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PARTE I: PERCURSOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

CAPÍTULO 1 – GÊNERO DE LINGUAGEM

1.4 O percurso da Semiótica Social

Segundo Mozdzenski (2009), os estudos linguístico-discursivos têm passado por transformações. Nos anos 1990, acontece a Virada visual (Visual turn), quando o interesse acadêmico pelos fenômenos da visualidade faz surgir disciplinas que visem discutir o papel discursivo-cognitivo da imagem, tais como Estudos Visuais e, mais recentemente, Retórica da Imagem, Linguagem da Visualidade, Argumentatividade Visual, além das abordagens semióticas mais tradicionais - americana peircena, francesa greimassiana, barthesiana e saussuriana - e a SS, que teve seu início já marcado em 1988.

A semiótica se desenvolve, no século XX, conforme Kress e Van Leeuwen ([1996]/2006), Carmo (2014), Natividade e Pimenta (2009), Mota-Ribeiro (2011) e Carvalho (2012, 2013), a partir de três escolas. A primeira delas (primeira década26 do século XX), conhecida como Escola de Genebra27, desenvolve estudos em moda, fotografia, cinema e música, baseados na linguística estruturalista. A segunda (segunda década28 do século XX), conhecida como semiótica funcionalista de Praga, trabalha no campo artístico e vem na esteira da linguística formalista russa. Essa vertente contribuiu para o avanço da ciência semiótica ao longo do século devido, principalmente, aos conceitos e métodos desenvolvidos por Roman Jakobson, considerados, atualmente, um clássico da semiótica. A terceira escola emerge de

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Nosso trabalho não objetiva o aprofundamento da LSF. Para essa finalidade, sugerimos Carmo (2014).

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Há controvérsias sobre as datas. 27

Seus estudos se desdobraram no “paradigma estruturalista da semiótica” (trabalhos de Louis Hjelmslev, Roland Barthes e Algirdas Greimas) e nos trabalhos “pós-estruturalistas” relativos às áreas humanas que, mesmo sem serem tachados como semiótica, preocupavam-se com as noções de signo, estrutura e sistema sígnico (antropologia estrutural de Lévi-Strauss, psicanálise de Jacques Lacan, história das ideias de Michel Foucault e filosofia de Jacques Derrida) (CARVALHO, 2013). 28

dois movimentos ligados ao linguista Michael Halliday: um na Universidade de East Anglia (Inglaterra), advindo da Linguística Crítica29 que, apesar das críticas, fundou o princípio geral fundamental às teorizações posteriores: “a linguagem faz parte da sociedade, é uma prática social e, como tal, é um dos mecanismos pelos quais a sociedade se reproduz e autorregula” (GOUVEIA, 2002, p. 336) e delineou uma teoria possível de ser aplicada a outros modos semióticos, tendo como expoentes Hodge e Kress (1988); e outro proveniente da Austrália, inspirado no desenvolvimento da LSF de Halliday e em sua aplicação, apresentando como importantes pesquisadores Kress e Van Leeuwen ([1996]/2006).

Enquanto as duas primeiras escolas, estruturalista e funcionalista, destacavam a linguagem verbal e eram incipientes em estudos voltados a outros tipos de linguagem, a terceira escola, da Sociossemiótica30 ou Semiótica Social, surge com os objetivos de assegurar a importância de todos os modos semióticos na construção dos significados e sistematizar métodos para a análise de todos os recursos semióticos (além do verbal) envolvidos nos processos de comunicação e representação. Nessa escola, a

semiótica é o estudo geral da semiose31, isto é, os processos e efeitos para a produção e reprodução, recepção e circulação do significado em todas as formas usadas por todos os tipos de agentes de comunicação32 (HODGE; KRESS, 1988, p. 261, tradução nossa).

Entendemos, por isso, e em consonância com Carvalho (2012), que a SS destaca e compreende a semiose humana como um fenômeno intrinsicamente social em suas origens, funções, contextos e efeitos. Segundo essa visão, os significados sociais são construídos por “formas, textos e práticas semióticas de

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A Linguística Crítica, que se baseava na LSF e teve como marco a publicação, em 1979, de Language and Control e Language as ideology, por Roger Fowler, Bob Hodge, Günter Kress e Tony Trew, estudava a relação entre linguagem e ideologia na estrutura social, ou seja, a Linguística Crítica, em contraponto à perspectiva chomskiana, considerava a função social da linguagem (CARMO, 2014) ao ressaltar a conexão entre a estrutura linguística e a estrutura social, argumentando sobre a influência de grupos e relações sociais no comportamento linguístico e não linguístico de falantes e produtores de textos (CARVALHO, 2012).

