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Mercados Globais da Indústria Automobilística

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2.1 MERCADOS E MARCAS GLOBAIS

2.1.1 Mercados Globais da Indústria Automobilística

Dentre as várias características da indústria automobilística em todos os mercados, a principal é a necessidade de altos investimentos, isto em função de seus produtos serem de alta tecnologia, e esta tecnologia ser perecível em função da forte concorrência. Grande parte destes investimentos é em infraestrutura para a fabricação dos veículos (parque industrial bem localizado, cadeia de produção eficiente, suprimentos necessários disponíveis, distribuição e serviços próximos aos clientes). Outra característica é o alto risco, em função de que um produto demora de três a quatro anos para ser colocado no mercado, desde a sua concepção até a concessionária, ou seja, neste período, o cliente pode mudar seus interesses e desejos em relação às exigências e expectativas iniciais; além da alta complexidade, pois, dependendo do produto, o veículo pode possuir mais de 4.000 componentes, o que implica um complexo sistema de controle de fornecedores e uma logística eficiente e eficaz (HUNG, 2007).

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Mesmo com as desmotivadoras características, alto investimento, alto risco e operação complexa, o mercado automobilístico está se expandindo ao redor do mundo. Nas últimas quatro décadas, com a abertura de novos mercados, a produção global saltou de 33 milhões de veículos em 1975 para 68 milhões de veículos em 2014. Acredita-se que a abertura dos novos mercados, principalmente China, Índia e Coreia, conduziu o ritmo de crescimento, dobrando a produção mundial. Sendo que em 1975 sete países eram responsáveis por 80% da produção (STURGEON et al., 2009) e em 2014 são doze países responsáveis por este mesmo percentual (OICA, 2015).

Corrobora isso o fato de que em 2005 cerca de 57% do volume da produção mundial de veículos estava concentrada nos grandes mercados da América do Norte, Europa Ocidental e Ásia, nos seguintes países: Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Reino Unido, Espanha e Japão. Este cenário mudou, como podemos ver na Tabela 4. De 2005 a 2014, os denominados mercados maduros apresentaram uma queda na participação global, passando de 57% em 2005 para 35% em 2014, da produção mundial de automóveis, demonstrando uma saturação destes mercados. Simultaneamente, os ditos novos mercados estão se destacando com o crescimento de suas economias, obrigando as montadoras a direcionarem seus investimentos a estes países. Os novos mercados em 2005 eram compostos basicamente dos quatro países formadores do BRIC e respondiam por 33% da produção mundial. Em 2014 eram 13 países e responderam por 58% da produção mundial de automóveis (HUNG, 2007, grifo nosso).

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Tabela 4 – Produção anual de automóveis por país

Fonte: elaborada pelo autor com dados da OICA (2015).

A busca de fontes confiáveis é um trabalho árduo e constante, principalmente quando se trata de estatísticas internacionais. Porém, segundo Consoni (2004a, p. 4), “Merece destaque o site da OICA (International Organization of Motor Vehicle

Manufacturers ou Organisation Internationale des Constructeurs d’Automobiles -

www.oica.net), que traz vínculo com 42 associações ao redor do mundo sobre indústria automobilística”. Em função do exposto anteriormente, adotou-se neste trabalho os dados obtidos no site da OICA.

Na Tabela 4, observa-se que, na última década, os sete países dos mercados maduros perderam suas participações na produção de automóveis. Nos anos de crise, 2008 e 2009, todos os sete países dos mercados maduros perderam produção e seis dos 13 países dos novos mercados aumentaram suas produções, sendo eles: China, Índia, Brasil, República Tcheca, Irã e Malásia. Mesmo com as crises de 2008 e 2009, a produção mundial cresceu, ano após ano, sobre o ano base de 2005, chegando a produção de 2014 ser 45% superior à produção de 2005. Os novos mercados

