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Metafunção ideacional e categorias representacionais

PARTE I: PERCURSOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

CAPÍTULO 3 DA RECORRÊNCIA MULTIMODAL: ANÁLISE DAS CATEGORIAS DA GD

3.1 Metafunção ideacional e categorias representacionais

Essa metafunção é desempenhada na imagem por participantes representados (PR)192 - pessoas, objetos ou lugares. Exemplificando, na fotopotoca 02-12 (FIG. 88), são PR os presidentes cubano e brasileiro, Fidel Castro e Juscelino Kubitschek, e na fotopotoca 02-C193 (FIG. 89), as mulheres da escultura, “As Laras”, de Ceschiatti (em frente ao Palácio da Alvorada em Brasília) são as PR.

FIGURA 88 - Fotopotoca 02-12

Ah... que beleza de pulseira, É americana?

192

De acordo com Kress e Van Leeuwen ([1996]/2006), os PR são o sujeito da comunicação, sobre os quais falamos, escrevemos ou produzimos imagens.

193

FIGURA 89 - Fotopotoca 02-C

Esta solidão de Brasília está de arrancar os cabelos...

Na Metafunção ideacional, um dos processos194 é o narrativo que se refere à presença de participantes que interagem, através de movimento ou ações (marcados por vetores indicativos de ações) presentes nas imagens (CARMO, 2014) e se subdivide em ação, reação, verbal/mental, conversão e símbolo geométrico195. Nas representações narrativas, os participantes, que podem ser o ator ou a meta, estão sempre envolvidos em eventos e ações. Assim como os verbos de ação indicam a ação na linguagem verbal, na representação imagética, os vetores196 indicam a ação (e interação). O vetor, que pode ter várias formas (inclusive imaginárias), indica ação, direciona o olhar do observador e é o responsável pela interação entre os participantes. De acordo com o tipo de vetor e o número de participantes representados, percebemos o tipo de processo narrativo (BRITO; PIMENTA, 2009, FERNANDES, 2009; FERNANDES; ALMEIDA, 2008; GUALBERTO, 2013; SOARES, 2017), como mostra o QUADRO 4 abaixo:

Quadro 4 - Metafunção ideacional

Fonte: Elaboração nossa, 2019.

194

O outro processo, conceitual, será mencionado mais à frente. 195

Apesar de mencionados por Kress e Van Leeuwen ([1996]/2006), Brito; Pimenta (2009), entre outros, os processos narrativos de conversão e de simbolismo geométrico não são considerados por alguns autores, tais como Manghi H (2017), Mota-Ribeiro (2011), Fernandes; Almeida (2008), Carmo (2017), entre outros.

196

O processo de ação, que descreve/apresenta acontecimentos do mundo material, apresentando o participante como ator (em geral, mais destacado na imagem) do qual parte o vetor em direção à meta, a quem ou a que se dirige o objetivo (vetor), divide-se em: não-transacional (a presença do participante/ator e ausência da meta na imagem); ação transacional (presença de pelo menos dois participantes, sendo um ator e outro a meta); ação transacional bidirecional (dois participantes, denominados aqui de interatores, que são, ao mesmo tempo, ator e meta). Como exemplo, apresentamos a fotopotoca 02-53 (FIG. 90), a qual exibe somente um ator – o líder russo Nikita Khrushchov – em destaque, em uma ação de cumprimento, mas sem mostrar a meta e, em razão disso, é uma imagem de ação não-transacional. Já fotopotoca 01-24 (FIG. 91) é uma imagem com dois processos de ação transacional: o participante-ator, JK, segura e empurra a meta, a alavanca do trator, e o outro PR faz o mesmo.

FIGURA 90 - Fotopotoca 02-53

E nunca comi tanto na minha vida FIGURA 91 - Fotopotoca 01-24

Se ele insistir em empurrar para cá, vai ser difícil botar esse negócio pra funcionar...