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Sinônimo de SS, esse termo foi inspirado na LSF, especificamente na afirmação de Michael Halliday ([1978]/1994): a língua é sociossemiótica.

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Compreendemos semiose, assim como Garcia da Silva e Ramalho (2012), enquanto linguagem em sentido amplo, que abarca os diversos modos semióticos, tais como fotografia, diagrama, cor, ilustração, música, efeito sonoro, vídeo, entre outros.

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Semiotics is the general study of semiosis, that is, the processes and efects to production and reproduction, reception and circulation of meaning in all forms used by all kinds of agent of communication (HODGE; KRESS, 1988, p. 261).

todos os períodos da história da sociedade humana” (CARVALHO, 2012, p. 22). Dessa forma, como afirma Trajano (2013), a SS considera as dinâmicas culturais e ideológicas de ambientes socioculturais específicos ao mapear os significados, propiciando às pessoas os recursos disponíveis para a criação de signos e para a mudança de recursos semióticos.

Um dos aspectos que marcam a diferença entre a ST e a SS, segundo Mota- Ribeiro (2011), é a perspectiva da relação imagem-texto escrito e linguística- semiótica. Enquanto a tradicional relaciona o significado das imagens dependente do texto escrito, a SS considera a ligação interdependente entre os elementos visual e textual. Kress e Van Leeuwen ([1996]/2006) assumem o texto verbal como extensão do significado da imagem como, por exemplo, as Histórias em Quadrinhos (HQs), nas quais a linguagem verbal complementa a linguagem visual (e vice-versa) para a formação de significados.

O significado, segundo Hodge e Kress (1988), é visto pela ST como algo estático e fixo no texto em si mesmo, decodificado de forma neutra a partir de um código universal. Já na SS, ele é considerado um processo negociável, sem imposições de autor ou código.

Criticando a ST pela omissão dos usos e funções sociais dos sistemas semióticos, bem como pela ausência de uma análise que auxilie na descrição e na interpretação das estruturas e processos de construção dos significados sociais, Hodge e Kress (1988) propõem a abordagem da SS, delineada precisamente na obra Social Semiotics (HODGE; KRESS, 1988), que transcenda os estudos desenvolvidos pela Linguística Crítica empreendida pelos mesmos autores na obra Language as Ideology, de 1979. Se, na obra de 1979, os linguistas assumiam a dimensão social e aceitavam os textos e a estrutura da linguagem como pontos de partida para a análise, na de 1988 partem das estruturas, processos sociais, mensagens e significados (CARMO, 2014) para uma nova abordagem que adapta os estudos linguísticos aos modos não verbais da comunicação, focando-se nos textos multimodais e nas funções sociais da linguagem. Sob essa visão, a SS possui duas premissas básicas: a) para se entender a estrutura e o processo da linguagem, deve-se considerar sua dimensão social; e b) nenhum modo semiótico pode ser estudado isoladamente já que o significado constitui-se da integração dos vários modos presentes em um determinado tipo de texto ou evento social (HODGE; KRESS, 1988). Além disso, Hodge e Kress (1988) destacam que o significado é

produzido também em outros códigos semióticos (além do verbal). Portanto, os significados somente podem ser apreendidos totalmente por meio da análise de todos os recursos semióticos.

Códigos e recursos são termos que marcam outra diferença entre a ST e a SS. Segundo Mota-Ribeiro (2011), enquanto a primeira tem como centro o conceito de código semiótico - entendido como o conjunto de regras de relações de signos com significados (JEWITT; OYAMA, 2001) - a segunda destaca o termo “recurso semiótico”, considerando seu uso de forma flexível, sem submissão a normas. Isso porque, como argumentam Kress e Van Leeuwen ([1996]/2006), há formas de comunicação visual que funcionam com normas e outras não as têm definidas.

Mota-Ribeiro (2011, p. 41) exemplifica que “os criadores de signos poderão ir buscar recursos visuais que a cultura ocidental desenvolveu ao longo de séculos, mas usá-los sem os submeter ao mesmo tipo de normas”. Ainda sobre o destaque do recurso semiótico, Vieira e Silvestre (2015) asseveram que o seu enfoque pela SS se dá com o objetivo de descrever, interpretar e explicar a produção e interpretação dos artefactos ou eventos comunicativos pelas pessoas, em contextos de situações e/ou práticas específicas. Em síntese, recursos semióticos são ações, materiais e artefatos produzidos fisiológica ou tecnologicamente, usados propositadamente (VAN LEEUWEN, 2005), logo, escolhidos simultaneamente pelas pessoas entre diferentes recursos semióticos, eles se combinam em fenômenos multimodais (TRAJANO, 2013). Seu uso visa ao propósito comunicativo.

