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DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS

HENRI MARTIN.

SUA OPINIÃO SOBRE AS COMUNICAÇÕES EXTRACORPÓREAS. (pag.172-175)

Vemos aqui certos escritores eméritos encolherem os ombros apenas ao nome de uma história escrita pelos Espíritos. - Pois quê! dizem, seres de outro mundo virem con- trolar nosso saber, a nós sábios da Terra! Convenhamos pois! isso é possível? - Não vos forçamos a crer, senhores; não procuraremos vos tirar uma ilusão tão cara. Nós vos con- vidamos mesmo, no interesse de vossa glória futura, a escreverem vossos nomes em ca- racteres INDESTRUTÍVEIS embaixo desta modesta sentença: Todos os partidários do

Espiritismo são insensatos, porque só a nós compete julgar até onde vai o poder de Deus;

e isso a fim de que a posteridade não possa esquecê-los; ela mesma verá se deve dar- lhes lugar ao lado daqueles que recentemente, eles também, repeliram os homens aos quais a ciência e o reconhecimento público hoje erguem estátuas.

Eis, no entanto, um escritor, cujas altas capacidades não são desconhecidas de nin- guém, e que ousa, ele, com o risco de passar também por um cérebro rachado, hastear a bandeira das idéias novas sobre as relações do mundo físico com o mundo incorpóreo. Lemos o que segue na História de França, de Henri Martin, tomo 6, página 143, a propósi- to de Jeanne d'Arc:

".... Existe na humanidade uma ordem excepcional de fatos morais e físicos que pa- recem derrogar as leis comuns da Natureza; é o estado de êxtase e de sonambulismo, seja espontâneo, seja artificial, com todos os seus espantosos fenômenos de desloca- mento dos sentidos, de insensibilidade total ou parcial, de exaltação da alma, de percep-

ções fora de todas as condições da vida habitual. Essa classe de fatos foi julgada por pontos de vista muito opostos. Os fisiologistas, vendo as relações costumeiras dos órgãos perturbadas ou deslocadas, qualificam de doença o estado extático ou sonambúlico, ad- mitindo a realidade daqueles fenômenos que podem reconduzir à patologia e negam todo o resto, quer dizer, tudo o que pareça fora das leis constatadas da física. A doença torna- se mesmo loucura, a seus olhos, quando ao deslocamento da ação dos órgãos se juntam aluci-nações dos sentidos, visões de objetos que não existem senão para o visionário. Um fisiologista eminente estabeleceu muito duramente que Sócrates era louco, porque acredi- tava conversar com o seu demônio. Os místicos respondem não somente afirmando por reais os fenômenos extraordinários das percepções magnéticas, questão sobre a qual encontram inumeráveis auxiliares e inumeráveis testemunhas fora do misticismo, mas sustentam que as visões dos extáticos têm objetos reais, vistos, é verdade, não com os olhos do corpo, mas com os olhos do espírito. O êxtase é para eles a ponte lançada do mundo visível ou mundo invisível, o meio de comunicação do homem com os seres supe- riores, a lembrança e a promessa de uma existência melhor de onde decaímos e que de- vemos reconquistar.

"Que partido devem tomar, nesse debate, a história e a filosofia?

"A história não poderia pretender determinar com precisão os limites, nem a impor- tância, dos fenômenos, nem das faculdades extáticas e sonambúlicas; ela, porém, consta- ta que são de todos os tempos e de todos os lugares; que os homens sempre acreditaram nelas; que exerceram uma ação considerável sobre os destinos do gênero humano; que se manifestaram não somente entre os contemplativos, mas entre os mais poderosos e os mais ativos gênios, entre a maioria dos grandes iniciadores; que, tão insensatos que se- jam muitos extáticos, nada há de comum entre as divagações da loucura e as visões de alguns; que essas visões podem se reduzir a de certas leis; que os extáticos, de todos os países e de todos os séculos, tem aquilo que se pode chamar uma íngua comum, a íngua dos símbolos, da qual a língua da poesia não é senão um derivado, língua que exprime com pouca diferença as mesmas idéias e os mesmos sentimentos pelas mesmas ima- gens.

