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CAPÍTULO 3 AS REPERCUSSÕES DO NEOLIBERALISMO

3.3 NEOLIBERALISMO E GLOBALIZAÇÃO

A globalização pode ser definida como a internacionalização das práticas capitalistas e conduz à construção de um intercâmbio sem fronteiras, seja de capitais, serviços, informações

221 GORDON, David. A Scholar in Defense of Freedom Disponível em:

<http://mises.org/content/mnrasidof.asp>. Acesso em: 15 mar. 2012.

222 BOUVIER, Michel. Introduction au droit fiscal general et à La théorie de l’impôt. Paris: LGDJ, 2007. p.

ou de pessoas. Tal contingência tem forte repercussão nas políticas estatais, o que contribui para a relativização das estruturas nacionais básicas. Entretanto, deve-se observar que ela não constitui fenômeno recente, pois esteve presente já nos antigos impérios, ensejando períodos de transformação econômica, cultural e jurídica.

Na era moderna, ganhou força pela interação entre a expansão da cartografia, o crescente domínio das técnicas de navegação pelos povos ibéricos e a evolução do conhecimento científico. Tais fatores conduziram a grandes descobertas: proporcionaram os projetos ultramarinos de Portugal e Espanha a partir do final do século XV; possibilitaram o surgimento de novas formas manufatureiras desenvolvidas em Florença, Milão, Veneza e outras cidades do Norte da Itália, no século XVI; e tornaram possível um sistema internacional de pagamentos baseado em letras de câmbio entre banqueiros e negociante.223

Essas conquistas proporcionaram o estabelecimento de rotas globais de comércio, a exploração sistemática do ouro e da prata das Américas, o surgimento de um grande e complexo processo de colonização e expansão territorial, a chegada dos europeus aos extremos da Ásia e a formação de estruturas decisórias compostas de capacidade organizacional para controle do meio social e político, no qual se realizava a acumulação de capital em escala mundial.224

Posteriormente, entre os séculos XVII e XVIII, os fluxos mundiais de comércio e riqueza conduziram ao surgimento de novos pólos de poder na Europa, com o fortalecimento econômico, social e político da burguesia; à formação de Estados nacionais e unificados e centralizados; ao início do mercantilismo; e à aplicação do colonialismo europeu.225

No ápice da hegemonia inglesa, entre o final do século XIX e o começo do século XX, o padrão-ouro possibilitou moedas automaticamente conversíveis e estimulou o estabelecimento de instituições destinadas a garantir o livre-câmbio e as inversões estrangeiras, aumentando a movimentação de matérias-primas, produtos acabados e semi- acabados, capitais e serviços sobre as fronteiras nacionais. Esse fenômeno despertou intenso debate sobre o alcance da interconexão das economias relevantes; sobre as consequências da internacionalização dos fatores de produção e a homogeneidade das estruturas capitalistas; sobre as novas formas de atuação do capital financeiro; e sobre as implicações políticas e sociais do imperialismo econômico e territorialista.226

223 FARIA, José Eduardo. O direito na economia globalizada. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 60. 224 Ibid.

225 Ibid. 226 Ibid.

Convém esclarecer que o padrão-ouro constituiu um sistema pelo qual o valor de uma moeda era definido em termos de ouro, a fim de que a moeda pudesse ser trocada. O sistema foi adotado pela maioria dos países no começo do século XX, em 1900, e suspenso durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1925, foi reintroduzido, mas entrou em colapso na crise econômica dos anos trinta.227

É importante assinalar que a Primeira Guerra Mundial (1914-1919) trouxe alterações nas relações monetárias internacionais. Os Estados passaram a buscar técnicas como manipulações monetárias, adoção de taxas de câmbio múltiplas, controles cambias e regulamentação do comércio exterior, acordos de compensação e pagamentos bilaterais, pois, nesse período, presenciou-se uma situação anárquica em face dos conflitos entre os Estados, do final do século XIX até as duas primeiras décadas do século XX.228

Já a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) trouxe a conscientização de que era necessário o desenvolvimento de uma cooperação internacional entre os Estados, permitindo- lhes realizar seus objetivos pela coordenação de políticas com os demais, para se atingir as expectativas comuns. Essa necessidade, por sua vez, acarretou um processo de institucionalização crescente da interdependência internacional – a globalização jurídica.229

Como parte específica da globalização do direito, as organizações internacionais concretizam esse processo de institucionalização da interdependência entre os Estados e se dividem em dois tipos: as organizações internacionais de integração regional e as de cooperação. Nesse sentido, é importante assinalar a diferença entre cooperação e coordenação de integração e solidariedade. A coordenação se estabelece na premissa de que os interesses nacionais são prevalentes sobre quaisquer outras considerações em todas as etapas, sendo a cooperação a maneira de promover as relações interestatais sob esse princípio. Por seu turno, a integração pressupõe o estabelecimento de um interesse comum entre dois ou mais Estados, realizando-se pela organização das relações estatais com base em uma atitude de solidariedade, fazendo prevalecer a proteção dos interesses comuns. 230

Deve-se observar que, após a Segunda Guerra Mundial, o mundo assistiu à proliferação de organizações internacionais de cooperação de caráter predominantemente técnico. Na seara econômica, em especial, consolidou-se a visão de que era preciso um arranjo institucional para se atingir o equilíbrio econômico, por três motivos: o fracasso das

227 GOLD STANDARD. In: THE OXFORD english reference dictionary. 2. ed. Oxford: Oxford University

Press, 1996, p. 600.