A SS, segundo Mota-Ribeiro e Coelho (2011), ao contrário da semiótica clássica - centrada na imagem em si e limitada a critérios textuais -, defende a prioridade das estruturas das relações entre produtor e intérprete33 da imagem. Para as autoras, “a forma como o produtor da imagem e do intérprete34

da imagem se situam socialmente afecta tanto aquilo de que a imagem „fala‟ (o seu conteúdo) como as suas leituras e usos” (MOTA-RIBEIRO; COELHO, 2011, p. 5-6). Qualquer semiótica se relaciona aos signos, mas, como explica Mota-Ribeiro (2011), a abordagem sociossemiótica foca, sobretudo, no signmaking, ou seja, no modo como formas visuais ou outras são usadas para produzir sentidos/significados. A noção de signo se difere entre as semióticas. Enfatizando o processo de produção, a SS ultrapassa a compreensão da ST e não considera a preexistência de significante e

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Visionador (tradução nossa do Português de Portugal). 34

significado como um bloco, mas como um processo no qual significante (a forma) e significado (o sentido) são independentes (NATIVIDADE; PIMENTA, 2009). O signo existe, assim, em todos os modos semióticos e o processo de significação é parte da construção social (SANTOS; PIMENTA, 2014). Nessa construção social, significante e significado não são tomados previamente.

Para a construção do significado, é preciso, portanto, que se façam escolhas e essas escolhas, num determinado contexto, atribuem certos significados que, de alguma forma, direcionam o significado das mensagens como um todo (CARMO, 2014, p. 89).

Dito de outra maneira, o significado é construído a partir do interesse do produtor do signo ao escolher o modo semiótico para um contexto social específico (CARVALHO, 2012) ou, ainda, de forma mais clara,

o interesse dos produtores de signos, no momento de produzir o signo, leva-os a escolher um aspecto ou pacote de aspectos do objeto a representar como sendo critério, nesse momento, para representar aquilo que pretendem representar e, depois escolher a forma mais plausível, mais adequada para a sua representação35 (KRESS; VAN LEEUWEN, [1996]/2006, p. 13, tradução nossa).

Concordamos com Mota-Ribeiro (2011) e Trajano (2013) que a forma e o significante têm uma relação motivada. Essa ênfase na escolha mais apta de produzir sentido distancia a SS da noção tradicional de arbitrariedade36. A SS defende que os indivíduos são agentes na produção de significados, enquanto a ST defende que o poder social (a convenção) sustenta a arbitrariedade. Logo, a escolha é um conceito fundamental na SS. A partir das escolhas dos modos de linguagem37 disponíveis, segundo Vieira e Silvestre (2015), todos os elementos semióticos presentes no significado de um texto podem ser interpretados. As escolhas, então, realizadas em um contexto, geram significados, atribuindo-os aos signos e mensagens. É no contexto social que os signos são escolhidos e os discursos são construídos (PIMENTA; SANTANA, 2007).

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The interest of sign-makers, at the moment of making the sign, leads them to choose an aspect or bundle of aspects of the object to be represented as being criterial, at that moment, for representing what they want to represent, and then choose the most plausible, the most apt form for its representation (KRESS; VAN LEEUWEN, [1996]/2006, p. 13).

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Lembrando que, pela visão saussuriana, significante e significado se relacionam de forma arbitrária (PINTO, 2016).

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Assumimos, contudo, que “não é a situação social que influencia (ou é influenciada) pelo discurso, mas o caminho que os participantes definem tal situação”38 (VAN DIJK, 2008, p. ix, tradução nossa), ou seja, o contexto não é

restringido somente pelas questões sociais, políticas ou culturais, mas “também às interações pessoais e locais emergentes, representando a singularidade de todo discurso”39

(VAN DIJK, 2006, p. 162, tradução nossa). Dito de outro modo, conforme Mozdzenski (2009), os contextos consistem não em tipos de condição social ou causas externas, mas são (inter) subjetivos, criados e atualizados, cognitivamente, na interação entre os membros da comunidade. Assim, esse olhar sociocognitivo sobre o contexto pressupõe que a relevância contextual é definida em termos do que é importante para os participantes no momento do discurso, isto é, o contexto se define na dinâmica social.

