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1.3 OS REVISTEIROS: MARQUES PORTO, ARY PAVÃO E LUIZ PEIXOTO

1.3.2 Marques Porto (1898-1934)

O escritor Agostinho José Marques Porto, co-autor de Comidas Meu Santo e Guerra ao Mosquito, natural do Rio Grande do Sul, filho do marechal Marques Porto. Marques Porto nasceu em 06 de janeiro de 1898, e morreu, com 37 anos de idade no último dia de carnaval, em 12 de fevereiro de 1934.

Imagem no 8 - Agostinho José Marques Porto30

30 Antunes, 2002:216.

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Marques Porto foi sub-inspetor de Polícia Marítima, afastado em 1930 pelo governo provisório como infenso31. Marques Porto em carta ao Sr. Dr. Baptista Luzardo, Chefe de Polícia do Distrito Federal, protestando escreve:

Eu sei da insegurança em que vou viver depois desta carta chegar às mãos de V. S., mas seria uma covardia não lançar o meu protesto contra a informação torta e inverídica prestada por V.S. ao honrado chefe de governo.

Se o meu único crime é o de pensar de maneira diversa da de V.S., eu grito alto e bom som - quero ser criminoso!32

Depois disso, Marques Porto, foi reintegrado ao cargo, que sempre desempenhou com honestidade e competência. Além de funcionário público, foi exímio escritor de revistas e burletas. Iniciou a carreira com a revista Canalha das

Ruas, em parceria com Ary Pavão, em 1922. Entre seus textos revisteiros

destacam-se: Comidas Meu Santo, La Garçonne, Prestes a Chegar, escritas em parcerias com Luiz Peixoto, de 1926, a mesma parceria produziu ainda Paulista de

Macaé, em 1927 e Guerra ao Mosquito, em 1929. Em colaboração com Paulo

Orlando produziu Muito me Contas, Rabo de Saia, Brasil do Amor e Ri ... de

palhaço.

Marques Porto participou do grupo amador Teatro de Brinquedo33,

orientado por Álvaro e Eugenia Moreyra, juntamente com Luiz Peixoto, grupo que ensaiava no Cassino Beira Mar, na década de 1920. Também foi conselheiro da SBAT, defendendo o teatro, atacando empresários desonestos, acusando o desvio de direitos autorais, participando ativamente do conselho deliberativo e ocupando a tribuna da SBAT, com orgulho, como em 1933, através destas palavras:

31 Infenso, segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1977:266), significa

“contrário, adverso”.

32 Carta de Marques Porto ao Chefe de Polícia do Distrito Federal. Pasta: Marques Porto. Cedoc-

Funarte. Rio de Janeiro.

33 Teatro de brinquedo foi um projeto de renovação do Teatro Brasileiro, criado no Rio de Janeiro,

por Álvaro e Eugênia Moreyra, e que teve inicio a 10 de novembro de 1927, num dos salões do Cassino Beira-Mar. Criam um espaço para 180 pessoas. A idéia surge ao casal após uma estada em Paris quando assistem aos ensaios da companhia do Vieux Colombier, dirigida por Copeau.

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Sr. Presidente

[...] Tenho o hábito de olhar de frente! Não gosto de fitar o chão.

Prefiro encarar as alturas.

Quando entro no Teatro escolho sempre a porta principal. Os empresários sabem onde moro.

Não ofereço as minhas peças. Elas são solicitadas.

Como escritor, só ou acompanhado, tenho sabido impor-me ao conceito público, dando dinheiro a ganhar aos empresários, respeitando as leis desta casa que não aponta um só deslize do seu conselheiro perpétuo.

Tenho por tudo isto um profundo orgulho

Sinto-me, pois, plenamente a vontade para ocupar esta tribuna34.

A fala de Marques Porto revela a relação do autor com o teatro, “entro sempre pela porta principal”. Ou seja, ele não se esconde e é bem recebido pelas companhias teatrais, sendo que são as companhias quem o procuram para trabalhar e não o contrário. Demonstra uma clara compreensão de sua importância enquanto dramaturgo e sua contribuição ao teatro de seu tempo.

