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SENSIBILIDADE 89 IV.3 ANÁLISE POR INJEÇÃO EM FLUXO (FIA): CONSIDERAÇÕES GERAIS

I.1. Medicamentos considerações gerais

I.1.1. Falsificação de medicamentos

Em uma sociedade onde são vendidos indiscriminadamente produtos copiados clandestinamente, talvez nem surpreenda o fato de que a indústria da pirataria seja a mais rentável do mundo. Estimativas da Polícia Criminal Internacional (Interpol) indicam o setor movimenta em torno de 522 bilhões de dólares por ano19.

O uso de medicamentos falsificados ou de má qualidade pode resultar em ineficiência de tratamentos médicos, no caso de os pacientes não receberem a quantidade necessária do princípio ativo, ou em sérios danos à saúde, quando os produtos são adulterados ou produzidos deliberadamente com substâncias inadequadas.

No Brasil, a crise ocorrida nos anos de 1997 a 1998 quando foram recebidas 172 denúncias de medicamentos falsificados20, teve grande repercussão e gerou medidas importantes, como a instituição da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Medicamentos, a modificação da lei que tornou a falsificação um crime hediondo e a aprovação da Política Nacional de Medicamentos. A criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 1999 e a sua estruturação e ações no âmbito do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária também foi fundamental para enfrentar o problema da falsificação e adulteração dos medicamentos vendidos no país20.

Entretanto, ainda existem relatos de adulteração e/ou falsificação de medicamentos no Brasil19,21,22, como por exemplo analgésicos, antineoplásicos e até de xaropes infantis. Neste último, os falsificadores substituem o medicamento por água dissolvida em tinta vermelha e vendem para o tratamento de crianças doentes19.

Ressalta-se que o foco das falsificações são medicamentos com grande volume de venda ou alto custo, entre os quais estão a Dipirona e o Viagra®, respectivamente.

Em novembro21 de 2004, a ANVISA determinou a interdição cautelar em todo o território nacional, de um lote de medicamento contendo como princípio ativo a dipirona sódica. O problema verificado foi o parâmetro insatisfatório quanto ao teor de dipirona que estava abaixo da especificação do rótulo. Em julho22 do mesmo ano,

já havia sido determinada a apreensão de um lote de medicamento contendo também a dipirona sódica, por não atender as exigências regulamentares.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS)18 o Viagra“ é um dos medicamentos falsificados mais vendidos em todo mundo e que pode ser comprado facilmente pela Internet. No Brasil também existem relatos de venda de Viagra“ falsificado. Este medicamento é produzido no Paraguai e é vendido ilegalmente no Brasil sob o nome de Pramil. O remédio tem o mesmo princípio ativo do viagra, no entanto não tem registro na ANVISA.

I.1.2. Medicamentos veterinários: resíduos e impactos na segurança da

saúde e do meio ambiente

A medicina veterinária utiliza os medicamentos para fins terapêuticos, profiláticos ou para a promoção do crescimento animal. Entretanto, quando estes medicamentos são utilizados de forma incorreta podem restar resíduos dos mesmos nos alimentos obtidos a partir dos animais que foram tratados com estes medicamentos4-16. A presença destes resíduos pode ser prejudicial à saúde da população e este fato sugere desta forma a existência de uma segurança higiênico- sanitária dos alimentos de origem animal.

No que diz respeito à presença de resíduos de medicamentos nos sistemas aquáticos, estudos demonstram que esta é uma realidade em várias partes do mundo inclusive no Brasil3. Contudo, até pouco tempo pouca atenção era dada a

esta questão, apesar de se supor que estes poderiam estar sendo lançados nos rios, lagos e mares junto com o esgoto urbano. Desta forma, o monitoramento de fármacos no meio ambiente tem mostrado expressivo crescimento devido ao fato de que muitas destas substâncias foram encontradas em águas naturais e em efluentes de Estações de Tratamento de Esgoto (ETE)3. E esta constatação demonstra que os

sistemas de tratamento do esgoto normalmente empregados não são capazes de degradar resíduos dos medicamentos.

Diante deste contexto, ressalta-se a importância do monitoramento dos fármacos no meio ambiente, uma vez que estes são desenvolvidos para serem persistentes mantendo suas propriedades químicas por tempo suficiente para servir a um propósito terapêutico. Dados revelam que de 50% a 90% de uma dosagem

farmacêutica pode ser excretada inalterada e persistir no meio ambiente. Estas características tornam os fármacos muito semelhantes aos principais xenobióticos nocivos, ou seja, as substâncias farmacêuticas apresentam propriedades necessárias para a bioacumulação o que pode provocar efeitos nocivos no ecossistema aquático e terrestre2.

