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CAPÍTULO I ENQUADRAMENTO GERAL

CULTURA, ARTE E EDUCAÇÃO EM EMBU DAS ARTES

3.5 Construção histórica da educação e suas legislações

3.5.1 Legislações da educação no Brasil

Legislação é um corpo de leis que regulariza determinada matéria ou ciência, ou ainda um conjunto de leis que organiza a vida de um país, ou seja, o que popularmente se chama de ordem jurídica e que estabelece condutas e ações aceitáveis ou recusáveis de um indivíduo, instituição, empresa, entre outros.

Durante o período colonial, a educação não foi uma prioridade para o governo português. Mesmo na metrópole não havia uma legislação específica para a educação ou a garantia de acesso ao que hoje chamamos letramento. Havia sim uma série de proibições

que visavam exercer controle social e político sobre a colônia.

A partir da Independência do Brasil, em 1822, a despeito de continuar inexistente uma legislação educacional, a Constituição de 1824 deu continuidade ao projeto pensado por D. João VI. A chamada Constituição de Gaveta, pensada pelo próprio Imperador, que dissolveu a Assembleia Constituinte. Ele fez a Constituição com a colaboração de uns poucos elementos de sua confiança, demonstrando uma tímida preocupação com a educação (Ramos, 2011, p.02).

Dentre outros direitos básicos, o título 5º. - “Das disposições gerais, e garantias dos direitos civis, e políticos dos cidadãos brasileiros”-, em seu artigo 179, no item 32, afirmava ser direito dos súditos do Imperador “a instrução primária, e gratuita”.

Segundo dados da época, apenas 3% da população brasileira tiveram acesso às escolas primárias gratuitas, estando fixado neste ponto o dualismo educacional que persiste até hoje, com o ensino público de um lado e o privado do outro. Tentando contornar a situação, uma lei, promulgada em outubro de 1827, determinou a criação de escolas elementares em “todas as cidades, vilas e lugarejos (Ramos, 2011, p. 02).

Neste período em que os primeiros passos da educação no Brasil estava sendo iniciados a legislação já citava a importância das Artes no ensino.

Trinta anos após essa primeira tentativa de legislação em 1854, D. Pedro II tentou reformular o ensino, promulgando decretos que modificaram a estrutura da educação e os conteúdos ministrados. O ensino primário foi padronizado com duração total de quatro anos, dividido em elementar e superior. No elementar eram ministradas as disciplinas de instrução moral e religiosa, leitura e escrita, noções elementares de gramática e princípios de aritmética e sistemas de pesos e medidas.

No superior essas mesmas disciplinas se desdobravam, originando dez outras, tal como história, geografia, entre outros. Para ingressar no secundário passou a ser exigido o diploma do primário. Neste sentido, o currículo do Colégio Pedro II, criado em 1837, foi adotado como parâmetro para a reorganização do secundário. Este último correspondia ao que hoje chamamos de Fundamental II e Médio, com duração de sete anos. É interessante notar que a Constituição de 1824 só garantia acesso gratuito ao ensino primário, equivalente ao atual Fundamental I, portanto, apenas quatro anos de escolarização. Era evidente a intenção do Estado de facilitar o acesso da população apenas

à alfabetização e letramento, assim como o domínio básico da matemática e demais áreas do conhecimento. (Ramos, 2011, p 02).

A Proclamação da República, em 1889, trouxe novas mudanças para a educação, sobretudo atreladas à Constituição de 1891. A nova Carta Magna, notabilizada pela laicização51 do Estado, pela separação entre política e religião, não mencionava a gratuidade da educação, tocava na questão do ensino de modo vago.

Novas mudanças tiveram que esperar até 1911, com a chamada reforma Rivadário Corrêa, nome do titular do Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores. A educação estava então subordinada à pasta, não tendo um Ministério próprio.

