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IDENTIDADES E MEMÓRIAS:

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Academic year: 2022

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ANA PAULA BEZERRA

IDENTIDADES E MEMÓRIAS: UM ESTUDO SOBRE AS PRÁTICAS EDUCATIVAS QUILOMBOLAS NA ESCOLA MUNICIPAL SÃO LUIZ NA

MACAMBIRA EM LAGOA NOVA/ RN (C.2003 -2020).

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

NATAL/RN 2021

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IDENTIDADES E MEMÓRIAS: UM ESTUDO SOBRE AS PRÁTICAS EDUCATIVAS QUILOMBOLAS NA ESCOLA MUNICIPAL SÃO LUIZ NA

MACAMBIRA EM LAGOA NOVA/ RN (C.2003 -2020).

Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre em Ensino de História pelo Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Ensino de História.

Orientador: Prof. Dr. Lígio José de Oliveira Maia.

NATAL/RN 2021.

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Bezerra, Ana Paula.

Identidades e memórias: um estudo sobre as práticas

educativas quilombolas na Escola Municipal São Luiz na Macambira em Lagoa Nova/ RN (C.2003 -2020) / Ana Paula Bezerra. - 2022.

214f.: il.

Dissertação (mestrado) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Ensino de História,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2022.

Orientador: Prof. Dr. Lígio José de Oliveira Maia.

1. Educação Escolar Quilombola - Dissertação. 2. Ensino de História Local; Macambira - Dissertação. 3. Projeto Político Pedagógico - Dissertação. I. Maia, Lígio José de Oliveira. II.

Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 94:37

Elaborado por Ana Luísa Lincka de Sousa - CRB-18/748

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________________________________________________

Prof. Dr. Lígio José de Oliveira Maia

Orientador/Presidente da Banca examinadora- PROFHISÓRIA/UFRN

________________________________________________

Prof. Dr. Magno Francisco de Jesus Santos Membro Examinador Interno- PROFHISÓRIA/UFRN

________________________________________________

Prof. Dr. Leandro Santos Bulhões de Jesus Membro Examinador Externo- PROFHISÓRIA/UFC

___________________________________________________

Prof. Dr. José Evangelista Fagundes Membro suplente- PROFHISTÓRIA/UFRN

NATAL/ RN 2021

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Dedico este trabalho as mulheres da minha vida. As que estiveram presentes, as ausentes, as que se foram no processo, as que sorriram e choraram, as que disseram não, as que me disseram sim, e as que dividiram um gole de cerveja comigo. As que eu li, reli, e transformei em poesia aquilo que era pra ser escrito em prosa. As mulheres negras da Macambira que tecem com seus rosários a expressão da fé e com muita sensibilidade me deram a honra de suas vozes, que por muitas vezes são emudecidas. A você vó Dudú, (In memorian) a mulher primeira, a ancestral do nosso ciclo. A você mãe Margarida, que me oportunizou o acesso à escola. À vocês minhas irmãs, razão do meu riso e do meu choro. Às minhas sobrinhas, tias, primas, cunhadas, madrinhas, comadres e afilhadas. Às minhas amigas, aquelas que nunca desistiram de mim. A você Márcia Araújo, por seu olhar acolhedor, inclusivo e humanizado.

Mulheres, minha eterna gratidão!

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estiveram comigo direto e indiretamente nesta caminhada. Reconheço o quanto sou abençoada por ter por perto pessoas que engrandecem meu caminho e seguraram a minha mão quando pensei em desistir. Sempre fui muito determinada em relação a profissão que gostaria de seguir. Sou natural de um lugar desse sertão nordestino denominado de Saco da Areia – Currais Novos, RN, quase inabitado e severamente castigado pelas secas e sonhos, mas ousei, ousei muito e aqui estou. Serei mestre, quiçá doutora, porque não existe limites para nossos sonhos e projetos.

Quero agradecer a fé que sempre tive no sagrado que me habita. Aquele que ama, protege, não exclui e acolhe todos independentemente de ser quem somos.

Agradeço também por ter uma família imperfeita, que durante todo processo de pesquisa fizeram muito barulho enquanto escrevia, mas esse barulho é sinal de que tudo estava bem, e isso me permitia a paz de uma escrita tranquila. Minha família talvez não compreenda a importância do silêncio que precisamos para realizar a leitura e escrita, mas compreendem e estão sempre disponível para acompanhar as minhas escolhas e nunca me deixam sozinha. Eu os amo, do meu jeito “reclamão”.

Agradeço ao meu professor orientador o Dr. Lígio Maia por toda parceria firmada no percurso, por toda confiança depositada, pelo respeito e direcionamentos precisos.

Obrigada pela paciência e por acalmar muitas vezes essa minha alma ansiosa.

A UFRN, ao Programa de Pós Graduação Mestrado Profissional em Ensino de História, aos seus funcionários e a todos os professores das disciplinas cursadas. Estendo também os agradecimentos aos professores, Francisco Santiago e Magno de Jesus pelas preciosas contribuições durante o exame de qualificação. A professora Suely (IFRN), pelas contribuições e incentivo durante a realização da pesquisa, assim como a professora Joelma Tito (IFRN), por me proporcionar referencial teórico para a realização dessa pesquisa.

Ao amigo e jornalista Gilberto Oliveira, pela orientação técnica na elaboração do produto. Por acreditar sempre na minha capacidade de fazer, por me aconselhar e por vezes mostrar o lado racional da vida. A amiga bibliotecária Nina Davi, pela revisão da ABNT, pela paciência e compromisso, ao amigo Marcos Antônio, pela disponibilidade e compromisso na elaboração cartográfica desta dissertação e a minha amiga e professora de inglês, Lucycléia Celine, pelas correções e contribuição ao meu trabalho.

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de fazer capoeira na E.M.S.L e no município de Lagoa Nova. A toda equipe diretiva e pedagógica em nome da Coordenadora Márcia Araújo e da diretora Maria Ivanilda. Aos secretários do CMEECampo Wallace Frade e Beônia Flávia, por me disponibilizarem fontes iconográficas, entrevistas, ajuda técnica, acesso ao censo escolar e incentivo durante a coleta de dados e de forma tão responsável contribuírem com informações importantes para esta Dissertação. Aos amigos Fernando Oliveira e Roberto Paixão pelos registros fotográficos. Este trabalho só foi possível por que estivemos trabalhando de forma coletiva. Minha eterna Gratidão.

Quero agradecer de modo muito especial a toda comunidade Quilombola da Macambira em nome de Paulo Herôncio. Esse ser de luz esteve comigo do início ao fim me apresentando memórias, pessoas, lugares, documentos e sua sensibilidade humana incrível. Paulo representa muito bem a sua comunidade e eu tenho muito orgulho de poder contar com sua contribuição à minha pesquisa. Obrigada também a Marinalvo (Novinho) pelas orientações sobre a Macambira.

Agradeço aos colegas do mestrado que compartilharam ideias, dúvidas e momentos inesquecíveis de aprendizado e companheirismo. De modo especial ao nosso grupo de pesquisa “sistematização da dissertação” em nome de Francimária, minha motorista e conselheira; Adriane, por sua paciência e dedicação; Guilherme por sua positividade e fazer a revisão ortográfica dos meus textos e Alessandra, aquela que nos incentiva e me emprestou todo o seu acervo bibliográfico para contribuir com essa escrita.

A toda equipe do Centro Educacional Altiva Santos- Lagoa Nova, RN, instituição que trabalhei por oito anos e que acompanhou minha trajetória durante o primeiro ano de aulas no mestrado, adaptando os horários, me incentivando e acreditando no meu trabalho.

Meu muito obrigada a Escola Municipal José Felix da Silva Júnior- São José da Passagem, RN, instituição que trabalho atualmente, em nome do diretor Cristiano e da secretária Ana Claudia por toda compreensão durante a fase final deste trabalho.

