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A prescrição de mecanismos expropriatórios, enquanto alternativa para a satisfação do credor, está estritamente relacionada ao destino dos bens vinculados à execução. Para cumprir tal função, a técnica executiva serve-se da penhora, porquanto, dentre os seus efeitos nos planos processual e material, apresentem-se a capacidade de especificação dos bens que responderão pela execução, bem como a ineficácia dos atos de disposição do patrimônio afetado à execução, desde a citação332.

Obviamente, uma vez que a penhora recaia sobre espécie, não temos como falar em especificação de bens. Nesta hipótese não há muito o que conjecturar, cabendo ao exequente simplesmente levantar a quantia depositada, de modo que haverá um encurtamento entre a fase instrutória e a fase final da execução. De outra ótica, o potencial de eficácia da técnica processual executiva é avaliado quando é necessário desenvolver soluções para conciliar o direito de receber quantia certa em dinheiro e os bens de diferentes espécies apreendidos pelo órgão de execução, que a despeito de serem economicamente apreciáveis, não correspondem exatamente àquilo que se deve ao exequente333.

avaliação dos bens penhorados. § 2º - Se não houver, na Comarca, avaliador oficial ou este não puder apresentar o laudo de avaliação no prazo de 15 (quinze) dias, será nomeada pessoa ou entidade habilitada a critério do Juiz. § 3º - Apresentado o laudo, o Juiz decidirá de plano sobre a avaliação.”

331 MEDINA, José Miguel Garcia; WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves comentários à nova sistemática processual civil 3. São Paulo: RT, 2007.

332 ARMELIN, 2008, pp. 232-233.

Por esse raciocínio, costuma-se franquear dois caminhos para alcançar o resultado esperado. Conforme esclarece Liebman:

Ou se atribuem esses bens ao exequente, realizando ato praticamente semelhante à datio in solutum, que se dá quando o credor consente em receber a coisa que não seja dinheiro em substituição da prestação que lhe é devida [...]; ou então se fazem operações necessárias para converter as coisas penhoradas em dinheiro, que servirá depois para satisfazer o exequente, sendo que o meio para converter essas coisas em dinheiro não pode ser senão a sua alienação contra pagamento do preço334.

Aquilo que o jurista peninsular descreve como meios de transferência da propriedade das coisas ou a titularidade dos bens penhorados sem o consentimento do executado é exatamente o que a técnica processual executiva se ocupa em definir e pormenorizar como formas de desapropriação. São atos executivos jurisdicionais que, por sua finalidade, podem ser caracterizados tanto pela transferência à terceira pessoa, mediante pagamento em dinheiro, do respectivo preço (arrematação); como pela possibilidade de o próprio exequente ou outro credor adquirir o bem penhorado (adjudicação).335

Embora, desde as últimas reformas processuais, exista uma tendência no sentido de ampliação do leque de possibilidades expropriatórias a disposição da execução, a técnica processual examinada se ocupou apenas de condicionar a satisfação creditícia do Estado- exequente à alienação ou à adjudicação.

4.6.1 A alienação judicial

A técnica, como lhe é característico, contempla de forma bem superficial alguns aspectos da venda judicial dos bens penhorados por intermédio da remição ou da arrematação336. Ainda que com relação à remição a LEF unicamente mencione que terceiro que tenha se vinculado à execução possa usufruir da condição de pedir em juízo o retorno dos seus bens penhorado mediante o pagamento do respectivo preço (Art. 19, I337), pela aplicação

334 Ibidem.

335 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de processo civil. 22ª ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2008, v. III, pp. 338-342.

336 FERNANDES, 2002, p. 351.

337 LEF. “Art. 19 - Não sendo embargada a execução ou sendo rejeitados os embargos, no caso de garantia

prestada por terceiro, será este intimado, sob pena de contra ele prosseguir a execução nos próprios autos, para, no prazo de 15 (quinze) dias: I - remir o bem, se a garantia for real;”

subsidiária da codificação processual é conclusivo que também o executado pode remir o bem, segundo a determinação do art. 651 do CPC/73 (Art. 826, CPC/2015)338.

Por outro mecanismo é permitido que os bens penhorados sejam indistintamente arrematados por uma única modalidade de licitação. Não houve a preocupação em distinguir espécies de hasta pública, de modo que todo o patrimônio arrecadado, móveis e imóveis, são submetidos aos requisitos procedimentais do leilão público (Art. 23, caput339). Isso, segundo versa a própria exposição de motivos da LEF, em seu item ‘75’, seria justificável por que “a distinção entre praça e leilão, conforme se trate de bens móveis ou imóveis, não oferece alcance prático na execução regulada pelo anteprojeto”340.

Todavia, ao mesmo tempo que trata dos pormenores da arrematação de forma sintética, limitando a determinar a necessidade de publicação de edital, o prazo para sua divulgação e a exigência de intimação pessoal do advogado da Fazenda da realização procedimento licitatório (Art. 22341)342, a técnica processual prescreve a aplicabilidade na execução fiscal da alienação antecipada (Art. 21343) e da arrematação em lote dos bens penhorados (Art. 23, §1º344). Incidentes processuais que, por sua incompletude, reclamam a remissão

subsidiária à codificação processual. Para a correta aplicação da alienação antecipada devemos recorrer ao art. 670 do CPC/73345 (Art. 852, CPC/2015); ao passo que diante da

possibilidade da arrematação em lote, o silêncio das partes sobre a matéria, permite alternativamente a utilização do art. 691 do CPC/73346 (Art. 893, CPC/2015).

338 LIMA, 1984, p. 138.

339 LEF. “Art. 23 - A alienação de quaisquer bens penhorados será feita em leilão público, no lugar

designado pelo Juiz.”