Marques Porto, com toda a sua irreverência disse a um grande amigo, Paulo de Magalhães:

O meu sonho é morrer num Carnaval!35

Imagine-se o meu enterro atravessando a Praça Onze num dia desses e eu, deitado no caixão, “espiando” pelas frestas, com mulatas sambando no meio da praça e o povo todo se “esbaldando” ao som da marcha “Dá nela” do Ary Barroso.

Por ironia do destino, este renomado escritor morreu no último dia do carnaval de 1934, e o seu caixão passou por entre as alas dos cordões carnavalescos, com todo o respeito e carinho que os carnavalescos tinham por esta interessante e irreverente figura do teatro e vida intelectual brasileira.

34 Artigo original de Paulo Orlando. Pasta: Marques Porto. Cedoc-Funarte 35 Artigo original de Paulo Orlando. Pasta: Marques Porto. Cedoc-Funarte

74 1.3.3 Ary Pavão (1900 - ?)

O escritor Ary Machado Pavão, co-autor Revista Comidas Meu Santo, nasceu em Bagé – RS, em 1900, e estreou no teatro, segundo Efegê36 com a

revista Canalha das Ruas, em 1922, na Empresa Paschoal Segretto. No ano de 1923 participou da autoria da opereta Cabocla Bonita, também em parceria com Marques Porto. No ano de 1925 foi a vez de Verde Amarelo, revista escrita em parceria com José do Patrocínio Filho. No mesmo ano estoura o sucesso de

Comidas Meu Santo, com seu parceiro Marques Porto, a revista foi considerada

um dos maiores triunfos da dupla.

Imagem no 9 - A dupla de autores revisteiros Marques Porto (direita) e Ary Pavão ao centro37

Ary Pavão se aposentou na carreira diplomática. Ele foi também membro da Associação Brasileira de Imprensa, jornalista em vários órgãos: A Crítica e Diário

Carioca, além de cronista, romancista e poeta. Segundo Gomes (2004:175) “Ary

36 Jota Efegê, na Reportagem Pavão (Ary Machado) foi um dos ases do teatro revisteiro. Jornal O Globo. Rio de Janeiro, 04 de junho de 1983.

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Pavão era um autor de renome, com publicações de artigos em periódicos e livros”.

Ary Pavão escreveu, em 1942, o livro Viagem através do Caos fruto de sua viagem à França, quando em Paris, vivenciou o drama da Segunda Guerra Mundial.

Imagem no 10 - Ary Pavão38.

1.4 MARGARIDA MAX

Por que falar de Margarida Max?! Ela foi a vedete de Comidas, Meu Santo e de Guerra ao Mosquito. Da primeira ela participou apenas como atrizprincipal, já em Guerra ao Mosquito além do papel de atriz, Margarida aparece como empresária de sua companhia, denominada Companhia de Revistas Modernas Margarida Max.

Margarida D’ Alexandre Tocatelli – Margarida Max (1902-1956) - nasceu em São Paulo capital no dia 24 de abril de 1902. A partir de 1920, até meados dos anos 40, uma moreninha paulista, que a lenda garantia ter nascido em Roma e se apaixonado pelo Brasil, foi uma das figuras femininas mais importantes do teatro de revista nacional. Filha de italianos, nascida em São Paulo e criada em Franca, onde era conhecida como a Margarida do Max, nome de um eterno noivo, rompeu com a cidade e com o noivo ao se tornar atriz de uma companhia itinerante que por lá passou. E passou a denominar-se Margarida Max.