Aos motoristas Denilson Davi do ND viagens, Ibanês Assunção (In memorian) e a Eduardo Melo que durante todo percurso assumiram com responsabilidade e paciência nosso trajeto de Lagoa Nova – Natal/ Lagoa Nova- Macambira.

Aos amigos que dividem as alegrias, angústias e cervejas comigo. Aos que formam o estado independente do Guaíra, por me acolherem em suas residências,

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A minha amiga, companheira e pesquisadora de Educação Escolar Quilombola, Nadiane. Agradeço tanto ao universo por ter te encontrado nesse percurso. Ora fomos paz uma para outra, ora, nossa ansiedade atrapalhava nossos projetos, mas nosso tema de pesquisa, nossas histórias empáticas, nosso modo de enxergar a vida nos juntou como amigas. Obrigada por ser paz nesse processo desgastante.

E para finalizar quero agradecer a minha amiga Diana Farias e toda família Correia por todo acolhimento em vossas casas e coração. A Dona Ana pelas orações na véspera da prova, pela alegria compartilhada quando assumi o concurso e pela torcida durante todo mestrado. A Seu Chico Correia (In memorian) que na sua simplicidade me aceitou como filha de coração, eu mal podia esperar às 18 horas das quintas feiras para ouvir a sua buzina trazendo-me caixas e mais caixas de afeto, cuidado e orgulho de poder contribuir com a minha (nossa) jornada. O processo finito da vida levou aquele que será infinito no nosso coração. Gratidão, seu Chico. A você, Diana (Nossa Boneca) “que partilha comigo os desafios, desilusões e conquistas dessa caminhada estudantil, desde a vivência na residência universitária, em Caicó, agradeço por me ouvir, por ser inspiração nos momentos de desanimo, por sua perseverança contagiante. Por acreditar e me fazer reacreditar na educação”, por me acolher na sua casa, por concluir meus parágrafos com palavras bonitas e por ser minha amiga/ irmã.

A todos aqueles que contribuíram, de alguma forma, para a realização deste trabalho, que participaram, direta ou indiretamente, do desenvolvimento desta pesquisa, enriquecendo o meu processo de aprendizado. Toda minha Gratidão!!!

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Quilombo da Macambira, localizada no município de Lagoa Nova- RN. Tem como principal objetivo analisar em que medida, e como, a Escola Municipal São Luiz, realiza seu Projeto Político Pedagógico - alinhado com a história local da comunidade e legislação específica para a Educação Quilombola, entre os anos de 2003 a 2020. Busca- se ainda contextualizar historicamente a Macambira, onde vivem os estudantes e atuam os outros atores da comunidade escolar; discorre sobre as Diretrizes Curriculares étnico raciais; investiga se a Educação Escolar Quilombola como política pública afirmativa, mediante a Lei 10.639/03 está sendo aplicada na escola; apresenta uma breve contextualização da história da escola e reflete sobre suas condições físicas e estruturais;

tece algumas reflexões sobre o currículo em ação, a fim de compreender como está se delineando a educação quilombola, como modalidade de ensino. Metodologicamente trabalhamos com os recursos da História oral através da memória individual e coletiva da comunidade e elabora-se uma reflexão a partir de um conjunto bibliográfico pertinente ao tema. A pesquisa também tem um cunho avaliativo qualitativo, uma vez que aplicamos questionários em forma de entrevistas a moradores, professores e a profissionais que trabalharam na Escola. Os resultados desvelam que a Educação Escolar Quilombola vem ganhando espaço no cenário das políticas públicas, embora ainda enfrente muitos desafios para ser implementada no chão das escolas brasileiras. Na Escola Municipal São Luiz identificamos inúmeros problemas de infraestrutura e a falta de um PPP que dialogue com a realidade da comunidade. Contudo, durante o percurso desta pesquisa, a escola passou por uma reconstrução, acorreu a primeira formação continuada voltada para a Educação Escolar Quilombola e a equipe pedagógica começou a se articular no processo de reescrita e atualização do PPP da escola. Como produto final, construímos um material didático (caixa de memória) e uma página na rede mundial de computadores para auxiliar professores e estudantes nas aulas de história local, assim como promover a visibilidade política a comunidade.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de História; Educação Escolar Quilombola; Ensino de História Local; Macambira; Projeto Político Pedagógico.

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Quilombo da Macambira, located in the municipality of Lagoa Nova-RN. Its main objective is to analyze to what extent, and how, the São Luiz Municipal School carries out its Political Pedagogical Project - aligned with the local history of the community and specific legislation for Quilombola Education, between the years 2003 to 2020. still historically contextualize Macambira, where students live and other actors in the school community work; discusses the Ethnic Racial Curriculum Guidelines; investigates whether Quilombola School Education as an affirmative public policy, through Law 10.639/03, is being applied in schools; presents a brief contextualization of the school's history and reflects on its physical and structural conditions; it makes some reflections on the curriculum in action, in order to understand how quilombola education is taking shape as a teaching modality. Methodologically, we work with the resources of oral history through the individual and collective memory of the community and a reflection is elaborated based on a bibliographic set relevant to the theme. The research also has a qualitative evaluative nature, since we applied questionnaires in the form of interviews with residents, teachers and professionals who worked at the School. The results reveal that Quilombo School Education has been gaining ground in the public policy scenario, although it still faces many challenges to be implemented on the ground of Brazilian schools. At Escola Municipal São Luiz, we identified numerous infrastructure problems and the lack of a PPP that would dialogue with the reality of the community. However, during the course of this research, the school underwent a reconstruction, the first continuing education focused on Quilombola School Education took place, and the pedagogical team began to articulate itself in the process of rewriting and updating the school's PPP. As a final product, we built a didactic material (memory box) and a page on the world wide web to help teachers and students in local history classes, as well as to promote the community's political visibility.

KEYWORDS: Teaching History; Quilombola School Education; Teaching of Local History; Macambira; Political Pedagogical Project.

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LISTA DE FIGURAS

Imagem 1 Escola Municipal São Luiz, Comunidade Quilombola da

Macambira, antes da reconstrução. . . .. . . 26

Imagem 2 Escola Municipal São Luiz, Comunidade Quilombola da Macambira, durante a construção . . . 26

Imagem 3 Escola Municipal São Luiz, Comunidade Quilombola da Macambira, depois da reconstrução . . . 27

Imagem 4 Escola Municipal São Luiz, Comunidade Quilombola da Macambira. . . 28

Imagem 5 Escola Municipal São Luiz, Comunidade Quilombola da Macambira. . . 29

Imagem 6 Fotografia da entrevista realizada com Dona Agripina no ano de 2014. . . 90

Imagem 7 Reintegração da posse das terras da Comunidade Macambira em 04.04.2014. . . 94

Imagem 8 Antiga Tapera localizada ao lado da casa de alvenaria e usada como espaço de despejo.. . . 101

Imagem 9 Vista representativa do mirante da Macambira . . . 102

Imagem 10 Capela de Nossa Senhora das Graças- Macambira II. . . 103

Imagem 11 Capela de Santa Luzia- Macambira II. . . 104

Imagem 12 Prédio da Igreja Evangélica Assembleia de Deus . . . 104

Imagem 13 Benzedeira da Macambira no ritual de cura para tirar o sol da cabeça . . . 105

Imagem 14 Mesa sincrética- espaço de cura de Irene Firmino. . . 108

imagem 15 Estabelecimentos por Nível de Ensino, segundo DIREC, Município, Dependência Administrativa de Área Remanescente de Quilombos Rio Grande do Norte- 2018. . . 110

Imagem 16 Reunião Pública da Comunidade Quilombola de Macambira . . . 115

Imagem 17 Reunião pública da Comunidade Macambira em. . . 121

Imagem 18 Escola Municipal São José – Desativada. . . 122

Imagem 19 Escola Municipal São Daniel. . . 124

Imagem 20 EMSL antes de ser demolida em janeiro de 2020. . . 124

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Imagem 22 Registro das condições sanitárias da EMSL antes de ser demolida. . 127