340 FLAKS, 1981, p. 439.

341 LEF. “Art. 22 - A arrematação será precedida de edital, afixado no local de costume, na sede do Juízo,

e publicado em resumo, uma só vez, gratuitamente, como expediente judiciário, no órgão oficial. § 1º - O prazo entre as datas de publicação do edital e do leilão não poderá ser superior a 30 (trinta), nem inferior a 10 (dez) dias. § 2º - O representante judicial da Fazenda Pública, será intimado, pessoalmente, da realização do leilão, com a antecedência prevista no parágrafo anterior.”

342 THEODORO Jr., 2004, p. 83.

343 LEF. “Art. 21 - Na hipótese de alienação antecipada dos bens penhorados, o produto será depositado

em garantia da execução, nos termos previstos no artigo 9º, inciso I.”

344 LEF. “Art. 23. [...] § 1º - A Fazenda Pública e o executado poderão requerer que os bens sejam leiloados

englobadamente ou em lotes que indicarem.”

345 PACHECO, 1997, p. 214.

Embora a solução adotada pelo legislador em ter na codificação processual o ponto de apoio da LEF possa parecer coerente, a experiência tem demonstrado que nem sempre é trivial buscar a intepretação que atenda às necessidades decorrentes das lacunas deixadas pela técnica, resultando na produção de incertezas quanto aos procedimentos a serem adotados pelos aplicadores do direito. Observamos, sobre esse aspecto, que a circunstância da técnica processual não tenha disponibilizado maiores detalhes sobre a arrematação em hasta pública fez com que por muito tempo persistisse a dúvida se haveria um ou dois leilões na execução fiscal, porquanto a lei especial seja quanto à possibilidade de uma segunda alienação. Por isso, mesmo com a expressa subsidiariedade da codificação, somente com o decurso de reiterada decisões no mesmo sentido o STJ sumulou o reconhecimento da obrigatoriedade de um segundo leilão, se no primeiro não houver lanço superior a avaliação na execução fiscal347348.

4.6.2 Adjudicação

Como meio onde o credor recebe o próprio bem e não a sua conversão em espécie, a LEF prevê a adjudicação como forma indireta de expropriação que, conquanto aparentemente tenha semelhanças com a previsão da codificação CPC, pelo tratamento atribuído pela LEF, o Poder Público detém a prerrogativa exclusiva de exercer tal faculdade.

Indo além na disparidade, a adjudicação pode se consumar em três situações, ocorridas antes ou depois da realização do leilão (Art. 24349). Anteriormente ao processo licitatório, o direito fazendário poderá ser exercitado em condições especiais de aquisição do bem pelo valor da avaliação. Após este momento, outras duas oportunidades surgem com o encerramento do leilão. Primeiramente, caso não haja licitantes, mantendo ainda a transferência pelo valor da avaliação. Sendo licitado, a Fazenda ainda assim terá

347 FERNANDES, 2002, p. 328.

348 Súmula nº 128. “Na execução fiscal haverá segundo leilão, se no primeiro não houver lanço superior a avaliação”, em 14/3/1995.

349 LEF. “Art. 24 - A Fazenda Pública poderá adjudicar os bens penhorados: I - antes do leilão, pelo preço

da avaliação, se a execução não for embargada ou se rejeitados os embargos; II - findo o leilão: a) se não houver licitante, pelo preço da avaliação; b) havendo licitantes, com preferência, em igualdade de condições com a melhor oferta, no prazo de 30 (trinta) dias. Parágrafo Único - Se o preço da avaliação ou o valor da melhor oferta for superior ao dos créditos da Fazenda Pública, a adjudicação somente será deferida pelo Juiz se a diferença for depositada, pela exequente, à ordem do Juízo, no prazo de 30 (trinta) dias.”

preferência em adjudicar o bem. Contudo, para que assim se suceda, o Poder Público deve ofertar não mais o valor da adjudicação, mas um montante pelo menos equivalente à condição ofertada pelo melhor lanço do certame. Sendo esse o caso, eventual quantia inferior deverá ser complementada pela Fazenda com o depósito da diferença no prazo de trinta dias (Art. 24350).

Sustentando uma interpretação sistemática, Assis adverte sobre um eventual conflito de interesses entre o direito de adjudicação da Fazenda antes do leilão (Art. 24, I) e o direito do executado de impugnar a avaliação (Art. 13, § 1º). Isso ocorre porque, enquanto perdurar o direito de o executado contestar o valor atribuído ao bem, que vai até a publicação do edital, não poderá prosperar qualquer pedido da Fazenda no sentido de adjudicar o bem penhorado. É que nesse caso persiste uma incerteza quanto ao valor da avaliação, motivo pelo qual, enquanto inexistir um parâmetro para designar qual deverá ser o aporte fazendário, serão inconsistentes os meios de concretizar a expropriação351.

Na técnica processual extravagante, do mesmo modo que nas demais execuções, paralelamente as normas que se dispõe a regular os meios de satisfação do credor, coexistem outros procedimentos cuja função é nitidamente oposta, na medida em que determinam os requisitos e hipóteses para que o executado conteste a legitimidade do título executivo.

350 LEF. “Art. 24 - A Fazenda Pública poderá adjudicar os bens penhorados: I - antes do leilão, pelo preço

da avaliação, se a execução não for embargada ou se rejeitados os embargos; II - findo o leilão: a) se não houver licitante, pelo preço da avaliação; b) havendo licitantes, com preferência, em igualdade de condições com a melhor oferta, no prazo de 30 (trinta) dias. Parágrafo Único - Se o preço da avaliação ou o valor da melhor oferta for superior ao dos créditos da Fazenda Pública, a adjudicação somente será deferida pelo Juiz se a diferença for depositada, pela exequente, à ordem do Juízo, no prazo de 30 (trinta) dias.”