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Mudando o cenário: as Esquerdas e o Movimento Estudantil na segunda

No documento gisleneedwigesdelacerda (páginas 91-106)

da década de 1970

A partir de 1974, outros pontos delineavam as divergências entre os diferentes grupos e organizações de esquerda que permeavam o Movimento Estudantil. Maria Paula Araújo classifica em três formas os pontos em torno dos quais a esquerda se dividia e se agrupava:

uma questão estratégica: ‘reforma e revolução’ (que era uma derivação da critica à concepção das etapas); b) uma questão tática: a luta pelas liberdades democráticas; c) uma questão de filosofia política: como encarar e se relacionar com os movimentos específicos, a fragmentação e a valorização da subjetividade (2000: 120).

O debate em torno da democracia, que envolvia diversos dos grupos e organizações, expandiu-se de forma a atingir o movimento estudantil, visto que todos eles tinham forte atuação nas universidades. As organizações de esquerda “viam no projeto de distensão e abertura política, uma articulação de transição ‘por cima’ para um regime democrático”. Nesta perspectiva, cabia aos movimentos de oposição ao regime “alargar” os contornos dessa distensão, mudando o projeto de uma transição de cima pra baixo, mas introduzindo a participação das classes populares e dos trabalhadores. (ARAÚJO, 2000: 117).

O objetivo era construir um novo campo de oposição à ditadura militar que se tornasse visível e rompesse com os limites da clandestinidade. Nesta perspectiva, valorizava-se uma luta política que fosse legal e a participação em espaços públicos e abertos. Contudo, nesse processo de abertura, temos dois fatores importantes. Além da disputa interna entre radicais e

moderados. Havia um grande embate entre o governo e a oposição, figurada principalmente nas organizações de esquerda, fossem marxistas ou não. (ARAÚJO, 2000: 119).

Como já abordamos no primeiro capítulo deste trabalho, novos sujeitos ganharam destaque a partir da segunda metade da década de 1970 em meio à abertura, entre os quais podemos citar: o MDB, que obteve significativas vitórias eleitorais em 1974 e 1978; organizações profissionais como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil); o novo sindicalismo; a Igreja Católica, em especial através das CEB’s e pastorais, e os movimentos sociais de minorias. Outros movimentos ressurgiram com destaque neste contexto, o caso do Movimento estudantil, “organizado em seus diretórios e centros acadêmicos, nos quais se confrontavam as ‘tendências’ que eram, na verdade, as expressões universitárias e legais de organizações de esquerda clandestinas”. (ARAÚJO, 2000: 119).

Araújo destaca que o Movimento Estudantil foi palco dos principais debates em torno das concepções de luta democrática que fragmentava as esquerdas.

Cabe destacar que um dos principais palcos desse debate em torno das diferentes concepções de luta democrática foi, sem dúvidas, o movimento estudantil. Nas assembléias estudantis, as diferentes posições políticas, representadas nos diretórios e centros acadêmicos, travavam acirradas polêmicas em torno de palavras de ordem e de propostas de ação. (...) Ou seja, o antigo conflito que existia no interior da esquerda entre “prudência versus enfrentamento”, “negociação versus radicalização” de certa forma ainda persistia. (ARAÚJO, 2007b: 334).

A crítica, antes destinada ao PCB e ao PC do B, considerando-os reformistas, voltou- se contra as organizações atuantes na luta de resistência. A resistência era vista como permeada de valores humanistas, universalistas e democráticos, contudo, também se entendia resistência como uma “luta de derrotados, porém de derrotados prudentes e esperançosos”. O objetivo primordial da mesma refere-se a “um projeto de acumulação de forças, de preservação de quadros e de espaços já conquistados; as atividades são cercadas de rígidas medidas de segurança”. Assim, a definição de uma luta de resistência era uma “tentativa de sair do isolamento vivido pelos grupos armados” (ARAUJO, 2000: 123-124).

Dessa forma, dentro da esquerda brasileira, com reflexos dentro do Movimento estudantil, configurou-se uma nova polarização: “de um lado, os que concordavam com uma luta de resistência, pelas liberdades democráticas; de outro, militantes e organizações que consideravam essa proposta uma reedição do reformismo do comunismo tradicional brasileiro” (ARAÚJO, 2000: 124).