O Decreto n° 8.659 de 5 de abril de 1911, a Lei Orgânica do Ensino Superior e Fundamental, que foi complementada pelo Decreto n° 838 de 20 de outubro do mesmo ano. A reforma propunha a formação do cidadão ao invés de uma educação preparatória para o ensino superior, até porque este foi elitizado. “Na prática a lei conferiu total liberdade de organização e gestão aos estabelecimentos de ensino, referendando a não obrigação do Estado em oferecer educação gratuita, pois a presença dos alunos se tornou facultativa”. (Ramos, 2011, p. 04).

Uma reforma, em 1915, pela Lei n° 11.530, extinguiu os privilégios dos concluintes do Ginásio Nacional, os quais entravam direto nas faculdades, sem prestar exames. A lei instituiu os “exames vestibulares” como forma de ingresso nas faculdades, passando a exigir também o certificado de conclusão do curso ginasial (atualmente Fundamental II ou séries finais).

O Estado Novo de Getúlio Vargas, segundo Ramos, trouxe inúmeros avanços para a educação brasileira, dentre os quais uma legislação específica, quando pela primeira vez o debate em torno da questão mencionava a necessidade de uma Lei de Diretrizes, a qual, posteriormente, iria compor a LDB. Pressionado pela Revolução Constitucionalista de 1932, Vargas acabou promulgando uma nova Constituição em 1934. Esta sofreu forte influência do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, um movimento iniciado em 1932 por vinte e seis intelectuais que defendiam a educação como função essencialmente pública, gratuita, obrigatória, laica e única, desde o jardim da infância até a universidade,

51 Toda sociedade Laica é aquela que não possui religião e afasta de si os preceitos religiosos. A Laicização é o processo pelo qual a sociedade torna-se laica sem incentivos religiosos ou o pragmatismo natural das religiões.

dos quatro anos aos dezoito anos de idade. (Ramos, 2011).

A Constituição de 1934, logo nas “Disposições Preliminares”, no capítulo I, artigo 5º, que relata o que “Compete privativamente à União”, no inciso XIV, afirmava que o Estado deveria “traçar as diretrizes da educação nacional”. Portanto, admitindo a necessidade de uma legislação específica sobre a educação, o que, posteriormente daria origem à LDB.

A educação era entendida como agregando fatores da vida moral e econômica, além do desenvolvimento do “espírito brasileiro” e da “consciência da solidariedade humana”. A despeito de não mencionar a cidadania, este último artigo, junto com o artigo n° 113, deixava subentendido que seria função da escola formar o cidadão. Entretanto, o artigo n° 150, que fixava a fiscalização da educação em todos os níveis, em parágrafo único, afirmava que seria obrigatório e gratuito somente o ensino primário. O artigo n° 150 mencionava uma “tendência à gratuidade do ensino educativo ulterior ao primário”, mas não garantia acesso ao ginásio. Na prática apenas o acesso a quatro anos de escolarização era garantido pela Constituição.

Destaco aqui o artigo n° 148 que afirmava a preocupação com o desenvolvimento das ciências, das artes, das letras e da cultura em geral. Cabe à escola voltar a buscar subsídios para o envolvimento dessa disciplina.

A Constituição de 1937 marcou algumas alterações na maneira de conceber a educação brasileira. Uma das principais mudanças foi efetivada pelo artigo n° 130, o qual mantinha o ensino primário como obrigatório e gratuito. Aqui já encontramos a obrigatoriedade do ensino e artes através da realização de trabalhos manuais nas escolas.

Dentro do âmbito da Constituição de 1937, o Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, tentou reformar a educação por meio de uma série de decretos promulgados entre 1942 e 1946, inseridas nas denominadas Leis Orgânicas do Ensino.

