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5 ELEMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA PESQUISA

5.1 NATUREZA DA PESQUISA

Considerando o objeto de estudo desta pesquisa, em que se busca investigar as necessidades de professores do ensino profissional por meio dos discursos expressos por eles no tocante às experiências vivenciadas no programa PRONATEC, percebe-se ser esse um estudo de natureza qualitativa, partindo para a compreensão dos conteúdos extraídos e interpretados com base nesses relatos.

Na concepção de Lourenço (2008, p.49), “a investigação qualitativa não tem como objetivo responder a questões prévias ou testar hipóteses. O que se pretende é a compreensão de comportamentos a partir da perspectiva do sujeito da investigação”. Nesse sentido, é fundamental situar o sujeito de pesquisa em seu contexto, a fim de minimizar o erro de inferências que não condizem com a realidade.

Decerto, o risco de erro e viés de pesquisa aumenta e se torna eminente porque se lida com elementos isolados neste tipo de abordagem investigativa, carecendo, portanto, de cuidados na sua condução. Assim, é de fundamental importância o uso de recursos e técnicas que esbocem, com maior acurácia, o percurso tomado para o levantamento e tratamento das informações.

Em pesquisa de abordagem qualitativa, é essencial que o investigador detenha competências de conversação acessíveis e fáceis com os outros, sendo, contudo, um ouvinte atento e sensível munido da capacidade de estabelecer uma relação de confiança e compreensão, demonstrando respeito pelas perspectivas e concepções dos investigados, uma vez que nada do que se é exposto por estes pode ser tido por trivial, mas, muito pelo contrário, considerar que toda argumentação carrega consigo potencialidades para fornecer pistas que permitam a compreensão do que se pretende investigar.

Os autores Gatti e André (2010), quando destacam a relevância dos métodos de pesquisa qualitativa em educação no Brasil, defendem que tal abordagem empreende uma “visão holística dos fenômenos, isto é, que leve em conta todos os componentes de uma situação em suas interações e influências recíprocas”. Segundo os autores,

As questões postas pelos pesquisadores ao pensar em estudos desta natureza dizem respeito a se é possível o conhecimento sobre o humano- social, o humano-educacional, sem um mergulho em interações situacionais nas quais os sentidos são produzidos e procurados e os significados são construídos (GATTI; ANDRÉ, 2010, p.29).

Nessa mesma perspectiva, Bogdan e Biklen (1994) apresentam algumas características da investigação qualitativa, afirmando se tratar de um tipo de investigação de cunho descritivo, cujo ambiente natural – onde são investigados os fatos de interesse do pesquisador – representa a fonte direta dos dados que tendem a ser analisados de forma indutiva. Segundo os autores, os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos oriundos da pesquisa, destacando os significados como de importância vital nesse tipo de abordagem.

Não obstante, trazendo essa ideia para o estudo, pode-se perceber que o conceito de necessidade é intrínseco a cada indivíduo e carrega muitos significados. Portanto, sua interpretação parte da compreensão do mundo do sujeito e aos significados por ele atribuídos às suas experiências cotidianas, sendo necessário colocá-lo em um contexto, isto é, possibilitar aos participantes da pesquisa um momento de reflexão acerca das suas ações empreendidas nos cursos do PRONATEC e, partindo de seus discursos, identificar necessidades que revelem tanto algum desejo ou motivação pessoal, quanto profissional.

Dotado de uma característica singular e uma delimitação definida quanto ao ambiente onde será desenvolvida a pesquisa, assim como os sujeitos a serem investigados (os quais serão apresentados posteriormente), esse trabalho se caracteriza como um estudo de caso, o qual consiste numa estratégia de pesquisa direcionada à observação detalhada de um contexto ou indivíduo. Todavia, cabe salientar que não se trata de um processo completo de análise de necessidades, uma vez que não se estabeleceu nem se negociou algum programa de formação a partir das necessidades de formação identificadas.

Ludke e André (1986), quando se referem sobre o desenvolvimento de uma pesquisa por meio de estudo de caso, afirmam que “o interesse [no estudo de caso] incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente venha a ficar evidentes certas semelhanças com outros casos ou situações”.

Para Yin (2001), “o estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem

manipular comportamentos relevantes”. Em outras palavras, consiste num método que investiga um fenômeno atual dentro do seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.

Uma vez que o fenômeno observável nem sempre é discernível em situações da vida real, torna-se necessário o uso de técnicas para proceder à coleta e à análise de dados, a fim de buscar evidências que explicitem os fatos que se pretende demonstrar por intermédio da pesquisa. Para este fim, frequentemente, utiliza-se de ampla variedade de evidências como documentos, artefatos, entrevistas e observações. Entretanto, ao partir para a coleta de dados, é necessário que o pesquisador tome os devidos cuidados na condução desses instrumentos, a fim de evitar situações de inibição de provas que se deseja conhecer, assim como enviesamento no discurso dos entrevistados mediante concepções preestabelecidas.

No tocante a estas preocupações, Yin (2001) afirma que não existem mecanismos que indiquem as habilidades necessárias a um bom investigador para a realização de um estudo de caso. No entanto, o autor destaca algumas habilidades básicas comumente exigidas que incluiriam os seguintes itens:

 Capacidade de fazer boas perguntas e interpretar as respostas;

 Ser um bom ouvinte e não ser enganado por ideologias e preconceitos próprios;

 Ter capacidade de ser adaptável e flexível, de forma que as situações recentemente encontradas possam ser vistas como oportunidades, não ameaças;

 Ter uma noção clara das questões que estão sendo estudadas, mantendo o foco nos eventos e nas informações relevantes que devem ser buscadas a proporções administráveis;

 Ser imparcial em relação a noções preconcebidas, incluindo aquelas que se originam de uma teoria. Assim, uma pessoa deve ser sensível e estar atenta a provas contraditórias.

Feitas essas considerações, observa-se que o presente estudo proposto nesta tese consiste em uma abordagem nova e que contribui para repensar acerca dos limites e possibilidades da formação docente no ensino profissional no âmbito de programas de qualificação, enquadrando-se numa característica peculiar ao

estudo de caso, o qual se empenha na compreensão de fenômenos sociais complexos. Fenômenos estes que envolvem, dentro do objeto desta pesquisa, a prática profissional e pedagógica de professores, as quais se relacionam intrinsecamente às especificidades culturais e formativas, às expectativas, desejos, experiências e histórias pessoais e profissionais, assim como ao modo de fazer e ser no seu cotidiano de trabalho.

Ademais, tendo definida a natureza da pesquisa, segue-se a descrição acerca da organização do percurso metodológico, adotado para fins de esclarecimento acerca das etapas e processos pelos quais a pesquisa foi conduzida.