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O presente estudo apresenta as seguintes limitações metodológicas:

- Viés retrospetivo – O facto dos profissionais de saúde geralmente considerarem os EA passados mais preveníveis ou previsíveis do que os mais recentes, pode ter sobrestimado a frequência de doentes com EA evitáveis;

- Viés de seleção – Os profissionais que participaram / registaram incidentes de segurança através do preenchimento do APEAS, podem ter sido os mais interessados por esta temática, ou os mais contagiados pela doutoranda. O facto de incluir médicos em formação pode, por um lado, ter sobrestimado a ocorrência de EA (há estudos que indicam que hospitais universitários identificam mais EA106) ou, pelo contrário, ter subestimado a ocorrência destes eventos devido à falta de “experiência” ou “olho clínico” para a sua identificação;

- O carácter exploratório dos fatores relacionados com os EA, podem ter sugerido fatores adicionais que se não constassem no instrumento de colheita de dados (APEAS), provavelmente poderiam não ser referidos / lembrados pelos participantes;

- A determinação do grau de Evitabilidade e Causalidade dos EA é de certa forma subjetiva e como tal, pode depender do profissional que notifica, da sua interpretação quanto ao que aconteceu e da sua motivação para registar estes eventos;

- A taxa de não resposta ou de respostas “não sei ou não se aplica” dadas no MOSOPSC-RAM comprova o que está descrito na literatura e é certamente uma limitação da metodologia inerente à aplicação de questionários;

- Tendo em conta a variação conceitual sobre a temática da segurança dos doentes nos CSP e as diferenças estruturais e organizacionais dos CSP observadas em diferentes países e sistemas/serviços de saúde, a generalização e representatividade dos resultados obtidos exige cautela e muita ponderação;

- As diferentes taxonomias, conceitos e classificações (CID-10; ICPS; WHO Family of International Classification) com que nos deparamos limita muito a comparação ou discussão de resultados, pelo que é necessário uniformizar conceitos88.

- Apesar de considerarmos atingidos os objetivos estabelecidos, a inexistência de resultados de outros estudos na RAM que abordem a temática em análise, limita uma discussão mais rica e fundamentada dos resultados obtidos nosso estudo;

- O MOSOPSC tem sido utilizado em diversas partes do mundo para avaliar a cultura de SD contudo, não podemos ignorar, que é no mínimo ambicioso ter um questionário que se adeque a todas as categorias profissionais que exercem funções nos CSP;

Como projeto futuro (mas já proposto pela doutoranda aos seus superiores hierárquicos) apontamos a implementação de um conjunto de recomendações para cada uma das dimensões da cultura de segurança avaliadas como fracas ou frágeis (“Pressão / Ritmo / Quantidade de trabalho”; “Suporte por parte das chefias / gestão / liderança”; “Abertura na comunicação”) numa

articulação entre os CS e a Comissão de Segurança do Doente. Quantificar e avaliar a efetividade das estratégias de melhoria implementadas é também fundamental.

Conhecer a perspetiva dos utentes, nas dimensões da qualidade avaliadas e no seu modo particular de descrever os acontecimentos / incidentes de segurança, para além de interessante, é na nossa opinião, prioritário. Destacamos ainda a importância / necessidade de fornecermos um feedback, aos profissionais de saúde e doentes/familiares que registam, ou venham a registar, acontecimentos adversos.

A nível regional, gostávamos de manter a divulgação destes resultados (EA) com alguma periodicidade e se possível proceder ao benchmarking com outras organizações de saúde de CSP regionais (por exemplo com a USF que foi recentemente inaugurada na Ponta de Sol), nacionais (com outras UCSP e USF) e até mesmo internacionais. A avaliação da evolução da cultura de segurança avaliada, constam dos planos estabelecidos pela doutoranda, para um futuro próximo. Pelo facto dos dados analisados advirem da notificação/registo voluntário dos EA por parte dos profissionais saúde, a taxa de participação foi baixa, o que vai de encontro ao descrito na literatura7. A dificuldade dos profissionais em reconhecerem os EA224,225, os problemas com a definição de conceitos226,227, o medo de represálias ou formulação de juízos de valor por parte das chefias228,229, as preocupações sobre o anonimato e confidencialidade das notificações, a falta de tempo para notificar e a desconfiança ou incerteza do possível efeito que a notificação pode ter92 constituem áreas de trabalho prioritárias quando pretendemos altas taxas de participação dos profissionais de saúde.

Sugere-se incluir no horário de trabalho dos médicos de família tempo para notificar e analisar os incidentes de segurança que ocorrem nos doentes. Por outro lado, e como facilitadores da comunicação interprofissional destacamos o papel crucial das reuniões de serviço ou reunião de grupos de trabalho, compostas por profissionais de saúde, gestores / diretores / coordenadores e profissionais da área administrativa, a fim de capturar e analisar as perceções de uma forma multidisciplinar.

A coordenação e junção de esforços para a implementação de uma base de dados nacional de notificações, funcionante e prática, exige antes de mais nada, um conhecimento aprofundado da realidade local/regional e um exercício sistematizado e culturalmente incorporado do que se pretende.

Uma vez que as disciplinas médicas são também partilhas de saberes entre líderes e profissionais seniores230,231, com clara influencia dos seus ensinamentos no comportamento dos mais novos, afigura-se como um potencial foco de investigação no domínio da cultura organizacional, a aposta nesta transmissão de saberes e experiências, o reforço da comunicação entre seniores e jovens e a formação atempada e curricularmente determinada dos formandos (sejam eles médicos ou enfermeiros) no âmbito da Segurança dos Doentes184.

Para além da sugestão da realização destes dois estudos com uma base amostral maior, seria interessante verificar (através de estudos prospetivos) o resultado do trabalho que efetuamos em termos práticos (nomeadamente no número de consultas e exames complementares de diagnóstico realizados no contexto dos incidentes de segurança).