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A Lei 10.639/2003: conquistas e desafios

No documento IDENTIDADES E MEMÓRIAS: (páginas 45-0)

2.1 BREVE REFLEXÃO SOBRE A HISTÓRIA DO LUGAR

2.1.2 A Lei 10.639/2003: conquistas e desafios

Desse processo de lutas e conquistas adquiridas pelas mobilizações do Movimento Negro e do contexto histórico do final do século XX e início do século XXI, resultou a Lei 10. 639/2003, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, numa das suas primeiras ações à frente do governo brasileiro. A promulgação da referida Lei e outros marcos legais como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (Parecer CNE/CP n° 03/2004 e a Resolução CNE/CP n° 01/2004, respectivamente) que torna obrigatória a temática “História e Cultura Africana e Afro-Brasileira” no currículo oficial da rede de ensino, e posteriormente, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola, (parecer CNE/CEB Nº: 16/2012) são frutos da resistência do Movimento Negro, de políticas Públicas estabelecidas, e tantos outros órgãos e autores sociais que lutam a favor de uma educação mais democrática.

Aprovada em 9 de janeiro de 2003, a Lei 10.639/03 fará alterações significativas à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9.394/96, inserindo os artigos 26- A, 79- A e 79- B, tornando obrigatório o Ensino de História e cultura Afro-brasileira nas escolas públicas e privadas do Ensino Fundamental e Médio. Contudo, a referida lei

10.639 já no início da sua vigência, sofre dois vetos relacionados às propostas de alteração da LDB, como reflete Pereira e Silva (2012):

Primeiro, é vetada a proposta que determinava, no primeiro projeto de lei, que as disciplinas História do Brasil e Educação Artística, no ensino médio, deveriam ficar pelo menos dez por cento de seu conteúdo programático anual ou semestral à temática africana e afro-brasileira.

Esta proposta foi na ocasião, considerada inconstitucional e rejeitada nos despachos da Presidência da República. O segundo veto relacionava-se à proposta referente aos cursos de capacitação para professores, que deveriam contar com a participação de entidades do movimento afro-brasileiro, das universidades e outras instituições de pesquisa vinculadas ao tema. (PEREIRA; SILVA, 2012, p. 8).

As razões do veto foram explicitadas nos seguintes termos:

Verifica-se que a lei nº 9.394, de 1996, não disciplina e nem tampouco faz menção, em nenhum de seus artigos, a cursos de capacitação para professores. O art. 79-A, portanto, estaria a romper a unidade de conteúdo da citada lei e, consequentemente, estaria contrariando norma de interesse público da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1988, segundo a qual a lei não conterá matéria estranha a seu objeto (BRASIL, 2003, não paginado).

Desse modo, aprovou-se, ao final, a obrigatoriedade nos ensinos fundamental e médio, do estudo de história e cultura africana e afro-brasileira, assim como foi estabelecido a inserção, no calendário escolar, do dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra. Como determina a Lei na íntegra:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro Brasileira. § 1ª - O Conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.§ 2ª - Os Conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e HistóriaBrasileiras.

Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como

“Dia Nacional da Consciência Negra”. (BRASIL, 2003, não paginado).

Vale salientar que antes da aprovação da lei 10.639/03 muitas lutas foram travadas tendo o Movimento Negro como o principal grupo militante. Dentre os eventos que se destacaram nesse processo temos a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo,

Discriminação Racial, Xenofobia, Intolerância Correlata que ocorreu em Durban, África do Sul, em 2001. De acordo com Munanga (2015) essas questões não tinham eco na grande imprensa. Os responsáveis pelo país pareciam viver com a consciência tranquila exalando seus ideais em relação ao mito da democracia racial, que apresenta o Brasil como paraíso racial, ou seja, um país sem preconceito e discriminações raciais. Em função dessa crença que se pregavam, o Brasil conviveu muito tempo sem leis protecionistas dos direitos humanos dos não brancos. Depois da Conferência de Durban o Brasil oficialmente engajou-se como não se vira antes, na busca dos caminhos para a execução da Declaração dessa Conferência da qual foi um dos países signatários.

