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2.1 AS MUDANÇAS NOS QUADROS DE FANTASIA

2.1.8 Sur les Pointes : Bailarinas e Bailarinos

As apropriações de técnicas e gêneros de dança no Teatro de Revista dialogaram com diversas influências, inclusive do ballet, com a participação de Vera Grabinska, personalidade importante para o balé brasileiro. Segundo Pereira (2003:172): “Vera Grabisnka foi uma das primeiras bailarinas que se apresentou no Theatro Municipal [do Rio de Janeiro] e que também coreografou e dançou numa revista: O Pé de Anjo78, sucesso de 1920”.

76 Tendu- “Uma ação de [...] perna estendida”. (www.fotoclose.com.br/ballet/passos-de-a-a-

z_3.html)

77 Cambré- “Arqueado. Dobrar o corpo a partir da cintura, para frente, para trás ou para os lados, a

cabeça acompanha o movimento.”. (www.fotoclose.com.br/ballet/passos-de-a-a-z_3.html)

78Segundo Paiva (1991:202): “[Pé de Anjo] se iniciava na roça; estabelecia um confronto entre as músicas caipiras ou folclóricas e as de carnaval, da cultura de massa; passava para o carro dormitório de um trem cuja modernidade e conforto assombrava o simplório homem do interior - um

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Segundo Pereira (2003: 99), Vera Grabinska:

[...] era francesa, viveu na Argentina, estudou com grandes mestres como Enrico Cechetti e integrou tanto a companhia de Pavlova quanto a de Massine, onde aliás conheceu seu futuro marido. E, 1926, o casal Pierre Michailowski e Vera Grabinska decidiu fixar residência no Rio de Janeiro, após ter trabalhado em Buenos Aires, com a intenção de também criar a primeira escola de bailados da cidade (2003:99).

Vera e seu marido tentaram abrir uma Escola de Bailados no Teatro Municipal, mas a iniciativa fracassou por falta de apoio oficial. O casal deu aulas de balé em clubes. Ela também participou do elenco da temporada lírica de 1922 em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil, como primeira bailarina. Na sua carreira, fez parte do elenco dos bailados de óperas (Sucena, 1981:149). E para o Teatro de Revista fez a coreografia e participou enquanto dançarina na revista O Pé de Anjo79, de 1922 (Pereira, 2003:172). Nesta revista, segundo Caldeira (1998) Pedro Dias atuou também como bailarino e coreógrafo.

Este entrecruzamento entre o popular e o erudito, o trânsito entre bailarinos do Municipal – lugar por excelência do ballet clássico e o Teatro de Revista denotava uma passagem tensa socialmente, pelos preconceitos relacionados a este último. Tanto que o marido de Vera Grabinska, mais tarde em seu discurso, defenderia outra formação para bailarinos, distante dos bailados “bataclanescos” do Teatro de Revista.

Há que se destacar também nos bailados revisteiros a presença de Maria Olenewa, responsável pela fundação da Escola de Bailados do Rio de Janeiro, que funcionava no Teatro Municipal, e que:

[...] havia não apenas participado de algumas revistas como

também emprestado seu nome à sua companhia. Junto com o ator

clichê da época [...]. Havia o anseio ‘afirmativo’ do Brasil, de uma nação desenvolvida, que a população urbana sonhava, desejava”. Pé de Anjo, revista escrita e encenada em 1920 de autoria de Carlos Bettencourt e Cardoso de Menezes. Foi um estonteante sucesso da década de 1920, tendo como grande estrela a “extraordinária Otília Amorim”.

79 Em Pé de Anjo, de Carlos Bettencourt e Cardoso de Menezes. Companhia Paschoal Segretto.

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Pinto Filho, apresentou-se em três peças [revistas] durante o ano de 1926, ou seja, um ano antes da criação da Escola de Bailados80

por sua iniciativa. (PEREIRA, 2003:172)

Imagem no 36 - A grande Maria Olenewa, uma das criadoras da dança clássica no Brasil e inspiradora de várias gerações de bailarinas e bailarinos, também passou pelo Teatro de Revista. A foto é da década de 1920. Nessa época já existia a Escola de Dança do Teatro Municipal, mas o Corpo de Baile do Teatro só seria criado em 1931. Em 1927 Olenewa chegou a ter sua própria companhia de revistas em sociedade com o ator Pinto Filho. Ela é a mais baixinha ao centro.81

Maria Olenewa (1896-1965) nasceu em Moscou em 1896. Morou em Paris, onde trabalhou no Théatre dês Champs Elisées. Foi contratada por Ana Pavlova, como primeira bailarina, nesta companhia dançou A Morte do Cisne quando em excursão pela Europa. “Em 1921 vem a América do Sul, com a Cia. Leonide Massine e Vera Savina, apresentando-se no Rio de Janeiro” (Sucena, 1989:329), nesta excursão fixou-se na Argentina atuando como diretora do balé do Teatro

80 Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Segundo Pereira: (2003:17) significou

a sedimentação do balé no Brasil contou com ”[...] a fundação da primeira escola de bailados oficial brasileira, uma iniciativa de Maria Olenewa, em 1926, como um marco a partir do qual a idéia de formação começa a se delinear no país [...]”. “Em 1926, o casal Pierre Michailowski e Vera Grabinska decidiu fixar residência no Rio de Janeiro, após ter trabalhado em Buenos Aires, com a intenção também de criar a primeira escola de bailados da cidade. Porém a iniciativa não obteve sucesso, devido ao desinteresse por parte dos órgãos públicos. Os dois partiram então para a criação de cursos de balé em clubes [...]” (PEREIRA, 2001: 99) Segundo Pereira, (2003:92) o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, inaugurado no ano de 1909, teve sua primeira temporada de dança apenas em 1913, com os Balés Russos de Diaghilev.

