• Nenhum resultado encontrado

A convencionalidade da fronteira internacional ocorreu devido a sua existência ser inerente a formação do Estado moderno, sob a concepção westfáliana, cuja característica essencial é a soberania. Dessa forma, a formação do território soberano deve ao fortalecimento de seus limites. No que tange a circunscrição do Estado, os limites levam ao tratamento desnaturalizado pelo próprio cerne de sua formação e para a manutenção da soberania e da coesão territorial. Parte dessas constatações deve-se a presença de grandes efetivos para a proteção de suas bordas, franjas e extremidades territoriais. O limite seria então, a linha circunscrita na borda do território. Já o conceito de fronteira aplica-se na delimitação de áreas que se diferenciam uma da outra, isto é, são os confrontos de diferentes sistemas.

Na área de fronteira, o ato de barrar o estranhamento de outros sistemas desnaturalizam o espaço. Sendo que as preocupações de barrar determinados processos territoriais, outras dimensões construídas pela proximidade com sistemas de grandes complexidades são elevadas, como os aspectos socioculturais. Para Pesavento (2002) “as fronteiras são, sobretudo, culturais, ou seja, são construções de sentido, fazendo parte do jogo das representações que estabelece classificações, hierarquias e limites [...]” (p. 35-36). Apesar da compreensão que a cultura elabora e se reelabora, no recorte fronteiriço é uma

dimensão pouco considerada (ABINZANO, 2005). Esse é um aspecto da fronteira que implicou na pouca importância do enquadramento desse tema no avanço das ciências.

A realidade de fronteira, tanto nas suas representações estruturais, quanto nas sociais e identitários, dada a essas representações vincularem a várias denominações, geralmente são reconhecidas acordadas as implicações geográficas, econômicas, simbólicas e culturais. Pode ser verificado em literaturas específicas, defesas de vários conceitos de fronteira, como: fronteira de expansão; fronteira agrícola; fronteira do capital; fronteira interna; fronteira política e outras para denominações para os limites territoriais. As diversas denominações se estruturam a partir das relações e permanências que se estabelecem com o espaço, sob a ótica das reflexões elaboradas nas diferentes áreas científicas.

O variado leque de denominações para o termo elevou os elementos aos quais são relacionados e aos processos do qual emergem a noção de fronteira. Um destes refere-se a expansão de povos ou sistemas sobre o território adjacente, compreendendo, inicialmente as operações de guerra e controle militar. O conceito de fronteira de expansão refere-se a consolidação do processo de apropriação desses territórios, através da colonização das terras conquistadas (MARTINS, 1997). Esse expediente, também aplica-se na distribuição de terras entre os trabalhadores, tanto pelo poder público como pela iniciativa privada. Um exemplo emblemático da expansão das fronteiras e de apropriação do território pode ser ressaltado no processo de expansão para o Oeste dos Estados Unidos no século XIX (SILVA, 2001).

A apreensão do significado de fronteira remete as denominações determinadas, condicionalmente a sua função. Para Steiman (2008), o conceito de fronteira “Não foi originalmente aplicada a uma linha e sim a uma área. Na Europa medieval, a zona/região de fronteira constituía uma área, ou seja, possuía largura [...]” (p. 52). Essas zonas não tinham objetivo de manter contatos entre os sistemas territoriais e sim de separá-las. Nesse sentido, vários autores destacam a divergência acerca do conceito de fronteira e de limite, enquanto função e relação. Peiter (2005) coloca que, as duas tendências acabam por se confundir ao longo do tempo, porém questões atuais relacionadas as mudanças no sistema interestatal sugere que é preciso fazer uma distinção entre as noções de limite e fronteira.

