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A este mote alheio

Campos bem-aventurados, tomai-vos agora tristes, que os dias em que me vistes alegre são já passados. Campos cheios de prazer, vós que estais reverdecendo, já me alegrei com vos ver; agora venho a temer

5 que entristeçais em me vendo. E, pois a vista alegrais

dos olhos desesperados, não quero que me vejais, para que sempre sejais

10 campos bem-aventurados.

Porém, se por acidente, vos pesar de meu tormento, sabereis que Amor consente que tudo me descontente, is senão descontentamento.

Por isso vós, arvoredos, que já nos meus olhos vistes mais alegrias que medos, se mos quereis fazer ledos, 20 tornai-vos agora tristes.

Já me vistes ledo ser, mas despois que o falso Amor tão triste me fez viver,

ledos folgo de vos ver, 25 porque me dobreis a dor.

E se este gosto sobejo de minha dor me sentistes, julgai quanto mais desejo as horas que vos não vejo 3o que os dias em que me vistes.

O tempo, que é desigual, de secos, verdes vos tem; porque em vosso natural se muda o mal para o bem 35 mas o meu para mor mal.

Se perguntais, verdes prados, pelos tempos diferentes que de Amor me foram dados, tristes, aqui são presentes, «o alegres, já são passados.

Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], pp 53-54.

Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem. 1. Justifique 0 recurso à apóstrofe no mote da composição poética apresentada.

2. Identifique 0 recurso expressivo que estrutura 0 conteúdo do poema, fundamentando com expres­ sões textuais.

3. Explique, considerando 0 tema da mudança, os efeitos da passagem do tempo tanto nos campos como no sujeito poético.

EOITÁVEI

a T E S T E S D E A V A L I A Ç Ã O

B Leia o texto,

Amigas, que Deus vos valha, quando veer1 meu amigo,

falade sempr’úas outras2, enquant’el falar comigo, ca3 muitas cousas diremos

que ante vós nom diremos.

5 Sei eu que por4 falar migo chegará el mui coitado,5

e vós ide-vos chegando lá todas per ess’estrado, 6

ca muitas causas diremos, que ante vós nom diremos.

João Garcia de Guilhade, B749, V352, in Cantigas Medievais Galego-Portuguesas

(www.cantigas.fcsh.unl.pt).

1 vier; 2 falade sempr'uas outras: falai sempre um as com as outras; 3 porque; 4 para; 5 chegará el mui coitado: chegará muito ansioso; 6 local onde se colocavam alm ofadas e estava destinado às m ulheres

Apresente, de forma bem estruturada, as respostas aos itens que se seguem. 4. Defina o papel desempenhado pelas “amigas” e pelo “amigo”.

5. Estabeleça a relação entre os dois últimos versos de cada cobla e o conteúdo que os antecede.

GRUPO II

4

Leia 0 texto que se segue.

Uma praia chamada Portugal

F o r a m q u a s e 9 0 0 q u iló m e t r o s d e n o r te p a r a su l, c o m o m a r à v i s t a e a s p r a n c h a s n o te ja d ilh o

Há pouco mais de um mês, depois de os ouvir falar durante quase uma hora sobre praias e ondas numa sala cheia de livros no Clube Recreativo Penichense, uma miúda de cabelo castanho e calças de ganga parou diante de Pedro Adão e Silva e João Catarino com o livro de ambos na mão. Entregou-o sorridente e disse-lhes baixinho: “Eu também faço surfe também quero fazer esta via-

5 gem.” Eles sorriram de volta.

Um ano antes, para conhecerem a costa portuguesa de Caminha a Vila Real de Santo António, tinham partido à aventura numa carrinha pão de forma amarela, pouco dada a autoestradas, com um cão e duas pranchas. A soma do que foram escrevendo (Pedro Adão e Silva) e desenhando (João Catarino), parcelas que o Expresso publicou numa série de reportagens na Revista, chama-se “Tanto

10 Mar - À Descoberta das Melhores Praias de Portugal” (edição Clube do Autor).

A viagem foi feita, sempre que possível, com o mar à vista. Sem prazos nem pressas, dormindo na carrinha ou perto, partindo apenas quando era hora de partir. Adão e Silva,' politólogo e pro­ fessor universitário, escrevia, quase sempre, no iPad. João Catarino, ilustrador e professor univer­ sitário, desenhava. A leitura faz-se entre dois mundos, o das letras e o das linhas, uma espécie de

15 caminho à beira-mar que se faz página após página.

