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PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

4. A CONTABILIDADE PÚBLICA EM PORTUGAL

4.3. Os planos sectoriais públicos

4.3.1. POCAL

“A necessidade de um conhecimento exacto e total da composição do património autárquico exigiu o estabelecimento de um instrumento de enquadramento indispensável a um moderno sistema de contas paras as autarquias locais e que contemplasse as entidades da Administração Local.” (Carvalho e Monteiro, 2000). Para Antunes (2001), a adaptação do

POC aos organismos públicos em geral e às autarquias locais em particular, resultou da necessidade estrutural de modernização da Administração Pública.

Com a publicação do POCP veio estabelecer-se o instrumento de enquadramento indispensável a um moderno sistema de contas em toda a Administração Pública (POCAL, §6:2). Porém, é a Lei 42/98 de 6 de Agosto (Lei das Finanças Locais) que vem estabelecer, no seu art.º 6.º que:

“O regime relativo à contabilidade das autarquias locais visa a sua uniformização, normalização e simplificação, de modo a constituir um instrumento de gestão económico- financeiro, permitir o conhecimento completo do valor contabilístico do respectivo património, bem como a apreciação e julgamento do resultado anual da actividade autárquica.

A contabilidade das autarquias locais baseia-se no Plano Oficial de Contabilidade Pública, com as necessárias adaptações, podendo prever-se um sistema simplificado para as freguesias cujas contas não sejam obrigatoriamente submetidas a julgamento, em conformidade com a Lei de Organização e Processo do Tribunal de Contas.”.

Por sua vez o n.º 2 do art.º 5.º refere “No que respeita às autarquias locais, as normas e as

adaptações do Plano Oficial de Contabilidade...serão estabelecidas mediante decreto-lei”.

Aspecto que viria a concretizar-se com a publicação do POCAL.

O preâmbulo do POCAL, à semelhança do POCP (e, porque aquele se trata de uma adaptação deste), estabelece que o objectivo principal do plano é “…a criação de condições para a

integração consistente da contabilidade orçamental, patrimonial e de custos...que constitua um instrumento fundamental de apoio à gestão das autarquias locais.”. Na opinião de

Bernardes (2001), os objectivos fixados pelo POCAL acentuam a preocupação com a preparação e execução do orçamento, em termos de prestação de contas.

O POCAL aplica-se às autarquias locais, áreas metropolitanas, assembleias distritais, associações de freguesias e de municípios de direito público e às entidades que, por lei, estão sujeitas ao regime de contabilidade das autarquias locais (art.º 2.º)102.

102

Os serviços municipalizados, que vinham a aplicar o DL n.º 226/93 de 22 de Junho, passam, deste modo, a aplicar o POCAL conforme o disposto no art.º 12.º do POCAL.

No que diz respeito à prestação de contas103, o POCAL considera os seguintes documentos que as autarquias locais deverão remeter ao TC: balanço, demonstração de resultados, anexos às demonstrações financeiras, relatório de gestão, plano plurianual de investimentos e mapas de execução orçamental (ponto 2 - Considerações técnicas)104.

O presente plano no ponto 2.8.2.7 (alterado pela Lei n.º 162/99 de 14 de Setembro) prevê ainda, que para as autarquias locais cuja receita anual seja inferior a 5000 vezes o índice 100 da escala indiciária das carreiras do regime geral da função pública105 a disposição de um sistema simplificado de organização da contabilidade, ficando, deste modo, dispensadas da utilização do diário, do razão, de balancetes e do balanço. Para Bernardes (2001) o regime simplificado tem aplicação nas autarquias de «menor dimensão»106.

Relativamente, às contas de controlo orçamental e de ordem do POCAL, a estrutura-base do POCP sofreu alguns ajustamentos, nomeadamente, na eliminação de algumas subcontas, tais como, 0222-«Créditos especiais», 0223-«Dotações retidas», 024-«Duodécimos vencidos», 025-«Créditos disponíveis» e 033-«Reforços-Créditos especiais» e na introdução da subconta 03211-«Utilização do saldo de gerência».

Um dos aspectos diferenciais do POCAL relativamente ao POCP é o de considerar a classificação económica, a classificação funcional e a classificação orçamental e patrimonial (ponto 10). Na opinião de Pires Caiado (1999), a inclusão das referidas classificações no POCAL, constitui por um lado, “…uma inovação em matéria de apresentação das

informações proporcionadas pela contabilidade…” e, por outro “…um desafio aos preparadores das contas.”.

É introduzida no POCAL a conta 264-«Administração autárquica» em consequência, do ajustamento do quadro de contas às especificidades do sector. Esta conta permite contabilizar as relações estabelecidas, designadamente entre as autarquias locais e as associações de municípios e os serviços municipalizados (ponto 2.1).

