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PERFIL DAS TURMAS E A MULTISSERIAÇÃO NA EMSL

No documento IDENTIDADES E MEMÓRIAS: (páginas 134-162)

De acordo com Censo 202080, a EMSL atendeu uma demanda de 86 alunos matriculados com faixa etária entre 2 anos e seis meses a 14 anos. Baseados nos dados

77 Entrevista realizada em 10.05.2021

78 A sala de leitura é um canal no YouTube do leitor Antônio Gomes que produz conteúdo sobre a importância da leitura e da educação, tem parceria com a TVU.RN (TV Universitária do RN ). Disponível em: https://www.youtube.com/c/SaladeLeituracomAdrianoGomes/featured. Acesso em 03 jun.2021.

79 Entrevista concedida em 05.05. 2021

80 Tive acesso as informações do Censo Escolar 2020 da EMSL através dos agentes administrativos que prestam serviços para o CMEECampo. A escola tem como código de acesso o n° 24029602 e é registrada

das matrículas, esses estudantes são residentes da Macambira I, II, III, Buraco de Lagoa e do Sítio São Francisco. A maioria desses alunos são filhos de trabalhadores da agricultura familiar e são cadastrados nos programas do governo federal como baixa renda. De acordo com o levantamento do perfil sócio econômico das famílias que compõe a EMSL, 76% (setenta e seis porcento) da renda familiar advém da agricultura e que 84%

(oitenta e quatro porcento) dessas, recebem algum benefício do governo federal como complemento da renda. Assim nos mostra os gráficos a seguir:

Gráfico 1- Fonte de renda familiar

Fonte: (DADOS DA PESQUISA, 2021).

Gráfico 2- Auxilio do Governo Federal.

Fonte: (DADOS DA PESQUISA, 2021).

como Escola em Área onde se localiza comunidade remanescente de quilombo como já mencionei no início da apresentação da EMSL.

76%

24%

Fonte de renda Familiar

Agricultura Outros

84%

16%

Recebe auxílio do governo Federal?

Sim Não

O ano letivo de 2020 ocorreu de forma remota e embora as/ inúmeras dificuldades de acesso à internet na comunidade, dos 86 matriculados, 81 dos estudantes obtiveram a aprovação. Como nos mostra o quadro 4:

Quadro 5- Resultado do ano Letivo de 2020 na EMSL

Quadro 6- Quadro com número de alunos matriculados na EMSL em 2020.

SÉRIES NÍVEIS

4º e 5º ANO

ENSINO

FUNDAMENTAL I 18

Fonte: (DADOS FORNECIDOS PELO CMEECAMPO, 2020)

Depreende-se desses dados apresentados no quadro- 5, que algumas turmas do Ensino Fundamental da EMSL são distribuídas de forma multisseriada. Pelas informações expostas, os/as educandos/as dos anos 1º e 2º / 4º e 5º do Ensino Fundamental I no ano de 2020, estão organizados em salas multisseriadas.

O método, baseado na concepção de ensino mútuo, foi introduzido no Brasil no século XIX (PILLETI, 2003) e corresponde a uma modalidade de ensino que ocorre, sobretudo, em áreas rurais. De acordo com (XIMENES-ROCHA; COLARES, 2003), essas classes têm como característica reunir em um mesmo espaço físico, diferentes séries. Essa é, na maioria das vezes, a única opção de acesso à educação para moradores/as de comunidades rurais (ribeirinhas, quilombolas).

As salas multisseriadas têm regularidade para efetivar seu trabalho a partir das Diretrizes Complementares, Normas e princípios para o desenvolvimento de políticas públicas de atendimento à Educação básica do campo, entretanto, de modo geral, ainda há muitas lacunas e muito a se fazer para que essa legislação se concretize. Vejamos o que a lei estabelece:

Art.10 As escolas multisseriadas, para atingirem o padrão de qualidade definido em nível nacional, necessitam de professores com formação pedagógica, inicial e continuada, instalações físicas e equipamentos adequados, livros e materiais didáticos apropriados e supervisão pedagógica permanente. (BRASIL, 2007, p. 12).

