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O meu mundo encantado

No documento EDUARDA RAFAELI DE SOUZA 6º ANO ENSINO (páginas 62-65)

Estava na escola. Mais um dia em que terminei os longos trabalhos de final de ano com meus amigos que foram passados pelos professores. Estava exausta, caminhando pela escola, à espera de minha mãe, ela viria me buscar, mas seria apenas daqui a três horas... Resolvi deitar-me em um banco, afastada de tudo e de todos, para descansar um pouco, e acabei adormecendo.

Acordei, senti-me um pouco mais disposta, ainda era dia, mas consegui ver que o sol não ia demorar-se para ceder ao seu descanso. Levantei, e me surpreendi com o barulho de uma lata de lixo caindo, que eu mesma havia derrubado sem intenção. Mas algo estava errado. No solo, abaixo de onde a lata estava, havia um desenho, gravado no próprio chão, parecido com um labirinto. Em um extremo dele estava uma chave, e, no outro, uma fechadura. Abaixei-me e analisei-o, comecei a fazer tentativas de achar o caminho correto para a chave, até que descobri.

Distraída, passei o dedo pelo caminho apenas para confirmar minha ideia. Então, aconteceu: um buraco enorme se abriu no chão, levando ao que pareciam enormes metros abaixo do solo. Parecia magia, e o estranho é que ninguém estava à vista, o que era muito incomum na escola em que eu estudava. Novamente algo me chamou atenção: seja lá o que for, estava brilhando no fundo da abertura, brilhava intensamente, e aumentava gradualmente, sempre cada vez mais e mais forte, parecia estar chegando até mim, queria sair. Mas então percebi que não era o brilho que aumentava e se aproximava, e, sim, eu ia despencando, tão rápido, que o vento que colidia comigo nem podia ser sentido. Parecia durar horas, não chegava nunca, até que finalmente, bati em algo duro e frio.

Depois de um tempo, acordei novamente. Ao que percebi, estava cercada de paredes verdes, iguais às do desenho abaixo da lixeira que havia derrubado. O sol estava escaldante, brilhando como nunca havia visto antes. Não se encontrava uma sequer nuvem naquele céu azul. Será que eu estava naquele labirinto? Bem, só podia ser isso. Não havia nada a fazer a não ser andar. Andar até achar a saída e me localizar em qual local desse tão grande mundo eu me encontrava.

Comecei a caminhar, seguindo os caminhos que o labirinto me oferecia. Desviava, contornava, desviava, contornava. É isso que se faz em um labirinto. De vez em quando aparecia uma borboleta ou outra para me acompanhar, tirando-me um pouco da solidão. Andei alguns minutos, o labirinto nunca se fechava, mas também nunca se abria. Até que em algum momento virei para a direita e me deparei

com uma porta, de madeira, bem talhada, uma maçaneta com plantas em sua volta. Acho que finalmente cheguei ao meu destino.

Abri a porta. Entrei. Vi a cena mais bela, aconchegante e acolhedora de toda a minha vida. Era um lugar cercado com as mesmas paredes do labirinto, mas nessas havia flores. Havia um grande salgueiro, com luzinhas amarelas o enfeitando, um balanço de madeira abaixo, com almofadas e livros. Eu amo livros. Ao lado desse salgueiro, uma fonte, exuberante e, de alguma forma, luminosa. Haviam coelhos lá, brincando e se divertindo, sem preocupar-se com nada, além do dia de hoje. Ao lado do balanço, encontrava-se uma mesa, também de madeira, muito bonita, e cheia de frutas, pães, geleias, guloseimas, bebidas, docinhos, chocolates, dentre tantas outras comidas que eu nem sequer conhecia. A grama era felpuda, dava para andar nela até mesmo descalça. Mais parecida com um tapete do que com um mar de folhinhas minúsculas. Um pouco além da fonte, estava uma armação, que segurava lindos vestidos, iguais aos das princesas sobre as quais eu lia nos livros. Eram de muitas cores, totalmente variados, rosa pastel, lilás, amarelo, celeste, preto, um branco magnífico. Todos com algo especial. Alguns tinham babados, outras mangas bufantes, tinham os totalmente lisos, mas com a sua beleza. Neste lugar, flutuavam bolinhas brancas, deixando-o ainda mais belo. Não havia céu ali, havia uma luz azul, apenas, que vinha e saía de algum lugar, o infinito talvez. Tudo o que foi mencionado estava decorado com flores, ramos, folhas.

