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Sumário

Mapa 1. Mapa feito por Nimuendajú sintetizando a distribuição dos estilos Tapajó e variantes no rio Arapiuns e Monte Alegre (vermelho) e Kondurí (azul) no Baixo Amazonas É indicada com círculo vermelho a Serra de Parintins, como limite da ocorrência de fragmentos do estilo Tapajó associado ao Kondurí e outros estilos próximo ao rio Xingu Em azul o autor indica áreas

3 Capítulo Problemas metodológicos no estudo de coleções de museu

3.2 Curadoria e documentação

3.2.2 Museu Paraense Emílio Goeld

O livro tombo do MPEG foi criado a partir da reorganização das coleções na década de 196047. A maioria das coleções analisadas chegou à instituição antes dessa organização e podem ter se misturado, bem como perdido informações ao longo do tempo. Há quantificação de apenas uma coleção (Frederico Barata) no momento de entrada das peças e os fragmentos não receberem um número de registro (tombo) individualizado – apenas para conjunto. As informações disponíveis no livro tombo são, portanto, secundárias, sendo menos confiáveis que as identificadas no arquivo da instituição, publicações ou marcadas nas próprias peças. As fichas que acompanham os sacos plásticos e marcações com o número de tombo seguem o livro, sendo também resultados de processos curatoriais mais recentes. As marcações de proveniência das peças para as coleções T- 881, Peter Hilbert, Peter Hilbert e Harald Schultz (1953) e Charles Townsend Jr. são elementos mais seguros de identificação, que em um dos casos pode ser checado com a publicação (HILBERT, 1955a).

Entre as 7 coleções que possuem exemplares de cerâmica Konduri, duas apresentam problemas mais graves porque foram criadas em processos curatoriais. A

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Relatório anual da Divisão de Antropologia do Museu Paraense Emílio Goeldi, 1964. Arquivo Guilherme La Penha/MPEG.

coleção Nimuendajú foi arbitrariamente formada na década de 1960 a partir peças do estilo Santarém reunidas por Carlos Estevão de Oliveira ou fragmentos do estilo Konduri das coleções Peter Hilbert (1952) e de um doador desconhecido do século XIX (T-881). Não se sabe como a coleção T-881 chegou ao MPEG, mas foi mencionada por Emílio Goeldi (1898, p. 410) e Nimuendajú (2004 [1923], p. 125). As peças dessa coleção receberam marcações de proveniência em escrita cursiva e inclinada (típica do século XIX) e de forma. Parte do que foi escrito em letra de forma deve pode ser atribuído a Nimuendajú segundo Hilbert (1955a). Peças com marcações em letra cursiva e de forma foram identificadas na coleção Peter Hilbert e “Nimuendajú” permitindo identificar que também pertencem a coleção T-881 (Figura 28).

Figura 28. Fragmentos das coleções 881 e Peter Hilbert (1952) no acervo do MPEG: a - fragmento com indicação de proveniência em letra cursiva; b - fragmento com texto atribuído por Hilbert a Nimuendajú; c - fragmento com proveniência indicada por Hilbert.

As coleções Peter Hilbert e Peter Hilbert e Harald Schultz possuem peças de diferentes sítios arqueológicos com proveniências indicadas na documentação e marcadas nas peças. Houve mistura entre as peças de diferentes proveniências, mas foi possível recuperar a procedência original a partir das marcações feitas por Hilbert para 93,1 % (763) da primeira coleção e 61,8 % da segunda. Somam-se a essas peças com

identificação, 20 presentes na coleção “Nimuendajú” pertencentes à reunida em 1952 e uma encontrada na última, mas pertencente à de 1953.

Parte da coleção Peter Hilbert não apresentava marcação (84/ 9,9 %) ou esta tinha se apagado. Outras três peças exibiam quebra “fresca” permitindo remontagem e a identificação da proveniência. Além disso, formas identificados fragmentos de cerâmica Saracá com inscrição de outra coleção, que foi misturada em processos curatoriais. Uma parcela mais significativa da coleção reunida em 1953 não recebeu marcação do pesquisador. Dois fragmentos remontaram desta coleção, apesar de sua proveniência ser distinta segundo o livro de tombo. As peças de apenas um sítio receberam numeração sequencial e a ausência de vários números sugere que exemplares se perderam. No MCT, há 3 fragmentos com a marcação característica da feita Hilbert (1952), o que reforça que a existência de perdas e deslocamentos.

