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PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2. CONTABILIDADE PÚBLICA VERSUS CONTABILIDADE PRIVADA

2.4. Elementos das demonstrações financeiras

2.4.2. Passivo

Lopes Amorim (1969:30) entende por elementos passivos os “...elementos que representam

encargos ou dívidas da empresa a que esta terá de fazer face por força da realização dos bens activos (nas empresas comerciais, industriais, bancárias, etc.) ou pela produtividade destes mesmos elementos (nas empresas transportadoras).”. Rogério Fernandes Ferreira

(1977:27) afirma que o passivo “...compreende todos os elementos negativos, isto é, as

obrigações pecuniárias que o titular do património terá de fazer.”.

O IASB (1989, §49) define o passivo como sendo uma “Obrigação presente da empresa,

proveniente de acontecimentos passados, da liquidação da qual se espera que resulte um exfluxo de recursos incorporando benefícios económicos.”. Por outro lado, descreve como

principal característica de um passivo, a existência de uma “obrigação real”34.

No SFAC 6, os passivos são entendidos como “Sacrifícios futuros prováveis de benefícios

económicos resultantes de uma entidade provenientes de obrigações presentes pela transferência de activos ou de proporcionarem serviços a outras entidades no futuro como consequência de transacções ou eventos passados.” (§28) e apresentam como características

(§36):

- a de incorporar uma obrigação real ou responsabilidade para uma ou mais entidades que impliquem liquidações, pela provável transferência futura ou uso de activos numa data específica ou determinável, na ocorrência de um evento específico ou na compra; - a obrigação ou responsabilidade que obrigue uma entidade particular deixando-lhe

pouca ou nenhuma liberdade para evitar o sacrifício futuro (de recursos); e - a transacção ou o evento que obriga a entidade em causa já ocorreu.

Na estrutura conceptual para a informação financeira das entidades públicas, a AECA (2001, §209) define passivo de forma idêntica às definições do FASB e do IASB, porém altera a designação de passivo para passivo exigível. A AECA (2001, §208), refere ainda, no seu normativo, que as entidades públicas para fazerem face à satisfação de uma obrigação têm de despender recursos.

Para Baptista da Costa e Correia Alves (2005), o passivo divide-se em passivo exigível e passivo não exigível. Relativamente à primeira classificação podemos ter passivos de funcionamento e passivos de financiamento. Por passivos de funcionamento entende-se aqueles que derivam da aquisição de bens e serviços destinados à actividade normal da entidade, e por passivos de financiamento, aqueles que derivam da obtenção de empréstimos

34 Segundo o IASB (1989, §

junto de entidades bancárias. No tocante à segunda classificação, os autores, consideram os acréscimos e diferimentos passivos. À semelhança do que havíamos referido para o activo também esta divisão, segundo a nossa perspectiva, poderá ser aplicada à contabilidade pública.

Partilhamos da opinião de Vela Bargues (1992), quando assinala que as definições apresentadas pelo IASB e pelo FASB podem ser aplicadas às organizações sem fins lucrativos desde que exceptuemos a possibilidade da conversão de um passivo em capital próprio, referida na estrutura conceptual do IASB35 (§62, alínea e)). A conversão da obrigação em capital próprio não tem aplicabilidade possível nas entidades sem fins lucrativos, na medida em que o seu capital (designado, em todos os planos de contabilidade pública, por património) não é constituído por participações sociais. Existe uma grande diferença entre o passivo de uma empresa e o de uma entidade não lucrativa, nomeadamente, no que concerne à relação passivo versus activo, uma vez que numa organização sem fins lucrativos, o passivo aparece garantido pelo activo o que não se verifica, nos mesmos moldes, numa entidade pública (Vela Bargues, 1992). Muitos dos activos das entidades públicas não podem ser vendidos ou dados como garantias reais para contratação de passivos,36 dado, na maioria dos casos, não pertencerem à organização em causa, mas às entidades que encerram a sua tutela (Vela Bargues, 1992). Relativamente às particularidades que caracterizam as entidades com e sem fins lucrativos, será conveniente, acrescentarmos uma outra ideia à de Vela Bargues - a origem dos passivos. Na estrutura conceptual de 1999, a AECA (§210) prevê, para além das aquisições de bens ou serviços a prazo e a obtenção de empréstimos, aspectos também contemplados pelo IASB e pelo FASB, como a origem de um passivo (ainda que de carácter excepcional) e a «redução de fundos próprios». Contudo, para a AECA (2001), esta origem não é contemplada o que revela algum avanço no domínio da contabilidade pública.

Deste modo, não é possível medir a capacidade de endividamento das entidades sem fins lucrativos contrapondo, como acontece nas empresas, activos e passivos. Assim, para aferir da capacidade de solvência das obrigações, das entidades sujeitas à aplicação da contabilidade pública, teremos de confrontar, como refere Vela Bargues (1992:222), “...a capacidade do

35 De acordo com o §62 da estrutura conceptual do IASB, a liquidação de uma obrigação real pode ocorrer de diversas maneiras, por exemplo:

a)pagamento em dinheiro; b)transferência de outros passivos; c)prestação de serviços;

d)substituição de uma obrigação com outra obrigação; ou e)conversão de uma obrigação para o capital próprio.

Estado no respeitante à arrecadação de impostos.” (que, como vimos aquando a definição de

activo, não aparece no balanço).

Segundo o IFAC (NICSP 1, §6), passivos são “…obrigações presentes da entidade

provenientes de acontecimentos passados, cuja liquidação se espera que resulte num exfluxo de recursos da entidade que incorporam benefícios económicos ou serviço potencial.”. De

acordo com este normativo, um passivo pode ser classificado em corrente e não corrente. Um passivo corrente é “...quando:

a) se espera que seja liquidado no curso normal do ciclo operacional da entidade; ou b) se vença para ser liquidado dentro de doze meses da data do relato.” (§83).

Os passivos que não se possam classificar como correntes designam-se por não correntes. Nos §s84 e 85 da NICSP 1 é ainda referido que “Alguns passivos correntes, tais como

transferências governamentais a pagar e acréscimos relativos a empregados e outros custos operacionais, fazem parte do fundo de maneio usado no ciclo operacional normal da entidade. Tais rubricas operacionais são classificadas como passivos correntes mesmo se se vencerem para serem liquidadas após mais de doze meses a partir da data de relato.”...“Outros passivos correntes não são liquidados como parte do ciclo operacional corrente, mas vencem-se para liquidação dentre de doze meses da data do relato. São exemplos a parcela corrente de passivos geradores de juro, os descobertos bancários, os dividendos a pagar, os impostos de rendimentos e outras contas a pagar não comerciais. Os passivos geradores de juros que proporcionam o financiamento de fundo maneio numa base de longo prazo, e que não se vençam para liquidação dentro de doze meses, são passivos não correntes.”. Este normativo acrescenta ainda que, uma entidade deve continuar a classificar

os seus passivos a longo prazo geradores de juro como não correntes, mesmo quando se vençam para serem liquidados dentro de doze meses da data de relato (NICSP 1, §86):

a) se o prazo original for superior a doze meses; b) se a entidade pretender refinanciar a obrigação; e

c) se essa intenção, suportada por um acordo, visar separar ou reescalonar pagamentos e se inclua antes das demonstrações financeiras.