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O objetivo da discussão não é o de entender o conceito de política e sim o papel de sua ação na organização do território. A concepção de políticas territoriais aqui empreendidas é derivada da abordagem de Costa (2000), a qual “abrange toda e qualquer atividade estatal que implique, simultaneamente, uma dada concepção do espaço estatal, uma estratégia de intervenção ao nível da estrutura territorial [...]” (p. 13). Para Castro (2002, 2005), há uma estreita relação entre a política e o território. A política compreendida como modo de organização dos conflitos de interesses e o território como a arena privilegiada da ação, sendo ambos, a política e o território, dimensões do espaço-sociedade, portanto indissociáveis. Entende-se, portanto que a ação política é um mediador dos conflitos de interesses da sociedade. Esses conflitos existem e continuarão a existir devido os diferentes interesses da sociedade. A afirmação vem ao encontro ao que Castro afirma:

Em todas as sociedades nacionais há grupos e classes sociais que, devido ás suas características, como idade, gênero, escolaridade, renda, profissão, ocupação, local de moradia, religião, etc., possuem interesses diferentes e muitas vezes conflitantes. (CASTRO, 2005, p. 40).

O propósito dos diferentes conflitos de interesses na fronteira tem ainda, como pano de fundo a escala na qual elas se estendem. Dependendo da escala os interesses são modificados e podem ser aprofundados ou mesmo relativizados. Nesse sentido, a respostas dadas a eles deverão responder aos níveis escalares a que estão inseridos. Em uma escala local os interesses podem ser mediados por atores com menos ramificações de poder, isto é, com poderes mais localizados no nível de unidade municipal ou mesmo regional ou estadual. Para um conflito regional, os autores devem partir do nível estadual ou mesmo de uma mediação nacional. A representação escalar da área da fronteira insere-se em todos esses níveis. Contudo, as respostas aos conflitos são delegadas por duas unidades nacionais, cujos interesses perpassam pela concepção do controle do território nem sempre acordados com o devir do cotidiano da sociedade. Portanto, nessa unidade escalar as demandas de cada ente estatal aporta-se na resolução dos conflitos de escala nacional e que no espaço fronteiriço esses conflitos podem transpor para escala internacional.

No recorte fronteiriço mato-grossense, verifica-se que as ações de cunho regional e local, comumente ultrapassam o limite territorial no oferecimento de determinados serviços a

população fronteiriça. Nessa questão, as políticas têm afinidade com o espaço da sociedade fronteiriça, sendo que determinadas ações atendem ao recorte fronteiriço e são definidas por acordos bilaterais. A defesa desse ponto de vista, conta com a contribuição de Bobbio (2003), cuja afirmação aponta que,

[...] uma política pública também facilita amplos consensos sociais e promove o desenvolvimento do sistema institucional, tornando possível o controle cidadão e a responsabilidade pública dos governos de plantão. As políticas públicas são também instrumentos de governabilidade [...], tanto em sua acepção mais limitada, referida às interações entre o Estado e o resto da sociedade, como no seu sentido mais amplo de levar à convivência cidadã. (p. 16).

Devido às especificidades fronteiriças, nem sempre é possível compatibilizar as políticas públicas formuladas para atender a outros recortes nacionais com as necessidades dos cidadãos fronteiriços. No comando do estabelecimento das políticas está o Estado, que é um conjunto de instituições permanentes que formam um bloco que possibilita a ação do governo. O governo configura-se como o conjunto de ações proposta para a sociedade. Sendo parte das propostas de programas e projetos de governo, partir da sociedade (políticos, organismos da sociedade civil, técnicos e outros), que comumente objetivam atender a sociedade como um todo. As políticas públicas configuram-se como o “Estado em ação”, determinado pelo bloco monolítico que sustenta o Estado (aspas nossa).

Operacionalmente, a aplicação das políticas públicas depende de um diagnóstico da realidade e podem ser influenciadas por fatores, como,

[...] o projeto político dominante, (as macropolíticas em vigência); as demandas sociais (necessidades e interesses da população, com as vias e instâncias políticas de expressão; os recursos disponíveis (técnicos, logísticos e humanos); as propostas alternativas e o capital político de grupos não hegemônicos; o desenvolvimento institucional da sociedade e o contexto internacional. Todos esses fatores agem, explícita ou implicitamente sobre a aplicabilidade de programas públicos governamentais na sociedade globalizada. (XAVIER, 2008, p. 3).