A partir desse evento, muitos órgãos federais, políticas públicas, legislação e normatizações passaram a construir planos de ação, visando o enfrentamento das desigualdades raciais no Brasil e as questões referentes à discussão sobre as relações étnico raciais tiveram um grande avanço. Entretanto, é evidente que a implementação da lei nº 10.639/03 no sistema de ensino brasileiro não tem sido fácil, a relação entre os entes federativos (municípios, estados, União e Distrito Federal) é uma variável bastante complexa e exige um esforço constante na execução de políticas educacionais, assim como também tem sido em relação ao Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- brasileira e Africana25.

Com a aprovação da referida lei, foi ainda criada, no mesmo ano, uma secretaria voltada para a questão étnico racial, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), representante histórica da reivindicação do movimento negro em âmbito nacional e internacional, cuja finalidade é incluir as questões raciais como prioridade na pauta política do país, para assim corrigir os cruéis efeitos da escravidão, discriminação e racismo no Brasil, promovendo uma democracia mais justa e igualitária.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana:

O governo federal, por meio da SEPPIR, assume o compromisso histórico de romper com os entraves que impedem o desenvolvimento pleno da população negra brasileira. O principal instrumento, para isso, é o encaminhamento de diretrizes que nortearão a implementação de ações afirmativas no âmbito da administração pública federal. Além

25 Ver o Plano Nacional de implementação das Diretrizes curriculares nacionais para educação das relações étnico raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Ministério da Educação.

Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Brasília: MEC, SECADI, 2013. 104 p. (p.17).

disso, busca a articulação necessária com os estados, os municípios, as ONGs e a iniciativa privada para efetivar os pressupostos constitucionais e os tratados internacionais assinados pelo Estado brasileiro. Para exemplificar esta intenção, cabe ressaltar a parceria da SEPPIR com o MEC por meio das suas secretarias e órgãos que estão imbuídos do mesmo espírito, ou seja, construir as condições reais para as mudanças necessárias. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2004, p.

08).

De acordo com o Plano das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (BRASIL, 2003), a Lei 10.639/03 é um marco histórico. Ela simboliza simultaneamente, um ponto de chegada das lutas antirracistas no Brasil e um ponto de partida para a renovação da qualidade social da educação brasileira. É importante destacar a luta e reivindicações históricas dos movimentos sociais, em especial do movimento negro, ao criar um conjunto de estratégias por meio das quais os segmentos populacionais considerados diferentes passaram cada vez mais destacar politicamente as suas singularidades, cobrando que estas sejam tratadas de forma justa e igualitária.

Gomes, (2010, p. 69) ao discutir o surgimento e aprovação da lei 10.639/03, vai refletir sobre a importância do Movimento Negro, como também de outros órgãos sociais, no enfrentamento contra o racismo, preconceito e discriminação que as pessoas negras vêm sofrendo ao decorrer da história do Brasil e afirma:

A implementação da lei 10.639/03 e de suas respectivas diretrizes curriculares nacionais vem somar às demandas do movimento negro, de intelectuais e de outros movimentos sociais que se mantêm atentos à luta pela superação do racismo na sociedade, de modo geral, e na educação escolar, em específico. Esses grupos compartilham da concepção de que a escola é uma das instituições sociais responsáveis pela construção de representações positivas dos afro-brasileiros e de uma educação que tenha respeito à diversidade como parte de uma formação social. Acreditam que a escola, sobretudo a pública, exerce o papel fundamental na construção de uma educação anti-racista (GOMES, 2010, p. 69).

