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Capítulo 4 Métodos e Procedimentos de Recolha de Dados

4.3. Métodos de recolha de dados

Numa investigação de carácter qualitativo é importante obter informações de diversas fontes e é frequente utilizar entrevistas e outras técnicas de recolha de dados (Bogdan & Biklen, 1994). Deste modo, para proceder à recolha de dados para o presente estudo, escolhi diferentes métodos: (a) observação, com recurso a registos em áudio e vídeo, (b) recolha documental e (c) entrevistas. A recolha de dados foi feita durante todo o período de realização do estudo, apesar de não ter recorrido à gravação vídeo em todas aulas.

4.3.1. Observação de aulas

A observação é um dos métodos de recolha de dados mais usados nas abordagens qualitativas (Bodgan & Biklen, 1994). Como observadora participante, é possível recolher informações sobre o tipo de participação e envolvimento dos alunos nas aulas, mas, pelo facto de realizar as gravações áudio e vídeo, permite-me posteriormente proceder a uma análise detalhada de todos os momentos da aula e ter acesso a esses dados sempre que necessário durante o trabalho de análise dos mesmos. Este fator é muito importante porque, além de assumir o papel como investigadora também era professora e, como tal, tive diversas vezes de privilegiar o papel de professora para desta forma conseguir que os alunos realizassem aprendizagens significativas.

Durante o desenvolvimento do estudo também pude contar com a colaboração da minha colega da prática de ensino supervisionada que registou todas as participações e interações que considerou fulcrais ou oportunas num dado momento. Esta ajuda, sem dúvida, foi uma mais valia em diversos aspetos. Também, elaborei notas de campo, isto é, “o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo” (Bogdan & Bicklen, 1994, p.150). Tentei realizá-las logo após cada aula, onde tinha mais presente todos os aspetos da mesma. Estas notas de campo foram as mais descritivas possíveis, tentando fazer uma síntese de todos os momentos da aula, mas também contendo uma apreciação global e pessoal das aulas.

4.3.2. Recolha documental

A recolha documental neste estudo refere-se à recolha dos trabalhos produzidos pelos alunos durante a realização das tarefas, para deste modo, possibilitar uma análise posterior destes documentos, mas também a documentos fornecidos pelo diretor de turma tais como registos de avaliação e caracterização dos alunos da respetiva turma.

Neste estudo foram recolhidos e analisados os trabalhos produzidos pelos alunos (registos escritos na resolução das tarefas) e as informações registadas em áudio e vídeo das aulas (Bogdan & Biklen, 1994). De modo a que os alunos não ficassem intimidados com a presença do gravador e da câmara de filmar, na aula anterior ao início do estudo expliquei aos alunos que iria utilizar estes instrumentos, mas também a razão da sua utilização, enfatizando que não seriam utilizados para a sua avaliação sumativa. Na primeira aula do estudo utilizei os gravadores e apenas na terceira aula introduzi a câmara de filmar, para desta forma não causar tanto constrangimento os alunos. Pela mesma razão, a câmara de filmar foi colocada no fundo da sala, num local de pouco destaque.

Participei nas reuniões da turma, nomeadamente nos conselhos de turma e nas reuniões intercalares onde consegui reunir mais dados sobre os alunos e sobre a respetiva evolução dos mesmos. Desta forma, consegui ter uma melhor perceção da turma em todas as disciplinas ao invés de apenas na disciplina de Matemática.

4.3.3. Entrevistas

Sendo a entrevista um dos métodos mais utilizados para a recolha de informação em estudos de natureza qualitativa (Yin, 1994), planeei usá-la, pois, permite recolher de forma sistemática e compreensível os processos de raciocínio de cada um dos participantes. Este método permite “recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 134). No caso do meu estudo entrevistei dois pares de alunos, para tentar aceder aos seus raciocínios e perceber qual a compreensão da noção de declive na representação gráfica e na expressão algébrica de diversas funções. Desta forma, consegui questioná-los e compreender de forma mais detalhada alguns dos seus processos de raciocínio.

A entrevista do tipo clínico supõe uma interação entre o entrevistador e o entrevistado, usando um método de questionamento flexível com o objetivo de compreender a forma dos alunos pensaram. É elaborada uma tarefa específica apara os alunos que serão entrevistados e as questões vão evoluindo de acordo com o desempenho e as respostas dos alunos. Desta forma, consigo obter um conhecimento mais aprofundado sobre as estratégias e os procedimentos dos alunos e consigo ter uma visão mais profunda das suas experiências de aprendizagem. Para a realização da entrevista, terei em consideração diversos aspetos, tais como durante o decorrer da mesma certificar-me que os alunos se sintam confortáveis e num ambiente calmo, privilegiar o feedback positivo tentar entender tudo o que os alunos estão a pensar e interpretar corretamente o que expressam (Lahikainen, Kirmanen, Taimalu, 2003).

A entrevista foi realizada a dois pares de alunos (Par 1 – João e Joana e Par 2 – Beatriz e Benedita) após a lecionação da subunidade “gráficos de funções afins”, seguindo um guião previamente estruturado. Os alunos trabalharam a pares na realização de uma tarefa proposta (Anexo 5.1), durante a realização da mesma fui questionando os pares e pedindo várias justificações de procedimentos. Mediante as respostas dos alunos fui colocando outras questões que achei pertinentes para o estudo. Como tal os dois pares na sua globalidade responderam às mesmas questões, ainda assim, houve algumas questões que foram colocadas a um par e não ao outro, dependendo da interação dos alunos.

A opção de realizar a entrevista também se baseou no facto de, antecipar que os dados recolhidos em aula poderiam ser insuficientes para responder às questões de

investigação anteriormente mencionadas. Por isso, optei por uma entrevista de tipo clinico, onde consegui ter um maior controlo sobre a informação que recolhia. Devido às características destes alunos, foi importante ser um pouco mais informal pois desta forma consegui aceder melhor aos seus raciocínios, apesar das suas lacunas nas justificações matemáticas. Aquando a realização da entrevista, os alunos já mantinham uma relação de confiança o que facilitou a recolha dos dados.