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Narrativas como uma Abordagem Didático-Pedagógica

AS NARRATIVAS NO CONTEXTO DA SALA DE AULA

2.2. Narrativas como uma Abordagem Didático-Pedagógica

A narrativa pode ser utilizada como uma abordagem didático-pedagógica de ensino, a qual possibilita ao professor obter indícios da aprendizagem dos seus alunos, referente aos conceitos trabalhados. Cunha (1997) declara que

[...] para esse fim, especialmente na perspectiva das propostas de produção do conhecimento, que têm o educando como um ser socialmente situado tem sido recomendado e experimentado a produção e a investigação das narrativas dos sujeitos, como ponto de partida ou de chegada da análise do objeto de conhecimento (p. 191).

Em busca desta proposta de produção de conhecimento, acreditamos que, quando um aluno narra sua ação e fatos vivenciados na realização de uma tarefa em sala de aula, ele possui a oportunidade de reconstruir seu trajeto percorrido durante a realização da tarefa. Nesta perspectiva, Cunha (1997) declara que é importante o professor estimular seus alunos a utilizar sua narrativa em sala de aula, pois,

[...] organizar narrativas destas referências é fazê-lo viver um processo profundamente pedagógico, onde sua condição existencial é o ponto de partida para a construção de seu desempenho na vida e na profissão. Através da narrativa ele

vai descobrindo os significados que tem atribuído aos fatos que viveram, e,

assim, vai reconstruindo a compreensão que tem de si mesmo (CUNHA, 1997, p. 188, grifo nosso).

Desta maneira, entende-se que, quando um aluno utiliza a narrativa depois da realização de uma tarefa em sala de aula, além de refletir sobre o tema ou conceito estudado, este revive os fatos acontecidos durante a aula. Dessa forma, esse aluno tem a oportunidade de confirmar a sua aprendizagem ou de atribuir significados antes não estabelecidos. Nesta linha de pensamento, (Cunha, 1997 apud Kenski 1994) declara que “o narrado é praticamente uma reconceitualização do passado a partir do momento presente” (p. 48).

Com base nessa autora, entendemos que, quando contamos algo que nos aconteceu, estamos reestruturando nossas estruturas mentais, pois vivenciamos novamente a história, mas de uma outra maneira. Durante o ato de recontar ou repetir o vivenciado, estamos falando sobre a mesma coisa, mas com um novo tempo e com novas articulações incorporadas à estrutura do nosso pensamento.

Utilizar narrativa na aula de Matemática pressupõe uma postura de interação e amizade entre professor e alunos, na qual a confiança mútua e a aceitação da intervenção

de interação, nos quais a voz de um aluno é valorizada e respeitada ao externalizar seu entendimento e compreensão sobre os assuntos tratados.

De acordo com (Gudmundsdottit 1998, apud Morais & Galiazzi 2003), a narrativa é um valioso instrumento transformador, porque as narrativas nos permitem “compreender o mundo de novas maneiras e, nos ajudam a comunicar novas idéias aos demais” (p. 18).

Sendo assim, pensamos que os alunos devem ser estimulados para produzir sua própria narrativa, não apenas ouvindo informações, porque narrar é o modo de pensar, de aprender e de comunicar conhecimentos aprendidos ou reconstruídos. Nesta perspectiva, o professor precisa proporcionar aos alunos atividades que possibilitem reflexão e expressão de seu pensamento sobre o tema estudado, pois, ouvir essa reflexão e expressão proporciona ao professor indícios de compreensão da aprendizagem dos alunos.

De acordo com Morais e Galiazzi (2003), o professor pode desempenhar um papel importante como mediador. Seu auxílio na construção da narrativa, a crítica que faz dela, a confrontação que promove entre a narrativa de diferentes sujeitos, todos são modos de mediação da aprendizagem e apropriação discursiva a se realizar pela produção da narrativa.

Dar voz para o aluno apresentar sua compreensão e entendimento a respeito da sua atividade realizada em um contexto matemático é uma abordagem potencial, pois, favorece a reflexão e o desenvolvimento cognitivo dos alunos. Essa abordagem precisa da liderança constante do professor, organizando as discussões e, até mesmo, fazendo perguntas para o aluno progredir no seu conhecimento matemático. Nesta perspectiva, Morais e Galiazzi (2003) declara que,

[...] trabalhar com narrativas em sala de aula é encaminhar aprendizagens de

um modo significativo e contextualizado. O exercício de narrar, além de

possibilitar a comunicação de conhecimentos já anteriormente apropriados, também é processo de reconstrução de aprendizagens anteriores. É, assim, modo de constituição no discurso e, ao mesmo tempo, possibilidade de participação em sua reconstrução (p. 20, grifo nosso).

Através da narrativa, pode-se compreender o processo relatado de uma outra forma e isso pode ter uma Função transformadora muito significativa tanto para o professor ao ensinar como para o aluno ao aprender.

Boavida (2005) complementa essa idéia declarando que a competência da argumentação e da justificação de posicionamento pode ser desenvolvida em aulas de Matemática, o que privilegia a voz do aluno. Essa autora destaca a importância que possui a cultura da argumentação na sala de aula de Matemática. A expressão “cultura de

atividades de argumentação matemática requer a negociação de normas de ação e interação que favoreça a constituição e desenvolvimento de uma comunidade de discurso matemático. Este discurso envolve uma apresentação feita pelo aluno. Nessa apresentação, o aluno argumenta em defesa da sua idéia, analisa criticamente a contribuição do colega, e avalia se é ou não apropriado usar um determinado raciocínio na resolução de um problema, a formulação de conjecturas e a avaliação da plausibilidade e/ou validade destas conjecturas.

Para Boavida (2005) a, existe uma necessidade de criar, nas aulas de Matemática, condições favoráveis para o envolvimento do aluno em experiência de aprendizagem cujo foco seja a explicação e a fundamentação do seu raciocínio, a descoberta do porquê de determinados resultados ou situações, a formulação, e a prova de conjecturas. Focar esses aspectos na aula de Matemática poderá contribuir para a tomada de consciência do aluno de que é ele o responsável por sua aprendizagem.

Com base no que já foi abordado, compreendemos que utilizar a narrativa em aulas de Matemática, proporciona uma oportunidade para os alunos se desenvolverem cognitivamente e socialmente, pois os alunos precisam posicionar-se nas situações de ensino, e este posicionamento pode ser realizado por meio das narrativas. Assim, utilizar a narrativa como um recurso didático-pedagógico, pode ser um bom exercício de construção do conhecimento que o aluno poderá realizar. Para tanto, devemos considerar também as potencialidades das narrativas como forma de comunicação na sala de aula.