Produçã o de Automóve is 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 JAPÃO 9.016.735 9.756.515 9.944.637 9.916.149 6.862.161 8.310.362 7.158.525 8.554.503 8.189.323 8.277.070 ALEMANHA 5.350.187 5.398.508 5.709.139 5.526.882 4.964.523 5.552.409 5.871.918 5.388.459 5.439.904 5.604.026 ESTADOS UNIDOS 4.321.272 4.366.220 3.924.268 3.776.358 2.195.588 2.731.105 2.976.991 4.105.874 4.368.835 4.253.098 ESPANHA 2.098.168 2.078.639 2.195.780 1.943.049 1.812.688 1.913.513 1.839.068 1.539.680 1.754.668 1.898.342 REINO UNIDO 1.596.356 1.442.085 1.534.567 1.446.619 999.460 1.270.444 1.343.810 1.464.906 1.509.762 1.528.148 FRANÇA 3.112.961 2.723.196 2.550.869 2.145.935 1.819.497 1.924.171 1.931.030 1.682.814 1.458.220 1.499.464 CANADÁ 1.356.271 1.389.536 1.342.133 1.195.436 822.267 967.077 990.482 1.040.298 965.191 913.533

TOTAL Mercados Maduros 26.851.950 27.154.699 27.201.393 25.950.428 19.476.184 22.669.081 22.111.824 23.776.534 23.685.903 23.973.681

CHINA 3.931.807 5.233.132 6.381.116 6.737.745 10.383.831 13.897.083 14.485.326 15.523.658 18.084.169 19.919.795 COREIA DO SUL 3.357.094 3.489.136 3.723.482 3.450.478 3.158.417 3.866.206 4.221.617 4.167.089 4.122.604 4.124.116 ÍNDIA 1.264.111 1.473.000 1.713.479 1.829.677 2.175.220 2.831.542 3.040.144 3.296.240 3.155.694 3.158.215 BRASIL 2.011.817 2.092.029 2.391.354 2.561.496 2.575.418 2.584.690 2.519.389 2.589.236 2.722.979 2.314.789 MÉXICO 846.048 1.097.619 1.209.097 1.241.288 942.876 1.386.148 1.657.080 1.810.007 1.771.987 1.915.709 RÚSSIA 1.068.511 1.177.918 1.288.652 1.469.429 599.265 1.208.362 1.744.097 1.970.087 1.927.578 1.692.505 REPÚBLICA TCHECA 596.774 848.922 925.060 933.312 976.435 1.069.518 1.191.968 1.171.774 1.128.473 1.246.506 INDONÉSIA 332.590 206.321 309.208 431.423 352.172 496.524 562.250 743.501 924.753 1.011.260 ESLOVÁQUIA 218.349 295.391 571.071 575.776 461.340 561.933 639.763 926.555 975.000 971.160 IRÃ 725.000 800.000 882.000 940.870 1.170.503 1.367.014 1.412.803 856.927 630.639 925.975 TAILÂNDIA 277.562 298.819 315.444 401.309 313.442 554.387 537.987 945.100 1.071.076 742.678 TURQUIA 543.663 545.682 634.883 621.567 510.931 603.394 639.734 577.296 633.604 733.439 MALÁSIA 404.571 377.952 347.971 419.963 447.002 522.568 488.441 509.621 543.892 547.150

TOTAL Novos Mercados 15.577.897 17.935.921 20.692.817 21.614.333 24.066.852 30.949.369 33.140.599 35.087.091 37.692.448 39.303.297

OUTROS 4.433.131 4.892.220 5.307.136 5.072.445 4.229.562 4.621.044 4.644.850 4.206.377 4.367.052 4.450.085

TOTAL 46.862.978 49.982.840 53.201.346 52.637.206 47.772.598 58.239.494 59.897.273 63.070.002 65.745.403 67.727.063

Crescimento X Ano anterior 100% 7% 6% -1% -9% 22% 3% 5% 4% 3%

Crescimento X Ano base 2005 100% 107% 114% 112% 102% 124% 128% 135% 140% 145%

Share Mercados Maduros 57% 54% 51% 49% 41% 39% 37% 38% 36% 35%

Share Novos Mercados 33% 36% 39% 41% 50% 53% 55% 56% 57% 58%

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elevaram suas participações na produção mundial de 33% em 2005 para 58% em 2014.

