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1 Manejo com os Leitões nas primeiras 24 horas após o nascimento

A fase do nascimento dos leitões é de grande importância para a criação, uma vez que o leitão requer cuidados especiais, pois a maior parte das perdas se veriica nessa fase, em virtude de problemas de lactação, manejo, higiene, esmagamento, perdas de calor, entre outros.

O leitão recém-nascido explora seu ambiente dentro de poucos minutos após o nascimento e, em seguida, encontra o teto da mãe e começa a mamar. Devido a sua curiosidade, é essencial que o ambiente esteja limpo, minimizan- do assim as chances de exposição a doenças e parasitas. Além disso, uma série de práticas zootécnicas deve ser realizada com os animais, conforme é a seguir apresentado.

Para a realização das práticas de manejo com o leitão utiliza-se um kit ma- ternidade, que pode ser uma pequena caixa de madeira ou outro material, por- tátil, contendo: tesoura, papel toalha, iodo glicerinado ou tintura de iodo a 2%, barbante (pode ser embebido em álcool iodado), entre outros materiais, varian- do conforme a disponibilidade e a relação custo-benefício.

1.1 Secagem e massageamento dos leitões

O leitão deve ser limpo e seco imediatamente após nascer para evitar a perda de calor. Quanto mais tempo o leitão permanecer úmido, maior será a quantidade de calor perdido, podendo resfriar o animal, levando à queda de temperatura e morte por hipoglicemia.

Os líquidos fetais, bem como os restos de membranas que envolvem ex- teriormente o recém-nascido, devem ser removidos com toalhas de papel ou panos limpos, dando-se preferência à toalha de papel, por ser mais higiênica. É possível utilizar ainda maravalha limpa, podendo ser colocada numa caixa de madeira, de modo que se possa secar totalmente o leitão, acrescentando mais maravalha limpa, sempre que necessário. Atualmente, existe um pó secante, á base de celulose, que pode se utilizado para secar o leitão. Entretanto, nesse caso, deve-se cuidar para que o leitão não aspire este pó, pois pode vir a causar sufocamento ou infecção pulmonar.

Independente do material utilizado, com exceção do pó secante, em pri- meiro lugar, limpa-se a cabeça do recém-nascido, removendo os líquidos fetais existentes ao redor da cavidade bucal e narinas, para evitar a obstrução das vias respiratórias. A seguir, limpa-se o restante do corpo do leitão e faz-se uma mas- sagem sobre o dorso e região pulmonar, visando ativar a circulação e estimular a respiração.

Alguns leitões podem nascer parcialmente ou totalmente envoltos em membranas fetais e morrerem sufocados, se estas não forem removidas imedia- tamente. Após a remoção das membranas, recomenda-se fazer uma massagem para reanimá-los.

Terminado este processo, corta-se e desinfeta-se o umbigo do leitão, con- forme será descrito a seguir.

1.2 Corte e desinfecção do umbigo

O cordão umbilical é o elo de comunicação entre a mãe e o feto durante o período de gestação. É através desta via que substâncias nutritivas e oxigê- nio são levados ao feto, e que parte dos catabólitos é eliminada. Apresenta es- trutura elástica e, de modo geral, em 20 a 30% dos partos, o cordão umbilical

aparece rompido, sendo que os leitões que nascem por último apresentam um índice maior de rompimento, comparado aos que nascem primeiro. Quando o rompimento não ocorre antes do nascimento, geralmente acaba rompendo pelo esforço do leitão em alcançar o úbere da porca. Após sua ruptura, a porção maior geralmente ica ligada ao leitão e pode diicultar seu deslocamento.

O processo de mumiicação e queda do umbigo é rápido mas, mesmo as- sim, pode servir de porta de entrada para agentes patogênicos, ou dar origem a hemorragias, as quais podem levar à morte. Para diminuir o risco é recomenda- da a ligadura e o corte do umbigo. Ao amarrar-se o umbigo, deve-se utilizar um cordão limpo e previamente desinfetado ou um cordão embebido em desinfe- tante (solução de iodo, metiolate, lugol, ou outro desinfetante). A tesoura tam- bém deverá estar limpa e desinfetada. A aproximadamente 3 a 4cm da inserção do umbigo no ventre, é feita a amarração (Figura 1A). Após, corta-se o umbigo com a tesoura (Figura 1B), abaixo e junto à atadura e, em seguida, introduz-se a parte remanescente do umbigo no frasco de desinfetante até encostar o ventre do leitão na borda da boca do frasco. Gira-se 180o frasco e leitão, icando o lei- tão com o ventre voltado para cima e a boca do frasco para baixo, de tal forma que haja um banho completo com desinfetante na região onde o umbigo se insere no ventre (Figura 1C).

Figura 1: (A) Amarração do cordão umbilical; (B) Corte do cordão umbilical; (C) Desinfecção do

umbigo com solução de iodo. Fonte: Lopes (2006).

É, portanto, de suma importância que este processo seja realizado nos pri- meiros minutos após o parto, evitando uma possível infecção.