O POCAL, ao contrário do POCP, faz referência aos princípios orçamentais, cuja observância é obrigatória na elaboração do orçamento e que devem ser igualmente respeitados sem qualquer modificação orçamental, designadamente o princípio da: independência, anualidade, unidade, universalidade, equilíbrio, especificação, não consignação e não compensação107

103 A este respeito ver a Resolução n.º 4/01 de 12 de Julho do TC. 104 Para uma análise mais detalhada ver Alexandre (2004).

105 O que corresponde a 1 585 800,00 €, conforme a Portaria n.º 42-A/05 de 17 de Janeiro em que fixa o índice 100 da escala salarial da carreira de regime geral, para o ano de 2005, em 317,16 €.

106 O PGCP prevê 3 regimes para administração local, a saber: básico, simplificado e normal. A afectação dos regimes enunciados depende do número de habitantes e do valor do orçamento das receitas.

(ponto 3.1). Relativamente aos princípios contabilísticos o POCAL define os mesmos que o POCP.

Um outro aspecto a realçar, é a fixação, pelo POCAL, de regras orçamentais referentes à previsão dos impostos, taxas e tarifas, transferências correntes e de capital, transferências financeiras, empréstimos e despesas com o pessoal (ponto 3.3 alterado pelo DL n.º 84-A/02 de 5 de Abril)108. Como assinala Bernardes (2001), existe uma preocupação central destas regras que é evitar um incrementalismo anual das despesas e o estabelecimento de equilíbrios artificiais dos orçamentos, mediante o empolamento das receitas.

O ponto 2.8.1 do POCAL, relativo ao sistema contabilístico, obriga as autarquias locais a elaborar e manterem actualizado “…o inventário de todos os bens, direitos e obrigações

constitutivos do seu património…” utilizando para tal os critérios valorimétricos definidos no

plano109 e no CIBE110. Segundo Monteiro (2000), a implementação do novo regime de contabilidade patrimonial a que as entidades públicas, e nomeadamente as autarquias locais, estão sujeitas permite a disponibilização de informação sobre a situação patrimonial de cada entidade pública.

O POCAL obriga à elaboração de um sistema de controlo interno (SCI) que abarque o plano de organização interno, políticas, métodos, técnicas e procedimentos de controlo ou outros procedimentos a definir superiormente (ponto 2.9.1). Com este sistema pretende-se assegurar designadamente, a legalidade e regularidade das operações, a execução dos planos e políticas superiormente definidos, a salvaguarda dos activos, a aprovação e o controlo dos documentos, a exactidão e integridade dos registos contabilísticos, a eficácia da gestão e a qualidade da informação (ponto 2.9.2)111. Carvalho e Monteiro (2000), num estudo, assinalam como finalidades do SCI as seguintes:

- garantir a eficiência operacional e a aderência às políticas, planos, normas instruções e regulamentos superiormente emanados;

- assegurar uma utilização económica e eficiente dos recursos; e

- garantir a confiança e fiabilidade contida nas demonstrações financeiras ou outras peças contabilísticas.

Os referidos autores acrescentam ainda, como resultado da investigação, que o SCI numa autarquia deve contemplar para além da óptica patrimonial, cujos procedimentos aparecem bastante detalhados no plano, também a óptica orçamental e a contabilidade de custos.

108 A este propósito refira-se que já se encontravam fixadas regras previsionais no art.º 9.º do DL n.º 226/93 de 22 de Junho. 109 A este respeito ver ponto 4.1 - Imobilizações do POCAL.

110

Portaria n.º 671/00 de 28 de Setembro.

Contrariamente ao POCP, o POCAL prevê a distribuição do resultado do exercício112 (ponto 2.7.3) conforme o estabelecido no POC. Contudo, somos de opinião que esta disposição não se aplica devidamente ao plano sectorial, na medida em que se nas entidades privadas há justificação válida para a criação de reservas (impedir que parte do resultado seja distribuído pelos sócios ou accionistas para servir de garantia aos credores) o mesmo já não se verifica nas entidades sem fins lucrativos. Deste modo corroboramos com a opinião de Carvalho et al. (2005) quando afirmam que os resultados líquidos devem ser levados a resultados transitados divididos em sub-contas pelos diferentes exercícios económicos. No POCAL está também previsto a constituição de provisões (ponto 2.7.1), contrariamente ao POCP.

As entidades que adoptam o presente plano de contabilidade são ainda, obrigadas a seguir uma contabilidade de custos “...no apuramento dos custos das funções e dos custos

subjacentes à fixação de tarifas e preços de bens e serviços.” (ponto 2.8.3.1). Por outro lado,

o ponto 2.2 explicita que “…embora não se apresente a demonstração de resultados por

funções, esta é de elaboração facultativa para as autarquias locais.”. O presente diploma

para além, de definir documentos mínimos obrigatórios para o sistema de contabilidade de custos define também, regras para esta contabilidade (ponto 2.8.3.6)113.