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Capítulo II- Dimensão Investigativa

4- Metodologia

4.1 - CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

Em contexto de PES (creche) fui observando a interação das crianças com o(s) seu(s)

objeto(s) de transição, no momento da sesta e fui recolhendo evidências do papel desse

objeto, neste momento de separação. Por exemplo, em outubro observei a educadora a

deixar de dar a chupeta a duas crianças, no momento da sesta (uma que tinha 21 meses e

outra que tinha 12 meses), ainda que as crianças em casa continuavam a usá-las.

Em novembro, apenas cinco crianças usavam objetos transicionais para dormir. Dessas

cinco que usavam o objeto para dormir, quatro usavam apenas nesse momento e apenas

duas delas usavam este o objeto em ocasiões de stress.

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No dia 5 de Novembro de 2014, uma criança (MC de 14 meses) que dormia com um

peluche e uma chupeta, adormeceu sem os seus objetos de transição, não tendo chorado,

nem acordado a meio da sesta. A mesma criança, no dia 10 de Novembro de 2014, dormiu

só com o peluche e não usou a chupeta.

Observei, ainda, que uma criança (L,16 meses) pedia a chupeta frequentemente no

momento da sesta e durante o dia. E que a C. (15 meses) só usava os objetos (fralda de

rosto e chupeta) para dormir, enquanto que o R. (15 meses) usava os objetos (fralda de

rosto e chupeta) também em outras atividades da sua rotina diária.

Ao observar estes diferentes comportamentos em crianças que tinham o mesmo tipo de

objeto de transição surgiu a dúvida: “Quais as interações que R. e C. estabelecem com os

seus objetos de transição, após se deitarem no catre, até adormecerem?”. Assim, encetei

este ensaio investigativo qualitativo-descritivo de índole exploratório com dados

quantitativos. Conforme Fernandes, 1991, citado por Feteira (2012, p.18) “O foco da

investigação qualitativa é a compreensão mais profunda dos problemas, é investigar o que

está “por trás” de certos comportamentos, atitudes e convicções”.

Procurando refletir sobre o objeto de transição em contexto de creche e questionar o tipo

de interações da criança C e da criança R com o(s) seu(s) objeto(s) de transição, apresenta-

se de seguida os participantes do estudo.

4.2 - PARTICIPANTES DO ESTUDO

Participaram neste estudo duas crianças, uma criança do género feminino (C.) e uma do

sexo masculino (R.),ambos com 15 meses (em outubro de 2014) e ambos pertencentes ao

grupo de crianças da sala de 1 e 2 anos de uma creche da região centro de Portugal. Os

dados prévios da observação em contexto de Prática de Ensino Supervisionada revelaram

que ambos usavam uma chupeta e uma fralda de rosto durante a sesta. A C só usava estes

objetos para dormir e só ficava tranquila, no catre, quando os tinha junte de si enquanto

que o R. também usava a chupeta durante todos os momentos de rotina.

Em termos de desenvolvimento, a C. e o R. interagiam facilmente com os objetos da sala

(por exemplo, livros ou legos) e com os adultos presentes na sala de atividades, sorrindo-

lhes quando os viam. Conforme Papalia & Olds, (2000, p.155):

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“Quando os bebês querem ou precisam de alguma coisa, eles choram; quando se sentem

sociáveis, sorriem ou riem; quando suas mensagens são respondidas, cresce o seu senso

de ligação com as outras pessoas”.

A C. e o R. exploravam os objetos da sala através dos cinco sentidos, ainda que o sentido

mais utilizado fosse o paladar, revelavam ter prazer em levar objetos à boca, situando-se

no estádio oral de Freud (Monteiro & Ferreira, 2009). A C. (15 meses) revelava ter algum

equilíbrio quando se deslocava, no entanto, ainda caia muitas vezes. O R. (15 meses)

subia e descia mesas e cadeiras com facilidade, revelando destreza motora. Conforme

Carvalho, (2005, p.130) “É essencialmente através de interacções sensoriais e motoras

que a criança descobre, sente, experimenta e conhece o mundo que a rodeia”.

Em termos linguísticos, a C. e o R. ainda não produziam palavras, apenas produziam sons

indefinidos, caraterística desta fase de desenvolvimento (Sprinthall & Sprinthall, 1990).

4.3 -INSTRUMENTOS DE RECOLHA E TRATAMENTO DE DADOS

Para a realização deste estudo, optou-se pela observação direta2 através do registo

videográfico, isto é, através de uma filmagem que capta “ (…) sons e imagens que

reduzem muitos aspectos que podem interferir na fidedignidade da coleta dos dados

observados” (Belei, Gimeniz-Paschoal, Nascimento, Matsumoto, 2008, p.192). Os dados

recolhidos por esta via foram corroborados por registos fotográficos e notas de campo.