Há muito para ler e para ver. “Tanto Mar” é, ao mesmo tempo, um livro de viagens, um catálogo de ilustrações, uma reflexão sobre o potencial económico da costa portuguesa e também sobre as

a m e a ç a s q u e espreitam, umas ao longe outras mais perto. Mas sempre com calma, ao ritmo da pão de forma ou de um peixe grelhado ao almoço. Das praias do Minho, “onde as terras vivem ainda

20 de costas para o mar", até “às noites quentes e secas” da costa algarvia, há um país inteiro de areia,

água salgada e ondas.

EDÍTÁVEL

03. T E S T E S D E A V A L 1 A Ç A U

Não é obrigatório começar o livro pelo início. E é provável que a maioria dos leitores o não faça. A vontade de procurar “aquela praia, a da juventude ou das férias de hoje, é irresistível”. Seguir-se- -ão outras: aquelas onde um dia se esteve, aquelas que nem sequer se sabia existirem. As esqueci- 25 das e as da moda, as dos banhos e as do surf.

Hoje à noite, na Ericeira, os autores fazem uma nova apresentação do livro. Hão de falar de li­ vros de Ramalho Ortigão e de Raul Proença, das noites ao relento, dos problemas com o carro e do cão Buggy. É provável que lamentem (o único lamento que o leitor encontrará nas páginas de “Tan­ to Mar”) as poucas ondas que surfaram. Nas últimas páginas, Adão e Silva esclarece que “fazer uma

30 surftrip” é a ambição de qualquer surfista. Sejam dois professores universitários ou uma miúda de

calças de ganga na mão. O fim da viagem deles parece ser o início da dela.

Ricardo Marques, in Atuai (Revista Expresso), 15 de setembro de 2012, p. 30 (adaptado).

1. Para responder a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., selecione a opção correta.

1

.

1

. O objeto de reflexão do autor é

(A) uma reportagem que saiu na Revista do Jornal Expresso.

(B) uma viagem feita por Pedro Adão e Silva e João Catarino pela costa portuguesa, numa carrinha pão de forma amarela.

(C) um Livro de relatos de viagens pela costa de Portugal.

(D) uma espécie de roteiro turístico escrito por dois professores universitários na área da po­ lítica.

1.2. Ao referir “Mas sempre com calma, ao ritmo da pão de forma ou de um peixe grelhado ao al­ moço" (u. 18-19), o autor do texto pretende

(A) dar conta da forma tranquila como decorreu a viagem de Adão e Silva e João Catarino. (B) mostrar os hábitos alimentares saudáveis dos autores de "Tanto Mar".

(C) mostrar o tipo de alimentos preferido de Adão e Silva e João Catarino. (D) ilustrar a simplicidade das refeições dos autores de “Tanto Mar”. 1.3. No contexto em que surgem, as palavras “ondas” e “s u r f (ll. 2 e 4)

(A) pertencem ao mesmo campo lexical.

(B) estabelecem uma relação de hiperonímia/hiponímia. (C) pertencem ao mesmo campo semântico.

(D) estabelecem uma relação de holonímia/meronímia. 1.4. A forma verbal “tinham partido" (l. 7) encontra-se no

(A) pretérito perfeito composto do indicativo.

(B) pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo.

(C) pretérito perfeito composto do conjuntivo.

(D) pretérito mais-que-perfeito composto do conjuntivo. 1.5. O sujeito do predicado “é irresistível” (l. 23) é

(A) "A vontade" (l. 23).

(B) “a q u e la p ra ia ” (l. 23).

(C) “A vontade de procurar" (l. 23).

(D) "A vontade de procurar ‘aquela praia, a da juventude ou das férias de hoje'” (l. 23).

EPITÀVE1 SENTIDOS 10 ■ Livro de Testes • A S A

03. T ES T ES D E AVA LIA Ç Ã O

1.6. No excerto “É provável que lamentem (o único lamento que o leitor encontrará nas páginas de “Tanto Mar") as poucas ondas que surfaram." (ll. 28-29), podemos encontrar

(A) uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva, uma subordinada adverbial causal e uma subordinada substantiva completiva.

(B) uma oração subordinada substantiva completiva e duas subordinadas adjetivas relativas restritivas.

(C) uma oração subordinada substantiva completiva e duas subordinadas adjetivas relativas explicativas.

(D) duas orações subordinadas adjetivas relativas, uma restritiva e outra explicativa, e uma subordinada substantiva completiva.

1.7. Os parênteses utilizados nas linhas 28-29 introduzem (A) um comentário dos autores do livro.

(B) a opinião dos Leitores de “Tanto Mar”, ( 0 uma característica da obra "Tanto Mar". (D) um comentário do autor do texto.

2. Responda de forma correta aos itens apresentados.

2.1. Identifique o referente do pronome pessoal presente na frase: “depois de os ouvir falar durante quase uma hora sobre praias e ondas numa sala cheia de livros no Clube Recreativo Peni- chense" (ll. 1-2).