A ideia de fronteira mais que a de limite, costuma evocar significados distintos. Se por um lado ela pode ser compreendida como a margem do mundo habitado, significado mais antigo, por outro na emergência dos estados nacionais no século XVIII, e o processo de colonização do século XIX, associaram a fronteira a linha de divisa entre estados vizinhos (MACHADO, 2000; 1998). Ainda, há de considerar os diferentes propósitos de delimitação de fronteiras ao longo do tempo e em contexto diversos que resultou no conceito de difícil

compreensão. “A fronteira não é o mesmo que o limite. Ela estabelece com ele uma relação específica. Embora o limite seja o dado real, ele é percebido por meio de fronteira” (SILVA, 1986, p. 135). Para evidenciar as diferenças entre os conceitos de fronteira e de limites, Machado (1998), levanta que esses conceitos se deparam com equívocos conceituais devido serem,

[...] bastante comum considerar os termos, fronteira e limite, como sinônimos. Existe, contudo, diferenças essenciais entre eles que escapam ao senso comum. A palavra fronteira implica, historicamente, aquilo que sua etimologia sugere – o que está na frente. A origem histórica da palavra mostra que seu uso não estava associado a nenhum conceito legal e que não era um conceito essencialmente político ou intelectual. Nasceu como um fenômeno da vida social espontânea, indicando a margem do mundo habitado. Na medida que, os padrões de civilização foram se desenvolvendo acima do nível de subsistência, as fronteiras entre ecúmenos tornaram-se lugares de comunicação e, por conseguinte, adquiriram um caráter político. (p. 41, grifo da autora).

A autora deixa claro que o termo fronteira acomoda-se a um fenômeno social. Para tanto, a dinâmica histórica e social dessa área lhe atribuí um caráter político. “Como tal, a fronteira é manipulada como instrumento para comunicar uma ideologia” (RAFFESTIN, 1993, p. 166). A partir dessa constatação, verifica-se que a fronteira parte da constituição das estruturas sociais na formação de determinados recortes espaciais. O critério de separação é estabelecido a priori pela constituição dos elementos identitários, como a língua. Já na linha demarcatória, o limite seria marcado pelas instituições que caracterizam as identidades e também seriam reconhecidas por elementos toponímicos. A linha que marca um limite é eminentemente político, pois indica uma soberania territorial. A relação entre limite e soberania territorial não foi imediata ao sistema feudal, nesse sistema o poder era dos reis sobre o reino e o limite não era territorial tinha um assentamento ao poder político.

Na literatura é consenso que a propositura de fronteira linear, precisamente demarcada nasce e foi reforçado pelo moderno conceito de Estado (MACHADO, 1998). Para a autora, “o limite foi criada para designar o fim daquilo que mantém coesa uma unidade político- territorial, ou seja, sua ligação interna. Essa conotação política foi reforçada pelo moderno conceito de Estado [...]” (MACHADO, 1998, p. 42). Nesse contexto, o Estado precisa lançar as bases de sua soberania territorial, cujo limite apresenta o anacronismo institucional necessário. “São os Estados que estabelecem os marcos de fronteira” (SILVA, 1986, p. 135).

O limite estabelece a função pontual de divisão do espaço em territórios nação, calcado no arcabouço legalista Constitucional.

Para André Martin (1998), o limite pode ser definido como uma linha que estabelece a área de sujeição jurídica de um dado Estado e que por isso tem estreita relação com sua soberania. Buscando explicar a estrutura e função dos limites e das fronteiras a orientação das forças sob o limite internacional.

A fronteira está orientada “para fora” (forças centrífugas), enquanto os limites estão orientados “para dentro” (forças centrípetas). Enquanto a fronteira é considerada uma fonte de perigo ou ameaça porque pode desenvolver interesses distintos aos do governo central, o limite jurídico do estado é criado e mantido pelo governo central, não tendo vida própria e nem mesmo existência material, é um polígono. O chamado “marco de fronteira” é na verdade um símbolo visível do limite. Visto desta forma, o limite não está ligado à presença de gente, sendo uma abstração, generalizada na lei nacional, sujeita às leis internacionais, mas distante, freqüentemente, dos desejos e aspirações dos habitantes da fronteira. (MACHADO, 1998, p. 42, aspas da autora).

Considera-se que o limite se apresenta como uma linha real, objetiva que delimita um território e o separa do outro e que tem como atribuição o de limitar o livre acesso. Partindo para a discussão política, inerente do limite, Raffestin coloca que o limite internacional é convencionado e ratificado por acordos diplomáticos, bilaterais e multilaterais que circunscreve “uma área no interior da qual prevalece um conjunto de instituições jurídicas e normas que regulamentam as atividades de uma sociedade política” (1993, p. 167-168). Isso denota uma convenção que, afirma a coesão interna do território sob o controle de um poder central. A configuração linear dos limites territoriais denota, sobretudo, uma informação sobre o enquadramento de uma apropriação política do espaço configurando-se, portanto um dos objetos geopolíticos por excelência.