Dentre os fármacos residuais, merecem uma atenção especial os antimicrobianos2,3. Estes têm sido alvo de muita discussão na literatura, devido ao

seu potencial em desenvolver bactérias resistentes no meio ambiente e por serem usados em grandes quantidades, tanto na medicina humana quanto na medicina veterinária (crescimento do gado, na aqüicultura e produção avícola e suína)2.

Vários problemas podem surgir em razão da utilização indiscriminada destes compostos, destacando-se: riscos toxicológicos, alérgicos e microbiológicos. É preciso considerar também que a presença desses fármacos residuais na água pode causar efeitos adversos tanto na saúde humana como na saúde de outros organismos presentes nas águas, como os peixes2. Os possíveis riscos à saúde humana decorrente do emprego de antimicrobianos tanto na prática veterinária (especialmente em animais produtores de alimentos) como na medicina humana estão associados aos resíduos destes compostos em níveis acima daqueles limites máximos recomendados (LMRs)23.

No caso de resíduos de antimicrobianos em sistemas aquáticos não se tem estabelecido um valor limite máximo de resíduo tolerado. A água deve estar isenta de tais compostos para uma garantia da sua inocuidade para quem a utiliza. Investigações sobre a contaminação de diferentes ambientes aquáticos por fármacos revelam que esses contaminantes estão presentes em faixas de concentrações de ng mL-1 (ppb) a Pg mL-1 (ppm)2,3.

Entretanto, um ponto central sobre este tema, é ter o real conhecimento do potencial efeito nocivo que tais substâncias representam para os seres vivos, bem como saber quais seriam as doses prejudiciais e em que tempo de exposição. Diante destas questões pesquisas vem sendo desenvolvidas com intuito de se conhecer melhor as características ecotocoxicológicas dos fármacos e assim, desenvolver tecnologias capazes de eliminar este tipo de poluição do meio ambiente2.

Para alimentos de origem animal, a quantidade de resíduo considerada segura, depende de estudos toxicológicos. Na prática são adotados os valores de LMRs23

preconizados internacionalmente, ou, são criados pelo próprio país por meio de estudos do tempo de depleção do fármaco e a presença de metabólitos no produto de origem animal. A competência para estabelecer LMRs em alimentos, é do Ministério da Saúde através da ANVISA. Entretanto, no Brasil estes valores ainda não foram definidos. Entretanto, a ANVISA criou o Programa de Análise de Resíduos de Medicamentos Veterinários em alimentos de origem animal (PAMVet)24, através

da resolução RDC nº. 253 de 16 de setembro de 2003 e desde então se vem utilizando valores de LMR internacionais.

Dentre os alimentos sujeitos a esta avaliação, o leite bovino foi classificado como prioritário, devido à sua importância na dieta da população brasileira. O controle de resíduos de agentes antimicrobianos no leite é particularmente importante, pois os efeitos tóxicos destes compostos sobre a saúde humana, e, a possibilidade de favorecer o desenvolvimento de formas de resistência bacteriana4,25,26, prejudicam os tratamentos farmacológicos, uma vez que surgem cepas cada vez mais resistentes tornando o uso dos medicamentos ineficiente.

O monitoramento da presença de resíduos de antimicrobianos no leite é também fundamental para a indústria de produtos lácteos, devido aos prejuízos causados pela interferência que estes compostos apresentam no desenvolvimento das culturas lácteas largamente empregadas em fábricas de laticínios27,28. Desta forma, a produção intensiva de leite de alta qualidade, e sem resíduos de antimicrobianos, reveste-se de extrema importância para os produtores, ao se considerar os prejuízos e as penalidades decorrentes da rejeição do leite contaminado com resíduos acima dos níveis tolerados.

O valor de LMR para antimicrobianos, tolerado em leite foi estabelecido por diversos órgãos governamentais, como por exemplo, pela Food and Agriculture Organization das Nações Unidas (FAO), World Health Organization (WHO) e a agência americana Food and Drug Administration (FDA), visando garantir a saúde dos consumidores. De acordo com a regulamentação Européia foi estabelecido para as sulfonamidas o LMR de 100 µg de sulfonamidas total kg-1 em tecidos animais, incluindo o leite23. Este mesmo valor é adotado no Brasil.