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TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS.

DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS

TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS.

(Primeiro artigo) (pag. 121-125)

A influência moral dos Espíritos, as relações que podem ter com a nossa alma, ou o Espírito encarnado em nós, se concebem facilmente. Compreende-se que dois seres da mesma natureza possam se comunicar pelo pensamento, que é um dos seus atributos, sem auxílio dos órgãos da palavra; mas o que é mais difícil de compreender são os efei- tos materiais que podem produzir, tais como os ruídos, o movimento dos corpos sólidos, as aparições e, sobretudo, as aparições tangíveis. Vamos ensaiar dar-lhes a explicação, segundo os próprios Espíritos, e segundo a observação dos fatos.

A idéia que se forma da natureza dos Espíritos toma, à primeira vista, esses fenô- menos incompreensíveis. O Espírito, diz-se, é a ausência de toda matéria, portanto, não pode agir materialmente; ora, aí está o erro. Os Espíritos, interrogados sobre a questão de se saber se são imateriais, responderam isto: "Imateríal não é a palavra, porque o Es- pírito é alguma coisa, de outro modo seria o nada. É, se o quereis, da matéria, mas uma matéria de tal modo etérea, que é, para vós, como se não existisse." Assim, o Espírito não é, como alguns o crêem, uma abstração, é um ser, mas cuja natureza íntima escapa aos nossos sentidos grosseiros.

Esse Espírito encarnado no corpo constitui a alma; quando o deixa, na morte, não sai despojado de todo o envoltório. Todos nos dizem que conservam a forma que tinham quando vivos, e, com efeito, quando nos aparecem, geralmente, é sob a que nós os co- nhecemos.

Observemo-los, atentamente, no momento em que acabam de deixar a vida; estão num estado de perturbação; tudo é confuso a redor deles; vêem seu corpo são ou mutila- do, segundo o gênero de morte; por outro lado, se vêem e se sentem viver; alguma coisa lhes diz que esse corpo é o seu, e não compreendem que dele estejam separados: o laço que os unia não está, pois, ainda, inteiramente rompido.

Uma vez dissipado esse primeiro momento de perturbação, o corpo se toma para e- les uma roupa velha, da qual se despojaram e que não lamentam, mas continuam a se ver sob a sua forma primitiva; ora, isto não é um sistema: é o resultado de observações feitas sobre inumeráveis sujeitos. Que se deseje, agora, referir-se ao que contamos de certas manifestações produzidas pelo senhor Home e outros médiuns desse gênero: mãos aparecem, que têm todas as propriedades de mãos vivas, que são tocadas, que vos agarram, e que, de repente, se esvanecem. Que devemos disso concluir? É que a alma não deixa tudo na sepultura e que leva alguma coisa consigo.

Haveria, assim, em nós, duas espécies de matéria: uma grosseira, que constitui o envoltório exterior, outra sutil e indestrutível. A morte é a destruição, ou melhor, a desa- gregação da primeira, da que a alma abandona; a outra se libera e segue a alma que a- cha, desse modo, ter sempre um envoltório; é o que chamamos períspírito. Essa matéria sutil, extraída, por assim dizer, de todas as partes do corpo ao qual estava ligada durante a vida, dele conserva a impressão; ora, eis por que os Espíritos se vêem e por que nos aparecem tais quais eram quando vivos. Mas essa matéria sutil não tem a tenacidade, nem a rigidez da matéria compacta do corpo; ela é, se assim podemos nos expressar,

flexível e expansível; por isso a forma que toma, se bem que calcada sobre a do corpo, não é absoluta; ela se dobra à vontade do Espírito, que pode dar-lhe tal ou tal aparência, à sua vontade, ao passo que o envoltório sólido oferece-lhe uma resistência intransponí- vel; desembaraçado desse entrave que o comprimia, o perispírito se estende ou se retrai, se transforma, em uma palavra, se presta a todas as metamorfoses, segundo a vontade que age sobre ele.