Dei-me um beliscão. Isso que eu estava vivendo não podia ser real. Por que seria? Bem, o beliscão só me proporcionou uma leve dor. Não acordei. Então, era apenas vivenciar o momento, e esperar ele acabar. Se é que isso podia acontecer.

Sentei no balanço de madeira. Aconcheguei-me. Peguei um livro, e quando ia começar a lê-lo, alguém me chamou. Virei-me assustada, e entrei em pânico quando vi que o salgueiro me olhava. Sim, ele tinha olhos. E uma boca. Levantei e me distanciei, mas me acalmei um pouco, afinal, se tudo o que estava acontecendo comigo era real, por que não uma árvore que falava?

O salgueiro, pacientemente, esperou até eu voltar ao balanço e encará-lo. Então começou a falar:

- Seja bem vinda, mocinha. Aqui, você poderá encontrar a sua paz, para dias preocupantes, aflitos, para a ansiedade, e assim conseguirá se distrair um pouco também. Não é encantador? Tudo à sua espera, vestidos lindos feitos para usar, comida à vontade, livros para ler, e, se quiser, uma cama para dormir. A fonte para seus desejos, e, eu, como amigo e conselheiro. Sei que deve estar assustada, mas não se preocupe, aqui você está segura, e aqui você pode ficar o tempo que desejar.

Ainda um pouco assustada, falei:

- Por que vim parar aqui? E por que me oferece tudo isso?

- Minha querida, isso não posso lhe dizer. São coisas da magia, do mundo em que vive, elas apenas acontecem, e você foi escolhida para desfrutar de tudo. O destino sabe que você merece tudo

isso, pois sabe que é uma pessoa dedicada, carinhosa, amiga, afetuosa, caridosa. Prevê que passará por fases muito difíceis, e irá precisar desfrutar de tudo isso.

Mais calma, disse:

- Um pouco confusa toda essa história, mas aceito de bom grado. E agradeço muito, por essa oportunidade única que me oferece. Se assim diz que será, assim aceitarei. Desfrutarei de tudo, o máximo possível, aproveitando. Mas, como sairei daqui? E para voltar, será sempre a mesma passagem? E para os dias em que não estarei na escola?

- Ah, isso é muito fácil, minha cara. Para sair, basta dizer em frente à porta que entrou: "a verdade, a verdade, leve-me agora para a realidade." Para entrar, procure um local onde tenham flores, de qualquer tipo, e jogue o pozinho que lhe darei, em cima da flor, e sussurre: "para entrar, para entrar, disseram-me que é só isso que preciso citar." O pó dourado é aquele, ao lado da porta. Se alguma vez faltar, terá de comer a pétala de uma flor, e recitar a frase de entrada. Será mais demorado, mas funcionará. Agora, a noite se aproxima, e a preocupação reina lá em cima. Vá agora minha querida, e volte sempre.

O salgueiro parou de falar. Seus olhos e sua boca deixaram de existir, e o que me restou foi a surpresa e a alegria da descoberta que fiz. Quase não conseguia acreditar no que estava se passando, mas como não havia acordado até agora, era provável que fosse verdade. Com certeza voltarei, salgueiro.

Peguei o pozinho, encarei a porta, e disse: "a verdade, a verdade, leve-me agora para a realidade!" Senti um puxão em todo meu corpo, e novamente pareceu durar horas até sair dali. Então senti um ar frio e cortante, e vi que estava em cima do banco em que adormecera. A lixeira continuava no chão, e o labirinto também. Coloquei-a no lugar novamente, e nesse exato momento, minha mãe havia chegado na escola. Decidi não contar-lhe nada, nem contarei a ninguém. Meu segredo está guardado. Apalpei meu bolso, e senti o saquinho com o pozinho dourado. Voltarei, salgueiro, voltarei.

3º LUGAR CONTO

AUTOR(A): HELENA CELIBATO

CATEGORIA INFANTO JUVENIL - 6º AO 9º ANO PSEUDÔNIMO: GAIA

No documento EDUARDA RAFAELI DE SOUZA 6º ANO ENSINO (páginas 62-65)