As classes multisseriadas não são uma realidade apenas da EMSL, mas das 20 escolas que compõe o CMEECampo. Sabemos dos inúmeros desafios que um professor, assim como os estudantes enfrentam diante do ensino em salas multisseriadas, mas esse é um dos métodos aplicados em grande parte das escolas rurais do nosso país. Um dos maiores problemas enfrentados pelos profissionais da educação diante dessa modalidade de modo geral, é a falta de formação profissional voltadas para as atividades pedagógicas em salas multisseriadas, além dos problemas de infraestrutura como a falta de suporte técnico, pedagógico e didático para que o trabalho seja realizado com mais segurança.

Como afirma Azevedo, sobre as dificuldades dos educadores que atuam nas escolas com classes multisseriadas:

Por causa da precariedade de infra-estrutura física das escolas, as limitações materiais e pedagógicas, a falta de condições apropriadas para a realização do trabalho docente nessas turmas e a falta de um projeto político-pedagógico que orientasse práticas condizentes à identidade e particularidades dos que vivem, trabalham e estudam no meio rural. (AZEVEDO, 2010, p. 163)

Ao entrevistar a professora Inês de 43 anos que atuou na EMSL, ela afirma que uma das maiores dificuldades de trabalhar na Escola, era justamente relacionado a aprendizagem dos alunos e por ser realizado em salas multisseriadas aumentava mais o desafio, assim nos relatou:

As dificuldades encontradas eram os alunos fora de faixa etária em sala multisseriadas, isso gerava muita dificuldade de aprendizagem; a baixa renda das famílias também interferia diretamente no ensino aprendizagem como um todo, e também a desestrutura familiar.

(INÊS81, 2021).

De acordo com a coordenadora pedagógica da Escola, Márcia Araújo, na Zona Urbana do município de Lagoa Nova não há mais salas de aulas multisseriada, essa é uma realidade das escolas do campo, o que para ela ainda há muito o que se discutir e que não é um problema, o que falta são políticas públicas com um olhar mais sensível voltadas para essa modalidade. Em entrevista através do whatsApp, nos relata:

(...) Quando se fala de multisseriação é muito comum ouvir de alguns professores que esse é o problema nas escolas de Campo, que é onde de fato, nasceu as multisseriações por ser escolas pequenas, também por ter um pequeno número de alunos, ou seja, aquilo que a gente entende por falta de políticas públicas voltadas para o campo. A multisseriação não nasceu de um desejo, mas de uma necessidade. E tudo que nasce de uma necessidade e não de uma opção, ela surge muitas vezes sem qualificação ou organização. (...) O problema não é a multisseriação, mas a forma como se conduz. A negação do que existe em volta disso, é o grande problema. Professor que se vire; Não existe material didático adequado; Não existe formações constante adequada (...) Há um silêncio em relação as Escolas de campo. (...) No CMEECampo onde está inserida a EMSL/ localizada em território quilombola, estamos sempre levando esse assunto em pinceladas e com muito cuidado dentro das nossas formações (...) como vou ensinar? (...) Essa é a única maneira? Como funciona? Não tem outra forma de integrar tudo isso e os saberes continuarem juntos? São questionamentos que eu vou levantando e a gente vai aplicando devagar, porém, sempre. (Entrevista concedida em 17.05.2021).

81 Entrevista concedida em 05.05.2021

Diante da presente realidade sobre a multisseriação, pensar nessa perspectiva de mudança é o mínimo que deve ser feito para contribuir com o processo de ensino e aprendizagem desses meninos (as)(es) que vivem no campo e compartilham dos saberes locais. Sabemos que as dificuldades expressadas através das práticas pedagógicas desenvolvidas em salas multisseriadas, acontecem justamente por não atender um ensino que dialogue com a realidade dos estudantes e dos profissionais envolvidos. Os alunos das escolas do campo como quaisquer outros, têm o direito de acesso a políticas públicas de qualidade, entre elas uma educação que leve em consideração as suas especificidades locais, como afirma a resolução (1/2002 – CNE/CEB) em seu parágrafo único:

A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes a sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade de vida coletiva no país.

