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Museu de Arte Sacra e Etnografia

II PROCESSOS MUSEOLÓGICOS EM SÃO MIGUEL: 1974-

3. Museu da Ribeira Chã

3.1. Museu de Arte Sacra e Etnografia

O Museu de Arte Sacra e Etnografia da Ribeira Chã surgiu por iniciativa do Padre João Caetano Flores, e a sua origem remonta a 1977, embora a construção só tenha sido concluída em 1983.

Com a intenção de salvaguardar e preservar o património religioso e histórico da freguesia e de promover o desenvolvimento local, a 31 de Janeiro de 1977, foi solicitada, pelo Padre Flores, ao bispo coadjutor D. Aurélio Granada Escudeiro, autorização para a criação do Museu de Arte

Sacra e Etnografia, que se previa ficar instalado no átrio da sacristia da Igreja Paroquial da

Ribeira Chã. Por Despacho de 03 de Fevereiro de 1977, D. Aurélio Escudeiro autorizou a criação do referido museu.188

187 Enquanto instituição ligada à Igreja, foi aprovado pela Diocese de Angra, a 8 de Outubro de 1967. Despertar. 1979. Ano V,

n.º 25. Março. Ribeira Chã.

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A 3 de Novembro de 1978, foi enviado ao Secretário Regional do Equipamento Social o anteprojecto para a construção do edifício do museu, então designado arrecadação museu189 tendo obtido a aprovação, foi ordenada a elaboração do projecto definitivo. A 8 de Dezembro de 1978, foi remetido um exemplar do projecto à Comissão de Arte Sacra, obtendo a aprovação a 19 de Dezembro de 1978.190

Em Março de 1979, em cerimónia presidida por D. Aurélio Escudeiro foi efectuada a bênção do lançamento da primeira pedra, com vista ao arranque das obras de construção.

A 1 de Maio de 1980, Dr. Hermínio Pontes, vigário episcopal de S. Miguel, procedeu à bênção do terreno onde seria implantado o museu, efectuando-se o lançamento da primeira pedra.191 As obras de construção decorreram por administração directa, iniciando-se a 02 de

Maio de 1980.

O terreno onde foi implantado resultou de uma doação de um casal de paroquianos, Maria Laura Pereira e João Inácio de Medeiros, e o empreendimento foi comparticipado em 50% pela população da Ribeira Chã e pela Secretaria Regional de Equipamento Social. A Câmara Municipal da Lagoa cedeu os trabalhadores municipais.

O projecto foi da autoria do senhor Alberto Soares da Silva Albergaria Pacheco, e prestou assistência técnica Tomás Ivens Tavares do Canto, da Secretaria Regional do Equipamento Social. A Secretaria Regional da Edução e Cultura comparticipou na aquisição do principal mobiliário.

O Museu de Arte Sacra e Etnografia da Ribeira Chã abriu ao público em 1983.

O edifício desse museu é constituído por 2 pisos, com escada exterior de acesso ao primeiro piso. Inicialmente o rés-do-chão tinha patente uma exposição permanente, reconstituindo um interior doméstico, com a típica cozinha e quarto de dormir, e diversos utensílios relativos à

189 “Comemorações do 1º Centenário da Escola Primária”, 1979. in Despertar. Ano V, n.º 30. Setembro. Ribeira Chã: 2. 190 Brum, 1984: 13.

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produção vinícola, incluindo um lagar. Com a criação de novos pólos do museu, este espaço inferior do edifício, passou a reserva.

O piso superior do edifício integra, desde o seu início, uma exposição permanente, de que fazem parte objectos relativos ao vestuário, material pedagógico usado na escola primária, bonecos de presépio, fotografias, a reconstituição da Capela da antiga Igreja da Ribeira Chã (1853-1964), um altar do culto ao Divino Espírito Santo, paramentos, vasos, sinos, azulejos e pedras da primeira ermida da Ribeira Chã (1725-1853), e esculturas religiosas.

É importante referir a dinâmica subjacente à constituição das colecções do museu. A par da salvaguarda de algumas das peças pertencentes à antiga igreja paroquial, muitos dos objectos foram incorporados na sequência de algumas exposições desenvolvidas pela freguesia e promovidas e dinamizadas pelo seu pároco. É exemplo uma exposição realizada a 22 de Junho de 1979, integrada na comemoração do centenário de criação da primeira escola do ensino primário na Ribeira Chã, onde foram reunidas diversas peças que, posteriormente, vieram a integrar o espólio do museu, então ainda em projecto. Acerca desse evento, na altura foi referido no boletim paroquial que foram organizadores o nosso pároco, que há muito recolhera

elementos para o efeito, o director escolar de Ponta Delgada e os professores ….192

Ficamos com a dúvida se as peças foram incorporadas no museu, na consequência da exposição, ou se a recolha e a realização daquele evento já foram programadas com a intenção, designadamente por parte do Padre Flores, de constituir as colecções do museu.

De registar ainda, a grande aceitação que aquele tipo de projectos, e particularmente o Museu

de Arte Sacra, teve junto das autoridades eclesiásticas, certamente movidas também pelo

entusiasmo do Padre Flores, mas também reflexo das orientações emanadas pelo Concilio Vaticano II, acerca da disposição de ornamentos, imagens e outras obras de arte sacra presentes nos templos católicos. D. Aurélio Escudeiro, numa comunicação incluída na publicação

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periódica da freguesia da Ribeira Chã, Despertar, por ocasião da comemoração do primeiro aniversário da inauguração do Museu de Arte Sacra e Etnografia, referiu que em cada paróquia

deverá haver um pequeno museu, em lugar próprio, ao menos uma pequena vitrina bem ordenada e segura, onde possam guardar-se paramentos antigos e objectos litúrgicos de algum valor ou interesse (…) Tanto as imagens ao culto como as guardadas no pequeno museu ou vitrina, e bem assim as pinturas e outros objectos, deveriam ser devidamente classificados – estilo, data, autor, origem – constando isso de placa anexa à mesma para conhecimento de visitantes.193 Estas afirmações não deixam dúvidas sobre a aceitação e o incentivo directo a este

tipo de iniciativas.

Em todas as etapas da formação do Museu da Ribeira Chã, o envolvimento da pequena comunidade local foi essencial, quer através de iniciativas individuais, por doação de peças ou ofertas monetárias, quer ainda pela participação nas diversas iniciativas dinamizadas pelo seu pároco, em prol da angariação de verbas ou mesmo recolha de objectos, para o espólio do museu. A este respeito, e acerca da participação das crianças e jovens da Ribeira Chã num cortejo de oferendas, realizado no primeiro domingo de Agosto de 1981, João de Brum referiu que tudo isto

foi obra de uma sensibilização, adequada e eficaz, junto da população da Ribeira Chã, levada a efeito durante o espaço de 25 anos, pelo Pe. João Caetano Flores ….194