Ainda na Tabela 4, França foi o país que mais perdeu produção, passando de 3.112.961 unidades em 2005, para 1.499.464 unidades em 2014, representando uma queda de 52%. O Canadá perdeu 33%, e o Japão perdeu 8% de suas produções nesta década. Alemanha, Estados Unidos, Espanha e Reino Unido praticamente mantiveram os mesmos níveis de produção. A Alemanha foi o país de maior regularidade em produção durante toda a década. Todos os 13 países dos novos mercados cresceram suas produções em 2014 frente ao ano de 2005. A produção da China em 2014 foi cinco vezes sua produção de 2005, confirmando o fato de ser o maior fabricante mundial de automóveis desde 2009. O Brasil que estava uma posição à frente da Índia em 2005 perdeu esta posição, da mesma forma que a Rússia perdeu uma posição para o México. Os demais países que não estão neste grupo dos 20 países de maior produção representavam 9% da produção em 2005, chegaram a 10% em 2006, 2007 e 2008, já em 2014 representaram 7% da produção mundial.

Colocando-se o foco direcionado aos dois últimos anos da década apresentada anteriormente, pode-se ter uma visão do comportamento atual da produção mundial de automóveis no viés países produtores, isto pode ser observado na Tabela 5, a seguir.

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Tabela 5 – Taxa de crescimento da produção anual de automóveis por país

Fonte: elaborada pelo autor com dados da OICA (2015).

.

Na Tabela 5 verifica-se que atualmente 20 países respondem por 93% da produção mundial de automóveis. Os sete países dos mercados considerados maduros, sendo eles, Japão, Alemanha, Estados Unidos, Espanha, Reino Unido, França e Canadá, cresceram em média 1,2% no período de 2013 a 2014, enquanto os outros 13 países dos mercados ditos emergentes cresceram em média 4,3%, com destaque para a China que cresceu 10,2%. Outra constatação é que o Irã foi o país com o maior crescimento da produção, com um índice de 46,8%, seguido pela Turquia com 15,8%, apesar de serem o 16º e o 19º países em volume, respectivamente.

A produção do Brasil (3,4%) pode aparentar ser pequena se comparada aos países como China (29,4%) ou Japão (12,2%). Porém, é superior à de países como México (2,8%) e Rússia (2,5%), bem como a de países como Inglaterra e Itália que deixaram de estar entre os 20 maiores produtores. O desempenho da economia em 2014 prejudicou o crescimento da produção brasileira, que apresentou um recuo de 15% em 2014, ficando apenas à frente da Tailândia em termos de crescimento entre os 20 maiores produtores. Comparando-se à produção da América do Sul, que foi de

Produçã o de Automóve is 2013 2014 T a xa de Cre scime nto (%)

Ra nking de Volume

Ra nking de Cre scime nto

CHINA 18.084.169 19.919.795 10,2% 1º 4º JAPÃO 8.189.323 8.277.070 1,1% 2º 11º ALEMANHA 5.439.904 5.604.026 3,0% 3º 8º ESTADOS UNIDOS 4.368.835 4.253.098 -2,6% 4º 16º COREIA DO SUL 4.122.604 4.124.116 0,0% 5º 14º ÍNDIA 3.155.694 3.158.215 0,1% 6º 13º BRASIL 2.722.979 2.314.789 -15,0% 7º 19º MÉXICO 1.771.987 1.915.709 8,1% 8º 7º ESPANHA 1.754.668 1.898.342 8,2% 9º 6º RÚSSIA 1.927.578 1.692.505 -12,2% 10º 18º REINO UNIDO 1.509.762 1.528.148 1,2% 11º 10º FRANÇA 1.458.220 1.499.464 2,8% 12º 9º REPÚBLICA TCHECA 1.128.473 1.246.506 10,5% 13º 3º INDONÉSIA 924.753 1.011.260 9,4% 14º 5º ESLOVÁQUIA 975.000 971.160 -0,4% 15º 15º IRÃ 630.639 925.975 46,8% 16º 1º CANADÁ 965.191 913.533 -5,4% 17º 17º TAILÂNDIA 1.071.076 742.678 -30,7% 18º 20º TURQUIA 633.604 733.439 15,8% 19º 2º MALÁSIA 543.892 547.150 0,6% 20º 12º OUTROS 4.367.052 4.450.085 1,9% TOTAL 65.745.403 67.727.063 3,0%

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2.716.688 automóveis em 2014, o Brasil assume posição de destaque, pois respondeu por 85,2% da produção nesta região. Este fato reafirma a posição de destaque das montadoras instaladas no Brasil, sendo estas o centro de produção e vendas no Mercosul e também na América do Sul (CONSONI, 2004b).