(CNE/CEB, 2002, p.1).

Diante disso, sabemos que são os inúmeros desafios enfrentados pelos professores, vão além das atividades didático-pedagógicas. As escolas do campo ainda se processam em um contexto de precariedade e dificuldades estruturais do ponto de vista físico, administrativo, pedagógico, familiar e tantos outros, como aponta Hage (2011):

As escolas multisseriadas estão localizadas em pequenas comunidades rurais, muito afastadas das sedes do município, nas quais a população a ser atendida não atinge um contingente definido pelas secretarias de educação para formar uma turma por série/ano. São escolas que apresentam infraestrutura precária: em muitas situações não possuem prédio próprio e funcionam na casa de um morador local ou em salões de festas, barracões, igrejas, etc. – lugares muito pequenos, construídos de forma inadequada em termos de ventilação iluminação, cobertura e piso, que se encontram em péssimo estado de conservação, com goteiras remendos e improvisações de toda ordem, causando riscos aos seus estudantes e professores. Grande parte delas tem somente uma sala de aula, onde se realizam as atividades pedagógicas e todas as demais atividades envolvendo os sujeitos da escola e da comunidade, e carece de outros espaços, como refeitórios, banheiros, local para armazenar a merenda ou outros materiais necessários. Além disso, o número de carteiras que essas escolas possuem nem sempre é suficiente para atender a demanda, e os quadros de giz estão deteriorados dificultando a visibilidade dos alunos. (HAGE, 2011, p. 99)

Analisando as questões levantadas por Hage (2011) observamos que todos esses problemas citados, fizeram ou fazem parte do cotidiano da EMSL. Apesar de ter ocorrido melhorias na sua estrutura física, ainda não é o espaço adequado para comportar a

demanda de estudantes, assim como precisa urgentemente ser pensado um currículo que contemple a diversidade e as especificidades culturais da comunidade dentro da prática pedagógica da escola. Ao entrevistar o professor Roberto de 38 anos que trabalha há seis anos na EMSL, sobre as dificuldades enfrentadas diante de sua experiência como docente em uma sala multisseriada, nos relatou:

Na minha opinião, uma das maiores dificuldades encontradas pelos os professores que atuam nesse seguimento das salas multisseriadas, é formada pela falta de formação continuada. Na teoria, algumas pessoas falam como devemos fazer ou não, mas na prática, nós sabemos que não somos treinados para atender a demanda de uma sala multisseriada.

Em salas de aulas comuns, vou citar o São Luiz, já nos deparamos com situações bem difíceis, são turmas muito heterogêneas. Nós temos crianças aí com deficiências diagnosticadas pela medicina, nós temos crianças sem deficiência, nós temos crianças com deficiência aparentes que ainda não foram diagnosticadas, mas percebemos claramente que elas têm alguma deficiência de aprendizagem cognitiva. Nós temos crianças alfabetizadas, crianças não alfabetizadas cursando a mesma série, ou seja, são diferentes níveis de saberes que precisam ser atendidos, cada uma nas suas especificidades, sem qualquer tipo de discriminação ou de exclusão. E toda essa situação se agrava com uma turma multisseriada, o problema é ainda maior, o que torna muito difícil para o professor atender a todos de forma igualitária. No meu caso com a turma multisseriada de 4º e 5º ano da EMSL, a que sempre trabalhei desde 2015, não considero a multisseriação em si, uma grande dificuldade, haja visto que, nós já temos todos esses problemas: uma grande quantidade de alunos com deficiências, uma grande quantidade de alunos não alfabetizados que chegam ao 4° e 5º anos. Não sei se isso é causado também pela multisseriação nas séries anteriores, estou falando especificamente da minha turma. Então, se considerarmos todos esses problemas, essas desigualdades, esses diferentes níveis de conhecimentos, são os que tornam o trabalho mais árduo e esses problemas superam as dificuldades encontradas nas turmas multisseriadas. (...) Vou citar só um exemplo aqui, esse ano (2021) estou só com o 5º ano, não é uma turma multisseriadas, mas eu tenho 2 alunos diagnosticados com imperatividade e outro com autismo. Ainda tenho alunos que tem deficiência aparente que ainda não foram diagnosticadas e tenho vários alunos também que não são alfabetizados.