"É mais temerário, talvez, tentar concluir em nome da filosofia; todavia a filosofia, depois de ter reconhecido a importância moral desses fenômenos, tão obscuros que se- jam para nós a lei e o objetivo, depois de ter neles distinguido dois graus, um, inferior, que não é senão uma extensão estranha ou um deslocamento inexplicável da ação de órgãos; o outro, superior, que é uma exaltação prodigiosa das forças morais e intelectuais; a filo- sofia poderia sustentar, ao que nos parece, que a ilusão de inspirá-la consiste em tomar por uma revelação trazida por seres exteriores, anjos, santos ou gênios, as revelações interiores dessa personalidade infinita que está em nós e que, às vezes, entre os melho- res e os maiores, se manifesta por relâmpagos de forças latentes excedendo, quase sem medida, as faculdades da nossa condição atual. Em uma palavra, na língua da escola, estão aí para nós fatos de subjetividade; na língua das antigas filosofias místicas, e das religiões mais elevadas, são as revelações do ferouer masdeísta, do bom demônio (o de Sócrates), do anjo guardião, desse outro Eu que não é senão o Eu eterno, em plena pos- se de si mesmo, planando sobre o eu envolvido nas sombras desta vida (é a figura do magnífico símbolo Zoroastriano figurado por toda parte em Persépolis e em Ninive; o fe-

rouer alado ou o eu celeste planando sobre a pessoa terrestre.)

"Negar a ação de seres exteriores sobre o inspirado, não ver em suas supostas ma- nifestações senão a forma dada às intuições do extático pelas crenças de seu tempo e de seu país, procurar a solução do problema nas profundezas da pessoa humana, isso não é de nenhum modo colocar em dúvida a intervenção divina nesses grandes fenômenos e nessas grandes existências. O autor e o sustentáculo de toda a vida, por essencialmente independente que seja de cada criatura e de toda a criação, por distinto que seja do nos- so ser contingente sua personalidade absoluta, não é um ser exterior, quer dizer, estranho

a nós, e não é de fora que nos fala; quando a alma mergulha em si mesma, ela o encon- tra, e, em toda inspiração saudável, nossa liberdade se associa à sua previdência. É pre- ciso, aqui como em toda parte, o duplo obstáculo da incredulidade e da piedade mal es- clarecida: uma não vê senão ilusões e senão impulsos puramente humanos; a outra re- cusa admitir qualquer parte de ilusão, de ignorância ou de imperfeição ali onde vê o dedo de Deus. Como se os enviados de Deus deixassem de ser homens, os homens de um certo tempo e de um certo lugar, e como se os relâmpagos sublimes que lhe atravessam a alma nela colocam a ciência universal e a perfeição absoluta. Nas inspirações mais evi- dentemente providenciais, os erros que vêm do homem se misturam à verdade que vem de Deus. O Ser infalível não comunica sua infalibilidade a ninguém.

"Não pensamos que esta digressão possa parecer supérflua; devíamos nos pronun- ciar sobre o caráter e sobre a obra daquela das inspiradas que testemunhou, no mais alto grau, as faculdades extraordinárias de que falamos a toda hora, e que as aplicou na mais brilhante missão das idades modernas; seria preciso, pois, tentar exprimir uma opinião quanto à categoria de seres especiais à qual pertence Jeanne d'Arc."

_____________________ VARIEDADES

OS BANQUETES MAGNÉTICOS. (175-176)

No dia 26 de maio, aniversário do nascimento de Mesmer, ocorreram os dois ban- quetes anuais que reúnem a elite dos magnetizadores de Paris, e aqueles adeptos es- trangeiros que querem a eles se juntarem. Sempre nos perguntamos por que essa soleni- dade comemorativa é celebrada por dois banquetes rivais, onde cada campo bebe à saú- de um do outro, e onde se leva, sem resultado, brindes à união. Quando se está lá, pare- ce que estão bem perto de se entenderem. Por que, pois, uma cisão entre homens que se consagram ao bem da Humanidade? Estão divididos quanto aos princípios de sua ciên- cia? De modo algum; têm as mesmas crenças; têm o mesmo mestre que é Mesmer. Se esse mestre, do qual invocam a memória, vem, como o cremos, atender a seu apelo, de- ve padecer vendo a desunião entre seus discípulos. Felizmente, essa desunião não en- gendra guerras como as que, em nome do Cristo, ensangüentaram o mundo para a eter- na vergonha daqueles que se dizem cristãos. Mas essa guerra, por inofensiva que seja, se bem que se limite a golpes de pluma e a beber cada um do seu lado, não é menos la- mentável; gostar-se-ia de ver os homens de bem unidos num mesmo sentimento de con- fraternização; a ciência magnética, com isso, ganharia em progresso e em consideração.