Nessa polarização, encontramos, no bloco das “Liberdades Democráticas”, o PCB e o PC do B, seguido do MR-8, a APML e algumas organizações trotskistas, como a

Convergência Socialista e a Liberdade e Luta (ARAÚJO, 2000: 124). Este grupo atuava em campanhas pelos direitos democráticos, como a liberdade de imprensa; pela anistia ampla, geral e irrestrita; pela liberdade de organização e expressão; denunciando torturas, entre outras coisas. Este grupo valorizava também a disputa política eleitoral através de “candidaturas populares” pelo MDB.

De outro lado havia o grupo liderado pela PO, composto também pelo MEP. Eram contra a luta democrática, por compreendê-la como reformista. Para este grupo, levantar bandeiras de luta econômica evitava a “diluição reformista”. Segundo Maria Paula Araújo, para este grupo,

Manter-se nos limites da luta econômica evitaria a diluição das bandeiras democráticas, enfrentaria a questão crucial do ‘arrocho’ salarial da classe trabalhadora e, dado o traço autoritário do governo brasileiro, toda luta econômica – pelo enfrentamento de um governo que não admitia diálogo – se transformaria, necessariamente, em luta política. Essa era a posição do PO (2000: 125).

Para a mesma autora, as discussões políticas acaloradas retomavam seu espaço entre os estudantes. Entretanto, no Movimento Estudantil, mesmo com suas peculiaridades, se espelhava no debate central das esquerdas naquele período. No meio universitário, a postura da PO foi adaptada: “o movimento estudantil deveria ser chamado a lutar contra a política educacional do governo, a ‘PEG’ – sendo, por esse motivo, chamados de ‘peguistas’” (ARAÚJO, M.P., 2007a: 216).

Sobre essa divisão em dois blocos e sobre a posição do MEP, Ignacio Delgado traz na memória que,

Antes desse despertar de 1977 (...) você via dois grandes campos (...) que eram os peguistas e os liberdades democráticas. Os peguistas eram aqueles que achavam que o Movimento Estudantil tinha que lutar contra a política educacional do governo – PEG, por isso eram chamados de peguistas, o principal motivador dessa posição era o MEP e o resto da turma falava em liberdades democráticas, aí você tinha um balaio que não era articulado na luta pelas liberdades democráticas. Mas o MEP, os peguistas como a gente falava, falavam isso porque achavam que liberdade democráticas era uma coisa burguesa, não é porque eles achavam que o movimento devia se autolimitar a questões específicas, é que na hora que eles puderem por a cara pra fora eles não falavam em liberdades democráticas, mas em governo dos trabalhadores, só que na penumbra da ditadura era uma coisa que eles se encontravam até com a Direita, mas não é que eles se encontravam, se articulavam com a Direita, mas era um discurso que tinha eco junto ao estudante de Direita. (Ignácio Delgado, entrevista de pesquisa).

O MEP, apesar de se alinhar à PO na critica a atuação dos grupos que lutavam pela liberdade democrática, tentava ter uma posição intermediária. Contudo, pressionado pelo movimento estudantil, recuou em algumas posições rígidas, como a que considerava a luta democrática uma luta reformista, apenas permitindo a existência da luta econômica. Assim,

mudou sua palavra de ordem para: “liberdade de organização, expressa e manifestação para todos os oprimidos e explorados”. Destarte, contemplava a todos. (ARAÚJO, M.P., 2007a: 216).

A tendência Convergência Socialista se originou de um grupo de militantes que estavam exilados no Chile. Dentre eles estava Mario Pedrosa e o trotskista peruano Hugo Blanco, que entraram em contato com IV Internacional e formaram o grupo Ponto de Partida, em 1972. (MARQUES, 2007: 157).

Em 1973, após o golpe militar chileno, um dos militantes do Ponto de Partida e ex- militante do PCBR, foi executado no Estádio Nacional e o Ponto de Partida se dispersou. Cada membro foi exilado ou fugiu para outros lugares. Alguns que fugiram para a Argentina fundaram a Liga Operária (LO). Esta se organizou em torno da tendência leninista do Secretariado Unificado (SU), mantendo relações estreitas com o PST argentino, que criou em 1977 a Fração Bolchevique no interior do SU.

