• Nenhum resultado encontrado

Moinho de Vento da Tia Faleira

II PROCESSOS MUSEOLÓGICOS EM SÃO MIGUEL: 1974-

24. Moinho de Vento da Tia Faleira

Na freguesia da Fajã de Cima, do concelho de Ponta Delgada, não existem cursos de água permanentes que possibilitassem o uso de moinhos movidos a água, mas a construção de moinhos de vento, em pontos altos, estratégicos, para aproveitamento dos ventos, permitiu a produção local de farinha.

Situado na Fajã de Cima, o designado Moinho de Vento da Tia Faleira é de influência inglesa, desconhecendo-se a data de construção. No entanto, sabe-se que esteve em actividade até finais do século XIX, tendo permanecido em ruínas durante grande parte do século XX487.

485 Pacheco, 2005; Confraria do Chá do Porto Formoso (Coord.). 2008. 486 Depoimento de José Pacheco prestado em Junho de 2009.

173/318

Esse moinho estava integrado numa propriedade com habitação até que, em 22 de Junho de 1993, a mesma foi adquirida pela Junta de Freguesia488 a Gabriel Fernandes e sua esposa, Maria da Glória Dionísio Fernandes489, para aí se construir um parque de estacionamento e dois acessos.

No ano seguinte, a Junta de Freguesia490 iniciou uma série de estudos que resultaram na

apresentação, em 1998, de uma candidatura ao programa LEADER, para recuperação do único moinho de vento da freguesia, preservando e valorizando o património imóvel, envolvendo a criação de uma Zona de Lazer, incluindo instalações para um posto de turismo e venda de artesanato.

De realçar que esta iniciativa se insere, embora de forma inconsciente, no âmbito da musealização de sítios, valorizando o património e as especificidades da freguesia. Salvaguardando o moinho, tornavam a Fajã de Cima detentora de um imóvel único, recuperado como espaço de memória colectiva e valor patrimonial, destinado ao turismo, criavam um instrumento de cultura, diferente do que existia no resto da ilha e, por isso, aliciante.

Ainda em 1998, iniciaram-se as obras de recuperação do moinho de vento, na sua traça original, exterior e interior, com o apoio da Câmara Municipal de Ponta Delgada e após a concessão de financiamento pelo Programa de Iniciativa Comunitária LEADER II491, ficando a intervenção de revitalização concluída a 12 de Dezembro de 2000. De modo a efectuarem uma recuperação mais fidedigna possível, recorrem ao apoio técnico de um moleiro da Bretanha, José dos Reis.

488 De acordo com informação extraída da escritura exarada no livro de notas para escrituras diversas, número 732 C, folhas 5-7,

Secretaria Notarial de Ponta Delgada, 2º Cartório. Na altura era presidente da Junta de Freguesia Mário Branco Botelho do Rego.

489 Emigrados em Fall River, Estados Unidos da América. 490 Sendo presidente Joaquim Farias (1994 e 1995).

491 Arquivo de correspondência da Associação Regional para o Desenvolvimento (ARDE). Certificado de Conclusão do Projecto

Financiado Pelo Programa de Iniciativa Comunitária LEADER II, nº 5.0.03.006/PD/98. (Área: Preservação e Valorização do Ambiente; Acção: Renovação e Desenvolvimento das Aldeias e do Património Construído; Projecto: Recuperação de Moinho de Vento).

174/318

A inauguração do Moinho de Vento da Tia Faleira ocorreu a 1 de Dezembro de 2001, e contou com a presença de diversas autoridades locais, designadamente a Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada e o Presidente da Associação Regional para o Desenvolvimento.

A partir dessa data, o moinho manteve-se aberto de forma irregular até que, com o apoio financeiro cedido pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, em 2003, a Junta de Freguesia da Fajã de Cima conseguiu cumprir, durante um ano e meio, a sua intenção de ter aquele moinho de vento em funcionamento e produção, todos os dias úteis, o que foi garantido pelo moleiro de profissão, Tio Manuel Melo. Para além de o moinho estar à guarda daquele moleiro, que o dinamizava, recebendo os visitantes e explicando-lhe a sua história e funcionamento, a ideia ia mais longe, pois pretendiam também que o Tio Manuel desse formação a candidatos aprendizes, o que não veio a acontecer por falta de interessados. Desde o seu falecimento, em Fevereiro de 2005, aquela Junta de Freguesia não encontrou ainda pessoa com conhecimentos na matéria e características para o substituir.

De salientar que, em Março de 2004, e no âmbito do funcionamento e manutenção do Moinho de Vento da tia Faleira, foi estabelecido um Protocolo de Cooperação entre a Câmara Municipal de Ponta Delgada e a Junta de Freguesia da Fajã de Cima, recebendo esta última, desde então, um apoio financeiro anual.

Desde a abertura ao público do moinho têm sido diligenciados pela Junta de Freguesia vários contactos junto de inúmeras entidades, no sentido de divulgar e promover aquele espaço, que consideram como importante atracção turística, mas também um precioso testemunho cultural do passado.

O posto de artesanato, construído na zona envolvente do moinho, funcionou alguns meses em 2003, mas o concessionário desinteressou-se da exploração. Apesar das diligências que têm sido desenvolvidas pela Junta de Freguesia, aquela infra-estrutura contínua desactivada, embora, em

175/318

2008, lhe tenha sido concedida, pelo Alvará de Utilização nº 179/2008, licença de utilização como posto de artesanato.

Ainda durante 2008, esse espaço destinado a posto de artesanato foi cedido temporariamente à Associação de Guias Intérpretes Regionais dos Açores – AGIRA, que tem aí a sua sede, ficando a seu cargo a dinamização do Moinho de Vento da tia Faleira. Esta circunstância tem contribuído fortemente para garantir a visita de muitos grupos de turistas, nacionais e estrangeiros, que de outra forma não teriam acesso fácil aquele espaço. Têm sido promovidas ainda algumas iniciativas conjuntas entre a Junta de Freguesia da Fajã de Cima e a AGIRA, nomeadamente a comemoração do Dia Nacional dos Moinhos, a 7 de Abril, em que o moinho está aberto e é dinamizado com a presença de elementos trajados à moda antiga, que recebem os visitantes e lhes servem licores regionais e outras iguarias tradicionais.

De salientar aqui, o contributo de Manuel Oliveira, que tem sido o grande impulsionador do projecto do moinho de vento da tia Faleira, a nível processual, administrativo e da dinamização, e que conjuga a função de secretário da Junta de Freguesia, desde 1994, com a de Vice- presidente da AGIRA.

Diversas iniciativas para a divulgação e promoção do Moinho de Vento da tia Faleira continuam a decorrer, estando prevista para breve a colocação de sinalética na Fajã de Cima e localidades limítrofes, bem como a elaboração de um folheto explicativo acerca daquele imóvel e respectiva área envolvente. Também têm vindo a ser desenvolvidos esforços para classificar o moinho como Imóvel de Interesse Municipal.

Apesar do moinho se debater com dificuldades a nível do funcionamento e dinamização, continua a ser visitado pelo público em geral, especialmente nos meses de Verão, por marcação prévia na Junta de Freguesia ou através dos agentes de turismo da ilha.

176/318