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Capítulo 6 Conclusões

6.2. Reflexão Final

Antes de me inscrever no mestrado em Ensino de Matemática, as minhas expetativas eram bastante altas principalmente devido à oportunidade de aprender mais sobre didática e de puder ter um primeiro contacto com as escolas e os alunos.

Durante o primeiro ano letivo, nas disciplinas de Iniciação à Prática Profissional I e II pude ir às escolas e assistir a algumas aulas, mas também falar com professores de Matemática. Consegui ouvir algumas histórias e experiências de professores que já percorreram um longo caminho e contactaram com inúmeros alunos, o que foi bastante gratificante.

Também na disciplina de Iniciação à Prática Profissional II pude participar em um estudo de caso e, pela primeira vez, participei na elaboração de tarefas que iriam ser implementadas numa turma do 7.º ano de escolaridade. Planeámos essas aulas e assisti às mesmas, vi a reação dos alunos a essas tarefas, as dificuldades e estratégias que tínhamos previsto, mas também as que não tínhamos. Foi nesse momento, que eu me apercebi da importância do planeamento pois, mesmo ao sermos surpreendidos, quanto mais planearmos melhor conseguimos atender às dúvidas colocadas, às diferentes estratégias e resoluções que possam sempre surgir.

Além das disciplinas da prática profissional, as de didática e metodologia da matemática foram as que mais me marcaram. Destaco, nomeadamente, os momentos de discussão aberta entre professores e mestrandos. Estes momentos de partilha e confronto de ideias diferentes fizeram-me refletir e penso que evoluir enquanto futura professora.

Durante todo o mestrado, a minha maior expetativa das unidades curriculares sempre foi a Iniciação à Prática Profissional III devido a toda a experiência e maioritariamente, sem dúvida, ao momento de lecionação. Desde a primeira aula que assisti, particularmente a primeira vez que conheci a turma onde iria realizar o estudo, que fiquei entusiasmada, mas também nervosa com a responsabilidade que iria ter com aqueles trinta alunos. Assisti, também a todas as aulas da minha colega e todos os dias

confrontávamos as nossas experiências, falávamos sobre o que achávamos que tinha corrido bem ou mal e estes momentos foram cruciais para o meu desenvolvimento. Acabamos por ter uma perspetiva diferente do nosso trabalho, mas também do que devemos mudar ou melhorar.

Olhando para todo este percurso, faço um balanço bastante positivo e sem dúvida, que superou as minhas expetativas. Tanto ao nível profissional, por tudo o que aprendi sobre pedagogia e a prática profissional, mas também a nível pessoal, pelos professores e colegas que pude conhecer.

Ao longo de este ano letivo, aprendi imenso com a experiência de assistir e participar nas aulas da turma em que realizei a minha intervenção. Desde as primeiras aulas, que fui desafiada para lecionar e não apenas nos momentos em que iria ser avaliada. Esta oportunidade foi única e tentei sempre aproveitá-la, os alunos foram sempre maravilhosos e bastante recetivos a esta experiência.

Esta turma, como todas as outras, tem especificidades próprias. Em particular, é uma turma com bastantes dificuldades e baixa consolidação nas bases matemáticas, o que também foi um desafio para mim. Ao longo de toda a intervenção e após refletir sobre os dados que tirei durante a mesma, foram notórias as grandes dificuldades em algumas capacidades transversais. Os alunos manifestaram dificuldades, particularmente, ao nível da comunicação matemática escrita e oral, na correta utilização das notações pedidas, bem como nas respetivas justificações, como é corroborado pelo estudo realizado por Canário (2011), que refere que os alunos sentem-se relutantes em justificar as suas respostas, mas que isso é uma consequência das suas dificuldades. Os alunos têm dificuldades na linguagem matemática e na capacidade de argumentação, apesar de ser um aspeto que acho fulcral e que tentei, sempre que possível insistir, sinto que os alunos ainda têm que ser mais estimulados neste sentido.

