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O ensino de língua estrangeira no Brasil

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 60-63)

1. OS CURSOS DE LETRAS PORTUGUÊS/ITALIANO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO

2.2 O ensino de língua estrangeira no Brasil

“O indivíduo, a sociedade e as línguas entram em jogo em uma relação didática que não escapa às regras de comunicação humana. O ensino de línguas estrangeiras só pode, com efeito, ser examinado como uma forma de troca comunicativa: ensinar é por em contato, pelo próprio ato, sistemas lingüísticos, e as variáveis da situação refletem-se tanto sobre a psicologia do indivíduo falante quanto sobre o funcionamento social em geral. Quem começa a aprender uma língua, adquire-a e a pratica em um contexto biológico, biográfico e histórico.” (MARTINEZ, 2009, p.15)

No Brasil, estudar uma língua estrangeira tem sido um desafio constante. As escolas não oferecem estruturas adequadas para o ensino de línguas estrangeiras como idealizado nos escritos dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCNs.

O documento associa o processo ensino/aprendizado da língua estrangeira à língua materna, agregando ao ensino de línguas estrangeiras valores como a compreensão de diferentes culturas e sociedades, compreensão de gêneros, tornando, assim, a compreensão da cultura, sociedade e língua de origem do aprendiz mais fácil. Propõe, também, que a comunicação oral e escrita seja prioridade no processo de ensino/aprendizagem de língua estrangeira.

Outra crítica que se faz à escola - construída para o povo – é o fato dela acentuar cada vez mais as desigualdades sociais e legitimá-las, segundo Soares:.

“Entretanto, essa escola para o povo é, ainda, extremamente insatisfatória, do ponto de vista quantitativo e, sobretudo, qualitativo. Não só estamos longe de ter escola para todos, como também a escola que temos é antes contra o povo que

para o povo: o fracasso escolar dos alunos pertencentes às camadas populares,

comprovado pelos altos índices de repetência e evasão, mostra que, se vem ocorrendo uma progressiva democratização do acesso à escola, não tem igualmente ocorrido a democratização da escola. Nossa escola tem se mostrado incompetente para a educação das camadas populares, e essa incompetência, gerando o fracasso escolar, tem tido o grave efeito não só de acentuar as desigualdades sociais, mas, sobretudo, de legitimá-las” (SOARES, 2008 p.6)

A incapacidade da escola de suprir as carências do aluno no processo de aquisição de uma língua estrangeira dialoga com os fatores citados por Soares (2008). As instituições de ensino, que deveriam ser um verdadeiro equalizador social, acabam ratificando esta diferença socioeconômica que existe no Brasil. Por estes fatos Soares (2008) afirma que a escola, por não cumprir com os pressupostos estabelecidos pelos PCNs, não atua para o povo e sim contra o povo.

“... a escola é muito mais importante para as camadas populares que para as classes dominantes. Para estas, ela tem, sobretudo, a função de legitimar privilégios já

garantidos pela origem de classe; para as camadas populares, a escola é a instância em que podem ser adquiridos os instrumentos necessários à luta contra a desigual distribuição de privilégios.” (SOARES, 2008, p.73)

Na escola se tem o lugar do ensino de língua estrangeira, disciplina que deveria ter papel fundamental par um combate à desigualdade social e econômica. Aprender uma língua estrangeira não só promove um conhecimento de novas culturas, sociedades, estruturas lingüísticas, mas, também, ajuda no desenvolvimento da língua materna e abre novos horizontes.

O processo de ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira tem seus reflexos na sociedade, tendo um cunho não unicamente pedagógico, mas, também, político. A estrutura física, como salas e laboratórios, como o número de alunos por sala de aula, são fatores determinantes para o sucesso da do processo ensino/aprendizagem. A motivação dos professores pode se construir, também, sobre as condições de trabalho nas quais eles se encontram, além dos baixos salários recebidos. É lógico que a existência de profissionais desmotivados afeta a estrutura pedagógica, afetando, assim, o ensino em geral.

Os fatores citados nos parágrafos precedentes influenciam no processo de aquisição de uma língua estrangeira. A população de baixa renda não possui muitas alternativas: os alunos dessa camada da sociedade estudarão em escolas públicas, a maioria com instalações ruins e sem escolha quanto à aprendizagem de uma língua estrangeira. Quando é oferecida, limita-se à língua inglesa, não respeitando, assim, o que os PCNs determinam.

2.2.1 O ensino de língua italiana no Brasil

A possibilidade de oferecimento da língua italiana como língua estrangeira nas escolas brasileiras ainda é muito rara, embora ela tenha contribuído para a formação da identidade brasileira devido à grande imigração italiana para o Brasil. Além disso, não se pode ignorar que a língua italiana é considerada uma língua de cultura, representante do berço da arte e por outros fatores.

No que se refere ao ensino da língua italiana nas Universidades, não existe, em todos os estados brasileiros, universidades com graduação em língua italiana. Segundo dados da ABPI (Associação Brasileira de Professores de Italiano) existem ao todo 15 instituições de nível superior onde é possível cursar uma graduação em italiano. (A lista das universidades: <http://abpionline.net/index.php?

se contabilizar as faculdades que oferecem curso pós-graduação em língua italiana e/ou literatura italiana esse número se faz ainda bem menor: as únicas Universidades que oferecem cursos de Mestrado e Doutorado em língua ou literatura italiana são a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Estadual de São Paulo (USP).

Outra opção para a pessoa que gostaria de estudar italiano são os cursos livres, e, em particular, nos Institutos Italianos de Cultura - IIC, órgão oficial do governo italiano para o ensino da língua e cultura italiana. Existem, ainda, redes de ensino com a opção de língua italiana: algumas universidades têm projetos de ensino de língua estrangeira para a comunidade, como, por exemplo, o CLAC da Universidade Federal do Rio de Janeiro; e hoje existe, também, a possibilidade do ensino a distância através da internet em sites como o “busuu” ( <http://www.busuu.com/pt> acesso em 13/01/2015)

Uma experiência reconhecida no ensino de italiano no Brasil é aquela da Escola bilíngüe de São Paulo, que ainda mantém a sua tradição: “Scuola Italiana Eugenio Montale” (<http://www.montale.com.br/br/paginas/nh_01.asp> acesso em 13/01/2015). Essa escola foi fundada por italianos que idealizavam manter uma italianidade aos estudantes dessa instituição de ensino. Era uma maneira de manter viva a língua e cultura italiana entre seus descendentes.

No Rio de Janeiro existiu, também, uma escola italiana – Scuola Italiana Guglielmo Marconi – mas não obteve o mesmo sucesso da escola italiana de São Paulo, pois já há alguns anos encerrou suas atividades.

Em outros Estados como o Rio Grande do Sul e Espírito Santo, pelo fato de terem recebido uma grande imigração italiana, a língua italiana faz parte da grade curricular de grande parte das escolas públicas, exemplo que deveria ser seguido por outros estados brasileiros.

Porém, não se pode ignorar que, a partir dos anos oitenta, houve, no Brasil, um grande avanço no ensino da língua e da cultura italiana. Era um período em que a Itália estava bem economicamente e com a criação da Lei 153/71 coloca em prática a promoção da língua e da cultura italiana no mundo. Várias atividades culturais foram promovidas pelo governo italiano e, consequentemente, aumentou o número dos alunos que queriam estudar a língua italiana.

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 60-63)