As organizações se utilizam do capital de terceiros para financiar suas necessidades (de imobili- zação e Capital de Giro).
A análise de endividamento se fundamenta na relação entre capital próprio e de terceiros e dos elementos do capital de terceiros entre si.
Vejamos alguns índices de endividamento:
Garantia do capital de terceiros (E
:::: 1)
E1 = Patrimônio Líquido
Passivo Circulante + Passivo Exigível a Longo Prazo
Quanto maior a participação do capital de terceiros, mais vulnerável estará a empresa a eventuais anormalidades nos negócios, tornando-a dependente dessas captações.
Acrescente ainda o ônus dos encargos financeiros que comprometem parte dos lucros, ocasio- nando o repasse deste para o preço de venda.
A medida mostra a composição do capital (de terceiros e próprio). Quanto maior a participação do capital de terceiros (volume de dívidas), maior o risco da empresa e consequentemente a pressão para se gerar caixa.
Existe um grupo denominado de Resultados de Exercícios Futuros, que a princípio deveria ser incluído no denominador, mas como raramente aparece não o foi.
O grupo resultados futuros pode ser considerado capital de terceiros para fins de análise. Quanto menor for o índice, maior tende a ser o risco, mantidos constantes os demais fatores.
Informações complementares à medida: prazo da dívida, indicação das dívidas de maior impacto ou representatividade (análise vertical) e evolução das obrigações (análise horizontal).
Exemplo de interpretação: E1 = 0,70
“A cada R$1,00 de Passivo, a empresa tem R$0,70 de capital próprio.” E1 = 0, 20
“A cada R$1,00 de Passivo, a empresa tem apenas R$0,20 de capital próprio. Este quadro revela relativa dependência do capital de terceiros.”
Quando a participação do capital de terceiros é expressiva, pouca é a garantia ou cobertura pro- porcionada pelo capital próprio aos compromissos assumidos pela empresa.
Outras medidas complementam a avaliação:
E2 = Patrimônio Líquido Ativo Total
E3 = Passivo total Ativo Total
E4 = Despesas financeiras do Imposto de Renda Empréstimos + financiamentos
Onde E4 é conhecido como custo do capital oneroso, medida importante para avaliação do ônus da utilização de recursos oriundos de empréstimos e financiamentos.
Exemplo de interpretação::
E2 = 0,30
“A cada R$1,00 de ativo, o capital próprio contribui com R$0,30” E3 = 0,70
“A cada R$1,00 de ativo, o capital de terceiros contribui com R$0,70” Ambas as medidas permitem avaliar a estrutura de capital da empresa. Qual a proporção de financiamento dos ativos com capital de terceiros? Qual o grau de comprometimento dos ativos de uma empresa?
O índice E3 é denominado de “Grau de endividamento”, “Índice de dependência financeira” e de “Grau de cobertura dos ativos’”
A medida apresenta a proporção dos recursos de terceiros em relação ao total de aplicações (investimentos) da empresa. Quanto maior o índice, maior será o risco para o credor, especialmente quando os ativos não forem tão líquidos; apesar de o índice ser um importante sinalizador de risco, sua análise exige prudência.
Ao se questionar qual a composição dos ativos, constata-se que uma empresa pode apresentar ativos superiores ao capital de terceiros e não possuir folga no fluxo de caixa ou conviver com cons- tantes atrasos (problemas com a qualidade da carteira). A medida, entretanto, não é indicadora das flutuações de caixa que possam vir a refletir sobre os pagamentos da empresa; sabe-se que o estudo da política financeira é ponto essencial para análise desse indicador.
Observa-se que na composição da fórmula há ativos com prazos de vencimento distintos (realiza- ção) e no Passivo, há exigibilidades com prazos diferenciados e não sincronizados com os vencimentos dos ativos.
Desse modo, os valores reproduzidos no balanço não indicam valores econômicos atuais nem mesmo valores de liquidação, o que exige do profissional a consideração de outros aspectos não evi- denciados.
