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Sumário

Mapa 4. Localização de sítios com amostras nas coleções analisadas Autor: Henrique Koslowski.

3.8 Modelando as amostras

. O interesse inicial de recontextualização das coleções era descrever e discutir as amostras individualmente por proveniência e ampliando a escala a partir disso. Todavia, dada dimensão das amostras essa estratégia se mostrou pouco proveitosa. Optamos, dessa maneira, por buscar uma visão geral de todo o material classificado como Konduri, balanceando os resultados com amostras de coleções diagnósticas com mais de 50 fragmentos e informações contextuais mais seguras. Os resultados

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Além dessas peças foram analisadas estatuetas e vasilhas inteiras do estilo Santarém (43 peças) tendo em vista a comparação com o esitlo Konduri.

apresentados precisam ser vistos como qualitativos mesmo que apresentados numericamente, dado os vieses das coletas assistemáticas.

Foram analisadas 2334 peças Konduri provenientes de áreas muito diversas ao longo dos cursos dos rios Trombetas, Nhamundá e municípios de Óbidos, Juruti e Parintins. Em relação a 582 peças não há nenhuma referência de local de coleta ou apenas denominações genéricas, como “Trombetas”, “Nhamundá”, “Óbidos” ou “Oriximiná”. Dessa maneira foram selecionadas as amostras de 7 sítios com mais de 50 peças cada e com informações de proveniência mais seguras para poder construir uma perspectiva regional da tecnologia cerâmica. Foram consideradas amostras das coleções Peter Hilbert, Peter Hilbert e Harald Schultz, T-1564 (“Eduardo Galvão”) e Aricy Curvello. No caso dos sítios Oriximiná e Cocal foram reunidos os dados disponíveis de materiais de diferentes coleções. As outras amostras são apenas de uma coleção. No total as peças com essas informações de proveniência somam 37, 19% de toda cerâmica Konduri analisada ().

Coleção Sítio Quantidade % do total

Peter Hilbert e Harald Schultz Babaçu 147 6,29%

Peter Hilbert e Harald Schultz Fortaleza 91 3,89%

Peter Hilbert Serrinha 71 3,04%

Peter Hilbert; Barbosa de Faria Cocal 217 9,29%

Peter Hilbert; T-1564 Oriximiná 64 2,74%

Aricy Curvello Lago Batata 158 6,76%

Aricy Curvello Posto Aurora II 121 5,18%

TOTAL 869 37,19%

Tabela 9. Materiais com informação de proveniência destacados ao longo do capítulo.

Além da descrição sistemática, adotamos a estratégia de consultar e fotografar materiais em pequenas coleções e descrever algum atributo de interesse (como

antiplástico) ou realizar desenhos de perfil e estimativas de diâmetro de orifício. No MPEG foram consultadas as coleções Deborah Magalhães e uma série de pequenos conjuntos denominados “materiais doados” (90, 96, 97, 112, 113). Além dessas peças foram consultadas caixas de material do sítio Greig II (Projeto Arqueológico Porto Trombetas). No MHN 19 fragmentos Konduri entre os materiais coletados dos sítios Takará Velho, Mapuium e Tawanî, no baixo e médio curso do rio Mapuera foram também descritos (ver JÁCOME, 2017). Em 2014, junto com André Prous, fotografamos, medimos e desenhamos o perfil de uma série de fragmentos (404 no total) pertencentes a coleções domésticas na cidade de Oriximiná e em comunidades do lago Sapucuá (Ajará, Castanhal, Conuri, Icatu, Macedônia, São Pedro e São Francisco). Apesar dessas informações não serem sistemáticas, são complementares as obtidas durante o estudo das coleções.