Assim, a lei 10.639/03 que introduziu o ensino obrigatório de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana pode ser considerado um dos avanços na democratização do currículo oficial por seu caráter compensatório ao possibilitar a desconstrução de mentalidades e práticas preconceituosas, assim como todo empenho do governo da época com pautas na área educacional. A aprovação dessa lei é fruto de longa história de lutas pelo reconhecimento e pela reparação das desigualdades entre populações brancas e

negras no Brasil, e é vista como marco nas políticas de ação afirmativas no âmbito legal.

Assim, como Gomes, entendemos a Lei 10.639/2003, primeiramente, como uma política de ação afirmativa, pois:

Os objetivos das ações afirmativas são: induzir transformações de ordem cultural, pedagógica e psicológica, visando tirar do imaginário coletivo a idéia de supremacia racial versus subordinação racial e/ou de gênero; coibir a discriminação do presente; eliminar os efeitos persistentes (psicológicos, culturais e comportamentais) da discriminação do passado, que tendem a se perpetuar e que se revelam na discriminação estrutural; implantar a diversidade e ampliar a representatividade dos grupos minoritários nos diversos setores (GOMES, 2001, p.57).

Sabemos que o ensino de História africana e afro brasileira por vias legais sempre estiveram em pauta no campo das discussões, embora a implementação da lei 10.639/03 tenha acontecido tão recente e que ainda enfrente tantos obstáculos na sua efetivação, essa é uma luta que vem se estendendo há bastante tempo.

As primeiras iniciativas para a inserção nos currículos escolares oficiais se voltaram para o ensino da história africana e afro-brasileira, cujas ações datam as décadas de 1970 e 1980 nos denominados estudos africanos. 26 A partir da Convenção Nacional do Negro pela Constituinte, de 1986, foi recomendado à Assembleia Constituinte de 1987: “o processo educacional respeitará todos os aspectos da cultura brasileira. Será obrigatória a inclusão nos currículos escolares de I, II, e III graus do ensino da história da África e da história do Negro no Brasil.27

Nesse sentido, a partir dos anos de 1990, as organizações focaram em denunciar as práticas preconceituosas nas escolas, assim como os estereótipos do povo negro que aparecia nos livros didáticos, essa e outras discussões foram pauta para que Lei 10.639/2003 viesse entrar em vigor fazendo jus ao que se propõe em seus objetivos, que é questionar veementemente o currículo oficial e permitir aos alunos negros, o reconhecimento e a valorização, subjetivos e simbólicos, da sua identidade e da sua importância na formação da sociedade brasileira.

Na política educacional de implementação da Lei 10.639/03, o MEC executou uma série de ações das quais podemos citar: formação continuada presencial e a distância para professores (as) na temática da diversidade étnica-racial em todo país; publicação de

26 PINTO, R. P. Movimento negro e a educação do negro: a ênfase na identidade. Cadernos de pesquisa, São Paulo, n.86, p. 25-38, 1993.

27 SANTOS, S. A. A lei 10.639/03 como fruto da luta anti-racista do Movimento Negro. SECAD. Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03. Brasília, 2005. p. 21-38.

material didático; realização de pesquisas na temática; fortalecimento nos Núcleos de Estudos Afro-brasileiros (NEABs), constituídas nas instituições públicas de ensino Superior por meio de programas UNIAFRO28 (SECADI/SESU)29 criação dos fóruns estaduais e municipais de educação e diversidade étnico-racial; instituição da comissão técnica nacional de diversidade para assuntos relacionados à educação dos Afro- brasileiros entre outros.

Mas será que o que a lei a Lei 10.639/03 determina está sendo aplicada nas escolas de todo Brasil? Será que os professores do ensino fundamental e médio estão habilitados e preparados para lidar com essa nova realidade?

Conforme alguns estudos e pesquisas, a implementação da lei 10.639/2003 tem encontrado forte resistência em sua implantação nas unidades escolares de todo o país.