Recomenda-se que o capital de terceiros não ultrapasse 50% do total de ativos, embora outros fatores devam ser considerados na análise. A questão que o gestor financeiro deve ter em mente é: qual o grau de comprometimento dos resultados?
Figura 4 – Analisando o endividamento Determinantes do endividamento Levantamento das aplicações Análise preliminar da viabilidade das aplicações
Verificação do nível de geração de caixa (grau de cobertura dos ativos)
Estudo da composição patrimonial (participação e prazos)
Status da estrutura patrimonial
Yu m ar a L ú ci a V as co n ce lo s.
A figura 4 relaciona os pontos críticos da análise de endividamento de uma empresa.
Perfil da dívida ::::
É importante reconhecer as características da dívida (parcela onerosa e não onerosa). As dívidas onerosas são caracterizadas pelo ônus do encargo. Exemplo: empréstimos e financiamentos.
As dívidas não onerosas representam o Passivo da estrutura: folha de pagamento, encargos tribu- tários e trabalhistas, fornecedores.
Quanto maior o volume de dívidas onerosas, maior o risco. Podemos obter o perfil da dívida como segue:
Perfil da dívida = Passivo oneroso x 100 Passivo total ou
Perfil da dívida = Passivo não oneroso Passivo total
Recomenda-se que a evolução desse perfil seja acompanhada para períodos consecutivos a fim de sinalizar uma possível tendência de comportamento.
Análise da dependência bancária ::::
Seguem índices que evidenciam o grau de dependência bancária:
Empréstimos e financiamentos (instituições de crédito) I1 =
Ativo Total
A medida sinaliza o percentual das aplicações totais que são financiadas pelas instituições de crédito.
Financiamentos de instituições de crédito I2 = x 100
Capital de terceiros
A medida representa o percentual dos financiamentos relativamente ao capital de terceiros. Financiamentos de instituições de crédito a curto prazo
I3 =
Ativo Circulante
Afere o grau de comprometimento do Ativo Circulante com financiamentos (percentual de finan- ciamentos em relação ao Capital de Giro).
Outra medida interessante é aquela que relaciona duplicatas descontadas e duplicatas a receber. Duplicatas descontadas
I4 = x 100 Duplicatas a receber
Quanto maior o índice, maior a dependência financeira e menor flexibilidade gerencial. Passivo Exigível a Longo Prazo
I5 = x 100 Passivo total + Patrimônio Líquido Esse índice de endividamento é bastante empregado.
As dívidas de Longo Prazo geralmente estão associadas a projetos de expansão de atividades (ou ampliações), razão pela qual a medida recebe atenção especial dos analistas e geralmente é alvo de estu- do. Entretanto, faz-se necessária a realização de comparações entre custo de captação e rentabilidade.
Recomendações à análise de endividamento
Vejamos os cuidados que devemos ter no processo de análise do endividamento: verifique a origem e justificativa do endividamento;
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analise o comportamento da dívida, especialmente aquelas contratadas junto às instituições
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financeiras;
analise o histórico da medida com dados da própria empresa;
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identifique o percentual de dívidas onerosas (empréstimos e financiamentos) e não onerosas
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avalie o ônus do Passivo Não oneroso, afinal é ele que mantém parte da estrutura da empresa
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funcionando;
compare o custo médio das dívidas com a rentabilidade das aplicações que consumiram os
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recursos aportados;
tome por referência padrões setoriais ou índices das concorrentes (fontes de pesquisa: revista
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Exame, Gazeta Mercantil, Valor Econômico, IBGE, Serasa etc.);
por fim, analise as notas explicativas a fim de identificar eventuais contingências.
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É comum as empresas não apresentarem condições para financiarem integralmente suas dívidas, utilizando-se então do capital de terceiros.
