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Késia Pereira da Silva 1 , Mikael Quaresma Rodrigues 1 e Karina Morais

CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ACERCA DOS RISCOS OCUPACIONAIS EM UNIDADES

Melo 1 Késia Pereira da Silva 1 , Mikael Quaresma Rodrigues 1 e Karina Morais

Wanzeler1

1. Universidade da Amazônia (UNAMA), Belém, Pará, Brasil; 2. Universidade do Estado do Pará (UEPA), Belém, Pará, Brasil.

RESUMO

Os profissionais de enfermagem que atuam no âmbito da Atenção Básica estão expostos a elevados riscos advindos de sua atividade laboral, relacionados à exposição a uma ou mais condições de trabalho que possam ocasionar agravos e consequências ao equilíbrio físico, mental e social. O estudo tem por objetivo compreender os conhecimentos que os profissionais de enfermagem têm a respeito dos riscos ocupacionais nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), com destaque ao uso de equipamentos de proteção individual (EPIs). Trata- se de estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado com doze profissionais de enfermagem atuantes em UBS, através de entrevista semiestruturada, composta por dados de identificação e questões relacionadas ao risco ocupacional e uso de EPIs. O estudo originou três categorias temáticas: Conhecimento sobre riscos ocupacionais; exposição ao risco e acidente de trabalho; e, utilização de EPIs pelos profissionais de enfermagem. Os entrevistados mostraram ter conhecimento básico sobre os riscos ocupacionais e grande parte concordou que o uso de EPIs é fundamental para a prevenção de agravos e promoção da saúde. Em contrapartida, houve relatos sobre a não-utilização dos EPIs, com itens relativos à falta de recursos, de tempo e esquecimento. Faz-se necessário a utilização de medidas educativas para reforçar a promoção da saúde na prevenção de agravos a fim de reverter a baixa adesão às recomendações da utilização de barreiras de proteção.

Palavras-chave: Profissionais de Enfermagem, Risco ocupacional e Acidentes de Trabalho.

ABSTRACT

Nursing professionals who work in the scope of Primary Care are exposed to high risks arising from their work activity, related to exposure to one or more working conditions that can cause injuries and consequences for physical, mental and social balance. The study aims to understand the knowledge that nursing professionals have about occupational risks in Basic

Health Units (UBS), with emphasis on the use of personal protective equipment (PPE). This is a descriptive study with a qualitative approach, conducted with twelve nursing professionals working in UBS, through semi-structured interview, composed of identification data and issues related to occupational risk and use of PPE. The study originated three thematic categories: Knowledge about occupational risks; exposure to risk and accidents at work; and, use of PPE by nursing professionals. The interviewees showed to have basic knowledge about occupational risks and a large part agreed that the use of PPE is fundamental for the prevention of diseases and health promotion. On the other hand, there were reports on the non-use of PPE, with items related to the lack of resources, time and forgetfulness. It is necessary to use educational measures to reinforce health promotion in the prevention of health problems in order to reverse the low adherence to the recommendations for the use of protective barriers.

Keywords: Nursing professionals, Occupational risk and Work Accidents.

1. INTRODUÇÃO

A saúde do trabalhador configura-se como um campo de práticas e de conhecimentos estratégicos, técnicos, sociais, políticos, humanos, multiprofissionais e interinstitucionais, voltados para analisar e intervir nas relações de trabalho que provocam doenças e agravos. Seus marcos referenciais são a promoção, prevenção e a vigilância (GOMEZ; VASCONCELLOS; MACHADO, 2018).

Um avanço para a Saúde do Trabalhador diz respeito à Política Nacional de Saúde do Trabalhador instituída no Brasil pela Portaria n° 1.823 de 23 de agosto de 2012, a qual define princípios, diretrizes e estratégias nas três esferas do Sistema Único de Saúde (SUS), cujas ações devem estar direcionadas a proteção e promoção da saúde dos trabalhadores e redução da morbimortalidade nos processos produtivos.

Enquanto campo de estudos, a Saúde do Trabalhador busca compreender as relações entre o trabalho e o processo saúde/doença, que exige o conhecimento e intervenções, os quais estão compreendidos dentro dos processos de trabalho e sob perspectivas sociais, econômicas, tecnológicas e organizacionais (FERNANDES et al., 2017).

O trabalhador ao executar suas atividades laborais é submetido a determinados riscos que por estarem relacionados ao trabalho ou atividade são denominados de riscos ocupacionais. Considera-se risco uma ou mais condições de uma variável com potencial necessário para causar danos (SOUSA et al., 2016).

A biossegurança envolve a análise dos riscos a que os profissionais de saúde e de laboratórios estão constantemente expostos em suas atividades e ambientes de trabalho. A

avaliação de tais riscos engloba vários aspectos, sejam relacionados aos procedimentos adotados, as chamadas boas práticas em laboratório (BPL), aos agentes biológicos manipulados, à infraestrutura dos laboratórios ou informacionais, como a qualificação das equipes (BRASIL, 2006).

