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MARCADORES BIOQUIMICOS DA DOENÇA CARDIOVASCULAR Marcadores de lesão miocárdica: CK-MB; mioglobina e troponina

No documento Bioquímica clínica em geriatria (páginas 61-65)

PARTE II – Dr Joaquim Chaves, Laboratório de Análises Clínicas (JCLAC) Introdução

A – QUÍMICA CLÍNICA

2. Parâmetros analíticos e valor semiológico 1 METABOLISMO DAS PROTEÍNAS

2.10 MARCADORES BIOQUIMICOS DA DOENÇA CARDIOVASCULAR Marcadores de lesão miocárdica: CK-MB; mioglobina e troponina

A creatina cinase fração MB (CK-MB) é uma isoenzima que se encontra em maior quantidade no citoplasma do músculo cardíaco, sendo por isso um bom marcador de lesão de necrose do miocárdio (ex.: enfarte agudo do miocárdio). Inicia a sua subida 2- 3 horas após início dos sintomas, atinge um pico às 12h e normaliza os valores ao fim de 2 a 3 dias. Elevações acentuadas de CK-MB podem estar associadas a situações clinicas em que há um elevado turnover do músculo-esquelético (ex.: miosites e rabdomiolise) e não a lesão do miocárdio.

A troponina é um complexo de 3 subunidades proteicas, presentes no músculo cardíaco e no músculo estriado, com função de regular o mecanismo de contração muscular. A isoforma cardíaca troponina T (cTnT) encontra-se livre no citoplasma ou

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ligada a proteínas, e nas fases precoces de lesão do miocárdio é libertada a forma livre. Eleva-se 3 a 12h após a lesão do miocárdio, tem um pico entre as 12 e 48h e normaliza ao fim de 7 a 14 dias. Para além do valor diagnóstico no enfarte agudo do miocárdio (EAM), a troponina T tem valor como marcador de prognóstico de morte por causas cardíacas e de eventos isquémicos recorrentes em casos de EAM com e sem elevação do segmento ST.

A mioglobina é uma proteína presente no músculo estriado (esquelético e cardíaco) e no músculo liso. Tem alta afinidade para o oxigénio, tendo a função de reservatório e transporte de oxigénio aos miócitos. Quando há lesão do miocárdio a mioglobina é libertada mais precocemente, iniciando-se entre1 e 5h, tendo o pico entre as 4 e as 12h e normalizando por volta das 24h.

Valor semiológico: O aumento do CK-MB, cTnT e a mioglobina tem valor no

diagnóstico do EAM no contexto clinico de isquemia, no prognóstico (proporcional ao valor máximo observado), na monitorização da eficácia da reperfusão do miocárdio ou após terapêutica médica ou cirúrgica.

Marcador de stress hemodinâmico

O péptido natriurético tipo B (BNP, brain natriuretic peptide), secretado predominantemente pelos ventrículos cardíacos, tem como função regular a pressão arterial.

Valor semiológico: O BNP e o seu precursor NT-proBNP são marcadores

bioquímicos importantes na deteção precoce e no diagnóstico de insuficiência cardíaca. No entanto, estes marcadores não são específicos da insuficiência cardíaca e os seus níveis séricos são afetados por vários fatores (idade, sexo, etnia) e condições patológicas não cardíacas (Ex.: renais, pulmonares e sistémicas).

2.11 ENDOCRINOLOGIA

O sistema endócrino é composto por um conjunto de órgãos com função de regular o metabolismo, crescimento, fertilidade e responder às alterações no equilíbrio homeostático. Os principais órgãos são: hipotálamo, hipófise, tiroide, paratiroide, suprarrenais e órgãos reprodutores. O hipotálamo segrega diferentes hormonas que estimulam a hipófise. A hipófise por sua vez segrega hormonas que estimulam outros órgãos endócrinos. A doença endócrina pode ser descrita como a híper ou a hipossecreção de uma hormona, e é diagnosticada laboratorialmente através da quantificação direta das hormonas, nas amostras biológicas.

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Função hipofisária (eixo hipotálamo-hipófise)

A disfunção da função hipofisária deve-se normalmente ao excesso de produção hormonal ou ao seu défice. A hiperplasia celular é a principal causa de excesso de produção hormonal enquanto o deficit pode ter diversas causas.

Prolactina – é uma hormona produzida na hipófise anterior e controlada pelo

hipotálamo que atua ao nível da glândula mamária, sendo responsável pelo controlo e manutenção da lactação. A dopamina inibe a libertação da prolactina pela hipófise, enquanto a sua secreção é estimulada pela hormona libertadora de tirotrofina (TRH).