Segundo Consoni (2004b), a mudança de volume de produção dos países pelos fabricantes é por causa de três grandes movimentos que influenciam o ambiente global da indústria automobilística:

a) crescente competição internacional entre as empresas, sobretudo face à saturação e maturidade dos principais mercados consumidores, quais sejam, Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão, o que tem contribuído para que a escala dos produtos se torne cada vez mais global, e a busca por novos mercados regionais, com ênfase nos mercados de países em desenvolvimento, seja mais intensa;

b) crescente fragmentação dos mercados, o que tem explicado a maior intensidade no lançamento de novos produtos, principalmente daqueles derivados de uma mesma plataforma, com imediata redução do volume de vendas por modelo;

c) diversidade, maior complexidade e ampliação da tecnologia incorporada nos veículos, sobretudo daquelas associadas a mecanismos ligados à eletrônica embarcada, segurança e a tecnologias limpas, que se destinam redução da emissão de poluentes (CONSONI, 2004b, p. 16).

A indústria automobilística se distingue por sua robustez frente aos seus parceiros de negócios, ou seja, são um pequeno grupo de grandes empresas dominando um grande número de pequenas empresas, que são seus fornecedores. Uma segunda distinção da indústria automobilística é montar as linhas de produção próximas aos clientes finais. Isso se deve ao fato de que cada mercado tem as suas idiossincrasias, além de ser crescente as exigências governamentais neste sentido, muitas vezes inviabilizando a importação dos veículos completos, além de aspectos técnicos e econômicos. A saturação dos tradicionais mercados também é motivo para as montadoras construírem onde vendem. Estes fatos incentivaram a dispersão pelo mundo das linhas de montagens finais de veículos, ocorrendo atualmente em muito mais países do que há trinta anos (STURGEON et al., 2009, tradução nossa).

A terceira distinção é a sua forte estrutura regional. Embora a indústria automobilística tenha se tornado mais integrada no nível mundial em meados da

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década de 80, também conseguiu desenvolver fortes padrões de integração em escala regional, em contraste às indústrias orientadas a atender altos volumes de consumidores, como por exemplo a do vestuário e eletrônicos, que desenvolveram padrões de integração em escala global. Uma quarta distinção a ser considerada é o fato de que em um veículo existem poucos componentes genéricos ou subsistemas que podem ser padronizados. Peças e subsistemas tendem a ser específicos para um veículo ou montadora. O que não ocorre com os chips de memória e microprocessadores na indústria eletrônica e com os tecidos e linha na indústria do vestuário (STURGEON et al., 2009, tradução nossa).

Do ponto de vista geográfico, a indústria automobilística mundial está no meio de uma profunda transição. Desde meados da década de 80, vem, como muitas outras indústrias, tentando mudar a partir de uma discreta indústria nacional para uma indústria global mais integrada. Global integração implica ser uma empresa com grande escala regional e também global em seus sistemas de produção, consumo, inovação, abastecimento, comando e controle. Estes laços globais têm sido acompanhados de fortes estruturas regionais no nível operacional. Diferenças entre mercados, por vezes, exigem que as montadoras alterem o projeto de seus veículos para que se adequem às características de mercados específicos (por exemplo, direção à direita ou à esquerda, suspensão mais robusta e maior tanque de combustível para países em desenvolvimento etc.). Enquanto muitos veículos são projetados com os mercados globais em mente, um número crescente de veículos está sendo desenvolvido com as contribuições de centros de pesquisas regionais filiados, em que os projetistas e engenheiros ajudam a adequar os veículos aos mercados nacionais e regionais (STURGEON et al., 2009, tradução nossa).

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