A observação prova - e insistimos nessa palavra observação, porque toda a nossa teoria é a conseqüência de fatos estudados -, que a matéria sutil, que constitui o segundo envoltório do Espírito, não se liberta senão pouco a pouco, e não instantaneamente, do corpo. Assim, os laços que unem a alma e o corpo não são subitamente rompidos pela morte; ora, o estado de perturbação que observamos, subsiste durante todo o tempo em que se opera o desligamento; o Espírito não recobra a inteira liberdade de suas faculda- des e a consciência clara de si mesmo, senão quando seu desligamento se completa.

A experiência prova, ainda, que a duração desse desligamento varia segundo os in- divíduos. Em alguns se opera em três ou quatro dias, ao passo que, em outros, não está inteiramente realizada ao cabo de vários meses. Assim, a destruição do corpo, a decom- posição pútrica, não bastam para operar a separação; por isso, certos Espíritos dizem: Sinto que os vermes me roem.

Em algumas pessoas, a separação começa antes da morte; são as que, em vida, se elevaram, pelo pensamento e a pureza de seus sentimentos, acima das coisas materiais; a morte não acha mais do que fracos laços entre a alma e o corpo, e esses laços se rom- pem quase instantaneamente. Quanto mais o homem viveu materialmente, quanto mais absorveu seus pensamentos nos gozos e nas preocupações da personalidade, tanto mais esses laços são tenazes; parece que a matéria sutil esteja identificada com a matéria compacta, e que haja entre elas coesão molecular; eis por que elas não se separam se- não lenta e dificilmente.

Nos primeiros instantes que se seguem à morte, quando ainda há união entre o cor- po e o perispírito, este conserva bem melhor a impressão da forma material, da qual refle- te, por assim dizer, todas as nuanças, e mesmo todos os acidentes. Eis por que um supli- ciado nos disse poucos dias depois de sua execução: Se pudésseis me ver, ver-me-íeis com a cabeça separada do tronco. Um homem que morrera assassinado nos disse: Vede a chaga que se me fez no coração. Acreditava que poderíamos vê-lo.

Essas considerações nos conduzirão a examinar a interessante questão da sensa- ção dos Espíritos e de seus sofrimentos; fá-lo-emos em um outro artigo, querendo nos limitar aqui ao estudo das manifestações físicas.

Representemo-nos, pois, o Espírito revestido de seu envoltório semi-material ou pe- rispírito, tendo a forma ou aparência que tinha quando vivo. Alguns se servem mesmo dessa expressão para se designarem; dizem: Minha aparência está em tal lugar. Eviden- temente, estão aí os manes dos Antigos. A matéria desse envoltório é bastante sutil para escapar à nossa visão em seu estado normal; mas não é, por isso, absolutamente invisí- vel. Nós a vemos, primeiro, pelos olhos da alma, nas visões que se produzem durante os sonhos; mas não é disso que vamos nos ocupar. Pode ocorrer, nessa matéria etérea, tal modificação, o Espírito, ele mesmo, pode fazê-la sofrer uma espécie de condensação, que a toma perceptível aos olhos do corpo; é o que ocorre nas aparições vaporosas. A sutileza dessa matéria lhe permite atravessar corpos sólidos; eis por que essas aparições não encontram obstáculos, e por que se esvanecem, freqüentemente, através das pare- des.

A condensação pode chegar ao ponto de produzir a resistência e a tangibilidade; é o caso das mãos que são vistas e que são tocadas; mas essa condensação (é a única pa- lavra da qual pudemos nos servir para exprimir nosso pensamento, embora a expressão não seja perfeitamente exata), essa condensação, dizíamos, ou melhor, essa solidificação da matéria etérea, não estando no seu estado normal, não é senão temporária ou aciden-

tal; eis por que essas aparições tangíveis, num dado momento, nos escapam como uma sombra. Assim, do mesmo modo que vemos um corpo se nos apresentar no estado sóli- do, líquido ou gasoso, segundo seu grau de condensação, de igual modo a matéria etérea do perispírito pode apresentar-se-nos no estado sólido, vaporoso visível ou vaporoso invi- sível. Veremos, a seguir, como se opera essa modificação.