Imagem 23 Placa de prestação de conta a população. . . 127

Imagem 24 Escola Municipal São Luiz reconstruída em 2020. . . 128

Imagem 25 Escola Municipal São Luiz ganha pintura de bonecas Abayaomi símbolo que caracteriza a resistência do povo negro da Macambira. . . . . . . 129 Imagem 26 Livros didáticos utilizado no 4° ano do Ensino Fundamental da EMSL. . . 129

Imagem 27 Mostra cultural da EMSL no ano de 2017. . . 146

Imagem 28 Apresentação Teatral o Mágico de OZ: Amostra cultural da EMSL 2019. . . 148 Imagem 29 II Mostra literária da EMSL no ano de 2018- apresentação de capoeira . . . 149

Imagem 30 Cronograma com as ações realizadas durante a primeira Formação Quilombola de Lagoa Nova, RN. . . 151

Imagem 31 Apresentação dos dados da pesquisa – 2021. . . 163

Imagem 32 Equipe pedagógica e administrativa da EMSL. . . 163

Imagem 33 Almanaque Negritude . . . 164

Imagem 34 Almanaque Negritude/Agosto. . . 165

Imagem 35 Almanaque Negritude/ Setembro e Outubro. . . 165

Imagem 36 Almanaque Negritude/ Novembro. . . 166

Imagem 37 Representação da caixa de memória. . . .. . . 166

Imagem 38 Representação do álbum biográfico. . . 171

Imagem 39 Site Memórias da Macambira. . . 172

Imagem 40 Ilustração para debate: Em cada sapato, uma história. . . 175

Imagem 41 Ilustração para debate: Em cada sapato, uma história. . . 186

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Quadro 1 Documentos catalogados por Pereira (2011). . . 87

Quadro 2 Escolas em Área Remanescente de Quilombos. . . . . . . 114

Quadro 3 Profissionais que atuam EMSL. . . 130

Quadro 4 Espaço Físico da EMLS – 2020. . . 131

Quadro 5 Resultado do ano Letivo de 2020 na EMSL. . . 136

Quadro 6 Quadro com número de alunos matriculados na EMSL em 2020. . . . 136

Quadro 7 Demonstrativo do quadro de professores da EMSL. . . 141

Quadro 8 Eixos temáticos. . . 174

Quadro 9 Sequência didática eixo- I: A história local da macambira: memórias, saberes e fazeres. . . .. . . 177

Quadro 10 Matriz/ Afrodescendentes . . . 180

Quadro 11 Matriz/ Quilombo. . . .. . . 181

Quadro 12 Sequência didática: Eixo II: A Escola Municipal São Luiz: Projetos e práticas pedagógicas. . . 184

Gráfico 1 Fonte de renda familiar . . . 135

Gráfico 2 Auxilio do Governo Federal. . . 135

Gráfico 3 Acesso ao Ensino Superior dos Professores da EMSL. . . 142

Gráfico 4 Representação da identidade racial dos professores da EMSL. . . 143

Gráfico 5 Entrevista realizada aos professores da EMSL. . . 153

Gráfico 6 Entrevista ao corpo docente da EMSL. . . .. . . 154

Gráfico 7 História da comunidade quilombola: . . . . . . 157

Gráfico 8 Representação da ausência de material didático para ser trabalhado a história local da Macambira. . . .. . . .. . . 157

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Mapa 1 Localização Cartográfica da Comunidade Quilombola da Macambira. . . 23 Mapa 2 O uso do território da comunidade quilombola da Macambira pelo

setor eólico. . . 96 Mapa 3 Localização Geográfica da Escola Municipal São Luiz e a Escola

Municipal São Daniel (ambas localizadas na Macambira). . . 116

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CMEE Centro Municipal de Ensino e Educação do Campo Nazaré Xavier de Góis CNE Conselho Nacional de Educação

CONAE Conferência Nacional de Educação

CONAQ Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas CONAPIR Conferência nacional de políticas de promoção racial

DCNEEQ Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola EJA Educação de Jovens e Adultos

FNB Frente Negra Brasileira

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MNU Movimento Negro Unificado

MG Minas Gerais

MEC Ministério da educação

MT Mato Grosso

NEABs Núcleos de Estudos Afro-brasileiros PPP Projeto Político Pedagógico

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais RN Rio Grande do Norte

SAPÉ Serviço de Apoio à pesquisa em Educação

SECADI Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade SECAD Secretaria de Educação e Diversidade

SESU Secretaria de Educação Superior

SEPPIR Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial TEM Teatro Experimental do Negro

UNIRIO Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFS Universidade Federal de Sergipe

UFMT Universidade Federal do Mato Grosso UFT Universidade Federal de Tocantins UNIFESP Universidade Federal de São Paulo UEMT Universidade Estadual de Mato Grosso

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2 DISCUSSÃO LEGAL NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO

ESCOLAR QUILOMBOLA. . . 34

2.1 BREVE REFLEXÃO SOBRE A HISTÓRIA DO LUGAR SOCIAL DO NEGRO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO. . . 36

2.1.1 O Movimento Negro no Brasil: algumas considerações. . . 39

2.1.2 A Lei 10.639/2003: conquistas e desafios . . . 45

2.2 DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA: CONCEITOS E TRÂMITES LEGAIS. . . 52

2.3 PRODUÇÕES ACADÊMICAS DO PROFHISTÓRIA (MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE HISTÓRIA) NO CAMPO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA. . . 59

3 COMUNIDADE REMANESCENTE DE QUILOMBO DA MACAMBIRA: LUTA TERRITORIAL, MEMÓRIA E DIREITOS POLÍTICOS. . . 68

3.1 MOCAMBOS, QUILOMBOS E REMANESCENTES DE QUILOMBOS: REPENSANDO CONCEITO. . . 77

3.2 TRADIÇÃO ORAL: TRONCOS VELHOS, CONFLITOS TERRITORIAIS E A EMERGÊNCIA DE UM NOVO SUJEITO JURÍDICO. . . 77

3.3 CONTEXTUALIZANDO MEMÓRIA E IDENTIDADE . . . 85

3.3.1 Antigas Taperas: Lugares de Memórias. . . 99

3.3.2 Religiosidade Popular na Macambira . . . 100

4 NO CHÃO DA ESCOLA MUNICIPAL SÃO LUIZ: DIAGNÓSTICO, PERFIL SOCIAL E EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA. . . 103

4.1 PROCESSO HISTÓRICO DA ESCOLA MUNICIPAL SÃO LUIZ NA MACAMBIRA . . . 112

4.2 ESCOLA MUNICIPAL SÃO LUIZ: ANTES E DEPOIS DA SUA RECONSTRUÇÃO . . . 124

4.3 PERFIL DAS TURMAS E A MULTISSERIAÇÃO NA EMSL. . . 134

4.4

PERFIL DOS PROFESSORES DA EMSL E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS . . .

141

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CONSTRUÇÃO DE UM CURRÍCULO QUE CONTEMPLE A

HISTÓRIA LOCAL DA COMUNIDADE MACAMBIRA . . . 151

5 INTERVENÇÃO NO ESPAÇO ESCOLAR: PROPOSTA PEDAGÓGICA (PRODUTO) DE MATERIAL DIDÁTICO. . . 161

5.1 DIAGNÓSTICO DOS DESAFIOS: UM PERCURSO INICIAL. . . 162

5.2 PRODUÇÃO E USO DE MATERIAL DIDÁTICO. . . .. . . 168

5.2.1 Caracterização da Caixa de Memórias . . . 170

5.2.2 Descrição do Álbum Biográfico . . . 171

5.2.3 Página na Rede Mundial de Computadores. . . 172

5.3 METODOLOGIA PARA APLICAÇÃO D O PRODUTO: SEQUÊNCIA DIDÁTICA . . . 176

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . 191

REFERÊNCIAS . . . 194

APÊNDICE A – ENTREVISTA COM AS GESTORAS DA ESCOLA SÃO LUIS. . . 209

APÊNDICE B- QUESTIONARIO APLICADO NA ESCOLA SÃO DANIEL. . . 210

APÊNDICE C- QUESTIONARIO DOCENTE. . . 212

ANEXO A- LEI MUNICIPAL Nº 727/2021 -INSTITUI O DIA MUNICIPAL DOS POVOS QUILOMBOLAS DE LAGOA NOVA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. . . 213

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1 INTRODUÇÃO

Acima de um passado que está enraizado na dor Eu me levanto Eu sou um oceano negro, vasto e irrequieto Indo e vindo contra as marés, eu me levanto Deixando para trás noites de terror e medo Eu me levanto Trazendo os dons que meus ancestrais deram Eu sou sonho e as esperanças dos escravizados Eu me levanto Eu me levanto Eu me levanto Maya Angelou

Este é um dos meus poemas preferidos. Eu já li inúmeras vezes, e cada vez que leio, parece que a minha história está toda resumida nele. Esses versos evocam de modo bastante sensível uma longa história de luta, resistência e perseverança, porém, muitas vezes de silêncios impostos. E assim como está descrito no poema, eu me levanto todos os dias embora as dificuldades. E não é diferente com as pessoas da Macambira, comunidade remanescente de quilombo que irei apresentar neste trabalho, sujeitos históricos que levantam todos os dias para resistir aos silêncios que lhes impõem como negação a possibilidade de existir e resistir. Tudo isso me inquietou, queria ouvir aquelas pessoas falar, quebrar esse silêncio partindo da educação. Escrever essa dissertação, foi, de fato, uma forma de poder levar a minhas reflexões para que a comunidade da Macambira possa usar o poder da sua fala, da sua história de seu lugar de pertença.

Assim como Grada Kilomba em seu livro “Memórias da plantação: Episódios de racismo cotidiano” afirma que o processo de escrever é tanto uma questão relativa ao passado quanto ao presente, e é por isso que começo esses escritos lembrando dos fatos relevantes sobre meu passado para que possamos entender o que estou propondo estudar no presente.

Este trabalho, vinculado a linha de pesquisa “Saberes Históricos no Espaço Escolar” (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes) do Curso de Pós-graduação/

Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CCHLA/UFRN),tem como principal objetivo analisar em que medida e como a Escola Municipal São Luiz pratica seu Projeto Político Pedagógico e se este está alinhado

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com a história da comunidade dos Remanescentes de Quilombo da Macambira. A escola está localizada na Zona Rural do município de Lagoa Nova, RN, cerca de 156 km de Natal.

A proposição dessa temática é fruto dos anseios, utopias e expectativas que venho gestando em minha jornada estudantil e profissional. A ideia de trabalhar essa escola está ligada as experiências profissionais e de pesquisa que realizei nos últimos anos. O contato direto com as famílias que habitam a Macambira fez-me refletir sobre diversas temáticas, as questões que me inquietam nesta pesquisa estão relacionadas a esse questionamento:

Como a história local da comunidade quilombola da Macambira está inserida no currículo escolar, e como essa história vem sendo trabalhada em sala de aula de forma que possa contribuir no processo de formação identitária e de valorização cultural da comunidade?

Tornar-me professora de História era um sonho de infância e dentro das minhas limitações, consegui ser aprovada na Universidade Pública/UFRN no ano de 2006.

Alegria igual à que tive no dia do resultado desse vestibular, só senti quando consegui ser aprovada no mestrado, em 30 de novembro de 2018. Essa conquista não era só minha, claro que fiz minha parte como estudante, mas essas oportunidades surgiram graças a Política pública e ações afirmativas que disponibilizam recursos e benefícios para suprir as demandas oriundas da sociedade, buscando efetivar o princípio da igualdade, dando oportunidades iguais aos menos favorecidos. A educação foi contemplada com muitas melhorias e oportunidades aos estudantes de escola pública, como a ampliação no número de vagas, bolsas de estudos, investimentos em infraestrutura, assim como um apoio especial as residências universitárias. Fui uma entre tantas mulheres, negras e de baixa renda a ter acesso a universidade pública através de programas que nos oportunizaram galgar projetos de vida a partir da educação.

Finalizei o curso de Licenciatura em História em 2010.1 e diante de toda insegurança do recomeço, segui um percurso que não me favoreceu, e só comecei atuar em sala de aula ativamente um ano depois. Muitas oportunidades em sala de aula foram surgindo na rede privada e pública de ensino. Nessa trajetória trabalhei/ trabalho com crianças, adolescentes, jovens e adultos e educação do campo. Na análise de meu papel de professora, sempre procuro colocar em prática aquilo que acredito ser fundamental para um professor: conhecer bem a disciplina que ministra, ser capaz de selecionar e preparar os conteúdos que julgam ser mais pertinentes aos objetivos da disciplina, ser entusiasmada com o que ensina e saber transmitir este entusiasmo e, acima de tudo, despertar a curiosidade e motivação, para que o aluno adquira autonomia e

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responsabilidade pela sua aprendizagem. A partir de então passei a encarar uma rotina um tanto exaustiva entre salas de aulas em instituições públicas e privadas como professora de história. Para quem já sonhou e conseguiu concretizar um sonho, sabe do que estou falando, a alegria de colocar em prática uma profissão que se lutou/ luta por algum tempo. “A educação é um ato de amor, por isso um ato de coragem. Não pode temer o debate” (FREIRE, 1983, p. 104).

Em 2013 participei de um curso de formação continuada em história local da qual foi pré requisito para fazer parte da turma de Pós Graduação lato sensu – 2014.2 - especialização em história e cultura africana e afro-brasileira, finalizada em 2016.1. Essa especialização me direcionou para temáticas que há muito tempo tinha interesse em estudar sobre comunidades quilombolas, mais especificamente a comunidade Quilombola da Macambira localizada na Serra de Santana – Lagoa Nova / RN.

Compreender a história da Macambira era um desejo muito antigo, cresci ouvindo ideias negativas dos “negros da Macambira” expressão pejorativa a qual se agregam acepções como “sujos” e “bravos”. Falava-se das festas que acabavam todas em briga, da bravura com que seu povo resolvia situações adversas, “na faca ou no tiro”, histórias de que eram saqueadores de feiras em período de estiagens.

Ainda no primeiro ano de graduação, conheci a “Os negros da Boa Vista” em Parelhas/RN, e isso só me aguçou a vontade de conhecer mais sobre a história da comunidade Macambira. No ano de 2011, fiz a primeira leitura do relatório antropológico da comunidade elaborado pelo professor Edmundo Pereira (2011) a partir de então, decidi fazer minhas primeiras considerações sobre tal temática.

Cabe aqui também registrar duas grandes experiências que me despertaram para novos objetivos profissionais, a primeira aconteceu entre os anos de 2013 a 2015 quando atuei como coordenadora de turmas no Programa Brasil Alfabetizado cujo objetivo era alfabetizar jovens, adultos e idosos, estimulando-os a continuarem sua formação em cursos de educação de jovens e adultos (EJA) na Zona Rural, e passei a ter um contato mais próximo com famílias da Macambira. A segunda aconteceu entre 2015 e 2017 em que lecionei como professora de Ciências Humanas no Programa ProJovem Campo

“Saberes da Terra” que objetivava oferecer qualificação profissional e escolarização aos jovens agricultores familiares de 18 a 29 anos que não concluíram o ensino fundamental.

