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2 REFLEXÕES DE UMA FORMAÇÃO NEOLIBERAL

4.2 PROCEDIMENTOS PARA EXECUÇÃO DA ANÁLISE DE NECESSIDADES

sistemático constituído por operações guiadas por critérios, cuja finalidade consiste na recolha das representações dos sujeitos investigados, considerando a relação interativa entre sujeito-contexto-objeto-instrumentos.

Para a autora,

Trata-se da recolha de representações dos sujeitos sobre o que faz falta e pode ser obtido por via da formação. Isto é, trata-se da recolha da forma particular e pessoal de pensar na transformação do quotidiano profissional ou na resolução de um dado problema desse mesmo quotidiano, por meio de uma estratégia específica, a formação (RODRIGUES, 2006, p.104).

Na perspectiva de Barbier e Lesne (1986), a análise de necessidades de formação consiste numa prática geradora de objetivos de formação, dando o sentido de que, uma vez concluída a fase de identificação das necessidades, as mesmas passam a se caracterizar em objetivos a serem atingidos na etapa seguinte, que consiste no processo de formação.

Na percepção desses autores, esses objetivos podem ser originados a partir de três campos indutores de formação que guardam entre si algum tipo de relação, a saber:

1. Campo de fenômenos relativos ao exercício de um trabalho, em que o indivíduo utiliza-se de certas competências e qualificações em atividades sociais;

2. Campo de fenômenos relacionados com a estrutura institucional da formação e a sua organização, isto é, os programas de formação;

3. Campo de fenômenos diretamente relacionados com o momento de ensino ou formação.

Embora alguns autores dessa área de estudos busquem desenvolver modelos e técnicas que, de alguma forma, auxiliem na identificação das necessidades, é fundamental deixar claro que não existe um modelo eficiente ou único de realizar esta análise14, visto que as necessidades surgem em contextos que se mostram diferenciados e, por conseguinte, atualizam-se constantemente, não se tratando de dados objetivos, não se mostrando, portanto, diretamente observáveis. Mas, numa perspectiva construtivista, “é preciso fazê-las emergirem; e isso se faz essencialmente por meio da palavra” (DI GIORGI, 2011), considerando a compreensão das experiências e a construção de significados para os agentes envolvidos na investigação.

Segundo destaca Galindo (2011), é importante ressaltar que

Os hábitos de trabalho revelam necessidades e necessidades de formação. Eles permitem perceber distâncias entre ser e estar na profissão, e comparados aos desejos, motivações, expectativas de mudanças e de formação, permitem inferir possibilidades de superações das dificuldades. Por isso, configuram-se como necessidades de formação, necessidades complexas e plurais, nas quais o passado, o presente e, por vezes, expectativas de futuro se encontram e materializam dimensões conscientes ou inconscientes de necessidades, que ora são bem manejadas pelos docentes, ora são causadoras de dilemas, impasses e dificuldades. Há de se perceber, portanto, as tensões coexistentes nos hábitos das práticas profissionais dos professores para se identificar necessidades formativas (GALINDO, 2011, p. 248).

O Quadro 4 congrega alguns desses modelos de análise das necessidades, considerando-se o princípio adotado pelos autores quanto ao conceito atribuído ao

14

O estudo proposto por Silva (2000) traz um levantamento dos diferentes tipos de modelo de análise de necessidades na percepção dos principais pesquisadores dessa área. Caso haja interesse em saber mais detalhes, pesquisar o trabalho nas referências.

termo necessidade, bem como as características inerentes a cada um desses modelos.

Quadro 4 – Modelos propostos para a Análise de Necessidades

AUTOR

PRINCÍPIO ADOTADO AO CONCEITO DE

NECESSIDADES

MODELO

PROPOSTO CARACTERÍSTICAS DO MODELO

Kaufman

Necessidade possui o caráter mutável e dinâmico, entendida como

a discrepância

mensurável entre o atual e o esperado.

Modelo indutivo

Baseia-se em metas e objetivos de programas definidos de onde se compara o comportamento dos alunos, observando o atendimento a tais objetivos, conciliando, em seguida, as discrepâncias identificadas com novos objetivos específicos de formação.