Uma vez que os dois campos não estão divididos por divergência de doutrinas, a que se prende, pois, seu antagonismo? Não podemos nele ver a causa senão nas sus- ceptibilidades inerentes à imperfeição de nossa natureza, e da qual os homens, mesmo superiores, não estão sempre isentos. O gênio da discórdia, em todos os tempos, tem agitado seu archote sobre a Humanidade; quer dizer, do ponto de vista espírita, que os Espíritos inferiores, invejosos pela felicidade do homem, encontram entre eles um acesso muito fácil; felizes aqueles que têm bastante força moral para repelir suas sugestões.

Deram-nos a honra de nos convidarem para as duas reuniões; como ocorriam simul- taneamente, e não somos ainda senão um Espírito muito materialmente encarnado, não tendo o dom da ubiqüidade, não pudemos atender senão a um desses dois graciosos convites, o que era presidido pelo doutor Duplanty. Devemos dizer que os partidários do Espiritismo não estavam ali em maioria; todavia, constatamos com prazer que à parte al- guns piparotes dados aos Espíritos nas espirituosas canções cantadas pelo senhor Jules Lovi, e naquelas não menos divertidas cantadas pelo senhor Fortier, que obteve as hon- ras do bis, a Doutrina Espírita não foi, da parte de ninguém, objeto dessas críticas incon-

venientes das quais certos adversários não deixam faltar, apesar da educação que se vangloriam. Longe disso, o doutor Duplanty, em um discurso notável e justamente aplau- dido, proclamou bem alto o respeito que se deve ter pelas crenças sinceras, quando mesmo não as partilhamos. Sem se pronunciar pró ou contra o Espiritismo, sabiamente fez observar que os fenômenos do magnetismo, em nos revelando uma força até agora desconhecida, devem tornar tanto mais circunspecto em relação àqueles que podem se revelar ainda, e que haveria pelo menos imprudência em negar aqueles que não se com- preendem, ou que não se constatou, quando, sobretudo, se apoiam na autoridade de ho- mens honrados, cujas luzes e lealdade não poderiam ser postas em dúvida. Essas pala- vras são sábias e, por elas, agradecemos ao senhor Duplanty; elas contrastam singular- mente com aquelas de certos adeptos do magnetismo que despejam, sem respeito, o ridí- culo sobre uma doutrina que eles confessam não conhecer, esquecendo que eles mes- mos foram outrora um alvo dos sarcasmos; que eles também foram devotados à Petites- Maison e perseguidos pelos cépticos como inimigos do bom senso e da religião. Hoje, quando o magnetismo está reabilitado pela força das coisas, que dele não se ri mais, que se pode sem medo consagrar-se magnetizador, é pouco digno, pouco caridoso para eles, usar represálias contra uma ciência, irmã da sua, que não pode senão lhe prestar um sa- lutar apoio. Não atacamos os homens, dizem eles; não rimos senão do que nos parece ridículo, até que a luz se faça para nós. Em nossa opinião, a ciência magnética, ciência que nós mesmos professamos há 35 anos, deveria ser inseparável da compostura; pare- ce-nos que à sua verve satírica não faltam alimentos nesse mundo, sem tomar por ponto de mira as coisas sérias. Esquecem-se, pois, de que se teve para com elas a mesma lin- guagem; que eles também acusam os incrédulos de julgarem levianamente, e que lhes dizem, como o fazemos a nosso turno: Paciência! rirá melhor quem rir por último.