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Museu do Chá do Porto Formoso

II PROCESSOS MUSEOLÓGICOS EM SÃO MIGUEL: 1974-

23. Museu do Chá do Porto Formoso

A introdução da cultura do chá na ilha de São Miguel ocorreu nos finais do século XIX, como parte integrante de um processo mais alargado de diversificação de culturas agrícolas, capazes de virem a constituir-se como alternativas à exportação da laranja, que entretanto entrara em declínio. Nesse contexto, Amândio Machado Faria e Maia fundou a Fábrica de Chá do Porto Formoso, que laborou entre os anos vinte e oitenta do século XX, na costa norte da ilha de São Miguel.

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Em 1998, o Eng.º José António Pacheco479 e a esposa, Dra. Regina Mendonça, adquiriram a propriedade onde se integra a referida fábrica e efectuaram obras de recuperação da unidade produtiva, no âmbito das quais criaram um espaço museológico. Os proprietários assumem que a recuperação da fábrica, pretende ser também um projecto de animação turística.480

Para o efeito recorreram a fundos comunitários, designadamente à iniciativa comunitária REGIS II481 e ao Programa LEADER +.

Os objectivos que levaram à criação do Museu do Chá do Porto Formoso, aberto desde 2001, foram, por um lado, ser esta uma forma de contribuir para a preservação da história, da memória e de algumas vivências associadas à cultura do chá, particularmente naquela unidade produtiva e na zona geográfica do Porto Formoso e, por outro lado, por ser também uma forma de atrair visitantes e de divulgar aquela fábrica e os seus produtos.482

Para o efeito, recuperaram e preservaram antigas máquinas e utensílios ligados à produção do chá, realizaram algumas recolhas de materiais e de testemunhos de antigos funcionários, e efectuaram alguma investigação. De salientar que tiveram a colaboração, muitas vezes de forma espontânea, de antigos trabalhadores da fábrica, quer na recuperação de peças, quer na reconstituição da história e de vivências da referida actividade.

Actualmente, o espaço museológico do Chá Porto Formoso integra no seu espólio o próprio património industrial daquela fábrica, fotografias, reconstituições de traje popular de trabalho (feminino e masculino), e objectos diversos, de natureza etnográfica e técnico-científica, usados nas várias fases do processo de produção e venda de chá. A visita à fábrica/espaço museológico

479 Engenheiro agrícola, filho e neto de produtores de chá. 480 Depoimento de José Pacheco prestado em Junho de 2009.

481 Iniciativa comunitária destinada especificamente às regiões ultraperiféricas, e que foi justificada pelo carácter particular que

estas regiões assumem no contexto da União Europeia, a qual desenvolveu o conceito de ultraperifericidade para qualificar as regiões com determinadas características comuns (carácter insular ou quase insular, afastamento do território comunitário, PIB inferior a metade da média europeia), que dificultam a integração ou travam o processo de coesão da União Europeia. No âmbito do REGIS II a formulação das candidaturas desenvolveu um conceito de ultraperifericidade fortemente centrado na problemática da mobilidade externa, acessibilidade e integração de mercado e nas consequências da insularidade sobre as debilidades estruturais dos Açores e da Madeira. http://qca.pt/iniciativas/pdf/regis.pdf Último acesso em 2009-09-21.

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inicia-se com o visionamento de um pequeno filme sobre aquela actividade, na ilha e, particularmente, naquela unidade produtiva.

No âmbito da dinamização da fábrica e do seu espaço museológico, para além da visita acompanhada às plantações e a todo o processo de fabrico do chá e das explicações que são fornecidas aos visitantes, pelos proprietários e funcionários da fábrica,promove-se anualmente, no primeiro sábado de Maio, uma recriação da apanha do chá designada Início de Colheita, na qual participam amigos dos proprietários, elementos do rancho folclórico do Porto Formoso e a população em geral. Esta reconstituição de época é entendida como uma actividade de animação

cultural onde toda a vivência da cultura do chá é reconstituída, presenteando os visitantes locais e os turistas com um passado de grande importância sócio cultural e riqueza etnográfica.483

De salientar, que alguns funcionários da fábrica integram nos seus tempos livres o Rancho Folclórico do Porto Formoso, do qual Regina Mendonça é directora artística, estabelecendo-se assim uma relação entre o trabalho, a promoção e preservação da cultura local.

Em 2005, os proprietários do Chá do Porto Formoso apostaram na abertura de um trilho pedestre, com cerca de cinco quilómetros, ao longo do qual se podem ver a fábrica e várias plantações de chá.

O chá do Porto Formoso é um espaço muito visitado durante todo o ano, embora com maior incidência nos meses de Verão, sendo o seu público muito vasto e heterogéneo. De facto, como foi noticiado em 2005, a Fábrica de Chá e o edifício museu que mostra toda a história da

unidade, é visitada anualmente por 20 mil pessoas. O ponto alto é o Verão. Nos restantes meses, há uma quebra de visitantes, mas segundo o responsável pela fábrica, José António Pacheco, é compensada pelas visitas de alunos de várias escolas da ilha e por açorianos, que cada vez mais fazem turismo cá dentro.484

483 www.chaportoformoso.com. Último acesso em 2009-05-09. 484 Rebelo, 2005: 7.

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Em 2006, por iniciativa dos proprietários do Chá do Porto Formoso, apoiados por um grupo de amigos, e como forma de apoiar, divulgar e promover aquela unidade produtiva, foi criada a

Confraria do Chá Porto Formoso, do qual José Pacheco é presidente. Em Outubro de 2008, essa

confraria promoveu o Seminário Ao Encontro do Chá, onde intervieram vários especialistas que abordaram a temática do chá numa perspectiva técnico-científica. Esse evento foi complementado com outras iniciativas de que destacamos uma exposição de fotografia Sentir o

Chá.

No âmbito das actividades culturais e científicas ligadas ao Chá do Porto Formoso e ao seu espaço museológico, tem sido promovida a investigação e a publicação de alguns estudos sobre a temática do chá.485

A nível de perspectivas futuras, os proprietários do Chá do Porto Formoso tencionam manter e enriquecer o seu espaço museológico, uma vez que aquele constitui uma mais valia para a actividade que aquela fábrica desenvolve.486