Outra capacidade transversal que os alunos não têm muito desenvolvida é o sentido crítico, dado que é muito raro verificarem a resposta que apresentam. Os alunos tendem a responder e avançar para a próxima questão, sem verificarem se faz sentido no contexto do problema. Este facto foi notório aquando do cálculo analítico do declive, alguns dos alunos calculavam erradamente, dando por exemplo um valor negativo quando a reta era crescente e mesmo os alunos que sabiam da relação acabavam por não detetar o erro pois não paravam para verificar a resposta.

Este facto era bastante notório quando os alunos trabalhavam com tarefas contextualizadas, nas quatro fases da modelação os alunos revelaram bastantes

dificuldades na organização do problema (primeira fase), principalmente no planeamento de uma estratégia para iniciarem o trabalho. Mas foi evidente, que a maioria não interpretava a solução em termos da realidade nem comparava a solução com a realidade. Desta forma, os alunos acabam por não conseguir concluir uma resolução, ou apresentar uma solução incorreta, porque não conseguem diferenciar que se se trata de um problema com contexto têm sempre que identificar se a sua resposta faz sentido nesse mesmo contexto.

Uma das práticas, que em conjunto com a professora cooperante, tentei implementar foi o trabalho a pares, nos momentos de trabalho autónomo, e os momentos de discussão. Apesar de ter sido bastante reforçado estes momentos, quando analisei as reproduções escritas dos alunos, constatei que a maioria apresentava diferentes resoluções no mesmo par. Muitos dos alunos até iniciavam o trabalho em conjunto, mas rapidamente sentiam a necessidade de trabalharem sozinhos. Este facto pode dever-se a não estarem habituados a esta prática.

Ao longo de todo o ano letivo, senti bastantes dificuldades na gestão da turma, isto é, tentava atender todos os alunos e quando sentia que alguns se estavam a dispersar tentava voltar a captar a sua atenção. Mas ao ter estes procedimentos, os outros alunos acabavam por se desinteressar porque centrava bastante a aula nos que tinham mais dificuldades ou nos que se distraiam mais rapidamente. Outro aspeto negativo, era o comportamento dos alunos, sendo alguns muito conversadores e, consequentemente, dispersavam-se. Senti, em diversos momentos, bastantes dificuldades em conseguir controlar toda a turma e pô-la a trabalhar em conjunto. Ao longo do ano letivo fui insistindo com o trabalho fora da sala de aula e sobre a importância de um estudo continuado, tendo conseguido que alguns alunos começassem a ir à sala de estudo, mas infelizmente, na sua maioria, consegui ter pouca influência neste aspeto.

Sem dúvida, que esses foram os maiores problemas com que me deparei e que mais me afetaram durante este período. Houve muitos momentos que me sentia bastante frustrada, na medida em que queria, genuinamente, que eles se envolvessem mais, principalmente porque me percebi das reais capacidades de muitos e que não eram aproveitadas.

Devido principalmente a estes fatores e algumas falhas no meu planeamento das aulas, existiram algumas aulas, onde o plano de aula não foi cumprido. Inicialmente, este era um fator bastante importante para mim, mas com o tempo e ajuda da minha professora orientadora fui percebendo, que nem sempre, não cumprir o plano de aula era negativo.

Mas, sem dúvida, que com esta experiência, percebi a importância de um planeamento detalhado. Durante as aulas, a sensação que tenho, é que tudo passa num instante e que se não fosse este planeamento acabaria por perder algumas intervenções importantes ou não conseguiria enfatizar certos conceitos ou procedimentos importantes.

Esta foi uma experiência bastante enriquecedora, e marcante, que mudou algumas opiniões que tinha sobre a prática profissional. Com esta experiência consegui ter uma perceção maior de todos os desafios que é ser professor, tanto dentro como fora da sala de aula. Também foi bastante importante, as reuniões em que participei na escola pois consegui perceber a outra parte de ser professor, nomeadamente as decisões mais administrativas que se têm que tomar e toda a dinâmica que existe com os professores das outras disciplinas.

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