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Necessidade de uma estrutura conceptual para a contabilidade pública

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

5. ESTRUTURA CONCEPTUAL PARA A CONTABILIDADE PÚBLICA

5.4. Necessidade de uma estrutura conceptual para a contabilidade pública

López González et al. (1994:36) mencionam que “Um aspecto importante no

desenvolvimento de qualquer construção teórica é o estabelecimento de um conjunto de definições dos seus elementos já que não existem dúvidas de que será uma grande ajuda para a clarificação e compreensão de toda a estrutura do sistema contabilístico considerado...”.

Freitas (1999:14) afirma que “...a definição do esquema conceptual pode ser, a nosso ver

comum aos dois ramos de contabilidade, a pública e a privada, sendo requerida a introdução das alterações necessárias de forma a que cada um deles considere as especificidades das realidades que pretendem considerar.”. Por sua vez, Vela Bargues (1992), considera que a

concepção de uma estrutura conceptual para a contabilidade pública não implica em absoluto romper com a ideia do estabelecimento de uma única estrutura conceptual para toda a contabilidade, opinião que também nós partilhamos.

Brusca Alijarde e Benito López (2002), num estudo empírico que realizaram no âmbito dos sistemas contabilísticos públicos, concluíram que apenas metade dos países, alvo de investigação129, possui uma estrutura conceptual para a contabilidade pública e que os restantes países possuem uma estrutura conceptual implícita como é o caso de Portugal. A contabilidade pública tem vindo a afastar-se de um conjunto de práticas tradicionais procurando afirmar-se em termos teóricos no quadro da modernização das Administrações Públicas nacionais através da implementação de planos sectoriais públicos. Nestes moldes, a concepção de uma estrutura conceptual para a contabilidade pública parece-nos de todo conveniente, na medida em que representará um passo importante na normalização dessa mesma contabilidade. Aliás, refira-se que também esta, é a opinião da maior parte dos respondentes (65%) ao questionário aplicado por nós, quando inquiridos acerca da importância da existência de uma estrutura conceptual para a contabilidade pública (ver ponto 1 da parte II). Como vantagens de uma estrutura conceptual para a contabilidade

129 Os países sobre os quais recaiu este estudo totalizam 23 e dividem-se em:

a)países da UE: Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido e Suécia; b)países europeus não pertencentes à UE: Ocidentais (Suiça e Noruega) e da Europa de Leste (Rússia);

c)países da América do Norte: Canadá e Estados Unidos;

d)países da América do Centro e do Sul: Argentina, Chile e México; e)países da Ásia: Japão e Correia do Sul;

pública podemos apontar, entre outras, uma melhor compreensão das normas de contabilidade e das demonstrações financeiras pela aplicação de conceitos teóricos e de regras que se pautam por critérios de homogeneidade. As entidades públicas, sujeitas à contabilidade pública, têm sentido dificuldades na aplicação do POCP e dos planos sectoriais públicos, essencialmente no que diz respeito à classificação das «massas patrimoniais» (que não aparecem definidas nos planos), colocando em causa a consistência da sua aplicação. Para que se verifique uma perfeita normalização e harmonização contabilística é necessário colmatar as lacunas existentes no POCP, bem como nos planos sectoriais públicos. Assim, torna-se necessária a criação de uma estrutura conceptual para a contabilidade pública (em nosso entender, esta estrutura conceptual deverá fazer parte do plano de contabilidade pública), que possibilite uma maior congruência de princípios e conceitos e, uma clara definição dos objectivos e das características da informação financeira.

Pires Caiado (2005), num artigo de opinião130, afirma que “A Contabilidade Pública,

enquanto estiver dotada de um plano de contas, não parece que esteja carecida de uma estrutura conceptual.”, posição que não corroboramos. Em nosso entender, os planos de

contas públicos em vigor, carecem de muitos conceitos que demonstram ter uma relevância significativa no cumprimento dos vários objectivos da contabilidade pública como seja, permitir a comparabilidade da prestação de contas de entidades públicas distintas mas com a mesma actividade.

Por outro lado, Pires Caiado, no mesmo artigo, justifica a não necessidade de uma estrutura conceptual para a contabilidade pública, pelo facto de esta estar provida das normas de contabilidade para o sector público emitidas pelo IFAC. Parece-nos também, que esta razão não é totalmente válida, na medida em que as NICSP’s estão fortemente influenciadas pelas normas de contabilidade empresariais para além, de não estarem a ser utilizadas no nosso país. As NICSP não têm em conta alguns aspectos específicos das entidades públicas, como por exemplo as diferenças na origem dos proveitos, o tratamento do activo imobilizado e o significado que pode atribuir-se aos resultados.

Vela Bargues (1991a) apresenta as seguintes razões fundamentais que justificam uma estrutura conceptual para a contabilidade pública (Quadro 1.24):

Quadro 1.24. Razões para a existência de uma estrutura conceptual Razões

(Vela Bargues, 1991)

 a clara delimitação dos objectivos da informação contabilística pública, considerando as necessidades informativas dos utilizadores da referida informação.

 as características que compõem a informação contabilística.

 a necessidade de incluir a informação orçamental nas demonstrações financeiras, o que obriga a considerar o orçamento como um elemento adicional da estrutura conceptual.

 a definição de um conceito de entidade contabilística que defina claramente a organização a que as demonstrações financeiras dizem respeito.

 o significado do conceito de fundos próprios, a ausência de relações directas de propriedade entre a entidade e os utilizadores da informação.

 o significado de RLE essencialmente, tendo em conta que no âmbito público, este não pode ser utilizado como uma medida para a avaliação dos resultados alcançados.

 o reconhecimento das transacções, nomeadamente as relativas a custos e proveitos.

Muitos dos termos utilizados na contabilidade pública ou privada são iguais, existindo porém, outros que são específicos a cada uma das contabilidades, dado o sector onde se inserem. Pensamos que não existirá certamente, a necessidade de criar uma estrutura conceptual para a contabilidade pública, totalmente distinta da do sector privado, mas que a sua elaboração, essencialmente no que diz respeito a termos semelhantes, deverá partir dessa estrutura conceptual.

PARTE II - PARTE EMPÍRICA