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Narrativas Escritas em Aulas de Matemática

AS NARRATIVAS NO CONTEXTO DA SALA DE AULA

2.3. Narrativa como forma de Comunicação

2.3.1. Narrativa como forma de Comunicação na Sala de Aula

2.3.1.2. Narrativas Escritas em Aulas de Matemática

A narrativa escrita é concebida nesta pesquisa como uma maneira de narrar por escrito os acontecimentos e experiências vivenciadas pelos participantes nos episódios de ensino desta pesquisa. Uma das razões por que escolhemos trabalhar e pesquisar sobre a narrativa escrita nas aulas de Matemática se deu porque, segundo o Professor Ubiratan D’ Ambrósio12, escrever em Matemática é uma das tendências fortes para a Educação Matemática nas próximas décadas. No entanto, de acordo com Parateli et al. (2004), apesar de a escrita ocupar cada vez menos espaço no contexto escolar, esta faz parte do centro do processo de ensino e aprendizagem.

Segundo Paratelli et al. (2004), a escrita favorece a reflexão, contribui para o desenvolvimento cognitivo e também a expressão do próprio pensamento. Escrever não é apenas uma tarefa escolar, pois deve transcender os espaços escolares, proporcionando liberdade de criação, de expressão, de pensamento e de transformação. A escrita pode ser vista como registro de pensamento, o qual se constitui momentos importantes de organização das idéias dos alunos, oferecendo-lhes oportunidades de aprendizagem também na área de Matemática. Esses autores ainda ressaltam que a escrita pode levar o aluno a sentir-se responsável por sua aprendizagem.

Segundo Powell (2001), a escrita providencia um retorno direcionado à afirmação, interpretação, questão, descoberta e engano do aluno. De acordo com autor

Qualquer que seja a atividade escrita, desde que ela obrigue os alunos a sondar

suas idéias e compreensão sobre alguma matemática em que estejam envolvidos,

pode capturar evidência importante de seu pensamento matemático. Diferente da natureza efêmera da fala, a escrita é um meio estável, que permite a ambos, aluno e professor, examinar, reagir e responder ao pensamento matemático do aluno (POWELL 2001, p. 78, grifo nosso).

Com base nessa afirmação, utilizar o recurso da narrativa escrita em aulas de Matemática proporciona ao aluno uma nova reflexão, nova descoberta, novos conhecimentos e uma nova escrita. Tanto a escrita como a retomada da escrita leva professor e aluno a uma reflexão, além de evidenciar as idéias e compreensões principais da tarefa. Para esse autor, escrever significa produzir o nosso próprio texto, no qual se dá relevância às emoções, idéias, sentimentos. Segundo ele, deve-se fazer da escrita não uma obrigação escolar, mas um ato de expressão pessoal, pois a escrita está relacionada com a ação de refletir sobre o processo vivido (experiência) como uma possibilidade de influenciar significativamente a cognição e a metacognição.

Segundo Powell (2001), refletir por escrito poderá levar os alunos a pensarem criticamente sobre suas idéias a respeito das experiências matemáticas. Desta maneira, a narrativa escrita pode ser vista como registro de pensamento, pois constitui momento importante de metacognição e organização de idéias para os alunos.

Para Powell & López (1995), a escrita é um instrumento com o qual se reflete sobre a experiência e na Matemática, é um importante instrumento para o pensamento. A partir desta concepção instrumental da escrita e da Matemática, podemos observar conexões existentes. Assim, as atividades escritas proporcionam a expressão de pontos de vista e a evolução na compreensão de conceitos matemáticos.

De acordo com Candido (2001), a escrita possui duas características importantes. Primeiro, ela auxilia no resgate da memória, uma vez que a narrativa oral pode ficar perdida sem o registro em formas de texto, e também pela possibilidade de comunicar à distância no espaço e no tempo. Uma vez que se podem trocar informações e descobertas com pessoas que, muitas vezes, nem se conhece através dos meios de comunicação. Para Candido (2001), quando o aluno escreve sobre uma determinada atividade ou descoberta, ele pode retornar a essa anotação quando e quantas vezes ele achar necessário.

Nesta perspectiva, esse autor declara que, “escrever permite que, além do próprio aluno, seus pais, colegas de outras classes e até mesmo outras pessoas possam ter acesso ao que foi pensado e vivido” (CANDIDO 2001, p. 23). Esse pesquisador, ainda, declara que

[...] escrever em matemática ajuda a aprendizagem dos alunos de muitas maneiras, encorajando reflexão, clareando as idéias e agindo como um catalisador para as discussões em grupo. Também ajuda o aluno a aprender o que está sendo estudado (CANDIDO 2001, p. 24).

A escrita possui um grande valor nas aulas de Matemática. Smole (2001) ainda destaca dois aspectos referentes ao valor da escrita. Primeiramente, o aluno tem a oportunidade de repensar sobre o que fez, registrando sua reflexão, percepção e descoberta sobre o tema trabalhado e, segundo, o aluno poderá rever e aprofundar os conceitos envolvidos nas ações realizadas. Além desses dois aspectos, essa autora declara que a escrita pode ajudar os alunos nas aulas de Matemática, pois

[...] escrever pode ajudar os alunos a aprimorarem percepções, conhecimentos e reflexões pessoais. Além disso, ao produzir textos em matemática, tal como ocorre em outras áreas do conhecimento, o aluno tem oportunidades de usar habilidades de ler, ouvir, observar, questionar, interpretar e avaliar seus próprios caminhos, as ações que realizou no que poderia ser melhor. É como se pudesse refletir sobre o

seu próprio pensamento e ter nesse momento, uma consciência maior sobre aquilo

que realizou e aprendeu (SMOLE, 2001, p. 31. grifo nosso).