Esse programa visa ampliar o acesso e a qualidade da educação à essa parcela da população historicamente excluídas do processo educacional. A escola em que lecionava ficava bem próxima da comunidade Quilombola da Macambira e apesar de já ter realizado

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um trabalho de pesquisa sobre o processo de identidade desses povos através do Programa de Pós Graduação da UFRN, “especialização história e cultura africana e afro-brasileira”, passei a conviver mais de perto sobre suas trajetórias e isso me inquietou em querer saber mais sobre suas histórias.

Diante de todo percurso profissional, das exigências e tempo reduzido procurei sempre estudar. Alimentava o sonho de entrar no mestrado. Tentei uma seleção do mestrado acadêmico em história da UFRN, mas não obtive êxito. Em 2016 conheci o programa de Pós graduação do Mestrado Profissional em História que versava justamente sobre o ensino, era essa oportunidade que tanto esperava. Comecei a me preparar, fiz a seleção por duas vezes sem conseguir ser aprovada. Em 2018 chegou a vez de sentir a segunda maior alegria por uma conquista tão esperada no campo intelectual e profissional, fui aprovada no mestrado profissional em História pela UFRN.

A entrada no Mestrado Profissional em Ensino de História me fez repensar sobre minha própria trajetória profissional. A linha de pesquisa da qual tenho me debruçado é

“Saberes Históricos no Espaço Escolar” sob o olhar das questões étnicorraciais. Estou buscando a partir dela aprimorar leituras sobre a educação tendo sempre como referência a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)1 que defende em seu artigo 26

§4º “ O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígenas, africanas e europeias” e da Lei 10.639/03, que versa sobre o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, ressaltando a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira.

O ingresso no Curso de Mestrado fomentou novas leituras e discussões sobre os estudos relacionados à Educação Escolar Quilombola. Essa mudança redimensionou o meu olhar e me motivou a arriscar-me nos caminhos da curiosidade que indaga, inquieta e instiga (FREIRE, 1996, p. 15).

Em quase dois anos de pandemia do Covid-19, tive que assumir o desafio de conciliar a pesquisa e a atuação profissional em municípios diferentes. Atuei como professora de História pela Secretaria Municipal de Educação de Natal, simultaneamente assumi o concurso público da cidade de Santana dos Matos RN e precisava estar em contato com Escola Municipal São Luiz no município/ Lagoa Nova/RN, para a

1 A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – nº 9394/96 – publicada em 20 de dezembro de 1996, substituiu a antiga lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei 5692/71, aprovada em pleno regime militar.

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concretização da pesquisa. Apesar de ter trabalhado durante todo esse percurso de forma remota, precisei de tempo adicional para mantermos nosso projeto de escrita direcionado pela História oral. Uma das maiores dificuldades enfrentadas no percurso, foi o contato com as pessoas da comunidade devido as medidas de isolamento vivenciada pela pandemia.

Parafraseando Freire (1996, p. 85) “sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino” portanto, a curiosidade de conhecer um pouco mais sobre a Escola Municipal São Luiz - EMSLe da comunidade Macambira contribuiu significativamente nesse processo de construção do conhecimento me incentivando cada vez mais a encarar o desafio.

O processo de escrita dessa Dissertação me oportunizou conhecer uma Comunidade que tem sua história marcada por disputas territoriais, não que isso seja novidade no nosso país, mas quero aqui deixar registrado todo protagonismo de um grupo formado por pessoas negras que resistem há mais de 150 anos por justiça social e dignidade, e posso afirmar, foram muitas as conquistas. A Macambira, tem uma história composta por cerca de 7 gerações que legaram dos seus ancestrais a firmeza da luta diária, o amor pela terra, a fé divina no Deus supremo, a esperança em um Deus através da força da natureza. Seria esse Deus um orixá? Seria Deus um encantado? Seria Deus aquele que cura através das palavras silenciosas das suas benzedeiras? Seria Deus aquele que manda chuvas e que faz o povo vibrar ao ver sua terra molhada?

Quando criança em meio as minhas traquinagens e arengas entre irmãos e primos, ouvia sempre esse grito de insulto: “Sinha negra da Macambira!” essa expressão ao invés de me perturbar, me ajudou a refletir. Quem eram os negros da Macambira? Aos dez anos, me preparava para fazer a primeira comunhão ao lado de tantos meninos da Macambira e das demais comunidades circunvizinhas, esse foi meu primeiro contato real com a comunidade. Como foi bom estar em um espaço com tantas pessoas parecidas comigo.

Foi em 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, hoje, uma das padroeiras da Macambira, que nos fotografamos de frente ao altar de São Sebastião, aquele que é santo de devoção para todas as comunidades que estão em volta da Macambira e que carrega em suas raízes históricas um extenso legado sincrético das religiões de matriz africana.

Durante a elaboração do relatório antropológico da Macambira, o professor Edmundo Pereira (2011) registrou o relato dos moradores através da tradição oral, sobre a concepção de como são vistos desde pelo menos o início do século XX. De descendência negra, relatam que são conhecidos pela população vizinha, em especial, a

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população “branca” da zona urbana de Lagoa Nova, por “Negros da Macambira”

expressões pejorativas a qual se agregam acepções de “feiticeiros”. Hoje compreendo que a bravura desse povo faz jus a opressão sofrida ao longo do tempo, esqueceram de dizer que o termo feiticeiros está ligado a diversidade das manifestações religiosas em torno da fé.

Apesar de saber que a forma como os negros da Macambira são vistos por quem desconhece a trajetória de resistência da comunidade, está mais que provado que esse é um exemplo claro de como tem sido as relações étnicas entre “brancos” e “negros” desde o período colonial diante do regime escravocrata dominante na região do Seridó, até meados do século XIX, assim como em todo país.

A Macambira está situada na chã2 Serra de Santana, Zona Rural e abarca territorialmente parte dos municípios de Lagoa Nova, Bodó e Santana dos Matos interior do Rio Grande do Norte. Como bem cartografado no mapa a seguir:

Mapa 1: Localização Cartográfica da Comunidade Quilombola da Macambira

Fonte: (ARAÚJO, 2021)

2 Expressão local que se refere à localização geográfica da Macambira na planície da Serra de Santana.

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Fundada em meados do século XIX, a história da Macambira está intrinsecamente ligada ao processo de requerimento das terras que hoje corresponde à cidade de Lagoa Nova. De acordo com a documentação e a memória local, as terras que hoje pertencem a Macambira, foram vendidas pela família de Adriana de Holanda Vasconcelos (Fundadora de Lagoa Nova) a um ex-escravo de nome Lázaro Pereira de Araújo que constituiu uma numerosa família, que historicamente são considerados os responsáveis pela povoação de quase todo território do que hoje se conhece politicamente por Macambira. Nesse sentido, a maioria da comunidade, reconhece Lázaro, como a ancestralidade negra que deu origem ao território.

Buscando valer seus direitos, e a reconquista de suas terras subtraídas ao longo do tempo, no início dos anos 2000 os moradores movimentaram-se em torno do reconhecimento como remanescentes de quilombos e formalizaram o pedido junto a Fundação Cultural Palmares. Em 29 de julho de 2005, a Fundação Cultural Palmares certificou a comunidade como remanescente de quilombos por auto-reconhecimento.

(PEREIRA, 2011, p.127).

Durante o levantamento sobre o número de escolas presentes no território da Macambira, identifiquei duas Escolas públicas de Ensino Fundamental. A Escola Municipal São Luiz (Lagoa Nova) e a Escola Municipal São Daniel (Bodó).

A Escola Municipal São Daniel tem sua história ligada ao processo de emancipação da Cidade de Bodó, evento que ocorreu oficialmente em 01 de janeiro de 1997. Essa unidade escolar encontra-se na zona Rural em território quilombola, porém, não é cadastrada no censo como tal. Atende estudantes da comunidade da Macambira e estudantes dos municípios circunvizinhos.