Hilbert (1955a) menciona 65 sítios arqueológicos, sendo que visitou 26 e obteve informações com Protásio Frikel de 28 e com moradores locais de 11 sítios. Comparando as inscrições nas peças e os sítios mencionados, é possível notar que algumas peças foram marcadas com indicações que não são mencionadas como sítios, como “Mario” e as casas “Balduino”, este último entre Serrinha e Terra Preta, no baixo Cuminá. São mencionados também fragmentos cerâmicos doados provenientes do sítio Boa Vista que não foram identificados na coleção. Ao mesmo tempo, sua coleção apresenta peças de sítios conhecidos apenas a partir de informações de ribeirinhos ou de Protásio Frikel e que, portanto foram obtidos por doação (Trindade, Mabaia, Itauaquera, Aibi).

Entre o material da coleção Peter Hilbert é possível que haja uma inscrição indicando diferença entre a profundidade em que as peças foram encontradas em uma sondagem. Nos sacos majoritariamente com fragmentos provenientes do sítio Cocal, há peças marcadas com o nome completo do sítio (“Cocal”) que geralmente são maiores e mais elaboradas em termos de decoração, enquanto que fragmentos menores com pouca ou nenhuma decoração apresentam apenas números. Algumas das peças mais elaboradas também apresentavam inscrições como “Coc 2”.

A coleção Charles Townsend Jr. apresenta 3.050 peças entre material cerâmico e lítico (ROSA, 2004). Na instituição há 61 fragmentos identificados como Konduri.

Parte dessas peças (29/ 47,5%) apresenta a marcação com uma letra (C, K, U, T), que é anterior do número de tombo que foram feitas por Protásio Frikel. No Museu do Índio de Lagoa Seca (PB), onde a maior parte da coleção reunida por Frikel se encontra peças com as mesmas marcações (Figura 29).

A coleção Frederico Barata, no momento de entrada, possuía “Fragmentos da região Jamundá-Trombetas [quantidade]: 31 (em 1 caixa)”48, além de duas vasilhas Konduri inteiras. Encontram-se separados como fragmentos Konduri 64 exemplares na reserva técnica. Nenhuma dessas peças apresenta marcação de proveniência e a indicação genérica “Oriximiná” foi apresentada nas publicações de Hilbert (1955a) e Palmatary (1960). Como resultados de processos de compra desconhecidos, sua proveniência é desconhecida, apesar da indicação no livro tombo “rio Nhamundá”.

Figura 29. Materiais com marcações com uma única inicial, provavelmente realizadas por Protásio Frikel: a-b coleção Charles Townsend (MPEG) ; c-d coleção Protásio Frikel (Museu do Índio, Lagoa Seca, PB).

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Escritura de contrato de compra e venda de uma coleção de peças arqueológicas da Amazônia, que si firmam como outorgante vendedor o Dr. Frederico Barata e como outorgado comprador o Conselho Nacional de Pesquisa, com a interveniência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e o Museu Paraense “Emílio Goeldi”. Belém, 27 de janeiro de 1959. Tabelião Armando de Queiroz Santos, Cartório de 3º Ofício de Notas, Belém, Pará. Fundo Frederico Barata, Arquivo Guilherme La Penha.

O caso da coleção Eduardo Galvão, que também não tem marcação de proveniência, é um pouco distinta porque não há informações documentais sobre sua procedência. Não foi identificado nenhum registro de uma coleta realizada pelo antropólogo Eduardo Galvão. Há dois conjuntos nessa coleção, um proveniente de Oriximiná e, segundo o livro tombo, coletado em 1965, e outro, proveniente do lago Jacaré e coletado em 1967. Observando o mapa de sítios arqueológicos do Baixo Amazonas, publicado por Carlos Estevão de Oliveira (1939), nota-se apenas dois sítios arqueológicos na bacia do rio Trombetas – os mesmos que compõe a coleção “Eduardo Galvão” (Mapa 2). Sabendo da complexidade do processo de registro dos materiais e da invenção da coleção “Nimuendajú”, o material de Oriximiná e lago do Jacaré podem ter sido coletados na década de 1930.

Mapa 2. Detalhe do mapa publicado por Oliveira (1939) em que ele apresenta várias localizações de