A carência de mão de obra nas indústrias fez também a legislação favorecer o ensino técnico profissionalizante, com a criação do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) em 1942. Depois da queda de Vargas, em 1946, foi fundado também o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial). Igualmente em 1946, foi instituído o ensino supletivo de dois anos, tentando diminuir o elevado índice de analfabetismo entre jovens e adultos. Pela mesma altura foi criada a Escola Normal, ou magistério, (equivalente hoje ao ensino médio), com duração de três anos, porém o

objetivo deste ensino estava destinado a formar professores para o primário.

No período de 1937 a 1945 o estado político ditatorial implantado no Brasil, afastando das cúpulas diretivos educadores de ação renovadora, entravou o desenvolvimento da arte-educação e solidificou alguns procedimentos, como o desenho geométrico na escola secundária e na escola primária, o desenho pedagógico e a cópia de estampas usadas para aulas de composição em língua portuguesa. (Barbosa, 2007).

Em 1946, o Brasil teve sua 5º. Constituição promulgada, marcada pela redemocratização e o conceito de cidadania, vinculado em significativas melhorias na conquista de liberdades individuais.

Depois, em 1959, o deputado Carlos Lacerda apresentou um substitutivo vetando monopólio do ensino estatal, defendendo a continuidade da educação privada, que deveria permanecer convivendo com o ensino público e gratuito oferecido pelo poder governamental.

O golpe militar de 1964, que depôs João Goulart, deu início aos chamados anos de chumbo, um período caracterizado por forte repressão à liberdade de expressão, influenciando diretamente a legislação educacional. A Constituição de 1946 passou a sofrer uma série de emendas, até ser suspenso por seis meses pelo Ato Institucional nº1 (AI-1), sendo substituído pela Constituição de 1967, promulgada pelo Ato Institucional Nº. 4 (AI-4) (Ramos,2011).

A Lei n° 5.540/68 instituiu também o curso básico, com cursos de curta e longa duração, demonstrando uma tendência em centralizar o ensino médio em torno da profissionalização. As grandes modificações estruturais foram efetivadas pela LDB de 1971, quando a educação foi dividida no ensino de 1º e 2º Graus. O primário foi agregado ao ginásio, cada qual com quatro anos, compondo o 1º Grau; enquanto o ensino médio, com duração de três anos, sendo chamado de 2º Grau; já que o ensino superior passou a ser considerado o 3º Grau. A LDB fixou como 180 dias o mínimo para compor o ano letivo, excetuando períodos de provas e 90 dias de trabalho escolar. Assim como determinou a frequência mínima em 75%, minimizando as disciplinas de humanas, extinguindo filosofia e sociologia do 2º Grau, introduzindo como obrigatórias: educação física, educação moral e cívica, educação artística e programa de saúde. (Ramos, 2011, p. 10).

algumas iniciativas pontuais em alguns Estados, foi a Constituição de 1988 que tentou reformar a educação no Brasil.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB n° 9394/96) é a legislação que regulamenta o sistema educacional público ou privado do Brasil da educação básica ao ensino superior. Na história do Brasil, essa é a segunda vez que a educação conta com uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que regulamenta todos os seus níveis. A primeira LDB foi promulgada em 1961 (LDB n° 4024/61). A LDB n° 9394/96 reafirma o direito à educação, garantido pela Constituição Federal. Estabelece os princípios da educação e os deveres do Estado em relação à educação escolar pública, definindo as responsabilidades, em regime de colaboração, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Segundo a LDB n° 9394/96, a educação brasileira é dividida em dois níveis: a educação básica e o ensino superior.

No artigo n° 26, que trata dos currículos do ensino fundamental, é chamada base nacional comum. Abrange “o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil” (Carneiro, 2014, p. 98), o ensino da arte e a educação física. Deve ser complementada, entre outros itens, pela cultura, em suas características regionais e locais.

Segundo o artigo citado acima encontramos a disciplina de artes indo ao encontro da preservação do contexto cultural e regional do município de Embu das Artes.