A Escola Municipal São Luiz, meu principal objeto de trabalho, também está localizada na comunidade Quilombola da Macambira, há 14 km da sede do município de Lagoa Nova, sendo uma das cinco escolas que compõem o Centro Municipal de Ensino e Educação do Campo Nazaré Xavier de Góis/ CMEE- Campo3. A Escola está ativa desde os fins dos anos 70, funcionando através da portaria nº 007/79 de 16/01/1979 e regulamentada pelo decreto municipal nº 151/ 2000 de maio do ano 20004, atua com o Ensino Fundamental I no turno matutino e atendeu uma clientela de 86 estudantes da comunidade, dados dos anos letivos de 2019 e 2020. Recebeu esse nome em homenagem

3 O Centro Municipal de Ensino e Educação do Campo Nazaré Xavier de Góis/ CMEE- Campo. Órgão da rede pública, funciona através da lei de criação nº 653/2019 - composto por cinco Escolas da rede Municipal, com sede própria, localizada na zona Urbana de Lagoa Nova /RN.

4 Projeto Político Pedagógico. Escola Municipal São Luiz. Lagoa Nova, 2003.

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a fé que o povo quilombola tem ao santo São Luiz, “inclusive na escola (...), tem uma imagem do referido santo” relatou Antônio Carlos, ex gestor da escola5.

Uma das problemáticas da Escola Municipal São Luiz está relacionado a desatualização do seu Projeto Político Pedagógico (PPP). Esse documento foi elaborado em agosto de 2003, dois anos antes do processo de reconhecimento da comunidade pela Fundação Cultural Palmares. Minha inquietação era compreender como as escolas estão aplicando o que propõe as novas diretrizes curriculares voltadas para as relações étnico raciais dentro das escolas de origem quilombolas, sobretudo, a EMSL.

A partir de uma análise prévia ao Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal São Luiz, percebi que existe uma grande distância entre a realidade que a escola enfrenta do ponto de vista estrutural, pedagógico e até mesmo cultural. Depois de identificar o problema central da minha pesquisa, passei a me questionar sobre até que ponto as Diretrizes curriculares para a Educação Escolar Quilombola estão presentes nos currículos escolares que atendem as comunidades tradicionais e quais os avanços ainda são necessários para que esse diálogo aconteça.

Apesar da existência da Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas públicas e privadas da Educação Básica e da Resolução nº 8, de 20 de novembro de 2012, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica, muitas escolas ainda desconhecem o que é estabelecido nessa legislação. Esse é o caso da Escola Municipal São Luiz, que apesar dos professores estarem bastante ativos tentando desenvolver uma educação inclusiva, falta-lhes formação adequada, material didático, estrutura física e um currículo que contemple o que propõe a legislação e as práticas pedagógicas quilombola. Diante disso, tenho procurado refletir em que medida o acesso à Educação Escolar Quilombola pode ajudar a promover a afirmação da identidade, a igualdade e o empoderamento da comunidade quilombola da Macambira. Acredito que a educação é a forma mais justa de assegurar que esses alunos/cidadãos quilombolas, tenham sua história, tradição, cultura e identidade respeitadas.

De acordo com entrevistas e visitas realizadas, a gestão municipal atendendo as reivindicações da comunidade escolar, iniciou um projeto de reformas e reconstrução das Escolas Municipais, em que a Escola Municipal São Luiz foi contemplada. O prédio foi

5 Entrevista realizada a Antônio Carlos de Medeiros em 19.07. 2020.

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demolido após o término do ano letivo de 2019, a reconstrução ocorreu durante o ano letivo de 2020.

Imagem 1- Escola Municipal São Luiz, Comunidade Quilombola da Macambira, antes da reconstrução.

Imagem 2- Escola Municipal São Luiz, Comunidade Quilombola da Macambira, durante a construção.

Fonte: (ARQUIVO PESSOAL DE WALLACE FRADE, 2020).

Fonte: (ARQUIVO MUNICIPAL DE LAGOA NOVA, 2019).

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Imagem 3- Escola Municipal São Luiz, Comunidade Quilombola da Macambira, depois da reconstrução.

Fonte: (ARQUIVO MUNICIPAL DE LAGOA NOVA, 2020).

Pesquisar sobre a educação quilombola não tem sido uma tarefa fácil, na cultura escolar brasileira a negação histórica da educação para grupos subalternizados ainda é pouco percebida ou avaliada no contexto educacional contemporâneo, embora exista uma legislação própria atuando nessa demanda. Para compreender a proposta da qual me desafiei estudar nessa pesquisa, procurei dialogar com alguns conceitos relacionados à memória, identidade, quilombo, currículo e biografia, porém, meu primeiro passo foi conhecer e discutir o que determina a legislação, as Diretrizes sobre as questões etnicorraciais e a educação escolar quilombola, como pressupostos teóricos.

Sobre memória e história presente, utilizei Jacques Le Goff e Pierre Nora; análise sobre identidade, Stuart Hall; reflexões sobre currículo, Tomaz Tadeu da Silva; conceito de quilombo, Flávio Gomes (2015); Ilka Boaventura Leite (2000) e Munanga (2009), Educação Escolar Quilombola; Arruti (2017), o processo histórico e implementação da legislação voltada para as relações etnicorraciais Nilma Lino Gomes; história oral, Thompson, (1992) e Carla Pinsk (2010); e história local através de SCHIMIDT;

CAINELLI ; (2009).O diálogo com cada um dos autores citados, foram extremamente importantes para o desenvolvimento dessa escrita.

Em relação ao uso metodológico e das fontes de pesquisa, utilizei a história oral, que além de ser testemunho, também agirá como fonte histórica, assim como afirma Carla Pinsk (2010) que a História oral é uma metodologia de pesquisa e também um meio para

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a constituição de fontes de estudos da história contemporânea. Para ela, essa prática é utilizada desde a antiguidade por historiadores.

Metodologicamente dividi a pesquisa em 5 etapas: 1ª) catalogação de dissertações, teses e fontes documentais; ainda nessa etapa, fiz uma visita à Escola; 2ª) realizei leituras que dialogam com os principais conceitos que regem essa pesquisa; 3ª) realização de entrevistas e questionários a comunidade escolar através das ferramentas tecnológicas; 4ª) visita à comunidade para a realização das entrevistas e fotografias da escola e da comunidade; 5º Parceria com a escola para a realização do produto.

Ao refletir sobre a prática dessa metodologia e após decidir a temática que seria estudada, realizei uma visita preliminar à escola, com o objetivo de conhecer o espaço físico, a equipe pedagógica e me apresentar às famílias (pais e alunos). A primeira visita aconteceu em setembro de 2019. Na ocasião, estava acontecendo uma reunião pedagógica da qual participei, foi um momento de muito aprendizado, pois assim identifiquei quais eram os principais anseios que as famílias solicitavam no momento. Durante a reunião, a gestão escolar apresentou projetos pedagógicos e o projeto que previa a construção do prédio da escola, luta travada entre a comunidade escolar e a prefeitura municipal de Lagoa Nova. As famílias exigiam dos órgãos públicos, a agilidade na reforma ou construção de um espaço físico adequado que pudesse atender dignamente a demanda dos estudantes, assim como exigiam melhorias no andamento do transporte escolar. Como nos mostra o registro abaixo:

Imagem 4- Escola Municipal São Luiz, Comunidade Quilombola da Macambira.

Fonte: (ARQUIVO PESSOAL DA AUTORA, 2019).

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Imagem 5- Escola Municipal São Luiz, Comunidade Quilombola da Macambira.