A linha que divide entes estatais necessita de confirmação e reconhecimento de outros Estados ou da comunidade internacional, mediante assinatura de acordos ou de tratados nos quais a diplomacia dos países exercem um papel relevante para firmar, concretamente esses compromissos (NASCIMENTO, 2010, p. 28). Os questionamentos são postos para estabelecer e caracterizar quais os tipos de intercâmbios são mediados pelos limites internacionais. Como função, o limite significa para um determinado Estado, exatamente onde começa uma unidade administrativa e onde termina o outro. Estabelece a soberania do Estado e indica a forma como ele se encontra organizado através de uma linha fixa que o cerca. Portanto, enquanto função do “limite é um fator de separação, pois separa unidades políticas

soberanas e permanece como um obstáculo fixo não importando a presença de fatores comuns físicos geográficos ou culturais (MACHADO, 1998, p. 42).

Para Martins (2008) “qualquer mecanismo de separação, e mais ainda, aqueles que como as fronteiras políticas são regularmente trabalhadas, não separa virado para fora, separa virado para si mesmo. A delimitação é uma designação – o “traço” denuncia um referente” (p. 113, aspas do autor). O cientista político Friedrich Kratochwil (1986), citado por Steimam (2009), sugere uma abordagem sistêmica do limite. Para o autor, o conceito parte da premissa que os Estados por pertencerem a uma ordem de tipo territorial, o intercâmbio entre a unidade territorial delimitada e o seu ambiente é o mais fundamental deles. Os limites vão determinar os fluxos realizados entre as instâncias supranacionais que serão definidas e alterados acordados as relações estabelecidas no campo econômico, político, social e cultural.

O mesmo sentido de limite está presente ao termo fronteira, porém não se configura como um instrumento jurídico. Além do aspecto jurídico presente no limite, o diferencial entre os dois termos está na percepção do espaço ser atribuído aos atores instituídos que podem estabelecer com maior facilidade as relações conectivas e integrativas através dos fluxos e das redes de sociabilidade. Conforme asseverado por Machado, o termo fronteira acomoda-se a um fenômeno social dotado de uma dinâmica histórica e social. Para Viana “a concepção de fronteira paira num ambiente mais elevado: político, étnico, econômico [...]” (1948, p. 13). No mesmo sentido, Machado (1998) afirma que “a fronteira pode ser um fator de integração na medida em que for uma zona de interpenetração mútua e de constante manipulação de estruturas sociais, políticas e culturais distintas [...]” (p. 42). As fronteiras são marcadas por uma dualidade intrínseca, pois atraem e se repelem impulsionada pelas “forças centrípetas e centrífugas” (aspas nossa), “[...] são zonas de contato e de separação ao mesmo tempo” (MACHADO, 2000, p. 42). Em geral, nascem como áreas periféricas que engendram desigualdades, portanto, como lugar “a fronteira é o envoltório de um conjunto de instituições, de práticas, de sujeitos e modos de vida que ocorrem ali e não em outro lugar” (ZUSMAN, 2000, p. 92).

Para Valenciano, “a fronteira marca o fim da jurisdição de um sistema e o princípio de outro. Nela se produz uma ‘interface’, cujas influências recíprocas determinam comportamentos socioeconômicos e culturais que as diferenciam do resto dos respectivos países” (1996, p. 199, grifo do autor). Nesse contexto, a fronteira se configura a luz de seus territórios diante de determinados interesses e apresentam contradições e convergências socioterritoriais. Essa dicotomia entre a funcionalidade das fronteiras nacionais acena para o que Machado chama de “uma divergência entre a função política dos limites e a função

econômica das fronteiras” (2000, p. 15). Essa condição tem sido alterada, mesmo nas fronteiras mais rígidas, apesar de que a porosidade delas ainda ocorre de forma bastante seletiva, isto é, circulam muito mais mercadorias do que pessoas. Para Martins (2008) “as fronteiras, enquanto margens, não funcionam apenas como contrário dos centros; são também a reserva deste, quando não a sua outra natureza” (p. 113).