O parágrafo 2° desse artigo, “o ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (LDB nº 9.394/96). Portanto todas as escolas devem manter em seu currículo esta disciplina, e cabe aos professores desenvolverem em seus planejamentos atividades para que nesse estudo cultural sejam mantidas as tradições da cidade.

Ainda sobre o artigo n° 26, Carneiro (2014) destaca a flexibilidade do currículo, proposta na nova LDB, considerando-a uma tendência contemporânea que prevê a diversificação de fontes para a sua construção. As fontes do currículo incorporam traços socioculturais (carências do aluno da sociedade), traços epistemológicos (características particulares das disciplinas e das articulações das disciplinas configurando uma área de conhecimento), traços psicopedagógicos (especificidades psicoevolutivas dos alunos e respectivas competências). A referência a conteúdos curriculares específicos [...] deve ser

interpretada como uma preocupação de se construir um currículo ativo, contemporâneo e empolgante, não apenas pela inclusão de disciplinas de base como Português e Matemática, mas também de disciplinas que ajudem a situar o aluno no mundo físico e em sua cultura. (Carneiro, 2014, p. 102)

O artigo n° 32 da LDB nº 9.394/96 apresenta como objetivos do ensino fundamental o desenvolvimento da capacidade de aprender, além da leitura, da escrita e do cálculo, sobre o ambiente natural e social, sobre a tecnologia e as artes. Também são citados aqui a formação de atitudes e valores, os vínculos de família, solidariedade e tolerância, além da aquisição de conhecimentos e habilidades. Ao falar de currículo, Carneiro (2014) lembra o artigo 9 da LDB nº 9.394/96, que prevê no inciso IV, entre outras incumbências da União, a de “estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar a formação básica comum”(LDB nº 9.394/96). Esse inciso foi atendido com a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, como demonstra o autor.

No cumprimento do que estabelece o Art.9º, Inc. IV da LDB, o MEC elaborou, através da Secretaria de Ensino Fundamental, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, buscando sinalizar referências nacionais comuns ao processo educativo. Aqui se busca apontar o universo de conhecimentos identificados como indispensáveis ao exercício da cidadania. Neste sentido, a visão dos conteúdos deve ultrapassar os conceitos, pela incorporação de procedimentos, atitudes e valores como formas de conhecimento tão úteis quanto os aspectos teóricos abordados tradicionalmente (Carneiro, 2014).

Vale ressaltar que os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um “material de referência para a reflexão da prática” (Carneiro, 2014, p.113), indicam pontos em que a aprendizagem deve ser comum, em todo o ensino fundamental, mas devem ser “refinalizados em propostas regionais por Estados e Municípios” (Carneiro, 2014, p. 113) como forma de respeitar a pluralidade cultural do país. Outro ponto novamente a ser destacado: as características regionais, cabendo ao professor em especificar em seu planejamento o trabalho a ser desenvolvido para manter a cultura artística e histórica do município.

pesquisa, indo ao encontro dos PCNs, para que as propostas regionais de cada município possam ser desenvolvidas e adequadas dentro da realidade da cidade, respeitando as características regionais e culturais, dentro do trabalho a ser desenvolvido pelas escolas e educadores.

Prosseguindo em sua leitura sobre a LDB, Carneiro (2014) fala sobre as Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio, cujos princípios norteadores são, entre outros, o desenvolvimento da estética da sensibilidade e a igualdade no acesso aos bens sociais e culturais. Para isto, a “organização escolar e a constituição curricular” (p. 123) devem estar “cimentadas nos princípios estéticos, políticos e éticos” (p.123), considerando os conhecimentos como “insumos fundamentais de interpretação da História Cultural das sociedades” (p. 123). E como princípio de organização do currículo, as diretrizes apontam para a interdisciplinaridade e para a contextualização enquanto formas de trabalho educativo que podem “ultrapassar a convenção propositiva de disciplinas ou de áreas, mediante uma proposta pedagógica sintonizada com o perfil dos alunos” (Carneiro, 2014, p. 124).