Os dados recolhidos foram sujeitos a uma análise de conteúdo, numa tentativa de “(…)

reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível

que vai além de uma leitura comum” (Moraes, 1999, p.8). As categorias de análise

definidas foram a interação não-verbal e verbal com os objetos de transição. Como

subcategorias da categoria interação não-verbal, considerou-se a i) interação através do

tato; ii) interação através do paladar e iii) interação através do olhar. No que se refere às

subcategorias da interação verbal, considerou-se a i) interação através de sons indefinidos

e ii) interação através de palavras.

No que se refere à interação através do tato, consideraram-se todas as interações da

criança com o objeto e todas as interações que o adulto induziu a criança a estabelecer

com o objeto (por exemplo, quando o adulto colocava o objeto em contacto com a pele

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da C. e R.). As interações através do paladar incluíram o contato bucal da criança com o

objeto (com ou sem a colaboração do adulto) e as interações através do olhar, as

evidências do olhar da criança para com o objeto de transição.

Nas interações através de sons indefinidos, consideraram-se as gargalhadas, as lalações e

os palreios sempre que a criança olhava os objetos de transição. Por fim, nas interações

através de palavras consideraram-se todas as palavras que a criança dizia sempre que

olhava para os objetos de transição.

4.4 -PROCEDIMENTO

No âmbito da unidade curricular de Prática Pedagógica em Educação de Infância – Creche

do Mestrado em Educação Pré-Escolar (ESECS/IPL), no ano letivo 2014/2015, foi sendo

observado que havia crianças que se socorriam dos seus objetos de transição para

adormecer e que as interações que realizavam com estes objetos era muito diversificada.

Face a esta situação, definiram-se os objetivos do estudo e a metodologia a seguir

(participantes, instrumentos de recolha de dados, procedimentos). Solicitou-se

autorização superior (ver anexo XII) e, com a anuência de todos os intervenientes,

delineou-se o cronograma de recolha de dados (data e horas). Assim, ficou definido que

os dados seriam recolhidos através de observação direta, notas de campo e vídeos nos

dias 24,25,6 de Novembro e 1,2,3,9,10 de Dezembro de 2014, das 12h15 às 12h20,

aproximadamente (ver Anexo XIII). Realizaram-se, assim, 8 observações3.

Deste modo, enquanto a minha colega, a AAE e a Educadora realizavam a higiene e

deitavam as outras crianças, eu preparava as câmaras e os meios para tirar notas (Ver

anexo XIV). Após as crianças estarem deitadas no catre, começava a gravar e a registar

todos os momentos que considerava relevantes

No total observei cada criança oito vezes tendo a observação oscilado entre os 2 minutos

e 40 segundos e os 10 minutos, conforme quadro 1:

3

De referir que a observação 1 (24.11.2014) foi feita com o auxílio de duas câmaras de vídeo por questões de

equipamento

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Participante C.

Nº de observações

Dia

Vídeo

Duração

1

4

24/11/2014

1

2m:40s

2

6m:04s

2

25/11/2014

3

4m:47s

3

26/11/2014

4

7m:40s

4

1/12/2014

5

5m:12s

5

2/12/2014

6

4m: 25s

6

3/12/2014

7

6m:55s

7

9/12/2014

8

7m:16s

8

10/12/2014

9

9m:50s

Participante R.

Nº de observações

Dia

Vídeo

Duração

9

24/11/2014

10

4m:09s

10

25/11/2014

11

5m:24s

11

26/11/2014

12

4m:54s

12

1/12/2014

13

8m:33s

13

2/12/2014

14

10m:00s

14

3/12/2014

15

10m:00s

15

9/12/2014

16

6m:52s

16

10/12/2014

17

4m:58s

Quadro 1 – número de vídeos e sua duração

Após a recolha de dados, em janeiro de 2015 fiz a transcrição dos vídeos e em fevereiro

de 2015 iniciou-se a análise dos dados (ver Anexo XV a Anexo XX, inclusive). Os dados

foram organizados em categorias de análise, (interação não-verbal e verbal). Como

subcategorias da categoria interação não-verbal, considerou-se a i) interação através do

tato; ii) interação através do paladar e iii) interação através do olhar. No que se refere às

subcategorias da interação verbal, considerou-se a i) interação através de sons indefinidos

e ii) interação através de palavras), por dia de observação. Da análise qualitativa dos

dados, resultaram frequências e percentagens, conforme ponto seguinte.