O Ministério da Previdência Social, em seu anuário estatístico, revelou que durante o ano de 2017 o setor de atividade econômica Saúde e Serviços Sociais apresentou um total de 70.538 casos de acidentes de trabalho, sendo, 67.080 casos com Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e 3458 acidentes sem CAT (BRASIL, 2018).

Define-se como acidente do trabalho aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional, permanente ou temporária, que cause a morte, a perda ou a redução da capacidade para o trabalho (BRASIL, 2018).

Os riscos ocupacionais estão relacionados à exposição a uma ou mais condições de trabalho que possam ocasionar agravos ao trabalhador e consequências no equilíbrio físico, mental e social dos mesmos (JESUS; FLORES; SANTOS, 2015).

Os acidentes podem ser classificados como típicos quando são decorrentes da característica da atividade profissional desempenhada pelo acidentado; de Trajeto quando ocorrido entre a residência e o local de trabalho e vice-versa; e acidentes devidos à doença de trabalho quando ocasionado por qualquer tipo de doença profissional determinado na tabela de previdência social (MONTEIRO; BERTAGNI, 2016).

Segundo a Portaria nº 3.214, do Ministério do Trabalho do Brasil, de 1978, os riscos ocupacionais podem ser classificados em cinco tipos e contém uma série de normas regulamentadoras (NR) que consolidam a legislação trabalhista, relativas à segurança e medicina do trabalho (BRASIL, 1995).

De acordo com as NR, o principal objetivo do mapeamento de riscos, consiste em classificar os riscos ocupacionais existentes no local analisado de acordo com sua natureza e padronização das cores correspondentes (BRASIL, 2012), conforme se apresenta no quadro 1.

De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), a Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que inclui aspectos vinculados à promoção e a proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades (BRASIL, 2011).

Quadro 1. Classificação dos principais riscos ocupacionais em grupos, de acordo com a

natureza e padronização das correspondentes GRUPO 1 VERDE GRUPO 1 VERMELHO GRUPO 1 MARROM GRUPO 1 AMARELO GRUPO 1 AZUL FÍSICOS QUÍMICOS BIOLÓGICOS ERGONÔMICOS ACIDENTES

Ruídos Vibração Radiação não ionizante Radiação ionizante Frio Calor Pressões Anormais Umidade Poeira Fumos Névoa Neblina Gases Vapores Substâncias, compostos ou produtos químicos em geral Vírus Bactérias Protozoários Fungos Parasitas Bacilos

Esforço Físico Intenso Levantamento e Transporte manual de pesos Exigência de postura inadequada Controle rígido de produtividade Imposição de ritmos excessivos Trabalho em turno noturno Monotonia e repetitividade Outras situações causadoras de estresse físico e/ou

psicológico Arranjo físico inadequado Máquinas e equipamentos sem proteção Iluminação inadequada Eletricidade Probabilidade de incêndio ou explosão Armazenamento Inadequado Animais peçonhentos Outras Situações de riscos que poderão contribuir para a ocorrência de acidentes Fonte: Norma Regulamentadora/NR 9, 2012.

Profissionais que atuam no âmbito da Atenção Básica estão expostos a elevados riscos advindos de sua atividade laboral, como também no cuidado domiciliar, com destaque para o risco envolvendo material biológico, por exemplo: na realização de curativos contaminados e/ou na aplicação de medicamentos endovenosos. Assim, ignorar o tema seria desviar o olhar dos diversos riscos aos quais os profissionais se expõem, em um cenário de grande representatividade da saúde atual (SOUSA et al., 2016).

Atualmente, um dos grandes desafios para os profissionais da saúde está relacionado ao risco com acidentes biológicos, potencialmente contaminados, em razão da exposição frequente a fluídos corporais, bem como de materiais contaminados (PAULA et al., 2017). Apesar disso, aparentemente, grande parte dos riscos passam despercebidos pelos profissionais (MELO et al., 2017).

Os profissionais de saúde apresentam deficit de conhecimento e falta de educação permanente sobre a biossegurança e os riscos ocupacionais, deixando evidente o conhecimento superficial sobre o tema e definições limitadas acerca dos riscos ocupacionais (MARTINS, 2017).

Nos espaços do trabalho, a equipe de enfermagem, depara-se com a estrutura física inadequada das Unidades Básicas de Saúde (UBS), escassez de recursos humanos e de

materiais, necessidade de deslocamentos diários para atendimento a domicílio, expondo os profissionais aos acidentes de trajeto, bem como a violência urbana, entre outros riscos ocupacionais (FERRAZ et al., 2015).