Valor semiológico: útil na avaliação e diagnóstico de tumores hipofisários,

amenorreia, galactorreia, infertilidade e hipogonadismo.

Hormona do crescimento (GH) – Segregada pela hipófise anterior em resposta a

estímulos como o exercício, hipoglicémia, sono profundo e ingestão proteica. Estimula os hepatócitos a sintetizar o fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1) e mobiliza as reservas hepáticas de ácidos gordos.

Valor semiológico: útil na monitorização e diagnóstico de alterações do crescimento

(ex.: acromegália nos adultos e nanismo/gigantismo nas crianças).

Função tiroideia (eixo hipotálamo-hipófise-tiroide)

As disfunções da glândula tiroideia (hipo e hipertiroidismo) são situações muito prevalentes na população geral. O hipotálamo segrega TRH que estimula a hipófise anterior a segregar TSH. O principal mecanismo de regulação da ação biológica das hormonas da tiroide é a libertação da TSH pela hipófise, cujo ritmo de secreção é circadiano. A TSH estimula a tiroide a sintetizar e segregar as hormonas tiroxina (T4) e triiodotironina (T3), que circulam no sangue sob duas formas (total e livre). As frações livres da T4 (T4L) e da T3 (T3L) são biologicamente ativas. A avaliação da função tiroideia é realizada pelo doseamento de TSH juntamente com a T4L. Em casos complexos (maior dificuldade diagnóstica ou maior gravidade clínica) avalia-se com a determinação da TSH, T4L e T3.

Valor semiológico: rastreio de patologias da tiroide, monitorização do hipotiroidismo e

do hipertiroidismo, situações específicas, tais como, tiroidectomizados, doentes submetidos a irradiação do pescoço, doentes medicados com fármacos que podem afetar a função tiroideia, ou na confirmação do diagnóstico de hipotiroidismo congénito.

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Função supra-renal (eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal)

As glândulas supra-renais são fundamentais para os mecanismos adaptativos do organismo humano ao meio ambiente, bem como na regulação de diferentes processos fisiológicos, estando interrelacionados os outros órgãos endócrinos e com o sistema nervoso autónomo. A hormona adrenocorticotrópica (ACTH) é produzida na hipófise anterior e a sua libertação é estimulada diretamente pela hormona hipotalâmica de libertação de corticotrofinas (CRH) e indiretamente pela hormona antidiurética (ADH). A ACTH estimula a secreção de glucocorticoides (Ex.: cortisol) mineralocorticóides (Ex.:aldosterona) e de androgénios no córtex da supra-renal. Avaliação da relação entre hipotálamo-hipófise-supra-renal é baseada na medição da ACTH e das hormonas adrenais em condições basais e após estimulação. Na área Core são doseados a ACTH e o Cortisol, tendo em consideração, na fase pré- analítica, o ritmo circadiano de libertação do Cortisol e ACTH, na avaliação da função do córtex supra-renal.

Valor semiológico: O doseamento do Cortisol total conjuntamente com a ACTH

permite o rastreio da insuficiência adrenal (Ex.: Doença de Addison); o diagnóstico diferencial da síndrome de Cushing, auxiliando na discriminação entre causas primárias (adenoma, carcinoma, ou hiperplasias nodulares) ou secundárias por excesso de ACTH (tumores hipofisário ou ectópico).

Função das Gónadas (eixo hipotálamo-hipófise-gónadas)

As gonadotrofinas FSH e LH, produzidas na hipófise, estimulam o funcionamento das gónadas masculinas (testículos) e femininas (ovários). Nas mulheres, são libertadas de forma pulsátil e atuam dentro do circuito regulador hipotálamo-hipófise-ovários para controlar o ciclo menstrual. A FSH é responsável pela maturação do folículo germinativo, pela secreção de estrogénios (estradiol, estriol e estrona) e pelo amadurecimento do óvulo durante a fase folicular. Na fase intermédia do ciclo a LH aumenta para estimular a ovulação, a libertação e migração do óvulo para as trompas de Falópio e para o útero. Na fase lútea a LH estimula a secreção de progesterona. Nos homens a FSH estimula a espermatogénese e a LH estimula a produção de testosterona pelas células de Leydig dos testículos.

Valor semiológico: O doseamento da FSH e da LH tem o seu maior valor

semiológico no diagnóstico etiológico do hipogonadismo e no estudo da amenorreia, mas também no diagnóstico de doenças congénitas com anomalias cromossómicas (ex. síndrome de Turner), ovários poliquistícos e síndrome de menopausa.

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No documento Bioquímica clínica em geriatria (páginas 61-65)