Quer dizer, se a gente levar muito a sério isso aí, a multisseriação em si, não faz muita diferença. Então minhas maiores dificuldades, lógico que a sala multisseriada, vem pra tornar o problema ainda mais grave, mas que não é tanto quanto os problemas que eu acabei de citar.

(ROBERTO82, 2021).

A reflexão que Márcia Araújo e o professor Roberto fizeram das salas de aulas multisseriadas na EMSL nos revela que esse método não é o principal problema enfrentado cotidianamente, a falta de formação continuada para que os profissionais

82 Entrevista concedida em 13.05.2021

atuem levando em consideração as especificidades das turmas, que como afirma Roberto, são turmas sempre heterogêneas, é a principal motivação para que o trabalho multisseriado do ponto de vista pedagógico, seja mais difícil de se concretizar .No entanto, em outros momentos que interrogamos os professores da EMSL sobre a prática em sala de aula, identificamos que os recursos didáticos utilizados são mínimos.

Ao longo do tempo, os professores que lecionavam/lecionam na EMSL tinham apenas o livro didático como referência para desenvolver seus trabalhos em sala de aula, porém, nos últimos anos, a coordenação vem desenvolvendo um trabalho mais sensível e que dialoga com a realidade das crianças da comunidade. Os planejamentos tem ocorrido de forma coletiva a partir da pedagogia de projetos em que envolve leitura, escrita, contextualização local, os saberes e competências exigidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tendo sempre uma literatura como referência e o livro didático como fonte de orientação para a organização das atividades.

4.4 PERFIL DOS PROFESSORES DA EMSL E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Para conhecer o quadro de professores da EMSL e identificar como o trabalho docente vem sendo realizado, assim como construir um perfil desses profissionais, realizamos entrevistas através de questionários pelo google formulários. Os 5 (cinco) professores que estão lecionando na escola contribuíram de forma bastante significativa.

Responderam os questionários e não se recusaram a dialogar sobre o fazer pedagógico, as dificuldades enfrentadas diariamente na escola, as mudanças quem vem ocorrendo nessa nova gestão, assim, nos ajudaram a construir grande parte dessa escrita. O questionário aplicado, é composto por 33 questões objetivas de múltiplas escolhas e 2 subjetivas, contemplando ao todo, 35 questões.

O quadro a seguir tem a o objetivo de apresentar os professores que atuam EMSL.

QUADRO 7: Demonstrativo do quadro de professores da EMSL

01 FEMININO 41 A 55 PEDAGOGIA EFETIVA ESPECIALIZAÇÃO

02 FEMININO 41 A 55 PEDAGOGIA EFETIVA ESPECIALIZAÇÃO

03 FEMININO 41 A 55 PEDAGOGIA EFETIVA ESPECIALIZAÇÃO

04 FEMININO 41 A 55 PEDAGOGIA EFETIVA ESPECIALIZAÇÃO

05 MASCULINO 31 A 40 PEDAGOGIA EFETIVO ESPECIALIZAÇÃO

Fonte: (DADOS DA PESQUISA,2021)

Como nos mostra o quadro 5, os professores que atuam na EMSL têm formação em pedagogia, todos tem pós graduação e fazem parte do quadro de professores efetivos da Secretaria Municipal de Educação de Lagoa Nova RN. A maioria dos educadores realizaram a graduação em instituições privadas, como mostra o gráfico abaixo:

