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4 O PROGRAMA DE PREFERÊNCIAS COMERCIAIS PARA OS ANDES

4.3 Mudanças introduzidas pela ATPDEA

A ATPA expirou em 4 de dezembro de 2001. Em 6 de agosto do 2002 o programa foi renovado e ampliado, com efeito retroativo, por meio da Andean Trade Promotion and Drug Eradication Act - ATPDEA33. Entre os fatos identificados pelo Congresso dos Estados Unidos para justificar a renovação do programa, destacam-se:

a) aumento do comércio entre Estados Unidos e os beneficiários na década de 90, sendo os Estados Unidos o principal parceiro comercial dos beneficiários;

b) a ATPA consiste em elemento chave na estratégia norte-americana de combate ao narcotráfico, promovendo diversificação de exportações, desenvolvimento econômico e alternativas econômicas sustentáveis para combater a produção de coca, com o fortalecimento de atividades econômicas legais;

c) apesar do sucesso da ATPA, os países andinos continuam a enfrentar instabilidade econômica e política, estando vulneráveis à guerra do tráfico;

d) a instabilidade nos Andes é uma ameaça aos interesses de segurança dos Estados Unidos e do mundo;

e) a ATPA é um compromisso concreto dos Estados Unidos com a prosperidade, estabilidade e democracia nos países beneficiários;

f) a renovação e a ampliação da ATPA contribuirão para aumentar a confiança do setor privado e de investidores estrangeiros nas perspectivas econômicas na região;

g) os beneficiários estão comprometidos a concluir as negociações da ALCA até 2005, como forma de “fortalecer a segurança econômica da região”;

h) a ampliação temporária das preferências comerciais à região ajudará a promover o livre empreendimento e as oportunidades econômicas para os beneficiários e “servirá aos interesses de segurança dos Estados Unidos, da região e do mundo”.

33 A ATPDEA foi promulgada como parte da Trade Act de 6 de agosto de 2002, Title XXXI, “Andean Trade Preference Act.”

Os benefícios do programa foram estendidos até 31 de dezembro de 2006. Como, em 2002, previa-se que as negociações da ALCA e as negociações multilaterais na OMC estivessem concluídas em 2005, estimava-se que até 2006 os benefícios unilaterais do programa já tivessem sido consolidados por meio dessas negociações.

Quanto aos critérios de elegibilidade para os novos benefícios criados pela ATPDEA, refletem em grande medida as demandas dos Estados Unidos já feitas no âmbito da OMC e de acordos regionais de comércio. Os novos critérios incluem:

a) cumprimento das obrigações assumidas nos acordos da Rodada Uruguai da OMC; b) participação de negociações para a formação da ALCA ou celebração de outro

acordo de livre comércio com os Estados Unidos;

c) proteção de direitos de propriedade intelectual num nível igual ou superior ao estabelecido no Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (Acordo TRIPs);

d) proteção aos direitos trabalhistas internacionalmente reconhecidos, inclusive adoção de medidas para eliminar as formas mais graves de trabalho infantil;

e) cumprimento dos requisitos para certificação de cooperação no combate às drogas; f) medidas adotadas pelo país para tornar-se parte da Convenção Inter-americana

Contra a Corrupção, implementando-a;

g) adoção de procedimentos transparentes, não-discriminatórios e competitivos em compras governamentais, equivalentes aos definidos no Acordo Plurilateral sobre Compras Governamentais firmado no âmbito da OMC;

h) apoio aos Estados Unidos no combate ao terrorismo34.

Quanto aos produtos elegíveis, a ATPDEA abriu a possibilidade do presidente estender a isenção tarifária para produtos em geral sensíveis à importação, como: algumas linhas tarifárias de artigos têxteis e de vestuário; calçados; petróleo e derivados; elógio e suas partes; artigos de couro. Permanecem excluídos do programa: vários artigos têxteis e de vestuário; atum enlatado; açúcar, xaropes e melaços; rum e táfia.

Seja pela exclusão de produtos sensíveis, regras de origem, preservação do sistema de quotas tarifárias ou exigência de relatórios que indiquem potencial ameaça ao mercado norte-

americano, verifica-se que diversos mecanismos são acoplados para que a abertura gerada pelo ATPA não cause efetiva concorrência com produtos domésticos. Além disso, caso essa situação se configure, o instrumento da salvaguarda permite aos Estados Unidos suspender os benefícios concedidos, ainda que temporariamente.

Percebe-se que, como apontado na revisão de outros programas feita na Seção 2 deste trabalho, o ATPA está repleto de requisitos e obrigações que os países devem cumprir para serem elegíveis. Tais critérios, estabelecidos de forma discricionária e unilateral, cobrem tanto aspectos comerciais – como a participação em negociações para um futuro acordo de livre comércio – quanto temas como combate ao tráfico e propriedade intelectual.

Outro elemento que emerge do ATPA é a explícita vinculação do programa com os acordos da OMC. A expansão de critérios de elegibilidade feita pela ATPDEA, em 2002, não apenas confirma essa intenção como amplia as obrigações dos beneficiários além do nível de compromisso atualmente requerido pelo sistema multilateral de comércio. O tema de compras governamentais, incorporado como condicionalidade na ATPDEA, está regulado por um acordo subscrito por um pequeno número de Membros da OMC e, na atual Rodada Doha, nem mesmo entrará em negociação.

No caso do ATPA, a inclusão da expressão “não-recíproca” na denominação Programa de Preferência Comercial é inadequada. Ainda que a leitura da reciprocidade seja restrita ao âmbito de tarifas, os itens (a)(iv) e (b)(iii), relacionados à Designação dos beneficiários (seção 4.2.1) e o compromisso de negociar acordos de livre comércio com os Estados Unidos, revelam que a abertura comercial por parte dos beneficiários é esperada. Se a interpretação de reciprocidade for feita de forma mais abrangente, incluindo a idéia de pagamento pelas concessões, a série de condicionalidades imposta oferece uma compensação explícita aos Estados Unidos.

Dessa forma, consideramos que a expressão “preferências comerciais unilaterais” é mais adequada do que a expressão “preferências comerciais não-recíprocas”. Apesar da diferença sutil, o termo “unilateral” capta melhor a idéia de unilateralismo e discricionariedade da concessão, sem reforçar a idéia equivocada de não-reciprocidade.