 Com base nessa autora, escrever em aulas de Matemática ajuda a aprendizagem do aluno de muitas formas, como: encorajando-o na reflexão, clareando idéias e agindo como um catalisador para discussões em grupo.

Para Moraes & Galiazzi (2003), a escrita possibilita ao aluno tanto a comunicação de conhecimentos anteriormente discutidos e compreendidos, como de apropriação e aprendizagem de um novo saber, pois se pode escrever tanto para comunicar algo como para aprender no próprio processo da escrita. Desta maneira, “para aprender de modo mais efetivo, escrever é preciso, pois a escrita encaminha aprendizagens mais sistematizadas, qualificadas e autônomas” (MORAES & GALIAZZI 2003, p. 6).

O ato de escrever possibilita ao mesmo tempo a comunicação e a aprendizagem. Ao aluno comunicar está afirmando ‘algo’, mesmo que ainda de modo incompleto e inacabado e sua aprendizagem se dá no próprio processo da escrita, processo pelo qual ele reconstrói o conceito anteriormente apropriado. Moraes & Galiazzi (2003) ainda afirmam que “Escrever é também modo de argumentar, e por meio da escrita, os sujeitos podem desenvolver sua competência argumentativa” (p. 7).

Estes pesquisadores declaram que, para aprender de modo significativo, é preciso escrever, pois “o escrever encaminha aprendizagens, qualificadas pela mediação do professor” (p. 15). Além disso, a escrita encaminha aprendizagem mais sistematizada, qualificada e autônoma. Para esses autores, escrever possibilita a comunicação e aprendizagem ao mesmo tempo. Compreendemos que a argumentação se faz presente, além de comunicar e aprender, porque, por meio da escrita, o aluno também poderá desenvolver

Trabalhar com a narrativa escrita proporciona ao aluno um convívio com as estruturas da língua escrita. Sendo assim, a iniciação à produção escrita deve prever um período em que a ênfase seria dada à fluência na escrita, levando-se o aluno a monitorar seu desempenho no ato de escrever em Matemática.

Acreditamos que a narrativa escrita é um caminho a ser conquistado gradativamente, no entanto, é fundamental o trabalho em grupo para auxiliar o aluno na produção dessa narrativa escrita. Utilizar a narrativa escrita nos grupos, em sala de aula significa fornecer oportunidades para o aluno contar suas histórias de aprendizagem, para descrever as atividades planejadas e registrar como a aula se desenvolveu e também com o intuito de refletir sobre as atividades realizadas.

Sobre o ato de escrever e apresentar a escrita, Parateli et al. (2004) declara que “escrever não é fácil, torná-lo público é ainda mais difícil. É se expor, é aceitar a discordância, mas é somente arriscando, expondo o que pensamos que podemos nos rever e crescer com a fala do outro” (p. 28). Desta maneira, produzir textos nas aulas de Matemática cumpre um papel importante na aprendizagem dos alunos, além de favorecer a avaliação dessa aprendizagem em processo.

De acordo com Smole e Diniz (2001), a escrita é o enquadramento da realidade, pois, quando se escreve, não se pode ir para tantos lados como na fala. Sendo assim, a escrita prevê um planejar e esse planejar não é necessariamente escrito, mas auxiliador da escrita. Sendo assim, a narrativa oral antecede a narrativa escrita e nesse sentido a escrita pode ser usada como mais um recurso de representação de idéias dos alunos.

Smole (2001) destaca que a escrita de textos em aulas de Matemática não deve servir apenas para o aluno mostrar se sabe ou não escrever, mas que a escrita deve ter sempre um destinatário, ou seja, alguém que vai ler os escritos dos alunos. Smole (2001) declara que escrever textos em aulas de Matemática pode ser realizado em diversos momentos durante as aulas.

Escrever textos ao iniciar um novo tema tem por objetivo investigar o que o aluno já sabe ou o que ele conhece sobre um determinado tema, a partir dos seus conhecimentos prévios. Escrever textos, depois da realização de uma atividade, tem por objetivo encorajar o aluno a escrever sobre o que fez, aprendeu ou percebeu durante a realização de uma dada atividade. Nesse momento, o aluno explicita dúvidas e outras impressões, permitindo ao professor perceber em quais aspectos da atividade ele apresenta mais incompreensões e em que ponto avançou, se o que era essencial foi compreendido e que intervenções precisam fazer. Escrever textos no final de um assunto tem por objetivo sistematizar a noção, assemelhando-se a uma síntese, ou até mesmo, um parecer sobre o tema desenvolvido, no qual aparece a idéia central do que foi estudado e compreendido. Nesses textos, o aluno

As narrativas escritas, produzidas pelos alunos durante os episódios de ensino, aconteceram durante os três momentos relatados anteriormente. Enfatizamos a produção das narrativas escritas depois da realização de uma atividade, pois queremos observar como acontece às narrativas escritas dos alunos, sobre o que fizeram, entendendo assim qual foram suas aprendizagens.

Concluindo este tópico do capítulo, compreendo que escrever em Matemática é uma tarefa para professores dispostos a olhar com atenção para a aprendizagem dos seus alunos. As narrativas escritas apresentam algumas potencialidades para as aulas de Matemática, pois escrever é produzir e não reproduzir velhas certezas.