Gráfico 3- Acesso ao Ensino Superior dos Professores da EMSL

Fonte: (DADOS DA PESQUISA, 2021)

Quanto à identidade étnico-racial os cinco educadores que trabalham na EMSL se identificam como brancos e pardos, como apresenta o gráfico abaixo:

Gráfico 4- Representação da identidade racial dos professores da EMSL

Fonte: (DADOS DA PESQUISA, 2021)

Sobre o quadro de profissionais que atuam na EMSL, por ser uma escola localizada em área quilombola, a legislação propõe que os docentes devem ter formação específica e que preferencialmente esses profissionais possam ser da própria comunidade, assim como estabelece a Resolução nº 08 de 20 de novembro de 2012:

Art. 8, [...] IV - presença preferencial de professores e gestores quilombolas nas escolas quilombolas e nas escolas que recebem estudantes oriundos de territórios quilombolas; Art. 39, § 2º A gestão das escolas quilombolas deverá ser realizada, preferencialmente, por quilombolas considerando, os aspectos normativos Nacionais, Estaduais e Municipais; a jornada e o trabalho dos profissionais da educação; a organização do tempo e do espaço escolar; a articulação com o universo sociocultural quilombola. Art. 48 A Educação Escolar Quilombola deverá ser conduzida, preferencialmente, por professores pertencentes às comunidades quilombolas. (BRASIL, 2012, p. 6-15).

A realidade da EMSL está longe do que estabelece a lei, após o levantamento de dados da Escola, constatamos que não há nenhum professor que seja oriundo da Comunidade Quilombola da Macambira. Quatro professores são naturais de municípios vizinhos e dois deles residem em Lagoa Nova, um na zona urbana e outro na zona rural, numa comunidade próximo a Macambira. Quanto ao tempo de atuação na Escola, a grande maioria trabalha há mais de 4 anos, apenas uma professora estar há 2 anos, porém, em anos anteriores, muitos profissionais da comunidade já prestaram serviço à Escola através de contratos e cargos comissionados nas mais variadas funções.

Buscando compreender essa ausência de direcionamento e conhecimento do que propõe a legislação da EEQ na EMSL, me deparei com uma pesquisa publicada recentemente sobre a ausência de Escolas Quilombolas no Rio Grande do Norte. Para Firmiano Júnior (2020) não existe uma política de orientação estadual nem municipal que possa dialogar com o que estabelece a legislação voltada para a modalidade EEQ:

Reafirmamos que a educação é um dos direitos sociais garantidos a todos os cidadãos pela Constituição federal (art.6º). No entanto, no estado do Rio Grande do Norte não há nenhuma escola quilombola e há comunidades que não tem nenhuma escola. A educação escolar quilombola, notoriamente, é inexistente no estado. Bem como excluídos da terra, as comunidades quilombolas são excluídas da educação e da história nacional (...) Podemos dizer que a educação escolar quilombola em nosso Estado, ainda é um sonho, em um estado onde se quer tem pelo menos uma escola quilombola em seu território.

(FIRMIANO JÚNIOR, 2020, p. 24 e 25).

A pesquisa de Firmiano (2020) nos faz entender o porquê de a EMSL ainda ser um espaço embrionário nesse processo de formação histórica como instituição educacional quilombola.

Diante disso, como nem sempre os professores que trabalham no quilombo residem na mesma comunidade, é necessário que esses profissionais estejam em constante formação. Nas deliberações da CONAE (2010), cabe as esferas federal, estadual, municipal e o Distrito Federal promover uma formação específica e diferenciada (inicial e continuada) aos profissionais das escolas quilombolas, propiciando a elaboração de materiais didáticos- pedagógicos contextualizados com a identidade étnico racial do grupo.