Na SS, é no e pelo contexto específico que o conjunto de significantes e significados é motivado e a mensagem, criada. Em outras palavras, a SS se preocupa não com a dicotomia entre significante e significado, mas com o mapeamento do significado motivado por escolhas, uma vez que “a produção do sentido é vista como uma ação social no curso da comunicação” (CARMO, 2014, p. 90). Nessa produção de sentido, o signo é o recurso semiótico. Ele é

uma instância do uso de um recurso semiótico para propostas de comunicação, por exemplo, a ação de franzir a testa, usada com o propósito de comunicar desaprovação ou o uso da cor vermelha para fins de alerta contra algum perigo40 (VAN LEEUWEN, 2005, p. 285, tradução nossa).

Essa descrição de signo adotada por Van Leeuwen na obra Introducing Social semiotics foi inspirada no trabalho do linguista Michael Halliday, que compreendia a língua não como um código ou uma série de regras, mas como um recurso de produção de significados. Denominados, então, recursos semióticos pela SS, os recursos são significantes, ações observáveis e objetos do domínio da comunicação

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It is not the social situation that influences (or is influenced by) discourse, but the way the participants define such a situation (VAN DIJK, 2008, p. ix).

39 No original: (…) but also for personal and locally emerging interactional ones, thus accounting for the uniqueness of all discourse (VAN DIJK, 2006, p. 162).

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An instance of the use of a semiotic resource* for purposes of communication, for example, the action of frowning, used for the purposes of communicating disapproval, or the use of the colour red, for purposes of warning against some danger (VAN LEEUWEN, 2005, p. 285).

social41 (VAN LEEUWEN, 2005, p. 4, tradução nossa), produzidos no curso das histórias sociais/culturais/políticas42 (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001, p. 112, tradução nossa). Dessa forma, signos e sentidos se relacionam e são produzidos em ambientes e interações sociais, gerando sentidos43.

A SS compreende que o sentido (comunicação) e a forma (representação) constituem o signo (PIMENTA, 2018), ou seja, a produção de signos e a utilização de recursos semióticos, segundo Carvalho (2012), estão estritamente vinculadas aos meios de comunicação e representação. Sintetizando, o signo é constituído em dois níveis: representação e comunicação, abordados por Kress e Van Leeuwen ([1996]/2006), em Reading Images: the grammar of visual design:

A comunicação exige que os participantes produzam suas mensagens o mais compreensível em um contexto particular. Eles, portanto, escolhem formas de expressão que acreditem ser maximamente transparentes para outros participantes. Por outro lado, a comunicação acontece nas estruturas sociais que são inevitavelmente marcadas por diferenças de poder, e isso afeta como cada participante entende a noção de “entrosamento máximo” (…). A representação exige que os produtores de signos escolham formas para a expressão do que têm em mente, mais aptas e plausíveis no determinado contexto44 (KRESS; VAN LEEUWEN, [1996]/2006, p. 11, tradução nossa).

Em minha dissertação, na qual estudei as representações sobre o rural nas revistas Globo Rural entre 1980 e 2000, tracei o percurso do conceito de representação, desde sua criação pelo sociólogo Émile Durkheim (representações coletivas45) no fim do século XIX (1895), a teorização46 pelos psicólogos sociais, liderados por Serge Moscovoci na década de 1960, à abordagem cultural da

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So in social semiotics resources are signifiers, observable actions and objects that have been drawn into the domain of social communication (VAN LEEUWEN, 2005, p. 4).

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Semiotic resources have been produced in the course of social/cultural/political histories (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001, p. 112).

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Usamos para diferenciar de significado como um dos planos da linguagem proposto pela linguística saussuriana. Entendemos sentidos como significação, produção de sentidos. Para uma distinção mais aprofundada entre sentido e significado, recomendamos CARMO (2014, p. 91-92).

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Communication requires that participants make their messages maximally understandable in a particular context. They therefore choose forms of expression which they believe to be maximally transparent to other participants. On the other hand, communication takes place in social structures which are inevitably marked by power differences, and this affects how each participant understands the notion of maximal understading‟ (…). Representation requires that sign-makers choose forms for the expression of what they have in mind, forms which they see as most apt and plausible in the given context (KRESS; VAN LEEUWEN, [1996]/2006, p. 11).

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Para Durkheim, são um produto social comum aos elementos de uma comunidade. 46

Moscovoci, em La Psychanalyse, son image, son public, desenvolve a Teoria das Representações Sociais (TRS), em 1961 na França.

psicóloga Denise Jodelet, a responsável por aprofundar e continuar os estudos da Teoria das Representações.