1.3 Fornecimento de calor

Além das operações de manejo descritas anteriormente (secagem e massa- geamento, corte e desinfecção do umbigo) é conveniente que os leitões sejam recolhidos a uma fonte de calor até secarem e antes de mamarem, pois durante a vida intra-uterina, a temperatura corporal do leitão é bastante alta e constan- te, comparada à vida extra-uterina.

Ao nascer, o leitão está neurologicamente bem desenvolvido, porém isiolo- gicamente ainda é considerado imaturo e sua capacidade de controlar eicien- temente a temperatura corporal está pouco desenvolvida, não conseguindo compensar imediatamente a intensa perda de calor logo após o parto.

O suíno recém-nascido está sujeito ao frio e à hipoglicemia, o que pode levá- -lo à morte devido a sua relativa pouca quantidade de pelos e de cobertura de gordura subcutânea, sua grande superfície corporal em relação ao peso corpo- ral, seu controle homeostático da temperatura corporal imaturo, e suas escas- sas reservas corporais de gordura e de glicogênio, para produção de energia.

A temperatura corporal do recém-nascido cai de 1,7 a 6,7oC (em média,

2,2oC), logo após o parto, sendo que a maior queda ocorre nos primeiros 20

minutos de vida. O tempo que o leitão leva para alcançar novamente valores isiológicos depende diretamente da temperatura ambiente, de seu peso cor- poral e do momento em que começa a mamar.

1.4 Primeira mamada

Conforme os leitões vão nascendo são orientados para ingerirem o colostro, a chamada primeira mamada. Esta prática é realizada após realizar-se secagem e massageamento dos leitões, além dos cuidados com o umbigo (Figura 2). Por instinto, logo após o nascimento, eles procuram os tetos da mãe.

Nesta primeira mamada, os leitões são observados e, assim que tiverem ingerido o colostro, o que pode ser veriicado através da palpação do abdô- men, que se torna cheio e distendido, são colocados no escamoteador para que possam se aquecer. Assim, os próximos leitões que nascem são colocados para mamar antes daqueles que já o izeram e estão sendo aquecidos. Dessa forma, todos têm a mesma chance de ingerir o colostro.

É recomendado que todos os leitões sejam colocados para mamar nos tetos dianteiros, os peitorais, que produzem maior quantidade de leite com maior teor de gordura e açúcar. Além disso, são tetos maiores e mais lexíveis, o que facilita a sucção pelo leitão. Os leitões menores devem ser colocados para ma- mar antes dos maiores. Assim, é assegurado que todos possam mamar uma boa quantidade de colostro. Esta prática é importante porque os leitões mais

pesados e mais fortes identiicam os tetos peitorais como os mais leiteiros e de- les se apossam. O procedimento de colocá-los a mamar depois dos pequenos deve ser seguido nas mamadas subsequentes, até que a leitegada toda tenha ingerido quantidade suiciente de colostro.

Figura 2: Orientação da primeira mamada logo após o nascimento.

Fonte: Lopes (2006).

O leitão nasce praticamente sem nenhuma proteção contra organismos pa- togênicos existentes no seu novo ambiente, com os quais nunca antes esteve em contato. Os anticorpos ou imunoglobulinas desenvolvidas pela porca para sua proteção e para a proteção dos leitões contra determinadas infecções não são transferidos através da placenta. O feto, por sua vez, não tem capacidade de produzir seus próprios anticorpos, devido ao desenvolvimento de seu sistema imunitário e por não estar exposto a ação de antígenos.

Os anticorpos da mãe são repassados ao leitão através da ingestão do colos- tro, e sua saúde e sobrevivência dependem, em grande parte, de sua ingestão. O colostro é essencialmente um transudato concentrado do soro sanguíneo da porca, contendo também imunoglobulinas que são secretadas pela glândula mamária. As imunoglobulinas são absorvidas pelas células do trato intestinal e transferidas imediatamente à corrente sanguínea. Se o leitão ingerir certa quantidade de colostro no momento adequado, terá uma imunidade sérica comparável à da mãe, em natureza e especiicidade.

A capacidade do leitão para absorver os anticorpos existentes no colostro é limitada, uma vez que o mecanismo de absorção das imunoglobulinas vai

diminuindo progressivamente. A capacidade de absorção de anticorpos pelo leitão começa a diminuir logo após o nascimento e, 24 a 36 horas após, não mais ocorre. Após este período, as imunoglobulinas agem localmente, na pare- de da mucosa intestinal, protegendo-a contra determinadas doenças, como a colibacilose e a gastroenterite transmissível.

O colostro é rico em proteínas, em aminoácidos (valina, treonina, leucina, fenilalanina) e principalmente em gamaglobulinas, em vitaminas A, C, E, e tia- mina. Além de fornecer imunidade ao recém-nascido, desempenha função la- xativa, com remoção do mecônio. A composição do colostro modiica-se rapi- damente após o parto, portanto quanto maior for o período entre o nascimento e a primeira mamada, maior será a chance de se estabelecer uma infecção. Para assegurar uma ingestão adequada de colostro pelos leitões, é essencial que se- jam colocados a mamar já na primeira hora após o nascimento.