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4 O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS 83 

4.4  Procedimento 120 

4.4.1 Requerimento e admissibilidade 120

Atendidos os requisitos citados, cabe ao juiz, ao relator – estes dois de ofício –, às partes, ao Ministério Público ou à Defensoria Pública – nesses casos, por petição – requerer a instauração do incidente (CPC/2015, art. 977 e incisos), independentemente do pagamento de custas471.

De efeito, o rol de legitimados assemelha-se àquele previsto nas disposições anteriormente encontradas nos arts. 476 e 555, § 1.º, do CPC/1973, justificado pelo interesse público na resolução da matéria472, que

enseja, por exemplo, a participação do Ministério Público e da Defensoria

469 CPC/2015, art. 976, § 4.º.

470 CPC/2015, art. 977, parágrafo único. 471 CPC/2015, art. 276, § 5.º.

472 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 476 a 565. 16. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2012. v. V, p. 14-17 e 672-673.

Pública473, no exercício de suas finalidades institucionais, sem propriamente

perquirir a demonstração de interesse social ou de hipossuficientes, respectivamente474. A intenção do comando parece ser de impedir que

limitações à legitimidade de quaisquer dos indicados no rol venham a obstar a instauração do incidente.

Aliás, o interesse público na instauração do IRDR justifica a regra pela qual o Ministério Público, quando não figurar como legitimado ativo, tem o dever de assumir a sua titularidade para o caso de o requerente originário desistir ou abandonar o incidente475, bem como fundamenta a possibilidade de ser reproposto em caso de eventual inadmissão, uma vez superado o obstáculo que lhe impediu a tramitação476.

No caso, os requerimentos devem ser acompanhados de acervo documental, pelo qual é possível averiguar a existência dos múltiplos processos, identificá-los individualmente e constatar sua mútua semelhança, no intuito de apurar a pertinência dos argumentos constantes do pedido de instauração do incidente477.

Dentre os requisitos do IRDR, porém, não está definido em lei se caberá aos legitimados ativos ou ao órgão competente para apreciar o requerimento indicar uma ou várias causas representativas da controvérsia, bem como não é especificado se o procedimento de identificação da questão comum ou de questões comuns deverá seguir quaisquer outros critérios específicos.

473 A ampla legitimidade da Defensoria Pública em casos simulares, inclusive, foi acolhida em entendimento recentemente confirmado pelo STF (STF, Plenário, ADIn 3.943/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 06 e 07.05.2015, Informativo 784).

474 Em sentido contrário: CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Anotações sobre o incidente de resolução de demandas repetitivas previsto no projeto do novo CPC cit., p. 270-272.

475 CPC/2015, art. 276, § 2.º. 476 CPC/2015, art. 976, § 3.º.

Ato contínuo, deve o pedido ser direcionado ao Presidente do Tribunal de Justiça Estadual ou Tribunal Regional Federal478, o qual distribuirá o

incidente a relator que componha o órgão indicado pelo respectivo Regimento Interno479 – preferencialmente que tenha competência para uniformizar a

jurisprudência –, a quem caberá admiti-lo e julgá-lo em decisão colegiada (CPC/2015, arts. 978 e 981).

Nesse diapasão, correta foi a supressão da regra que atribuía ao pleno ou órgão especial a competência para apreciar e julgar o incidente fundado em matéria constitucional, orientação inclusive desnecessária em face da previsão do art. 97 da CF, berço da cláusula de reserva de plenário.

A escolha do órgão competente, assim, é feita independentemente do seu conhecimento especializado sobre a matéria, bastando que seja aquele responsável por uniformizar a jurisprudência.

Registre-se que a decisão paradigmática exarada pelo órgão competente será aplicada aos diversos processos que contenham a mesma discussão de direito, sejam eles ações em trâmite no primeiro grau de jurisdição, recursos em segunda instância, ou sejam os demais feitos que se encontrarem no âmbito da competência do respectivo tribunal (CPC/2015, art. 985, I).

Nesse sentido, é importante advertir que ao órgão competente cumpre não apenas fixar a tese definidora de posicionamento sobre determinada questão de direito, como também solucionar casos concretos objeto de

478 O entendimento é derivado de interpretação sistemática em razão da ausência de disposição expressa indicando o tribunal local como competente para julgar o IRDR, sendo essa conclusão obtida pela leitura conjunta dos arts. 977, 982 e 987 do CPC/2015. Esse raciocínio também decorre da análise da tramitação legislativa do PL 166/2010, do Senado Federal, e do PL 8.046/2010, da Câmara dos Deputados, que deram origem ao novo Código de Processo Civil, nos quais se observava, inclusive, menção expressa quanto à competência dos tribunais locais para apreciar o incidente. Sobre o assunto ver relatório do deputado Paulo Teixeira, publicado no Diário da Câmara dos Deputados de 27 de março de 2014, p. 92 e ss.