Modelo Dedutivo

Nesse modelo, inicialmente, determinam e selecionam as metas educativas já existentes. Em seguida, os critérios de medida que se constituem em indicadores de comportamentos representativos. Especificam-se ainda os requisitos necessários à mudança. A partir desses dados prévios, determinam- se as discrepâncias indicativos dos objetivos que estarão na base do programa de educação.

Modelo Clássico

Considera que o desenvolvimento de programas a implementar e sua avaliação partem de metas e intenções de caráter geral, participando dessa elaboração apenas os técnicos de educação.

Mckillip A necessidade como discrepância mensurável entre o atual e o esperado. Modelo das Discrepâncias

Esse modelo consubstancia nos valores de especialistas que definem as condições desejadas (objetivos), avaliando, em seguida, a situação existente e identificando- se, por fim, as discrepâncias existentes com a hierarquização das necessidades.

Modelo de "Marketing"

Esse modelo considera a análise de necessidades como um feedback que as organizações recebem de seus clientes. Apesar de adotar um princípio coerente que se aproxima dos indivíduos que sentem a necessidade, as soluções são aquelas que a organização é capaz de fornecer uma resposta.

Modelo de tomada de decisão

Esse modelo procura explicitar os valores e o papel que os decisores desempenham na análise de necessidades. Desenvolve-se em três fases: 1) Modelagem do problema; 2) Apreciação das necessidades (quantificação); 3) Síntese (ordenamento das necessidades)

D'Hainaut

As necessidades não são absolutas, mas relativas, mostrando-se conflituais,

dependendo dos

contextos onde ocorrem, podendo abranger tanto

as necessidades

particulares quanto coletivas (de grupos).

Diagnóstico de Necessidades

Modelo executado em quatro etapas: 1) Diagnóstico das

necessidades humanas

(necessidades conscientes e inconscientes); 2)Diagnóstico da procura em relação ao sistema (determinam-se as funções que as pessoas querem desempenhar dentro do sistema e também do sistema em relação às pessoas); 3) Tomada de decisão sobre as necessidades e a procura; 4) Especificação das exigências de formação.

FONTE: Elaboração própria (com base em Silva, 2000)

Na concepção de Barbier e Lesne (1986), a análise das necessidades não se avalia por meio de um modelo. Para esses autores, ficam mais bem caracterizados três modos fundamentais de determinação dos objetivos indutores de formação, de onde podem emergir as possíveis necessidades dos sujeitos, a saber:

 Partindo das exigências de funcionamento das organizações;  Partindo da expressão das expectativas dos indivíduos ou grupos;  Partindo dos interesses sociais nas situações de trabalho.

Corroborando os autores supracitados, Rodrigues (2006) aposta numa perspectiva que questiona e faz refletir como proceder metodologicamente o processo investigatório das necessidades formativas dos professores de modo coerente. Na concepção da autora, os dados a serem recolhidos nesse processo devem ser diretamente ligados à ação do sujeito investigado, ou seja, mantêm forte o vínculo sujeito-objeto, pressupondo sua total dependência.

Na medida em que a investigação sobre as necessidades de formação se liga à acção, os objectivos desta são, não relativos ao real, mas a uma transformação, e, naturalmente dos sujeitos que os expressam, bem como dos valores de que são portadores e dos contextos onde se situam (RODRIGUES, 2006, p.106).

Para esses autores, com cujas ideias compactuamos, o objeto da investigação numa prática de análise de necessidades corresponde a uma situação de envolvimento e de implicação dos atores presentes na ação, sendo grande parte do trabalho investigativo “identificar esses atores bem como tornar explícitos os objetivos que os animam”, por meio do entendimento de suas perspectivas quanto aos seus desejos, dificuldades, expectativas, interesses e objetivos.

Assim é que procurou-se entender um pouco o contexto que circunda a realidade do professor da EPT e buscou-se, por meio de pesquisas, desvendar o que representam suas possíveis necessidades.