Ao retornar para o Brasil em 1974, logo a LO se vinculou ao Movimento Estudantil, devido ao fato deste estar em ascensão no contexto nacional. Mas em 1975, a LO colocou como prioridade, além da atuação no Movimento Estudantil, o trabalho no movimento operário, deslocando para o interior das fábricas militantes de origem estudantil. No inicio de 1978, a LO lançou o Movimento Convergência Socialista, “conclamando os setores socialistas para a formação de um partido socialista”. Em 1983, devido ao crescimento atingido dentro do movimento estudantil, em especial o secundarista, a CS adotou o nome de Alicerce da Juventude Socialista. No entanto, no ano seguinte, conforme afirma Rosa Maria Marques (2007: 158), retomou o nome Convergência Socialista por ocasião da ascensão vivida no movimento operário. A CS apoiou a fundação do PT desde o primeiro momento24.

Percebemos que o Movimento Estudantil era composto por tendências políticas de bases ideológicas diferentes e que representavam os diversos partidos e organizações de esquerda que disputavam a direção das entidades representativas locais, após a reconstrução da UNE, também pela entidade nacional. Contudo, para Ridenti, essas organizações no meio estudantil não apresentavam grande grau de estruturação.

24 Considerando que o PT apontava para a construção de um partido independente de trabalhadores, a

convergência socialista realizava profundas críticas à sua direção. Dentro do PT, aos poucos, a CS adotaria uma tendência a radicalizar-se. Porém, permanecia no interior do partido, devido à liberdade dada pelo PT à coexistência de tendências. Contudo, após a realização do I Congresso do PT que aprovou resoluções que regulavam a dinâmica das tendências internas ao partido, a CS teve que diminuir suas margens e, logo em seguida, em 1992, foi expulsa do PT, sendo acusada de ter desenvolvido ações de oposição ao governo federal sem autorização do partido (MARQUES, 2007: 159). Dessa ação, após a CS convocar a formação de uma Frente Revolucionária, no ano de 1993, surge o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados, o PSTU.

Apesar da existência de inúmeras correntes no movimento estudantil, não se deve imaginar nem que a organização das esquerdas no meio estudantil era muito sofisticada, nem que a maioria dos estudantes era manipulada pelas lideranças militantes nas organizações clandestinas. Ao que tudo indica, a influência tanto das idéias como dos grupos de esquerda no ME era difusa entre os estudantes, estivessem eles organizados politicamente ou não (1993: 135).

A existência, entretanto, de tendências estudantis vinculadas a organizações clandestinas era uma constante. Segundo Maria Paula Araújo, “fugindo do estigma da ilegalidade, partidos e organizações de esquerda clandestinas estruturavam ‘tendências políticas’ legais que atuavam no movimento estudantil”. Para a autora, “essas tendências expressavam posições de organizações clandestinas ou grupos independentes” e tiveram grande expressão a partir de 1974, bem como se faziam presentes nas chapas para concorrer aos Diretórios Acadêmicos e aos DCE’s (Diretório Central dos Estudantes), que estavam sendo reabertos nas universidades. (ARAÚJO, M.P., 2007: 214).

Dentre estas tendências estudantis vinculadas a uma organização clandestina está a Estratégia, corrente interna do ME juizforano. Na lembrança de Ignacio Delgado, ex- militante desta tendência, a dualidade da existência de uma organização clandestina que estava por trás da tendência estudantil era uma realidade do grupo do qual o mesmo participou. No entanto, este fato era desencadeador de desentendimentos e problemas dentro da tendência estudantil.

Existia uma dualidade organizacional, a organização leninista e a tendência de massa. Esta era enorme. Nós fazíamos reunião no DCE com 100 pessoas no domingo a noite pra estudar texto marxista, fazíamos curso de férias, mas um grupo de umas vinte pessoas eram organizadas num núcleo clandestino, e tal núcleo não era muito conhecido do outro grupo, o que desenvolveu muita desconfiança. Foi um equivoco, era uma orientação nacional da posição que nós seguimos aqui e eu, particularmente, tive muita responsabilidade nisso. Minha adesão ao leninismo era quase uma questão de fé. Acabou parecendo uma coisa meio manipulatória. Algumas pessoas chegaram a virar inimigas nossos quando ficaram sabendo disso. Tinha uma menina da Enfermagem, a Bel – grande liderança na sua escola - que rompeu relações comigo. Nós entramos na Enfermagem através dela. Lembro-me que, em 1978, depois que nós perdemos a primeira eleição, eu estava pelos corredores do ICB, olhando desolado para nossos cartazes quando a Bel – ainda não a conhecia - veio meio me consolando, o que logo me despertou: Opa, “você é, da enfermagem?, vem cá, vamos conversar”, e assim trouxemos ela pra dentro da tendência. Essa menina depois que descobriu que existia uma organização clandestina, além daquilo que parecia uma grande reunião de amigos, se sentiu completamente ofendida e nunca mais conversou com a gente. Teve algumas pessoas (...) que eram grandes lideranças de massa – (...) que nunca foram recrutados, senão para a área próxima, que era uma espécie de estágio probatório, antes do ingresso na própria organização. (Ignácio Delgado, entrevista de pesquisa).

