisos, e 927 e § 1.o, da novel

legislação processual.

Caso haja irresignação em face do decidido, supõem-se autorizados a recorrer quaisquer dos legitimados ativos para a propositura do incidente (CPC/2015, art. 996 e parágrafo único) ou mesmo os demais interessados, assim como, este de acordo com a lei, o amicus curiae (CPC/2015, art. 138, § 3.º), por meio de Recurso Especial e/ou Extraordinário contra a respectiva decisão, desde que de mérito (CPC/2015, art. 987).

Gize-se que tal interposição não pode deixar de considerar o comando dos arts. 102, III, e 105, III, da CF/1988, os quais devem ser observados para que seja autorizada a interposição dos apelos extremos.

Os recursos, em regra, serão recebidos no efeito suspensivo, sendo ainda presumida a repercussão geral em sede de Recurso Extraordinário (CPC/2015, art. 987, § 1.º), além do que podem ensejar a suspensão dos processos, nesse caso em todo o território nacional, que possuam questão comum (CPC/2015, art. 982, §§ 3.º e 4.º c/c art. 1.029, § 4.º).

Por fim, a decisão do incidente diz-se vinculante, nesse caso e no de âmbito local, porque de observância obrigatória pelos juízes e tribunais, ex vi do art. 927, caput, do CPC/2015, além do que cabível reclamação ao órgão do qual exarada, caso seja inobservada a tese construída (CPC/2015, art. 988, IV).

Em todo caso, a tese fixada no incidente se aplica até que seja eventualmente revista, de ofício, pelo tribunal, ou em procedimento a ser iniciado apenas pela Defensoria Pública e pelo Ministério Público (CPC/2015, art. 986), não havendo previsão expressa quanto à possibilidade de pedido de revisão por iniciativa da parte (CPC/2015, art. 987 c/c art. 977, III). Essa revisão deve ser excepcional, porquanto recomendável apenas quando transformações econômicas, sociais ou políticas vierem a obrigar a mudança de entendimento.

O procedimento de revisão, apesar de não exaustivamente previsto, deve contar com ampla participação dos interessados na questão, não afastada a possibilidade de realização de audiência pública, devendo, ainda, a decisão pela modificação do entendimento ser igualmente bem fundamentada, demonstradas as mudanças fáticas que lhe autorizaram (art. 927, §§ 2.º e 4.º, do CPC/2015). De se ressaltar, por derradeiro, que os efeitos da revisão podem ser modulados, caso assim reclamem o interesse social e a segurança jurídica (art. 927, § 3.º, da nova Lei Processual Civil).

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ANÁLISE CRÍTICA DO INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE

DEMANDAS REPETITIVAS

Como todo instituto jurídico, o incidente de resolução de demandas repetitivas apresenta aspectos favoráveis e desfavoráveis, sendo, em qualquer caso, debitário à conformidade dos preceitos constitucionais.

Nesse sentido, tanto sob o ponto de vista técnico quanto prático, deve seguir as normas constitucionais de natureza processual, as quais devem orientar as atividades desenvolvidas pelos órgãos jurisdicionais e o trabalho desempenhado pelos profissionais do Direito.

É a análise de alguns desses aspectos, positivos e negativos, que será feita ao longo do presente capítulo.