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Museu Local do Pico da Pedra

II PROCESSOS MUSEOLÓGICOS EM SÃO MIGUEL: 1974-

12. Museu Local do Pico da Pedra

A génese do Museu Local do Pico da Pedra remonta a Agosto de 1976, altura em que a Banda Filarmónica Aliança dos Prazeres comemorava o seu décimo oitavo aniversário. Para assinalar a efeméride, e ao mesmo tempo angariar verbas, um grupo de pessoas do Pico da Pedra ligadas à cultura local, resolveu organizar uma série de actividades na área do desporto, teatro e uma exposição etnográfica, esta última no salão paroquial. Para essa exposição foram efectuadas recolhas por toda a freguesia, com a colaboração da população, das quais foi realizado um inventário sumário. Essa exposição, que possibilitou aos organizadores o aprofundamento de conhecimentos sobre a cultura e a história locais, despertou o interesse de muitos picopedrenses para a preservação e valorização da sua memória colectiva e do seu património cultural local. Neste sentido, várias pessoas manifestaram interesse em efectuar doações de objectos, desde que os organizadores daquela exposição tivessem um espaço para a sua salvaguarda, o que não foi possível na altura.

A intenção porém não foi esquecida e ao longo dos anos, foram surgindo ideias no sentido de criar um espaço museológico. Reflexo desse propósito foi, por exemplo, a notícia publicada pelo Correio dos Açores, em 1980, de que a Casa de Povo do Pico da Pedra iria abrir uma Sala Etnográfica, e que se estavam a reunir os primeiros objectos.412 Um ano mais tarde, em 1981, o

Açoriano Oriental publicava um artigo de um picopedrense, que alvitrava a criação de um

411 Depoimento de António Vieira prestado em Julho de 2009.

412 “Casa do Povo do Pico da Pedra. Sala etnográfica arranca com um livro de 431 anos”. 1980, in Correio dos Açores. 14 de

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Museu da Autonomia, na casa do Dr. Dinis Vieira da Mota, no Pico da Pedra.413 No entanto, nenhum desses projectos foi concretizado.

Apesar disso, todos os anos, no âmbito das festas locais, continuaram a realizar-se diversas exposições, organizadas pela Junta de Freguesia, e que decorriam nos espaços da autarquia, Salão Paroquial, Casa do Povo e Associação Cultural, Recreativa e Desportiva do Pico da Pedra.

Em 1990, a Junta de Freguesia, constituída por Luís Bernardo, Gilberto Bernardo e Fernando Alves, com o intuito de aproveitar um espaço que estava cedido à Associação Cultural, Recreativa e Desportiva do Pico da Pedra para fins de valorização cultural e social dos jovens da freguesia, transformou um antigo barracão “num edifício de duas salas e uma falsa, destinado à montagem de exposições e preservação da nossa memória colectiva.”414 As obras decorreram ao

longo de 1991/1992, de acordo com o projecto do arquitecto Roberto Oliveira, e contaram com o apoio da Câmara Municipal da Ribeira Grande e da Secretaria Regional da Habitação, Obras Públicas, Transportes e Comunicações.

Paralelamente, a 10 de Junho de 1990 foi nomeada a Comissão Coordenadora das actividades do museu, de acordo com o Regulamento do Museu Local do Pico da Pedra, aprovado em Assembleia de Freguesia e sob proposta da Junta, no dia 29 de Abril desse ano. Essa comissão era constituída por Gilberto Bernardo, João Couto, Inorinda Duarte, Paula Cabral, Osvaldo Cabral, Teresa Barbosa e Cidália Soares, todos pessoas ligadas às iniciativas culturais da freguesia.

Começaram a reunir a colecção do museu com doações da comunidade local, constituída essencialmente por objectos etnográficos.

Com a designação de Museu Local do Pico da Pedra, por sugestão do director da Casa da Cultura da Ribeira Grande, Dr. Mário Moura, que apoiou o projecto nessa fase inicial, abriu ao público a 13 de Junho de 1993, integrado na Semana Cultural da freguesia. A exposição As

413 Bernardo, 2007: 130. 414 Idem.

142/318 Memórias do Povo e a Exposição de Pintura de José de Almeida marcaram o início de vida do

museu. Na inauguração, para além da comunidade local, estiveram presentes diversas individualidades de que destacamos o então Presidente do Governo Regional dos Açores, Dr. João Bosco Mota Amaral, o Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, o Director da Casa da Cultura da Ribeira Grande, e a Junta de Freguesia do Pico da Pedra.

Ao longo da sua história, o Museu Local do Pico da Pedra foi formando uma pequena colecção essencialmente de objectos etnográficos, que conta com aproximadamente 300 peças, as quais foram inventariadas e estudadas.

Apesar de ser detentor de uma pequena colecção, este museu tem funcionado sempre com exposições temporárias, de temáticas diversas, que se realizam em determinados períodos do ano, designadamente por altura das festas da padroeira, na semana cultural e no Natal. Essas exposições são de natureza diversa, e vão desde artesanato às artes plásticas.415 De salientar que, antes da realização de uma exposição são efectuados trabalhos de pesquisa e produzida informação para disponibilizar ao visitante.

Paralelamente, têm sido organizadas diversas acções educativas, de dinamização e formação, designadamente ateliers de expressão plástica e cursos de formação para crianças, em desenho, pintura e modelagem.

Tutelado pela Junta de Freguesia do Pico da Pedra, desde 2002, o edifício deste Museu Local foi cedido416 à Associação Ecológica Amigos dos Açores e à Ecoteca da Ribeira Grande, que o mantêm aberto diariamente e que, no âmbito das suas actividades, têm promovido acções de defesa do ambiente, especialmente dedicadas ao público escolar do concelho.

Por altura das festas da freguesia, a Comissão Coordenadora do Museu, dirigida por Gilberto Bernardo, seu principal dinamizador, continua a organizar exposições de temáticas diversas, na

415 Anexo H: Exposições Temporárias do Museu Local do Pico da Pedra 1993-2007.

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sala do primeiro piso, sempre com o intuito de divulgar a cultura e a história local, e de promover social e culturalmente a população do Pico da Pedra.

Finalmente, importa referir ainda, a forma como a Comissão Coordenadora das actividades do Museu Local do Pico da Pedra entende a missão daquele espaço museológico: “Um museu pode não ter certas características arquitectónicas nem possuir colecções para “inglês vêr”. Mas, deve ser sempre um espaço onde se mostre, onde se estude, onde se divulgue, valorize e estimule o engenho e a arte de uma população.”417