A organização clandestina que estava por traz da organização estudantil não era de conhecimento de todos que estavam vinculados a ela, que era a “vitrine” visível da organização dentro da universidade. Muitos foram os militantes que, por muito tempo

atuaram em tendências como estas e não tomaram ciência do que havia por trás. O segredo em não revelar inicialmente ao militante que se aproximava da tendência do ME, se mostrava como uma forma de segurança para os militantes que eram vinculados às organizações clandestinas, resguardando-se dos militares. Na memória de Flávio Bitarelo, ex-militante da LIBELU, a existência de uma organização clandestina atuando por trás da tendência estudantil era um fato presente na sua militância.

Agora, o pessoal que participava da tendência estudantil não eram todos da organização, você tinha alguns que eram. Isso todas as outras organizações faziam mais ou menos a mesma coisa. Então você tinha alguns, não muitos, os militantes que eram da organização clandestina e outros que só atuavam ali com o Movimento Estudantil, porque, aí você tinha que saber também que, as tendências também atuavam como uma frente de luta. Então você atraía às vezes as pessoas que elas vinham, ouviam a sua discussão, tanto nacionais, nacionais quanto internacionais. (Flávio Bitarelo, entrevista de pesquisa).

Sobre as organizações de esquerda clandestina, Beatriz Domingues, ex-militante da LIBELU, revela sua memória de como eram organizadas, do centralismo democrático e do funcionamento das mesmas.

O centralismo democrático é o seguinte, as organizações clandestinas tomavam a forma Leninista de organização, que chama centralismo democrático. Os inimigos chamam de centralismo burocrático porque muito centralizado, na verdade pouca democracia. Era o seguinte, tinha uma discussão, a organização era organizada assim em células, tinha o comitê central, era a mesma estrutura de um partido comunista. Tinha o comitê central e os diferentes comitês regionais, que pra eles ia fazer um organograma. Então tinha as decisões que o comitê central tomava, passava a decisão pras células; as células tinham que discutir e se convencer da veracidade daquilo que tava sendo dito ou não. Se discordasse ia ter uma discussão ali dentro, mas você teria que vencer a eleição dentro da célula pra aí a discussão voltar ao topo da pirâmide, e isso era um processo muito complicado, porque era muito centralizado. E nesse ponto, embora eu tenha pertencido apenas a LIBELU, eu sei que todas funcionavam do mesmo jeito inclusive quando os aparelhos repressivos pegaram os grupos de esquerda, eles também já sabiam muito desse funcionamento. Porque havia muitas vezes infiltrações das pessoas que eram da ditadura, você tinha que ter muito cuidado ao recrutar uma pessoa, você podia tá recrutando uma policial, um dedo-duro, que ia entrar ali, desbaratar aquela coisa e ia entregar os nomes, os nomes verdadeiros das pessoas, como de fato chegou a acontecer em várias organizações da década de 1960, quando eles pegavam uma pessoa, pegava um aqui e era efeito dominó. (Beatriz Domingues, entrevista de pesquisa).

As organizações clandestinas tinham uma intensa atuação também em outros segmentos além do estudantil, como o sindical; e o apoio entre eles era recíproco. Muitos militantes chegaram a ser enquadrados na lei de segurança nacional. Um exemplo disto foi um fato vivido por um ex-militante da OSI, Organização Socialista Internacionalista, organização clandestina que atuava por trás da LIBELU; lembrada por Flávio Bitarelo e Beatriz Domingues. Essa tendência estudantil foi acusada de programar um atentado terrorista contra

o presidente Figueiredo. Esse fato, ao causar insatisfação entre os militantes pela postura da polícia, levou a LIBELU a elaborar uma “Carta ao povo brasileiro”, que foi assinada inicialmente pelas intuições ligadas a OSI, mas posteriormente várias entidades foram incorporadas na lista de assinatura da carta de contestação, fato que leva todos a serem posteriormente enquadrados na lei de segurança nacional.