Entre os aspectos que diferenciam a fronteira dos demais espaços do território, deve-se a sua paisagem. As paisagens fronteiriças apresentam elementos singulares, representadas por objetos característicos de fronteira como os fortes, os quartéis, as aduanas, os postos de fiscalização, os pedágios, etc. Os elementos que constituem a paisagem fronteiriça se diferenciam em função das estruturas dos entes estatais no limite e entre as unidades territoriais que influenciam e são influenciadas no recorte fronteiriço. No caso do limite fronteiriço entre o estado de Mato Grosso e o oriente boliviano, os contrastes são evidentes na disponibilidade de instrumentos e de instituições na linha de limite. Um desses exemplos pode ser constatado na precariedade das bases fixas e nos instrumentos da polícia boliviana, situada na linha de fronteira. As paisagens fronteiriças se manifestam nas diferenças que, comumente se apresentam ao cruzar um limite internacional. As influências se manifestam na vivência com outra língua, moeda e outros elementos identitários e de base cultural diferente. Nessa questão, Ciccolella faz um aprofundamento dos aspectos que se adensam ao adentrar em outro território nacional.

Más allá de las diferencias étnicas, culturales, linguísticas y religiosas, cuando se sale de un país y se penetra en otro se experimenta um cambio del sistema de poder, del sistema monetario y del sistema de precios15. (1997, p.

61).

Essas diferenças, particularmente as socioculturais atestam a identidade de cada população. A identidade se manifesta através de seus valores, tradições, crenças e modos de vida que são transmitidos de geração a geração. A disseminação dos modos de vida e de costumes, denominado de conhecimento ‘tácito’ é a principal característica que individualiza um povo, uma comunidade dentro de um determinado recorte espacial (aspa nossa). O encontro dessas identidades no recorte da fronteira eleva a manifestação de modos de vida diferenciado das demais partes dos dois países.Neles podem surgir manifestações linguísticas diferenciadas, dada as diferentes influências de conhecimentos, costumes e tradições.

15 Além do sistema étnico, cultural, linguístico e religioso, ao sair de um país e entrar em outro, há mudança na

Contudo, os mesmos atributos que perfazem uma identidade podem elevar a embates entre as comunidades locais com outros modos de vida. Algumas identidades conflitantes podem ser identificadas nos espaços fronteiriços da América do Sul, como no caso emblemático dos Brasiguaios, denominação dada aos brasileiros que ocupam parte da fronteira do Paraguai. A presença de brasileiros gerou conflitos devido à ocupação do solo e do estabelecimento da atividade produtiva sojicultora no território Paraguaio, em uma parte do recorte da fronteira com o Brasil. O quadro de instabilidade gerado pela presença dessa população na fronteira paraguaia deveu-se ao choque de variados aspectos, como culturais e, sobretudo do embate na ocupação e uso do solo paraguaio por brancos (brasileiros) e índios (Paraguaios).

No recorte fronteiriço entre o Brasil e a Bolívia, devido as relações seculares de aproximação entre índios (maioria de etnia chiquitana da área da fronteira boliviana) e brancos (da fronteira brasileira), surgiu as gerações de bugres, presentes na parte brasileira da fronteira. Contudo, em virtude do preconceito dado a população de bugres16 (tidos como preguiçosos), cujas atividades de sobrevivência reduziam-se a caça e da prática de agricultura de subsistência, contribuíram para o enfraquecimento e desaparecimento da identidade.

Todas as manifestações criam um quadro único para o recorte fronteiriço que, em maior ou menor grau, evidenciam determinadas classificações dadas pelo quadro cultural defendido por Hartshorne. As influências da cultura, progressivamente ganham contornos socioterritoriais que vão se adensando ao adentrar em outro país. O progressivo acesso ao território implica vivenciar realidades diferenciadas manifestadas em inúmeros aspectos socioculturais, econômicos e políticos. Para Ciccolella, a formação do espaço de fronteira passa pelas mudanças vinculadas na expansão e intensificação das redes de comunicação e da informação:

El “espacio fronterizo” hasta poco tiempo se limitaba a unos pocos kilómetros a cada lado de la frontera y actualmente esa franja se ha ensanchado notablemente, midiéndose en decenas de kilómetros, conformando verdaderas áreas de frontera o espacio regionales fronterizos de características muy particulares. Esto se ha fundamentalmente al incremento de las relaciones comerciales y culturales, a la expansión e intensificación de los medios de transporte y sobre todo al rol jugado por los mass media y por las alternativas electroninformáticas de comunicación17. (1997, p. 61, grifo do autor).