Fonte: (ARQUIVO PESSOAL DA AUTORA, 2019)

Para compreender qual o papel da memória e da oralidade na construção da identidade da comunidade escolar, e como essas questões tem sido trabalhadas na escola, realizei algumas entrevistas individuais de forma direta e indireta elaboradas e aplicadas através do google formulário e whatsApp aos professores, diretores e coordenadores que estão ativamente trabalhando na Escola Municipal São Luiz, assim como profissionais que já fizeram parte do corpo docente em anos anteriores. Aplicamos questionários voltados exclusivamente para os professores com a finalidade de identificar quais as principais problemáticas vistas a partir da ótica de quem acompanha o trabalho da escola cotidianamente. Infelizmente, por conta da pandemia, não foi possível ouvir as inquietações dos pais e estudantes, no entanto, tentamos nesse percurso metodológico, dar visibilidade às percepções dos sujeitos oriundos dessa educação quilombola realizada na Escola Municipal São Luiz. Após o processo de imunização da comunidade é que conseguimos com mais liberdade adentrar o espaço da Macambira, visitar algumas famílias, fazer fotografias e concluir as metas das entrevistas.

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Sabemos que para implementar um projeto de ensino em uma comunidade escolar é necessário compreender a diversidade das relações estabelecidas e vivenciadas na escola e no espaço social que ocupam para poder incluí-las como parte das propostas educacionais. Contudo, a escolha dessa temática foi motivada pelo interesse de conhecer, aprender e contribuir para o processo de construção histórica e identitária da Macambira e também da Escola M. São Luiz. Perceber a ausência de documentos e registros sobre a cultura e costumes quilombolas, bem como a falta de fontes de pesquisa relacionado à história local que atenda a demanda de profissionais e estudantes dessa Escola, foi uma das razões para a realização dessa pesquisa.

Para pensar História local e o ensino de História, nos alinhamos as ideias Schmidt;

Cainelli (2009). Percebemos que um dos problemas relacionados ao uso da história local no ensino de história é a definição e abrangência desse conceito. A valorização da história local nos últimos anos pelos historiadores teve reflexo nas propostas curriculares nacionais do ensino fundamental e médio. A produção historiográfica atual tem buscado recuperar a história das pessoas comuns e apesar das muitas críticas, entre elas de que as obras sobre história local reportam à história de pequenas localidades, escritas por pessoas de diferentes segmentos sociais, não necessariamente historiadores (SCHIMIDT;

CAINELLI, 2009, p. 137).

O ensino da história local pode ser extremamente instigante, à medida que ela cumpre plenamente uma das principais finalidades da disciplina de história. Vejamos os seguintes possibilidades de s trabalhar com a história local como estratégia de aprendizagem:

O trabalho com a história local pode produzir a inserção do aluno na comunidade da qual faz parte, criar a historicidade e identidade dele. O estudo com a história local ajuda a gerar atitudes investigativas, criadas com base no cotidiano do aluno, além de ajudá-lo a refletir acerca do sentido da realidade social. Como estratégia pedagógica, as atividades com história local ajudam o aluno na análise dos diferentes níveis de realidade: econômico, político, social e cultural. O trabalho com espaços menores facilita o estabelecimento de continuidades e diferenças com as evidências de mudanças, conflitos e permanências.

O trabalho com a história local pode ser instrumento idôneo para a construção de uma história mais plural, menos homogênea, que não silencie a multiplicidade de vozes dos diferentes sujeitos da história.

(SCHMIDT; CAINELLI, 2009, p.139).

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Falar de história local é falar da memória, como pontua Bittencourt (2008) a memória se impõe por ser a base da identidade, e é pela memória que se chega à história local. memória oferece elementos para a construção histórica das localidades.

A problemática que envolve esta pesquisa está centrada na Escola Municipal São Luiz por demonstrar desvinculação entre seu projeto pedagógico e a história da comunidade, que a escola atende. Nessa perspectiva, a questão orientadora pode ser assim compreendida: Quais são as dificuldades encontradas pela EMSL para realizar o projeto pedagógico de forma que esteja alinhado com a história das comunidades?

Nesse contexto, ainda objetivamos contextualizar, historicamente, a Comunidade Quilombola da Macambira, onde vivem os estudantes; discorrer sobre as Políticas Públicas relacionadas a Educação Escolar Quilombola; apresentar uma breve contextualização da história da escola; refletir sobre as condições físicas e estruturais da escola e tecer reflexões analíticas sobre o currículo em ação na escola, a fim de compreender como está se delineando a educação quilombola, como modalidade de ensino.

No esforço de atender ao que esta pesquisa se propõe, foi necessário abordar vários temas tais como o conceito de educação escolar quilombola, diretrizes curriculares, currículo, práticas pedagógicas, luta pela terra, quilombo, memória, identidade, biografia, história local, silenciamento e condições socioeconômicas. Estudá-los se fez necessário para compreender se a Educação Escolar Quilombola vem sendo implementada no PPP da Escola, assim com, é que a História local vem sendo trabalhada em sala de aula.

Para isso, temos como recorte temporal os anos de 2003, ano de elaboração do último PPP da escola, a 2020. Este documento foi elaborado dois anos antes do processo de reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares e pela Diretoria de Proteção ao Patrimônio Afro -Brasileiro, como remanescente de quilombo, e portanto, encontra-se desatualizado, não havendo em sua filosofia nenhuma referência no que diz respeito as relações étnico raciais ou metodologias que estejam voltadas para o ensino da história e identidade da comunidade como quilombolas6

Dessa forma, busquei organizar as temáticas em quatro capítulos. O primeiro capítulo tem como título “Discussão legal no âmbito da Educação Escolar Quilombola”.

Apontei o percurso histórico da legislação voltada para a educação das relações

6 PPP – Projeto Político Pedagógico. Escola Municipal São Luiz- EF 2003.

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étnicorraciais, a implementação da Lei 10.639/03, a Educação Escolar Quilombola no Brasil e sua relação com o ambiente escolar desde os primeiros momentos de reivindicação pelo Movimento Negro até os dias de hoje. Procurei refletir sobre a importância do movimento negro no processo de lutas e conquistas por políticas públicas afirmativas, realizamos uma breve discussão sobre o que propõe a Educação Escolar Quilombola e por fim, fazemos um levantamento das dissertações de mestrado disponível na plataforma do ProfHistória que pense as questões étnico-raciais, educação escolar quilombola, assim como as questões quilombolas. Esses trabalhos foram de extrema importância no processo de organização das ideias e da escrita e fornecendo um relevante referencial teórico.

O segundo capítulo tem como título Comunidade remanescente de quilombo da Macambira: luta territorial, memória e direitos políticos. Neste capítulo teço uma discussão conceitual sobre quilombo e suas ressignificações ao longo da história.

Contextualizo historicamente a Comunidade Quilombola onde vivem os estudantes da Escola Municipal São Luiz e onde a escola está localizada. Apresento sua fundação, luta territorial, processo de certificação das terras pela Fundação Cultural Palmares e INCRA e uma breve apresentação dos aspectos culturais da comunidade atualmente.

O terceiro capítulo tem como título No chão da Escola Municipal São Luiz:

diagnóstico, perfil social e educação escolar quilombola, tem como objetivo descrever e contextualizar a Escola Municipal São Luiz. Assim, apresenta a história da escola como resultado da ação política da comunidade, sua caracterização, corpo docente e legislação de funcionamento, assim como uma análise do Projeto Político Pedagógico. Discutimos relação da escola com a comunidade, sobre como as práticas pedagógicas estão sendo desenvolvidas pelos professores e se atendem às recomendações das Diretrizes étnico- raciais. Reflito sobre as condições físicas e estruturais da escola na atualidade e apresento o perfil dos estudantes e dos profissionais da educação, assim como busco refletir sobre o currículo em ação na Escola Municipal São Luiz, a fim de compreender como está se delineando a educação quilombola como modalidade de ensino.