Sobre a prática pedagógica realizada na EMSL, os professores cumprem uma carga horária de 30 horas semanais, um terço dessas horas são voltados para a elaboração do planejamento e 20 horas para efetivo trabalho em sala de aula. Os encontros são bimestrais, ocorrem em datas pré-estabelecidas no calendário anual, realizados na sede do CMEECampo e conta com a participação dos professores das cinco escolas, coordenadora, diretora e vice. Essa dinâmica de planejamento vem ocorrendo durante os últimos anos, anterior a esse período, ocorriam individualmente por escola.

Nesses cinco anos o CMEECampo vem trabalhando com o método de ensino que se aproxima da pedagogia de projeto, dentro da teoria socio interacionista. Os planos de aulas são realizados tendo como base uma obra literária, cuja finalidade maior é trabalhar a importância da leitura e da escrita. Ao final da aplicação do projeto previsto

(quinzenalmente, mensamente ou bimestral) é elaborado um portifólio com as atividades desenvolvidas. Esse planejamento é desenvolvido tanto na educação infantil como no Ensino Fundamental. Na pedagogia de projetos

O aluno aprende no processo de produzir, de levantar dúvidas, de pesquisar e de criar relações, que incentivam novas buscas, descobertas, compreensões e reconstruções de conhecimento. E, portanto, o papel do professor deixa de ser aquele que ensina por meio da transmissão de informações – que tem como centro do processo a atuação do professor –, para criar situações de aprendizagem cujo foco incide sobre as relações que se estabelecem neste processo, cabendo ao professor realizar as mediações necessárias para que o aluno possa encontrar sentido naquilo que está aprendendo, a partir das relações criadas nessas situações. (PRADO, 2003, p.2).

Márcia Araújo, coordenadora do CMEECampo ao ser entrevistada através do canal do YouTube “Sala de Leitura” com Adriano Gomes no “A leitura pelos caminhos do Seridó, RN”, apresentou a reconstrução da EMSL e os projetos que vêm sendo realizados durante esse período pandêmico e afirmou:

O trabalho que a gente faz no CMEECampo, onde está inserido a Escola São Luiz , essa escola quilombola, ela já caminha pela literatura, todos os nossos trabalhos são sustentados por uma literatura. A literatura é a intercomunicação dos saberes que a gente tem que caminhar da BNCC, mas dos saberes das comunidades. Então agora na pandemia a gente trabalha com os portifólios literários, junto com os professores escolhemos uma literatura, e ali caminha esses saberes, os saberes do campo, saberes quilombolas e as habilidades que as crianças em cada idade têm que atingir. O CMEECampo , não tem nada que não tenha uma literatura, o do são João é literário , das nossas entre letras e fantasias , o nosso projeto de final de ano, onde os professores ficam quatro meses trabalhando uma literatura em todo seu contexto e apresenta lá, faz uma releitura que seja teatral , que seja um recital (...) Então, nós precisamos hoje melhorar o nosso acervo , voltado as

O trabalho que a gente faz no CMEECampo, onde está inserido a Escola São Luiz , essa escola quilombola, ela já caminha pela literatura, todos os nossos trabalhos são sustentados por uma literatura. A literatura é a intercomunicação dos saberes que a gente tem que caminhar da BNCC, mas dos saberes das comunidades. Então agora na pandemia a gente trabalha com os portifólios literários, junto com os professores escolhemos uma literatura, e ali caminha esses saberes, os saberes do campo, saberes quilombolas e as habilidades que as crianças em cada idade têm que atingir. O CMEECampo , não tem nada que não tenha uma literatura, o do são João é literário , das nossas entre letras e fantasias , o nosso projeto de final de ano, onde os professores ficam quatro meses trabalhando uma literatura em todo seu contexto e apresenta lá, faz uma releitura que seja teatral , que seja um recital (...) Então, nós precisamos hoje melhorar o nosso acervo , voltado as

No documento IDENTIDADES E MEMÓRIAS: (páginas 134-162)