Você sabe que o Tiradentes passou a ser herói definitivo com o regime militar. Então todo presidente militar a partir do período, (...) transferiram simbolicamente a capital Brasília pra Ouro Preto. Então a gente sabia que o Figueiredo ia tá lá dia 21 de abril e planejamos pra começar. E esse militante era o representante nosso lá. Morava em Ouro Preto, formou lá. Ele formou em Engenharia de Minas (...) Uma semana antes do dia 21 de abril (...) a Guarda Republicana do Figueiredo, chegou lá e invadiu as repúblicas todas pra fazer uma limpeza, pegar todo mundo que eles tinham, e esse militante, eles invadiram a casa dele, plantaram uma bomba desmontada na casa dele. O cara fez Engenharia de Minas então ele sabe fazer bombas, mexer com essas coisas. E aí, eu assisti pelo Jornal Nacional. “Polícia Federal descobre bomba que estava sendo armada pra jogar no Figueiredo. Militante era da OSI”. Eu fiquei assim, vendo o Jornal Nacional. E eu tinha estado lá, menos de 30 horas em Ouro Preto reunido. Então, uniram e conseguiram (...) todo mundo, tirar ele de Ouro Preto. Sumiram com ele. Quinze dias depois ele se apresentou lá no DOPS – Departamento de Obras Políticas – eles colocavam no Estado de Minas, como terrorista procurado, ele foi tachado de terrorista. Ai esperou. Quinze dias depois armou um esquema grande, um monte de gente, advogado, imprensa, um monte de jornal visando. Ele chegou andando lá e se entregou no DOPS e acabou sendo julgado aqui na auditoria. E aqui eles condenaram ele. Aí recorreu, aliás, nós conseguimos provar que o negócio tinha sido todo armado, o flagrante, tinha uma bomba desarmada lá, chegou aqui, a testemunha disse que tava passando na rua e chamaram ele pra ver lá “você ta vendo uma bomba aqui, então você é testemunha de que tem uma bomba”, coisa armada. E a gente foi pra Brasília, aí nós conseguimos manter ele livre. Aí em Brasília veio a ordem (...) Superior Tribunal Militar, mandaram prender (...). E isso começou a ter vários ataques militantes nossos em Minas Gerais, aconteceu com ele, depois aconteceu em Barbacena, o outro também que usaram da bomba. Aí nós soltamos uma carta aberta aqui, contra a prisão dele. Essa carta, recolhemos a assinatura de todo mundo, até do presidente do MDB, que era um coronel do Exército, não concordou com o regime, rompeu com o regime, professor da Engenharia, muito sério. (...). Pegamos assinatura de um monte de DA, de quem tava no DCE na época, que era o Pestana, (...), lá tinha umas dezoito pessoas que assinaram. E metemos crítica à auditoria militar, que o negócio tinha sido forjado, que era militar. Para resultar o conselho da auditoria enquadrou todo mundo na lei de Segurança Nacional. Aí começou um processo que durou mais de anos chamando pra depoimento na polícia federal, que enquadrou todas as entidades da lista que teve alguém que se responsabilizasse por elas. Todas as entidades. E ainda os jornalistas, o jornal Diário Mercantil na época, (...) também foram enquadradas. (...) Isso redundou num processo que pegou vários militantes (…). (Flávio Bitarelo, entrevista de pesquisa).

Em 1980 (...) o Maximiliano, que era militante em Ouro Preto foi acusado no dia 21 de abril. O presidente era o Figueiredo. O Figueiredo foi a Ouro Preto pras comemorações de Tiradentes e a polícia plantou uma bomba na casa dele. Aí falou que ele tava planejando explodir aquela bomba na visita do Figueiredo. Quando ele viu o que tava acontecendo ele nem voltou pra casa, ficou apavorado. Fugiu. Veio pra Juiz de Fora, se hospedou na minha casa e eu morri de medo na época eu fiquei com medo e aí começou a maior pressão da polícia perseguindo, o Davi tem que aparecer lá na polícia pelo menos pra depor, e ele acabou se entregando. E aí viu que

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