A mão, aparentemente tangível, oferece uma resistência; exerce uma pressão; deixa marcas, opera uma tração sobre os objetos que temos; há nela, pois, uma força. Ora, es- ses fatos, que não são hipóteses, podem nos colocar no caminho das manifestações físi- cas.

Anotemos, primeiro, que essa mão obedece a uma inteligência, uma vez que age espontaneamente, que dá sinais inequívocos de vontade, e que obedece ao pensamento; pertence, pois, a um ser completo, que não nos mostra senão essa parte dele mesmo, e o que o prova, é que causa impressão com as partes invisíveis, que os dentes deixaram a impressão sobre a pele e fizeram sentir dor.

Entre as diferentes manifestações, uma das mais interessantes, sem contradita, é a do toque espontâneo de instrumentos de música. Os pianos e os acordeons parecem ser, para esse efeito, os instrumentos prediletos. O fenômeno se explica muito naturalmente por aquilo que precede. A mão que tem a força para agarrar um objeto pode muito bem ter a de se apoiar sobre as teclas para fazê-las ressoar, aliás, viram-se várias vezes os dedos da mão em ação, e quando não se vê a mão, vêem-se as teclas se agitarem e o fole se abrir e fechar. Essas teclas não podem estar sendo movidas senão por mão invisí- vel, a qual dá prova de inteligência fazendo ouvir, não sons incoerentes, mas músicas perfeitamente ritmadas.

Uma vez que essa mão pode nos cravar as unhas na carne, nos beliscar, nos arran- car o que está em nossos dedos; uma vez que a vemos agarrar e transportar um objeto como nós mesmos o faríamos» ela pode muito bem dar golpes, erguer e virar uma mesa, agitar uma campainha, puxar cortinas, até mesmo dar uma bofetada oculta.

Perguntar-se-á, sem dúvida, como essa mão pode ter a mesma força no estado va- poroso invisível quanto no estado tangível. E por que não? Vemos o ar que tomba edifí- cios, o gás que lança um projétil, a eletricidade que transmite sinais, o fluido do Imã que ergue as massas? Por que a matéria etérea do perispírito seria menos possante? Mas não vamos querer submetê-la às nossas experiências de laboratório e às nossas fórmulas algébricas; não vamos, sobretudo, porque tomamos o gás por termo de comparação, su- por-lhe propriedades idênticas e calcular essa força como calculamos a do vapor. Até o presente, ela escapa a todos os nossos instrumentos; é uma nova ordem de idéias que não resulta de ciências exatas; eis por que essas ciências não dão aptidão especial para apreciá-las.

Não damos essa teoria do movimento dos corpos sólidos, sob a influência dos Espí- ritos, senão para mostrar a questão sob todos os seus aspectos, e provar que, sem sair muito das idéias recebidas, pode-se conhecer a ação dos Espíritos sobre a matéria inerte; mas há uma outra, de alta importância filosófica, dada pelos próprios Espíritos, e que lan- ça sobre essa questão uma luz inteiramente nova; será compreendida melhor depois de a termos lido; aliás, é útil conhecer todos os sistemas, a fim de poder comparar.

Resta agora, pois, explicar como se opera essa modificação da substância etérea do perispírito; por qual procedimento o Espírito opera, e, como conseqüência, o papel do médiuns na influência física para a produção desses fenômenos; o que se passa com e- les, nessa circunstância, a causa e a natureza da sua faculdade, etc. É o que faremos num próximo artigo.

O ESPÍRITO BATEDOR DE BERGZABERN