479 Note-se que a fixação da competência para apreciar e julgar o incidente é feita pelo Regimento Interno em razão de expressa disposição constitucional (art. 96, I, a, da CFRB/1988), pelo que resta vedado à legislação processual civil fazer qualquer previsão em sentido contrário.

recurso, remessa necessária ou processo de competência originária, de onde se originou o incidente (CPC/2015, art. 978, parágrafo único) 480.

Prosseguindo o procedimento, uma vez recebido o requerimento, será ele sucedido de ampla e específica divulgação e publicidade por meio de registro eletrônico no Conselho Nacional de Justiça, com informações fornecidas de imediato pelos tribunais locais, que são obrigados a manter banco de dados atualizado sobre a questão de direito submetida ao incidente (CPC/2015, art. 979 e § 1.º). As informações devem conter, no mínimo, os fundamentos e dispositivos afetos à discussão, de modo a poder ser compreendida não apenas pelos operadores do Direito, mas por toda a sociedade (CPC/2015, art. 979, § 2.º)481.

A iniciativa é deveras importante para auxiliar na identificação dos critérios que devem ser utilizados na suspensão de processos, bem como para permitir que os demais interessados possam conhecer e integrar, se assim desejarem, o incidente, e, posteriormente, para dimensionar a extensão dos efeitos da decisão482.

Ato contínuo, realizado o juízo de admissibilidade, por decisão irrecorrível483, incumbirá ao relator determinar a suspensão de processos existentes no âmbito de atuação do respectivo tribunal, requisitar, se assim entender pertinente, informações sobre eles aos órgãos onde tramitam e intimar o Ministério Público para manifestar-se na condição de custus legis, atribuindo significativa importância à sua participação (CPC/2015, art. 982 e incisos).

480 Em sentido diverso, afirmando tratar-se de prevenção do órgão competente para o julgamento dos referidos feitos, cf. THEODORO JÚNIOR, Humberto e outros. Novo CPC: fundamentos e sistematização. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 337.

481 Esse mesmo tratamento é conferido aos recursos repetitivos e à repercussão geral pelo Código de Processo Civil de 2015.

482 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil – Lei 13.105/2015. São Paulo: Método, 2015. p. 506-507.

483 A irrecorribilidade da decisão que admite o incidente é ínsita à inteligência dos comandos dispostos nos arts. 976, § 3.º, e 987 do CPC/2015.

Destaque-se que a suspensão dos processos alcança tanto ações individuais como ações coletivas, assim como as demandas que estiverem em trâmite perante os Juizados Especiais (CPC/2015, art. 982, I). Da medida deve ser comunicado o juízo onde corre o processo (CPC/2015, art. 981, § 1.º).

Demais disso, o pedido de suspensão pode ser estendido a todo o território nacional, quando assim requerido por um dos legitimados indicados no art. 977, II e III, e por aqueles que estiverem na situação prevista no art. 982, § 4.º, ambos do CPC/2015, desde que endereçado requerimento aos tribunais superiores – como se deflui da inteligência do art. 982, §§ 3.º e 4.º c/c o art. 1.029, § 4.º, da renovada legislação processual civil.

A paralisação dos processos, nada obstante, não impede a apreciação do pedido de tutela de urgência pelos juízes de origem, nem afasta a possibilidade de o titular de processo suspenso contestar o indevido sobrestamento do feito de que é parte (CPC/2015, art. 982, § 2.º). Apesar de ausente expressa previsão legal nesse sentido, inafastável o entendimento de que cabe àquele que teve seu processo suspenso demonstrar sua irresignação por meio de simples petição, sem contar a possibilidade de impetração de mandado de segurança484.

A suspensão do processo poderá perdurar por um ano, período no qual deverá ser julgado o IRDR, salvo fundamentada determinação do relator prorrogando esse prazo. Em qualquer hipótese, passado esse ínterim, cessa a suspensão (CPC/2015, art. 980 e parágrafo único).

Dito isso, vê-se que as fases de requerimento e admissibilidade do incidente revelam a forma pela qual se pretende dar tratamento às demandas individuais e ao interesse público que subjaz de seus comandos.

484 Durante as tratativas do projeto de lei do CPC/2015, realizadas nas Casas do Congresso Nacional, foi aventada a possibilidade de utilização de agravo de instrumento contra a determinação que mantém a suspensão do processo individual. No entanto, a possibilidade foi afastada, seja porque inexiste previsão sobre o assunto nos dispositivos que tratam do IRDR, seja porque não é apontada como uma das hipóteses de cabimento do agravo de instrumento pelo art. 1.015. Sobre o assunto, ver Parecer Final 956, do Senador Vital do Rêgo, publicado no Diário do Senado Federal de 9 de dezembro de 2014, p. 46 e ss.