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Egressa da comédia, Margarida Max triunfou rapidamente na revista. A vivacidade da nova estrela, sua beleza sedutora, sua voz de soprano, o desembaraço ante a platéia e a simpatia que logo obteve junto à crítica asseguraram-lhe um posto importante nos círculos teatrais. E para este sucesso contribuiu muito o apoio recebido do empresário português radicado no Brasil, Manoel Pinto, protegendo-a, fazendo-a sua amásia, “teúda e manteúda”. É claro que o sucesso de Margarida Max a indispôs com algumas competidoras: mas, além do valor comprovado à luz da ribalta, dizem que era moça de bom coração; impulsiva, de língua solta, mas sem guardar rancor. (PAIVA, 1991:255)

No Rio de Janeiro, adere ao teatro de revista, no qual se torna uma de

suas principais vedetes, estrela de grandes montagens, cercada de nomes que ficariam célebres. Sílvio Caldas, Joraci Camargo, Luiz Iglésias, Luiz Peixoto, Olegário Mariano, Vicente Celestino, Otília Amorim, Viriato Correia, Mesquitinha, OduvaldoViana, Palmeirim e tantos outros.39

Imagem no 11 – Margarida Max40 .

39 Informações obtidas em: http://cifrantiga2.blogspot.com/2007/06/margarida-max-estrela-da-

revista.html. Acesso: 18/03/09 – 20:23 horas.

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Como as demais prima-donas do Teatro de Revista, Margarida Max lançava músicas, ficando famosa sua interpretação do samba Braço de Cera, de Nestor Brandão. Mas seu grande êxito foi na revista Brasil do Amor, de 1931, quando lança a versão definitiva de No Rancho Fundo, de Ary Barroso e Lamartine Babo. Um sucesso nacional, que saltou do palco da revista para ser cantado pelo Brasil inteiro.

Margarida não teve carreira longa, morreu aos 54 anos, já retirada dos palcos. Mas antes viveu anos de glória, como uma das mulheres mais cobiçadas da época.41

Um êxito estrondoso marcou o aparecimento, como estrela, de Margarida Max. A 05 de maio de 1924, estreou no Teatro Recreio, de Marques Porto e Afonso de Carvalho, a revista La Garçonne, que modificaria costumes no país. Depois de trezentas representações, excursionou pelo Brasil, lançando a moda dos cabelos curtos para mulheres, “La Garçonne”, tal como usava Margarida. Bonita, vistosa, talentosa e jovem, com enorme força interior, que faria dela a maior das vedetes do gênero. Iniciava ali uma carreira que acabaria por desbancar a estrelíssima Otília Amorim, vencendo as concorrências de Antônia Denegri, Eva Stachino, Lia Binatti, Zaíra Cavalcanti e da própria Araci Cortes, que ao final seria sua sucessora, sem alcançar seu status de grande dama do teatro de revista.

Além de grande atriz, cantora e vedete, Margarida Max foi excelente empresária, conseguindo abrir espaço numa área dominada por homens, mantendo sua companhia por muitos anos, a empresa de Margarida Max:

Se ancorava na suntuosidade da montagem, cenários e guarda- roupa, beleza dos quadros de fantasia nos quais rivalizavam Ângelo Lazary e Hipólito Collomb produzindo maravilhas, nos bailados ousados; no lançamento de canções que tomaram o país; e na novidade de uma orquestra de vários professores, a Brunwich, animando as noitadas feéricas. (Paiva, 1991:309)

41 Informações obtidas em: http://cifrantiga2.blogspot.com/2007/06/margarida-max-estrela-da-

78 Imagem No 12 – A Grande Companhia de Revistas Modernas Margarida Max. Margarida

ao centro com o seu corpo de baile42

A atriz Margarida Max – a vedete, ao centro com a saia rodada, está diferente do conjunto. Observa-se pelo olhar, pela posição de cabeças e das mãos na cintura das artistas, uma busca pela afirmação destas mulheres, no universo do teatro e da sociedade.

Houveram os percalços da atriz e empresária na carreira. Em 1929 apresentava no Teatro Carlos Gomes, no Rio de janeiro, a revista de grande sucesso Onde está o Gato, de autoria de Geysa Bôscoli e Luiz Iglésias, quando na manhã (11h) de 27 de agosto de 1929 o velho casarão foi totalmente destruído por um incêndio, só restando de pé as colunas de ferro que formavam o esqueleto do teatro, sustentadoras dos andares onde havia camarotes e galerias.