O quarto capítulo tem como título Intervenção no espaço escolar: proposta pedagógica (produto) de material didático. Será apresentado o produto desta dissertação, uma proposta de intervenção pedagógica através da produção de um material didático cujo objetivo é levar o conhecimento histórico sobre os saberes e fazeres dos negros da Macambira para as salas de aula. Elaboramos um material didático formado por uma caixa de memória, um álbum biográfico e uma página em Rede Mundial (site), cuja função é

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orientar e fornecer informações didáticos referentes a história local aos professores e alunos da EMSL A caixa é um produto transmidiático e foi pensado para versar sobre a história da comunidade e proporcionará acesso as informações em diferentes níveis e formatos. Constitui-se essencialmente de um repositório para armazenar o álbum biográfico e artefatos que caracterizam a cultura local, bem como permitirá o acesso a página na rede mundial de computadores através da leitura de um QR code. Para a aplicação do produto, oferecemos duas sequências didáticas que ajudará ao professor executar a proposta pedagógica.

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2 DISCUSSÃO LEGAL NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA.

Um mundo onde existam outras possibilidades de existência que não sejam marcadas pela violência do silenciamento e da negação. Queremos coexistir, de modo a construir novas bases sociais (RIBEIRO, 2018, p.27).

A presente pesquisa foi realizada na Escola Municipal São Luiz, localizada na Comunidade Quilombola da Macambira, Zona Rural do Município de Lagoa Nova, RN.

A história dessa comunidade vem sendo registrada através de muitas lutas pela sobrevivência em busca do reconhecimento da sua própria identidade cultural. Como partícipes de um grupo social com direitos e deveres a ser cumpridos na sociedade, os negros da Macambira, como são chamados, vem conquistando seu espaço e construindo suas histórias tendo como principal fundamentação a cultura local, mas muito da história desse grupo quilombola, que está ligado diretamente à memória africana, foram e continuam sendo silenciadas. Os mitos origens, crenças, rituais de cura, as festividades, a linguagem, entre outras traços culturais, foram e são ocultadas. Esse silêncio também está presente cotidianamente pelo próprio grupo em assumirem sua própria identidade étnica, à forma como compartilham seus modos de viver. Os registros apontam que desde o início do século XX, seus membros de descendência negra são conhecidos por “negros da Macambira”. Essa denominação pela qual são reconhecidos pelos seus vizinhos e pela população branca de Lagoa Nova constituiu-se historicamente uma expressão pejorativa cujo significado está relacionado a sujos, bravos e feiticeiros7.

A forma pela qual os “negros da Macambira” reagem a não querer falar muitas vezes dos seus costumes e forma de viver herdado da cultura africana é resquícios de um país de cultura escravocrata, que negou o papel do negro na sociedade e que ainda persiste em inferiorizá-los. Tal denominação é exemplar do modo como tem sido as relações étnicas entre “brancos” e “negros” desde o período colonial, com o regime escravocrata dominante nas regiões brasileiras, bem como na região do Seridó no RN, até meados do

7 PEREIRA, Edmundo Marcelo Mendes. Comunidade Macambira: de “Negros da Macambira” à Associação Quilombola. p. 05. Cadernos do LEME, Campina Grande, vol. 3, nº 1, p. 123 – 260. jan./jun.

2011.

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século XIX com as transformações nas lógicas de administração dos estoques de mão-de- obra com o crescente aparecimento de homens livres em sua maioria ex-escravo.8

Para (LEITE , 2000), ao longo da história do Brasil, descendentes de africanos em todo território nacional, organizados em associações quilombolas ou não, reivindicam o direito de permanência e reconhecimento legal à posse de terras ocupadas para moradia e sustento, assim como o livre exercício de suas práticas culturais, crenças, costumes, valores e modos de viver considerados em sua especificidade. Falar dos quilombos e dos quilombolas no cenário político atual é, portanto, falar de uma luta política e, consequentemente, de uma reflexão científica em processo de construção. É perceber que existe inúmeras questões voltadas para a história afro brasileira que necessitam ser construídas ou reconstruídas através de um novo olhar.

Apesar desse processo de reconhecimento do papel do negro na sociedade brasileira ter demorado e ainda seja uma problemática vigente, faz algum tempo que as questões sobre as relações raciais, constituiu-se uma preocupação. Alguns intelectuais a partir da década de 1930 produziram obras que discutia-se essa temática, mas é a partir das ideias de Gilberto Freyre que vai haver uma maior valorização da mistura racial e cultural.9 Porém, Schwartz (2001), afirma que foram muitos os pensadores que relataram esta história com diferentes vieses, desde Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, entre outros tantos autores, que resolveram tratar desta temática negra, sem nunca portanto, esgotar este tema, já que as vozes dos negros escravizados ou descendentes, sempre foram muito silenciadas. E esse silêncio vem sendo repercutido em todas as esferas sociais e principalmente nas escolas.

No caso da Macambira, não tem sido diferente, as escolas localizadas dentro do próprio território e as escolas circunvizinhas que também recebem estudantes quilombolas, desconhecem e, portanto, não se aplica o que a legislação estabelece. Essa falta de conhecimento sobre a legislação e Diretrizes para as relações etnicorraciais e quilombolas, refletem na ausência de conhecimento dos próprios sujeitos envolvidos sobre suas histórias, uma vez que, as instituições de ensino estão falhando no que diz respeito a prática pedagógica voltadas para o ensino de história afro-brasileira e local, partindo da legalidade constitucional. Sabemos que esse é o retrato do nosso país quando

8 Idem.

9 Figueiredo, Ângela (UFRB) Grosfoguel, Ramón. ( University of California , Berkeley) : Racismo à Brasileira ou racismo sem racista : colonialidade do poder e a negação do racismo no espaço universitário.

Soc. E Cul., Goiania, v. 12, N.2, p. 223 – 234, Jul./Dez. 2009.

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se trata das questões étnico-raciais, desde o período colonial que o povo negro vem acumulando desvantagens sociais, no entanto, o sistema educacional brasileiro só acontecerá de fato, quando a inclusão desde grupo social, o povo de ancestralidade africana, for além do acesso aos muros da escola. Não basta somente o direito de acesso as escolas, é preciso encontrar mecanismos para que o negro não seja discriminado dentro destes ambientes10.

Pensando nessa problemática e pensando numa forma de contribuir com a Escola Municipal São Luiz com essa discussão, neste primeiro capítulo faremos uma breve reflexão histórica sobre a luta do Movimento Negro em prol de uma sociedade que reivindica seus direitos e que luta contra a desigualdade social e racial, assim como a importância de conhecermos o que determina a lei 10.639/03, a Diretriz Nacionais para as relações étnico raciais e a Diretriz para Educação Escolar quilombola.

2.1 BREVE REFLEXÃO SOBRE A HISTÓRIA DO LUGAR SOCIAL DO NEGRO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO.

O Brasil, ao longo da sua história, estabeleceu um modelo de desenvolvimento excludente, impedindo que milhões de brasileiros tivessem acesso à escola ou nela permanecessem. Durante os períodos colonial, imperial e republicano, a legislação vigente para cada época, compactuou diretamente para que cada vez mais a população afrodescendente estivesse fora do que se propunha o sistema educacional do país, permitindo assim, a discriminação e o racismo que atinge a população afro-brasileira até hoje.

De acordo Souza (2021), não é de hoje que o povo negro vem acumulando desvantagens sociais, por longas décadas, a educação institucionalizada (a escola) foi negada, e educação informal, foi dificultada, ou seja, mesmo de modo informal, essa educação também foi, de certa forma, usurpada.

Durante o período colonial (1530- 1822) a educação ficou a cargo dos jesuítas e tais práticas escolares eram restrita às crianças brancas, indígenas, mamelucas e mulatas.

10 Ver o capítulo IV – A escola enquanto espaço de diversidade, do livro : SOUZA, Suely Gleide Pereira de: Quilombo Boa Vista dos Negros: Cultura, escola e cidadania. Natal: caravela selo cultural, 2021.

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