16 Denominação devido às relações de parentescos entre brancos e índios na área de fronteira.

17 A “zona de fronteira”, até recentemente, era limitado a alguns quilômetros em ambos os lados da fronteira e

que, atualmente essa faixa aumentou significativamente, medindo dezenas de quilômetros, formando verdadeiras áreas de fronteira ou espaço regional fronteira com características muito distintas. Isto ocorre principalmente pelo aumento das relações comerciais e culturais, a expansão e intensificação dos transportes e, especialmente, o papel desempenhado pelos meios de comunicação de massa e comunicação e da alternativas eletroninformáticas (tradução nossa).

O autor aponta para uma mudança na função e na finalidade dos espaços adjacentes aos limites fronteiriços que, na contemporaneidade tem ampliado as relações transfronteiriça, sobretudo pelos instrumentos de comunicação e transportes que possibilitam a formação e ampliação dos mercados econômicos regionais, os blocos econômicos. As particularidades próprias do espaço fronteiriço passam pelas mudanças que são conferidas a outras partes dos territórios, como no campo da comunicação e da informação, que são determinadas pelas relações comerciais e econômicas. A ampliação dos mercados regionais, segundo Parrochia (1993), deve-se a evolução das redes geográficas, sobretudo as redes técnicas, traduzidas pelos meios de transportes e das telecomunicações.

Da importância do recorte fronteiriço para a coesão territorial da unidade estatal que a princípio, deve-se a um quadro no qual o exercício da soberania dos estados nacionais devem ser elevados. No momento atual, são os ditames do mercado que estabelecem o adensamento das redes a serem vinculadas ao território. Portanto, aponta que as relações que incorporam, contemporaneamente, territórios fronteiriços que comumente são resultados das tensões e contradições multiescalares. Assim, no processamento de uma economia global onde a velocidade das informações se propaga com dimensões inimagináveis, como as redes lícitas de comércio, câmbios de informações, integração e intercâmbios. Além das redes lícitas, se processam na linha do limite as redes ilícitas, como os contrabandos, descaminhos e outras que são estabelecidas nas fronteiras internacionais e passam a ter rebatimentos importantes em outros pontos do conjunto regional, nacional, e que se estendem por várias partes do mundo. Várias dessas redes se processam no recorte da fronteira do estado de Mato Grosso com parte do oriente boliviano.

A temática das fronteiras por envolver processos políticos de diferentes entes nacionais passa pela compreensão em que há momentos e aspectos em que torna-se relevante sua discussão em outros campos científicos. Isso implica ressaltar, o grau de importância dado ao tema fronteiriço na história e no cerne do Estado. Tanto que, para Raffestin (2005), “uma fronteira não é somente um fato geográfico, mas também é um fato social de uma riqueza considerável pelas conotações religiosas nele implícitas” (p. 10). Ao considerar os aspectos históricos, observa-se um papel diferente e fundamental na definição entre limite territorial e fronteira, cujo conceito de limite parece ser implícito da análise Geopolítica.

Na relação das definições de fronteira e limite, o processamento das ações fronteiriças volta-se para a configuração de uma extensão de terras a partir do limite do território de cada ente nacional. Essa área passa a ser concebido como um espaço para acordos comuns que atendam aos interesses dos países fronteiriços. Para as ações na fronteira entre o Brasil e a

Bolívia, reconhecem-se duas estruturas territoriais, as zonas e faixa de fronteira. A essas estruturas territoriais devem o estabelecimento de ações e na implantação de determinadas atividades econômicas e no uso e ocupação do solo. Na escala da zona de fronteira deve-se a ação dos poderes instituídos nas respectivas áreas de fronteira entre os países. Nessa unidade cabe a indicação de processos integrativos com o estabelecimento de ações e de projetos