Uma série de fotografias de grandes coleções que não foram estudadas pôde ser consultada a partir da colaboração de outros pesquisadores. Essas imagens serviram para construir uma perspectiva mais abrangente sobre a cerâmica Konduri, apesar de não ter sido realizada nenhuma quantificação ou descrição a partir desta documentação. Fotografias de coleções na Casa de Cultura de Oriximiná/PA, Escola Municipal Santa Maria Goretti (Oriximiná), Centro Cultural João Fona, que fizeram parte do levantamento realizado pelo Projeto Norte Amazônico, foram cedidas por Camila Jácome. Helena Lima nos enviou uma série de fotografias de coleções domésticas reunidas na comunidade de Santa Rita (Parintins/AM), registradas durante a realização do Projeto Baixo Amazonas. André Prous fotografou a pequena coleção Pompeu Sobrinho no Museu do Estado do Ceará e também compartilhou as imagens. Deusdedit Carneiro enviou-nos imagens de 4 peças conservadas no Museu do Estado do Maranhão. Ana Carolina Cunha também contribuiu com fotos de conjunto e individuais tiradas da coleção Protásio Frikel no Museu do Índio (Lagoa Seca, PB). Edithe Pereira enviou registros de peças coletadas por uma moradora em Terra Santa. Além disso, foram consultadas as fotografias do acervo Museu da Cultura Mundial de Gotemburgo disponíveis em uma base de dados online

Em relação às informações acessadas a partir de pesquisas sistemáticas, consideramos especialmente as informações disponíveis em relação aos sítios Aviso I, Bela Cruz I, Bela Cruz II, Boa Vista, Cipoal do Araticum e Greig II na região de Porto

Trombetas (GUAPINDAIA, 2008; CHUMBRE, 2014; CASTRO, 2018); Oriximiná 3, próximo a foz do rio Trombetas (SCIENTIA, 2013); Tawanî, localizado na foz do rio Mapuera, afluente do médio curso do rio Trombetas (JÁCOME, 2017); e também os sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2, localizados no município de Juruti (SCIENTIA, 2008, 2016; PANACHUK, 2011, 2016a). As áreas escavadas, dimensão das amostras coletadas, metodologias de análise cerâmica são distintas fazendo com que a comparação nem sempre seja possível. Além disso, no caso de sítios multicomponenciais, não foram apresentados os resultados por unidade arqueológica de classificação (Konduri, Pocó, etc.). Dessa maneira, as frequências dos atributos, em muitos casos, aparecem combinadas. Nossa escolha foi por abordar as informações de maneira qualitativa, apenas como um contraponto ao que foi notado a partir das coleções de museu.

3.9 Conclusão

As coleções de museu não são um caso absoluto de amostras enviesadas em arqueologia. Muito dos dados arqueológicos foi e continua sendo estatisticamente enviesada, em maior ou menor grau (DRENNAN, 2009). Isso não invalida as pesquisas arqueológicas, mas exige um cuidado com os vieses e suas consequências interpretativas. A escala de estudo e abordagem da pesquisa definem o potencial e as limitações das coleções e amostras. As questões desenvolvidas por cada pesquisa poderão ou não ser respondidas dada qualidade das informações contextuais e sua integridade. Se a escala de análise inclui a estratigrafia dos sítios e diferenças cronológicas, poucas serão as coleções de museu com esse potencial. Kintigh (1981) demonstrou que uma coleção reunida por Leslie Spier, em 1916, ainda mantinha sua representatividade e integridade, permitindo a compreensão de vários contextos. Outras coleções de museu se encontram no gradiente entre boas informações contextuais e sua perda completa. Mesmo no caso de coleções com vieses assistemáticos, é possível produzir proposições válidas ainda que a quantificação tenha que ser entendida como parcial ou totalmente qualitativa.

Os vieses criados pela coleta seletiva de fragmentos, a falta de documentação e a mistura de materiais de diferentes proveniências são desafios para a construção de interpretações confiáveis sobre a produção da cerâmica Konduri. Certos resultados precisam ser considerados com cautela e sempre que possível contraposto às

informações publicadas sobre escavações sistemáticas. A existência de informação relativamente seguras de proveniência para vários sítios, alguns com centenas de fragmentos, permite produzir um levantamento (ou prospecção) preliminar da variabilidade formal em escala regional. Essas informações poderão ser avaliadas e incluídas no estudo dos materiais dessas áreas específicas em estudos futuros. A combinação desses conjuntos materiais e informações permite o avanço do conhecimento como “coleção de referência”, ao mesmo tempo em que permite ter uma dimensão quantitativa de materiais que são à base da principal referência sobre a cerâmica Konduri.