A causa do sinistro foi atribuída aos operários da Light que, com maçarico aceso, faziam reparos na instalação elétrica. Foi total a perda das Empresas Paschoal Segretto e M. Pinto, como também da Companhia Margarida Max, que o ocupava e estava no ápice de rendosa temporada com a peça de Luiz Iglesias,

42 Fonte: Delson Antunes. Fora do Sério: Um Panorama do Teatro de Revista no Brasil. Rio de

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Onde está o gato? Arquivo, cenários e guarda-roupa da companhia ficaram

reduzidos a cinzas, assim como tudo quanto possuíam os artistas.43

Imagem no 13 – fachada do teatro Carlos Gomes após o incêndio que o destruiu44

O incêndio consternou a cidade e a classe teatral. A Casa dos Artistas fez um apelo às companhias que se achavam trabalhando para que, cada uma das pessoas empregadas, cedessem um dia de serviço, em favor do pessoal da Companhia Margarida Max.45

43 Fonte:

http://www.ctac.gov.br/centrohistorico/VersaoImp_TeatroXPeriodo.asp?cdP=17&cod=109&tipo=Ide ntificacao – 18/0309 – 20:32 horas.

44 Antunes, 2002: 250. A empresa de Paschoal Segretto reconstruiu o espaço, que foi re-

inaugurado em 1932.

45Fonte:

http://www.ctac.gov.br/centrohistorico/VersaoImp_TeatroXPeriodo.asp?cdP=17&cod=109&tipo=Identificacao – 18/0309 – 20:32.

80 Imagem no 14 - Margarida Max, formou, com Augusto Aníbal e João Lins, o trio principal de

atrações da revista Onde está o Gato?46

Margarida Max, a esquerda, foi uma das poucas atrizes que atuava igualmente como vedete e como cômica caricata. Através da foto, podemos observar ela formando um trio de astros cômicos, contracenando com Augusto Aníbal e João Lins. Ao fundo o coro de girls, todas de cabelos curtos e sem salto.

Na revista Guerra ao Mosquito Margarida Max foi muito elogiada, como atriz e empresária, pelas críticas teatrais:

Margarida Max e sua Companhia continuam agradando, no Carlos Gomes, na Revista de Marques Porto e Luiz Peixoto, Guerra ao Mosquito. A Revista está caprichosamente posta em cena e tem um desempenho excelente. Na variedade de seus papéis, Margarida Max desperta entusiasmo. (Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 9 de junho de 1929)

Em 26 de junho de 1929, o Correio da Manhã, dizia sobre o espetáculo: “[...] Um desempenho de primeira ordem por parte de toda companhia onde fulgura a graça e o prestígio de Margarida Max”.

46 Antunes, 2002:253.

81 Imagem no 15 – A exuberante estrela Margarida Max47

Margarida Max foi uma diva do Teatro de Revista. Além de muitas qualidades, ela destacou-se com seu conjunto cênico, que se caracterizava pela beleza e pelo luxo.

O destaque específico de Margarida Max neste estudo, como também dos respectivos escritores das peças revisteiras, contribuíram para enfatizar o cruzamento de identidades sociais com o imaginário da modernidade, na década de 1920.

As ambivalências e ambigüidades também se faziam presentes nestas identidades sociais retratadas e na cena revisteira apareciam e emergiam discursos dissonantes, projetos modernos divergentes e por isso, reacendiam conflitos e embates que ocorreram neste percurso, nada harmônico, especialmente ao defrontar-se com a censura, que levou os escritores a desenvolverem astúcia e inteligência através de inúmeras driblagens simbólicas no texto revisteiro, abrindo espaço também para um maior destaque dos bailados nesse gênero de teatro musicado.

47 Antunes, 2002:229.

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CAPÍTULO II PÉS DE ANJO: A Dança no Teatro de Revista

A dança é sempre uma interpretação da vida, um drama. (Maria Lino, 1914)48

Neste capítulo analiso os bailados49, o corpo de baile do teatro de revista brasileiro, na década de 1920, tendo por base dois textos revisteiros: Comidas,

Meu Santo e Guerra ao Mosquito. Neste processo busco vestígios para encontrar

as referências corporais dos bailados como vertente do imaginário da modernidade no Brasil. A dança, e neste caso específico os bailados na revista, devem ser analisados como ícones representativos da modernidade.