Dentre estes autores, Almeida; Sanchez (2017) no artigo intitulado de “Implementação da Lei 10.639/2003 – competências, habilidades e pesquisas para a transformação social”

cujo objetivo foi investigar e compreender as dificuldades do processo de implementação dessa legislação, os autores fizeram dois levantamentos: o primeiro, relacionado as políticas públicas que subsidia a sua implementação durante a primeira década de existência, e o outro ponto, uma análise das produções acadêmicas referente ao mesmo período de vigência da legislação, chegando a uma conclusão de que ainda há muito que se trabalhar para que seja cumprido o que a lei determina:

Identificamos, na análise desses levantamentos, diversas dificuldades no processo de implantação da Lei 10.639/2003, relacionadas à formação de profissionais de ensino, à disponibilidade e à divulgação de recursos para o ensino, à intolerância religiosa, entre outros. Esses fatores indicam pouca preocupação em estabelecer vínculos entre políticas públicas relacionadas a essa lei (incluídas a própria lei e suas regulamentações posteriores) e entre elas e as demais políticas educacionais, o que garantiria certo grau de coesão entre as políticas, favorecendo a implementação de todas elas. Consideramos, ainda, que o cerne dos problemas enfrentados na execução da Lei 10.639/03 encontra-se na sua inserção em um sistema educacional com bases ideológicas racistas. (ALMEIDA; SANCHEZ, 2017, p.59).

Santos (2010), investigou na sua pesquisa como estão os saberes dos professores do município de Contagem, Minas Gerais, em relação ao tema História da África e cultura

28 UNIAFRO é um Programa de Ações Afirmativas para a População Negra nas Instituições Públicas de Educação Superior, cujo objetivo é apoiar e incentivar o fortalecimento e a institucionalização das atividades dos NEABs ou grupos correlatos das Instituições Públicas de Educação Superior, contribuindo para a implementação de políticas de ação afirmativa voltadas para a população negra.

29 SECADI/SESU: Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade e Secretaria de Educação Superior, respectivamente.

afro-brasileira e concluiu que, embora já existam algumas iniciativas positivas de inserção da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas de Contagem, muitos dilemas e desafios ainda precisam ser enfrentados para que a Lei 10.639/2003 possa efetivamente ser implementada.

Santos (2005) 30 na sua pesquisa A lei nº 10.639/03 como fruto da luta antirracista do movimento negro , também irá analisar o percurso histórico do movimento Negro em prol de uma educação antirracista e fará um crítica intensa em relação a forma como vem sendo implementada a da Lei 10.639/03 nas escolas brasileiras. Para ele a promulgação dessa lei, foi um avanço no processo de democratização do ensino, bem como na luta antirracismo, porém, faz-se necessário pensar uma mudança profunda nos programas e/ou currículos das licenciaturas, uma vez que atualmente elas não estão sendo capazes de cumprir os objetivos do que é estabelecido na Legislação.

De acordo com as pesquisas mencionadas, existem inúmeras problemas para ser analisados referente a aplicabilidade da lei 10.639/03 e isso não se resume apenas a obrigatoriedade do ensino dos componentes curriculares de História e Cultura Afro-Brasileira, como afirma Santos:

A legislação federal, segundo o nosso entendimento, é bem genérica e não se preocupa com a implementação adequada do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Ela não estabelece metas para implementação da lei, não se refere à necessidade de qualificar os professores dos ensinos fundamental e médio para ministrarem as disciplinas referentes à Lei nª 10.639, de 9 de janeiro de 2003,menos ainda, o que é grave segundo nosso entendimento, é à necessidade das universidades reformularem os seus programas de ensino e/ou cursos de graduação, especialmente os de licenciatura, para formarem professores aptos a ministrarem ensino sobre História e Cultura AfroBrasileira. Ao que parece, a lei federal, indiretamente, joga a responsabilidade do ensino supracitado para os professores. (SANTOS, 2005, p. 33-34).