Referência no campo das representações sociais desde que Moscovici criou o laboratório de Psicologia Social na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em 1965, a pesquisadora francesa define representação como “forma de conhecimento socialmente elaborado e partilhado, com um objetivo prático e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (JODELET, 2001, p. 22). A autora, portanto, caracteriza a representação como uma forma de saber prático que liga um sujeito a um objeto (MUCCI DANIEL, 2010). Sua definição se alinha à abordagem da SS, que adotamos neste trabalho, para quem representação é um

processo no qual os produtores do signo, seja adulto ou criança, procuram representar algum objeto ou entidade, seja ele físico ou semiótico, e seu interesse nesse objeto, a ponto de representá-lo, é complexo, decorrente da história cultural, social e psicológica do produtor e focada pelo contexto específico em que o signo é produzido47 (KRESS; VAN LEEUWEN, [1996]/2006 p. 6, tradução nossa).

Assim “o modo – os signos produzidos – como se descreve e se representa o mundo parte de representações construídas, interpretadas e renovadas” (MUCCI DANIEL, 2010, p. 14), isto é, a representação é um processo, concomitantemente individual e coletivo, influenciadora e influenciada pelo contexto de produção de cada signo.

O outro nível de constituição do signo, segundo a SS, é a comunicação: “um processo no qual um produto ou evento semiótico é, ao mesmo tempo, articulado ou produzido e interpretado ou usado48” (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001, p. 20, tradução nossa). A relação entre os dois níveis nos parece clara. Se pensarmos a Fotopotoca como um tipo de gênero midiático, concordamos que, “sob seus aspectos interindividuais, institucionais e midiáticos, a comunicação aparece como condição de possibilidade e de determinação das representações” (JODELET, 2001,

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Process in wich tke makers of signs, whether child or adult, seek to make a representation of some object or entity whether physical or semiotic, and in wich their interest in the object, at the point of making the representation, is complexe one, arising out of the cultural, social and psychological history of the sign-maker and focused by the specific context in which the sign-maker produces the sign (KRESS; VAN LEEUWEN, [1996]/2006 p. 6).

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We defined communication as a process in which a semiotic product or event is both articulated or produced and interpreted or used (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001, p. 20).

p. 30). Como esclarecem Kress e Van Leeuwen (2001), a comunicação só tem lugar quando há tanto articulação quanto interpretação. Melhor dizendo, “a comunicação depende de alguma comunidade interpretativa ter decidido que algum aspecto do mundo foi articulado a fim de ser interpretado49” (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001, p. 8, tradução nossa). Daí o imbricamento entre representação e comunicação.

Os processos de representar e produzir/interpretar envolvem escolhas:

Quem gera um signo escolhe o que considera ser a representação mais apropriada do que se quer significar, ou seja, o interesse orienta a seleção dos atores sociais guiados pelos meios formais de representação e comunicação (NATIVIDADE; PIMENTA, 2009, p. 22).

Assim como quem produz, quem interpreta o faz por escolhas subjetivas, já que o processo de comunicação envolve a interpretação, pois o signo que chega ao leitor na comunicação é tomado como um objeto a ser interpretado. Explicando melhor, o signo-significante é preenchido com o próprio significado do leitor/intérprete, consequentemente, pelo seu interesse. Desse modo, “o processo de interpretação ocorre na construção de um novo signo a partir do que se recebe como significante” (PINTO, 2016, p. 41). De forma incessante, segundo Kress (2010), esse processo envolve todos os participantes em todos os momentos, de forma diferente em cada caso.

Os processos de representação, comunicação e interpretação, assim sendo, abarcam escolhas realizadas por interesses subjetivos de quem produz e interpreta. Na perspectiva da SS, então, reafirmamos que o signo é escolhido e produzido pelo interesse específico de um indivíduo ou grupo de indivíduos para representar a ideia e/ou o significado que o seu produtor e intérprete definem.

No processo de produção/representação/interpretação/comunicação, o indivíduo tem sua subjetividade transformada, em um “movimento simultâneo e reflexivo” (SANTOS, 2011, p. 4). Segundo Kress e Van Leeuwen ([1996]/2006), a elaboração e a transformação dos signos são, ao mesmo tempo, a transformação da subjetividade do seu criador e das fontes de representação das quais ele lança mão. Igualmente, ocorre a recíproca influência entre individuo(s) e ambiente externo

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No original: That communication depends on some interpretive community having decided that some aspect of the world has beeb articulated in order to be interpreted (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001, p. 20).

(contexto), fenômeno, segundo Giddens (2002 apud SANTOS, 2011), cada vez mais