2.2. Indique a função sintática do constituinte “sobre o potencial económico da costa portuguesa e também sobre as ameaças que espreitam” (ll. 17-18),

2.3. Classifique a oração “onde as terras vivem ainda de costas para o mar" (ll. 19-20).

GRUPO 111

Escreva um texto expositivo, com um mínimo de 120 e um máximo de 150 palavras, no qual explicite a importância da sátira na poesia trovadoresca e na obra dramática vicentina.

O seu texto deve incluir uma parte introdutória, uma de desenvolvimento e uma conclusão.

Organize a informação da forma que considerar mais pertinente, tratando os tópicos apresentados a seguir.

Na poesia trovadoresca Na obra vicentina

• Apresentação dos temas objeto de crítica. • Os alvos da crítica na obra estudada.

• Referência aos dois subgéneros satíricos: • A forma como o autor cumpre a função satírica.

- explicitação das suas diferenças;

- apresentação de um exemplo para cada.

E D I T A V E l

03. T E S T E S D E A V ALIAÇ ÃO

A

Leia, agora, este conjunto de estâncias, pertencentes ao canto VI. 9 5

Por meio destes hórridos1 perigos,

Destes trabalhos graves e temores, Alcançam os que são de fama amigos As honras imortais e graus maiores; Não encostados sempre nos antigos Troncos nobres de seus antecessores; Não nos leitos dourados, entre os finos Animais de Moscóvia2 zibelinos3;

96

Não cos manjares novos e esquisitos, Não cos passeios moles e ouciosos, Não cos vários deleites e infinitos4, Que afeminam os peitos generosos; Não cos nunca vencidos apetitos,

Que a Fortuna tem5 sempre tão mimosos,

Que não sofre a nenhum que o passo mude Pera algua obra heroica de virtude;

9 7

Mas com buscar, co seu forçoso braço, As honras que ele chame próprias suas; Vigiando e vestindo o forjado aço, Sofrendo tempestades e ondas cruas, Vencendo os torpes6 frios no regaço

Do Sul, e regiões de abrigo nuas, Engolindo o corrupto mantimento Temperado com um árduo sofrimento;

98

E com forçar o rosto, que se enfia, A parecer seguro, ledo, inteiro, Pera o pelouro7 ardente que assovia

E leva a perna ou braço ao companheiro. Destarte o peito um calo honroso cria, Desprezador das honras e dinheiro, Das honras e dinheiro que a ventura Forjou, e não virtude8 justa e dura.

9 9

Destarte se esclarece o entendimento, Que experiências fazem repousado9, E fica vendo, como de alto assento, O baxo trato humano embaraçado. Este, onde tiver força o regimento Direito e não de afeitos10 ocupado, .

Subirá (como deve) a ilustre mando, Contra vontade sua, e não rogando.

Luís de Camões, Os Lusíadas (leitura, prefácio e notas de A. J. Costa Pimpão), 4.a ed., Lisboa, Instituto Camões - Ministério dos Negócios Estrangeiros, 2000.

1 h orríveis;2 Rússia do N orte;3 martas, anim ais das regiões frias, cujas peles são caríssim as;4 vários e infinitos deleites; 5 con serva;6 que entorpecem ;7 bala de metal para arm a de fogo; 8 v a lo r;9 refletido;10 afeições

Responda de forma completa aos itens seguintes.

1. Segmente a reflexão do poeta em quatro partes, considerando 0 conteúdo temático e a pontuação.

2. Identifique 0 recurso expressivo presente nos três primeiros versos da estância 96, referindo a sua

f u n c i o n a l i d a d e .

3. Relacione a reflexão do poeta no canto I com 0 conteúdo dos quatro primeiros versos da estância 97.

E D I I Á V E L SENTIDOS 10 ■ Livro de Testes • A S A

03. T E S T E S D E A V A L I A Ç Ã O

B

Leia o vilancete seguinte, cuja autoria é atribuída a Luís de Camões.

a este moto:

Descalça vai pera a fonte Lianor pela verdura; vai fermosa e não segura. Leva na cabeça o pote, o testo nas mãos de prata, cinta de fina escarlata, saínho de chamalote; s traz a vasquinha de cote,

mais branca que a neve pura; vai fermosa, e não segura. Descobre a touca a garganta, cabelos d’ouro o trançado, io fita de cor d’encarnado,

tão linda que o mundo espanta; chove nela graça tanta

que dá graça à fermosura; vai fermosa, e não segura.

Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], pp 55-56.

Responda de forma completa às questões que se seguem. 4. Indique o assunto do texto e o modo como se desenvolve.

5. Proceda ao levantamento de dois recursos expressivos e dê conta do seu valor significativo.

GRUPO II