Porém, penso que a lei 10.639/03, pelo simples fato de ser uma lei, não significa, necessariamente, que estará na sala de aulasem o enfrentamento de obstáculos, faz-se necessário pensar uma mudança profunda nos programas e/ou currículos das instituições de ensino, na formação adequada aos profissionais da educação, produzir materiais didáticos acessíveis para a comunidade escolar, entre outros. Sabemos que a educação

30 SANTOS, Sales Augusto dos. A LEI Nº 10.639/03 COMO FRUTO DA LUTA ANTI-RACISTA DO MOVIMENTO NEGRO. In: Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03 / Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. 236 p.

étnica racial é um desafio contemporâneo da escola e corresponde ao desejo intenso de que ela possa ser reconfigurada como espaço de acolhida.

A multiplicidade das identidades, dos sujeitos e suas histórias devem ser entendidas, refletidas na ação pedagógica. Há necessidade de uma educação antirracista.

Todos, independentemente de suas ancestralidades, precisam ser educados em ambiência pedagógicas plurais, problematizando a hegemonia branca e eurocêntrica construída a partir de um racismo institucional, assim como a escola e os motivos dos quais levaram o silenciamento da história do negro no Brasil. Cabe ressaltar aqui, mais uma vez, a importância da lei 10.639 para a valorização da cultura afrodescendente, esperamos que ela não seja mais um marco normativo sem efeito prático, mas que, ao contrário, promova uma educação plenamente democrática.

2.2 DCNs DA EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ETNICORRACIAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA: UMA REFLEXÃO.

Diretrizes são dimensões normativas, reguladoras de caminhos, não visam desencadear ações uniformes, todavia, objetivam oferecer referências e critérios para que se implantem ações, as avaliem e reformulem no que, e quando necessário. A esses órgãos normativos cabe a tarefa de se adequar à realidade de cada sistema de ensino.

Assim define o art. 2º da RESOLUÇÃO Nº 1, de 17 de junho de 2004 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana:

Art. 2° As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africanas constituem-se de orientações, princípios e fundamentos para o planejamento, execução e avaliação da Educação, e têm por meta, promover a educação de cidadãos atuantes e conscientes no seio da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil, buscando relações étnico-sociais positivas, rumo à construção de nação democrática. (BRASIL, 2004, não paginado).

Ainda no primeiro parágrafo do segundo artigo que rege a resolução Nº 1, é estabelecido quais os objetivos proposto pela Educação das Relações Étnico-Raciais :

§ 1° A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por objetivo a divulgação e produção de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização de

identidade, na busca da consolidação da democracia brasileira.

(BRASIL, 2004, p.02).

O parecer e a resolução nº 1, de 17 de junho de 2004 já mencionado, foram aprovados pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em março de 2004, homologados pelo Ministério da Educação (MEC) e publicada no Diário Oficial no dia 22 de junho do mesmo ano. A resolução foi resultante do Parecer CNE/CP 3/2004, de 10 de março de 2004, que teve como relatora a conselheira Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, da Câmara de Educação Superior do CNE. Tal parecer, estabelece as orientações de conteúdo a serem incluídos e trabalhados, assim como, as necessárias modificações nos currículos escolares em todos os níveis e modalidades de ensino. As Diretrizes visam a atender à Lei nº 10.639/2003, que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas do país.

A respeito do Parecer nº 03/2004 emitido pelo Conselho Nacional de Educação, cabe ressaltar aqui, as consideração feitas pelo próprio plano nacional de implementação das DCNs da Educação para as Relações Etnicorraciais que além de tratar com clareza o processo de implementação da Lei, abordou a questão com lucidez e sensibilidade, reafirmando o fato de que a educação deve concorrer para a formação de cidadãos orgulhosos de seu pertencimento etnicorracial, qualquer que seja este, cujos direitos devem ser garantidos e cujas identidades devem ser valorizadas.

Cumprir o que é estabelecido pela lei é, pois, responsabilidade de todos

Cumprir o que é estabelecido pela lei é, pois, responsabilidade de todos

No documento IDENTIDADES E MEMÓRIAS: (páginas 45-0)