Os acidentes de trabalho e os riscos ocupacionais, relativos aos profissionais de enfermagem, relacionam-se em maior número, ao cuidado direto ao paciente que apresenta presença de secreções, de sangue, de fluídos corporais por incisões, sondagens e cateteres (CUNHA; GOMES, 2017).

Em todos os níveis da escala hierárquica que agrega a equipe de enfermagem encontram-se situações de trabalho que expõem os profissionais a riscos e doenças ocupacionais, portanto é necessário que todos que compõem a equipe de enfermagem possuam conhecimentos sobre a prevenção dos acidentes de trabalho e noções de biossegurança (ARCANJO et al., 2018).

Os profissionais de enfermagem se constituem em um público que na maioria das vezes cuidam de outras pessoas e se esquecem de si mesmo e do ambiente laboral. São profissionais que vêm a cada dia adoecendo, pelas condições insalubres de trabalho e ambientes desfavoráveis para o desenvolvimento de suas práticas (RIBEIRO, et al., 2012). Muitas vezes preocupam-se mais com a assistência oferecida aos usuários, do que com os riscos inerentes à execução de suas atividades, podendo-se perceber ainda o excesso de autoconfiança adquirida com os anos de experiência profissional (SANTOS; GOMES; MARQUES, 2015).

Os acidentes de trabalho são, algumas vezes, ignorados e não notificados devido ao desconhecimento da obrigatoriedade do procedimento, à não caracterização do episódio como acidente e ao medo do trabalhador acidentado de realizar a notificação (VILLARINHO; PADILHA, 2015).

Diante deste contexto é primordial que enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, possuam conhecimentos para sinalizar a importância do planejamento de estratégias de prevenção, com objetivo de reduzir a incidência de acidentes de trabalhos. Desta forma questiona-se: As equipes de enfermagem de Unidades Básicas de Saúde possuem conhecimentos acerca dos riscos ocupacionais aos quais estão expostos diariamente?

O estudo tem por objetivo compreender os conhecimentos que os profissionais de enfermagem têm a respeito dos riscos ocupacionais nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), com destaque ao uso de equipamentos de proteção individual (EPI).

2. MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado nas Unidades Básicas de Saúde Castanhalzinho e Canaã e Industrial, ambas localizadas no município de Barcarena, estado do Pará.

A UBS Castanhalzinho está localizada na PA 483, KM 19, S/N, Trevo da Alça Viária/ Barcarena, possui 2 enfermeira e 4 técnicos de enfermagem; e a UBS Canaã e industrial está localizada na rua Gabriel Hermes S/N, Vila do Conde/Barcarena e possui 02 enfermeiras e 04 técnicos de enfermagem. O município de Barcarena está localizado na região do Delta do rio Amazonas e faz parte do estado do Pará (Figura 1). Sua área total é de 1.316,2 km2 e

seu território é dividido por pequenas ilhas.

Figura 1. Localização do Município Barcarena no Pará. Fonte: (CARMO; COSTA, 2016).

A coleta de dados realizou-se no mês de dezembro/2019, com 12 profissionais de enfermagem, sendo quatro enfermeiros (as) e oito técnicos (as) de enfermagem atuantes nas UBS referidas. As visitas para a aplicação do questionário foram divididas em três dias da semana, quarta e quinta na UBS Castanhalzinho e sexta na UBS Canaã, ambas no período da tarde.

Foram incluídos profissionais de enfermagem, que atuam diretamente na assistência ao usuário (sala de imunização, teste do pezinho, sala de curativos e consultas de

enfermagem). Excluiu-se os demais profissionais das áreas médica, administrativa gestores e serviços gerais.

A coleta de dados desenvolveu-se em três etapas: Inicialmente foi agendada conversa com os gerentes das UBS escolhidas, cuja finalidade foi esclarecer os objetivos do estudo, apresentando a autorização prévia expedida pela Secretaria de Saúde de Barcarena; Na segunda etapa, os profissionais de enfermagem foram esclarecidos sobre as intenções da proposta de trabalho e convidados a participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Como terceira etapa, as entrevistas; agendadas em local reservado, com duração de quinze minutos, conforme horário definido e acordado pelos entrevistados. As respostas foram gravadas e transcritas pelos pesquisadores para análise.

A análise de conteúdo pautou-se em Bardin (2011), com pré-análise, descrição analítica e interpretação referencial. A análise do material, tomou por base o referencial teórico a fim de criar as categorias temáticas de estudo.

Para a prevenção dos riscos aos participantes na garantia de sigilo, para seus nomes, utilizou-se as iniciais PE (Profissionais de Enfermagem) e uma numeração crescente (Ex.: PE01, PE02, PE03, PE04...). Para as Unidades Básicas de Saúde, utilizou-se a sigla UBS e uma numeração crescente (Ex.: UBS01, UBS02...).

O estudo teve sua aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa/Universidade da Amazônia/ Plataforma Brasil, com o CAEE: 22507019.1.0000.5173.