Partindo desses pressupostos, a política pública pode ser entendida, como: algo que o governo opta em fazer ou não em face de uma situação. No caso de admitir ou delegar ao Estado a autoridade para unificar e articular a sociedade, as políticas públicas passam a ser um meio de dominação, ao mesmo tempo em que uma política pública se constituiu numa decisão

que, também supõe certa ideologia da mudança social que esteja explícita na sua formulação. (XAVIER, 2008).

As políticas públicas são operacionalizadas a partir das demandas sociais, isto é, da sociedade. Assim, a sociedade está nos dois pólos das políticas públicas, tanto como demanda, como no suporte de sua operacionalidade, devido ocorrer a partir do sistema político proposto por essa mesma sociedade. O esquema da figura 5 representa como as políticas se comportam no sistema político.

Figura 5 – Operacionalização do sistema político. Sociedade

Fonte: BOBBIO, 2003.

Esquematização das informações a partir de bibliografias sobre a temática.

A figura 5 mostra que a partir da demanda e do suporte social elas entram horizontalmente no sistema político. No entanto, a compreensão delas nesse sistema passa a ocupar uma posição vertical, onde resultam nas ações a partir de um aporte de regras para a sua operacionalização.

As políticas para a área da fronteira brasileira com a boliviana remontam ao Brasil colonial. Esses acordos prevêem ações de controle do território e também da dinâmica comercial entre os países. Os principais acordos instituídos entre o Brasil e a Bolívia que trataram das questões de limites, foram: Tratado de Amizade, Navegação, Limites e Comércio; Tratado de Petrópolis; Tratado de Natal; Notas Reversais de 1941- Instruções para as Comissões de Limites; Acordo de Roboré/Nota Reversal nr. 1 C/R. Ressalta-se que, vários deles ainda estão vigorando, sobretudo alguns temas do Acordo de Roboré, que acordam sobre a exploração e o comércio de fontes de energia de origem boliviana.

Demanda s Suporte Ações Regras D EMA N D A S SUPOR TE Sistema Político

Alguns desses acordos tiveram uma implicação mais pragmática, como os de demarcação de limites. Dos acordos de trataram da definição dos limites entre o Brasil e a Bolívia, o mais relevante foi o Tratado de Petrópolis. Esse acordo teve como objetivo encerrar uma grave crise entre o Brasil e a Bolívia pelo domínio territorial de uma área da região amazônica, de seringueiras, que pertencia ao território boliviano no acordo anterior. Esse acordo encerrou o litígio entre os dois países que, teve como resultado a anexação da área que corresponde ao atual Estado brasileiro do Acre ao território brasileiro. Pode ser observado que parte desses acordos apontava a preocupação no controle do território brasileiro que elevou as questões relacionadas aos requisitos das forças de segurança nos espaços fronteiriços, como os acordos que mantinham a ótica de contenção territorial. Na atualidade, acerca do tema, os requisitos das forças de segurança presentes nos recortes fronteiriços brasileiros aportam para a preocupação da contenção de fluxos transfronteiriços das redes ilícitas.

Apesar da necessidade na contenção de determinados fluxos fronteiriços, o Brasil determinou força tarefa na identificação de singularidades espaciais, pautadas no estabelecimento de redes de solidariedade, nas relações simbólicas, espontâneas e cotidianas de vizinhaça. Parte da identificação das singularidades está aportada na identidade com seus vizinhos sul-americanos. A partir das constatações, sobretudo no início da década do ano 2000, o recorte da fronteira é aportado sobre a base de identidade territorial, cultural, econômica e social. Com base nas constatações, o Estado brasileiro passa a elencar o recorte da faixa de fronteira em suas agendas políticas para determinadas ações que poderia ampliar as relações transfronteiriça. Os principais diagnósticos da faixa de fronteira brasileira, levantados nas publicações acerca do tema reportam um recorte cunhado de disparidades econômicas e sociais diante do conjunto regional e nacional. Dessa forma, as propostas de integração e interação transfronteiriça passam a ser temas recorrentes da pauta interministerial das políticas territoriais brasileira.

A pauta das políticas contemporâneas brasileiras visa à intervenção na realidade de alguns recortes do território nacional, dentre eles a faixa de fronteira internacional. Essas pautas intervencionistas decorreram das edições de instrumentos legais dos PPAs. Para o recorte da fronteira brasileira o instrumento elencado que relacionou as ações para o recorte foi o PDFF, um amplo programa considerado estratégico e direcionado ao fortalecimento das regiões de fronteira continental brasileira. Segundo o PPA (2003-2007), o PDFF teve como objetivo, “promover o desenvolvimento da faixa de fronteira por meio de sua estruturação física, social e econômica [...]”.