O uso do capital de terceiros não pode ser visto como algo preocupante (em todas as situações). Utilizar exclusivamente o capital próprio não é interessante porque o custo do capital próprio é significativo (risco inerente ao negócio e tributos sobre lucro). É sadia a utilização de capital de tercei- ros desde que este promova um retorno adequado; o que não pode ocorrer é a perda de soberania do capital próprio. Em uma análise de endividamento, o custo de capital é outro fator a ser analisado.
Quanto maior o prazo do empréstimo, maior será o custo financeiro.
Figura 5 – Custo do dinheiro
Curto Médio Longo Tempo Taxa de juros (A SS A F N ET O ,2 00 6. A d ap ta d o. )
A estrutura do Passivo deve ser analisada com cuidado, especialmente os reflexos sobre a admi- nistração do Capital de Giro.
A análise do nível ótimo de Capital de Giro passa pela avaliação do custo do dinheiro.
A taxa de juros de curto e Longo Prazos são diferentes. A taxa de juros de Longo Prazo é geral- mente maior que a de curto prazo. A explicação é o risco inerente à maturidade do aporte: quanto maior o prazo da dívida, maior o risco para o credor.
Esse risco está associado à previsibilidade do retorno. Com isso, o devedor acaba remunerando o credor pela incerteza vinculada ao prazo do empréstimo. Na hipótese de desajuste econômico, as taxas de juros podem elevar-se significativamente. Nessa situação atípica, o custo do dinheiro de curto prazo pode superar o de Longo Prazo ainda que por um curto espaço de tempo.
Imobilização
Toda empresa precisa de uma infraestrutura mínima. O imobilizado compreende o conjunto de bens e direitos que apoiam as atividades da empresa. A necessidade de imobilização depende das carac- terísticas do negócio. Cabe ao gestor financeiro estudar a melhor forma de financiar essas necessidades. Ao investir na aquisição à vista de bens do imobilizado, ou ao adquirir para pagamento a curto prazo, o gestor deixa de contar com esses recursos no giro do negócio. Portanto, quanto maiores os recursos de curto prazo destinados ao financiamento do imobilizado, maior o risco da empresa.
O ideal é que o imobilizado seja financiado com recursos próprios e/ou de Longo Prazo.
Quando o valor do imobilizado de uma entidade é superior ao capital próprio (Patrimônio Lí- quido), as imobilizações estão consumindo recursos do longo e/ou curto prazo. Quando o capital de terceiros de curto prazo (Passivo Circulante), financiam as imobilizações, o giro fica descoberto, opção de financiamento que pode levar o negócio ao desequilíbrio financeiro.
Vejamos alguns índices relevantes nessa análise:
Grau de imobilização (Gi) ::::
Ativo Permanente x 100 Gi =
Patrimônio Líquido
Quando o Patrimônio Líquido é menor que o Ativo Permanente, as imobilizações absorvem inte- gralmente o capital próprio, consumindo ainda o capital de terceiros.
Exemplo de interpretação::
Grau de imobilização = 90%
“As imobilizações absorvem 90% dos recursos próprios, restando uma pequena parcela deste capital para aplicação no giro do negócio.”
Grau de imobilização = 120%
“As imobilizações absorvem integralmente os recursos próprios e parte do capital de terceiros. Quando os recursos próprios são totalmente destinados a imobilizações, o giro fica descoberto e de- pendente do capital de terceiros.”
Qual o nível ideal de imobilização? Depende do ramo e do porte do negócio. Uma indústria, por exemplo, demanda um volume maior e as prestadoras de serviços, um volume menor. Cabe ao gestor avaliar o impacto do grau de imobilização sobre o giro.
Quanto maior o volume de recursos investidos no Ativo Permanente, maior o nível de custo fixo em decorrência do saldo de depreciação, despesa de manutenção e seguros.
Quando as imobilizações comprometem recursos do curto prazo, diminuem as alternativas de ação do gestor financeiro em relação a eventuais problemas no giro.
Inexiste um grau de imobilização padrão.
Sabe-se, entretanto, que quanto menor a relação, tanto melhor será para a empresa, que passa a ter recursos próprios no giro.