Ao transitar pelo imaginário da modernidade o faço consciente que não tenho condições ou mesmo a intenção de esgotá-lo ou redefiní-lo, mas apenas discutir aspectos que trazem questões importantes em relação ao corpo que dançava na cena revisteira. No cenário internacional, afirma Velloso:

[...] desde a virada do século XIX, a ênfase ao corpo e às subjetividades como lugar de cultura e foco catalisador das mudanças, afirmava-se como um dos valores filosóficos da modernidade, sobretudo, através das obras de Bérgson, Freud e de Nietzsche. Possibilitando a liberdade, a expansão e expressividade dos movimentos, e, consequëntemente, garantindo a idéia do fluxo da existência, as danças ganhavam destaque. E é em função dessa dinâmica, que se esboçam os novos sentidos, entendimentos e práticas da cultura corpórea (2008:1)

O novo corpo que se construía no início do século XX, dentro dos paradigmas da modernidade que se estabelecia no mundo ocidental, deixava entrever outra ordem de valores. Mas, vamos dar a palavra à dançarina-atriz brasileira, embora italiana de nascimento: Maria Lina, que em 1914, após retornar

48 Maria Lina apud Monica Pimenta Velloso. América dançarina, polêmicas em torno de uma identidade nacional brasileira. In: Z Ensaios – Ano IV - Número 2 - Abril 2008/Julho 2008 Disponível em: http://www.pacc.ufrj.br/z/ano4/2/mvelloso.htm. Acesso: 10 abr. 2009.

49 Bailado – Adoto a palavra bailado para referir-me a dança presente no Teatro de Revista, pois

fazia parte do vocabulário da década de 1920 e este termo aparecia de forma recorrente na linguagem utilizada nas críticas de jornais da época.

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de uma viagem de grande sucesso em Paris, onde desenvolveu o que ficou denominado como “tango brasileiro” – o maxixe – falou a uma platéia elegante no Teatro Fênix, do Rio de Janeiro. E nesta palestra ela:

[...] chamava a atenção para a flexibilidade dos movimentos, a agilidade e a destreza como um dos valores da sensibilidade moderna. A idéia da existência como fluxo contínuo e a urgência de expressão, através de uma cadeia de movimentos, impregnavam a cultura modernista. [...] Maria Lino demonstrava estar a par dessa literatura, mencionando, inclusive, autores como Bérgson.50

A dançarina-atriz fez, nesta palestra, a relação entre a dança, o esporte e o corpo saudável e potencializado. “Maria Lina argumentava que a alegria que sentia, ao dançar o maxixe, só poderia ser experimentada pelas pessoas que sentiam prazer em viver: ‘[...] só dança quem tem saúde, quem tem alegria, quem ama o prazer delicioso de viver”. Segundo Velloso (2008), esta artista, em sua fala “deixava clara a centralidade do corpo na vida moderna, não só no Brasil, mas em todo o mundo. A dança e o esporte faziam parte da ‘noção moderna de vida’, que implicava no culto à liberdade, à natureza, à força corpórea, destreza e agilidade”.

O que Maria Lina e outros atores-dançarinos conquistavam nos seus espaços artísticos ainda se fazia perceber de modo tênue nos bailados do Teatro de Revista no início do século XX. Torna-se importante destacar que na década de 1920, inicia-se uma reviravolta nos bailados da revista, entretanto a incorporação destas transformações pelo corpo de baile da cena revisteira ainda é muito incipiente nesta década, reconhecendo-se estes elementos de forma mais clara e sedimentada na década seguinte. E destaco também que momentos solos ou duos de dança modificavam-se mais rapidamente do que o conjunto do corpo dançante. Mais adiante iremos discutir as vedetes que faziam os solos ou duos, e o corpo das girls, do coro, que faziam o conjunto dos bailados. Veremos que estes dois corpos demoraram a adquirir uma mesma linguagem de exposição e movimentação e o destaque destes corpos na dança vai ter início na década de 1920 e acentua-se na década de 1930 em diante.

50 Velloso, 2008.

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