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Colón. Voltou ao Brasil nas temporadas de 1923 e 1924. Em 1924 também dançou no Teatro Cassino Copacabana e no Palace Théatre (Sucena 1981).

Imagem no 37 -Maria Olenewa – 192782

A 11 de abril de 1927, Maria Olenewa criou a primeira escola de dança no Brasil, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que se tornou uma escola oficial, reconhecida pelo MEC em 1930.

A justificativa para sua criação, por parte de sua idealizadora, apresentada aos órgãos públicos responsáveis, era a de que um corpo de baile constituído apenas por bailarinos brasileiros resultaria em menos despesas, quando montagens de óperas fossem importadas. Mas, mais do que isso, essa escola permitiu que uma continuidade de formação de dança pudesse se desenvolver em solos brasileiros, resultando, mais tarde, em companhias profissionais, coreógrafos, bailarinos, professores, e, também, em um público que se tornava cada vez mais habituado a assistir balés (Pereira, 2003:91).

82 Fonte: http://www.elianacaminada.net/images/grandes/riomeuamorolenewa.jpg. Acesso: 10 abr.

124 Imagem no 38 - Maria Olenewa – autor desconhecido. Sem data83

Pereira observa que, “sofrendo de problemas de saúde, Olenewa retirou-se por dois anos na Suíça, passando interinamente a direção da Escola de Bailados ao russo Ricardo Nemanoff [...]” (2003:109). Retornou ao trabalho em 1930. Em 1934 a coreógrafa, dançarina e professora adquiriu a cidadania brasileira. Em 1943 mudou-se para São Paulo, onde apresentou o bailado: Evolução no IV Centenário da cidade. Morreu em 1965, consternando a todos, com a notícia do seu suicídio.

Estas bailarinas ilustres que participaram, mesmo que de forma transitória e meteórica no Teatro de Revista servem para demonstrar o diálogo existente entre a técnica do ballet e a cena revisteira. Estas influências são visíveis e repercutem em vários espetáculos.

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Outra personalidade ilustre que teve trânsito pelos palcos revisteiros foi Yuco Lindberg (1908-1948). Nasceu em 1908 em Tallin, Estônia. Fixou residência primeiramente em São Paulo, em 1921 ou 1925, [há duvidas quanto a esta data], atuando no teatro de revista paulista. Depois trabalhou no elenco do teatro de revistas da Companhia Margarida Max (Sucena: 1989).

Imagem no 39 - Yuco Lindberg – 192884

Mais tarde, Yuco admitiria ter sido o teatro de revista uma verdadeira escola prática do ofício de coreografar. Segundo suas próprias declarações, no gênero era-se obrigado a dançar e coreografar: "[...] na revista o principal é a fantasia, eu podia dar

bem conta do recado." Essa experiência, aliada a seu talento, sua

bonita figura e, sobretudo, a sua perseverança, se revelaria, mais tarde, de fundamental importância para o papel que veio a desempenhar no Theatro Municipal e na vida artística do Rio. Talvez explique, igualmente, porque ele conseguiu solucionar tantas vezes, já como bailarino principal e diretor interino do Corpo de Baile, situações de emergência ligadas aos espetáculos e às temporadas, a ponto de ser considerado por Nina Verchinina, diretora da companhia no ano de 1946, "o mago dos bailados", alguém que conseguia preparar uma temporada em menos de um mês (Caminada, 2004).

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Lindberg dirigiu e atuou em várias companhias do teatro de revista. No Rio de Janeiro participou da Companhia de Revista Ra-ta-plan. Depois, integrou o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Yuco é um exemplo do cruzamento de técnicas de dança, junto aos bailados revisteiros, já que teve na sua formação o balé clássico e trabalhou em revistas, na década de 1920 e na de 1930, pois “não havendo salário fixo e não sendo possível sobreviver apenas dos cachês pagos pelas apresentações, Yuco retorna ao teatro ligeiro, percorrendo o país” (Sucena,1989: 334). Foi, também,convidado para atuar como 1 bailarino do Municipal, durante a direção de Maria Olenewa. Coreografou, também na década de 1940, alguns bailados de filmes musicais da Atlântida, dirigindo as coreografias de filmes. Quando na década de 1940, assume a direção da Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, entre os anos de 1942 e 1948, substituindo Olenewa, dedicando-se com afinco e desenvolvendo sua carreira. Yuco morreu muito jovem de um colapso cardíaco, em 1948 (Sucena, 1981).