A fotopotoca 02-09 (FIG. 92) traz dois participantes se cumprimentando – o empresário Eron Alves de Oliveira e outro homem que parece ser o presidente Kennedy – que são, ao mesmo tempo, ator e meta, portanto, é uma imagem de ação biredicional.

FIGURA 92 - Fotopotoca 02-09

Meus parabéns. Como o senhor vê, Erontex dá sorte...

O processo reacional se configura quando o participante – aqui denominado reator – lança seu olhar para algo ou alguém – chamado fenômeno (o olhar do participante se dirige ao fenômeno dentro da imagem). Assim como o anterior, esse processo se divide em transacional e não-transacional (o olhar se dirige para algo fora da imagem), como demonstra a fotopotoca 02-06 (FIG. 93), em que o presidente Juscelino Kubitschek olha para o engenheiro Israel Pinheiro sobre a planta de Brasília. Nesse processo narrativo reacional transacional, JK é o reator e Israel, o fenômeno. A fotopotoca 02-18 (FIG. 94) apresenta o presidente Jânio Quadros, cuja direção do olhar não é identificada. Logo, o processo narrativo de reação é não-transacional.

FIGURA 93 - Fotopotoca 02-06

Que é isso Israel Se a gente construir um negócio destes aqui, o que é que vão pensar da gente?...

FIGURA 94 - Fotopotoca 02-18

E quem sabe se eu deixar a barba crescer?...

Ainda na representação narrativa, há os processos verbal e mental, conversão e simbolismo geométrico. Nos processos verbal ou mental, um participante animado (humano ou não) se conecta, através de vetor do tipo balão HQ (denominado reator) aos conteúdos falado (enunciado) e pensado (fenômeno). No verbal, o participante animado é chamado de dizente; no mental, ele se chama experienciador (KRESS; VAN LEEUWEN, [1996]/2006; FERNANDES; ALMEIDA, 2008; BRITO; PIMENTA, 2009). Exemplificamos: As fotopotocas 03-22 (FIG. 95) e 04-78 (FIG. 96) apresentam, respectivamente, representações narrativas de processos mentais.

FIGURA 95 - Fotopotoca 03-22

FIGURA 96 - Fotopotoca 04-78

Se esta reunião demorar mais um minuto, vou ter um troço...

Não há processos de conversão e de simbolismo geométrico nas FZ. Isso significa que não há, respectivamente, retroalimentação/encadeamento de imagens (KRESS; VAN LEEUWEN, ([1996]/2006) nem imagens de padrões pictóricos ou abstratos (KRESS; VAN LEEUWEN, [1996]/2006; BRITO; PIMENTA, 2009).

Em síntese, as imagens narrativas, esquematizadas no quadro 4, representam a experiência em uma interação entre dois ou mais objetos/pessoas representados, em processos de ação e reação. Também consideramos narrativas as imagens em que os participantes expressam ou pensam algo, respectivamente, processos verbais e mentais (MANGHI H, 2017).

Ao contrário da narrativa, a representação conceitual não mostra vetores porque não há participantes agindo. O participante representado é mostrado em determinada ordem ou agrupamento (FARIA, 2018), de acordo com classe, estrutura ou significação, dividindo-se em processos classificacional, analítico ou simbólico197. Pela ausência dessa representação no nosso corpus, não discutiremos detalhadamente seus processos. Consideraremos, então, na nossa análise, os processos de ação, reação verbal e mental relacionados à metafunção representacional.

3.2 Metafunção interpessoal e categorias interativas

A partir da função interpessoal hallydaiana, a GDV compreende o significado

197

Enquanto Brito e Pimenta (2009) consideram os processos classificacional e analítico, Kress e Van Leeuwen ([1996]/2006), Fernandes e Almeida (2008),Faria (2018), Mota-Ribeiro (2011) e Soares (2017) defendem que a representação conceitual ocorre, além dos dois processos acima, também em um processo simbólico.