228 CARREAU, Dominique. Le fonds monétaire international. Paris: Librairie Armand Colin, 1970. p. 7. 229 MATIAS, Eduardo Felipe Pérez. A humanidade e suas fronteira: do Estado soberano à sociedade global.

São Paulo: Paz e Terra, 2005, p. 257.

políticas nacionalistas dos anos trinta; a posição dominante dos Estados Unidos, que permitiu o triunfo das ideias liberais nos atos internacionais que marcaram o princípio da reconstrução do pós-guerra; o convencimento dos Estados de que a perda de soberania decorrente da adesão a um pacto internacional era necessária para o equacionamento dos problemas monetários internacionais. 231

Em decorrência, por ocasião da conferência de Bretton Woods, foram criados o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, que começaram a funcionar em 1947. Ainda, segundo o acordo de Bretton Woods, as moedas dos países-membros passariam a estar ligadas ao dólar, e a moeda norte-americana estaria ligada ao ouro. Assim, a moeda norte-americana passou a ser a moeda forte do sistema financeiro mundial, e os países-membros utilizavam-na para financiar os seus desequilíbrios comerciais, minimizando custos de detenção de diversas moedas estrangeiras.

Sobre as instituições de cooperação, deve-se observar que o Banco Mundial foi idealizado como instrumento para auxiliar a reconstrução das economias europeias atingidas pela Segunda Guerra Mundial, mediante a concessão de empréstimos aos países inaptos a atrair capitais privados. No entanto, na prática, essa Instituição encontra-se direcionada para o crescimento econômico, intervindo nos países em desenvolvimento e financiando investimentos que permitam a elevação da produtividade, do nível de vida e das condições de trabalho da localidade. Ao FMI caberia zelar pela manutenção da estabilidade das taxas de câmbio e pela provisão de liquidez sempre que preciso, além de monitorar as políticas econômicas nacionais e fornecer mecanismos permanentes de consulta e colaboração em cooperação monetária internacional.232

Em 1971, porém, uma conferência realizada em Washington declarou que a paridade entre o dólar norte-americano e o ouro não seria mais mantida e que, com isso, a moeda passaria a oscilar nos mercados mundiais, a fim de conter a inflação, os desequilíbrios nas balanças de pagamento, os desempregos, entre outros males. Essa decisão ocasionou um período de incerteza monetária e, em decorrência, adveio uma alta geral dos preços, inclusive do petróleo.

A crise da década de setenta parece que teve como origem a mudança na estrutura dos preços relativos, invertendo-se o andamento das relações de troca entre matérias-primas e produtos manufaturados. Realmente, o acesso à independência política de vários países no

231 CARREAU, Dominique. Le fonds monétaire international. Paris: Librairie Armand Colin, 1970. p. 7. 232 MATIAS, Eduardo Felipe Pérez. A humanidade e suas fronteira: do Estado soberano à sociedade global.

decurso da década de sessenta conduziu a um mecanismo de reivindicação pela independência econômica. Isso criou uma condição de pressão da demanda sobre a oferta, e esta levou à inversão da tendência precedente e à melhoria das relações de troca para os produtos de matérias-primas.233

Além do mais, o aumento do custo de trabalho também pode ser apontado como causa da crise. E isso ocorreu pelo fato de que, em muitos países, chegou-se a condições próximas ao pleno emprego. Por essa razão, o poder contratual dos sindicatos operários foi reforçado, conduzindo ao aumento do custo do trabalho. Deve-se observar que referidas transformações, aliadas ao aumento do preço do petróleo e dos preços por ele induzidos, modificaram o cálculo econômico das empresas, que procuraram recuperar a competitividade, por meio do aumento de preços no mesmo patamar do aumento dos custos, e redimensionar a atividade produtiva reduzindo os investimentos, o que ocasionou os fenômenos recessivos. 234

Após 1973, houve o recrudescimento da instabilidade e da crise. A Era de Ouro (Os Trinta Gloriosos) se extinguiu no período de 1973-1975, o que levou à redução da produção industrial, nas chamadas economias desenvolvidas, no valor de 10% (dez por cento), em um ano, e do comércio internacional, em 13% (treze por cento). 235

Vale observar que os problemas que tinham fomentado a crítica ao capitalismo antes da guerra – e que a Era de Ouro conseguiu, em sua maior parte, excluir, como pobreza, desemprego em massa, miséria e instabilidade – reapareceram depois de 1973. O crescimento foi mais uma vez interrompido por várias depressões sérias, distintas das recessões menores, nos períodos de 1974-1975 e de 1980-1982. Na Europa Ocidental, o desemprego aumentou na década de setenta: de 1,5% (um vírgula cinco por cento), na década de sessenta, para 4,2% (quatro vírgula dois por cento). Em consequência, a presença de mendigos nas ruas passou a fazer parte do cotidiano dos países ricos e dos desenvolvidos.236

Deve-se notar que o reaparecimento dos miseráveis foi parte do aumento da desigualdade social e econômica nesse novo período. Assinale-se que essa situação adveio no exato momento que a quase instantânea elevação das rendas reais a que os trabalhadores tinham se habituado na Era de Ouro chegara ao fim. Os governos se viam impossibilitados de arcar com enormes pagamentos de benefícios sociais, que aumentavam mais rápido do que as

233 LUCIANI, Giacomo. A OPEP na economia internacional: 1973-1978. Encontros com a civilização

brasileira, n. 16, out. 1979, p. 28-29.

234 Ibid.

235 HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século xx: 1914-1991. Trad. Marcos Santarrita. São Paulo:

Companhia das Letras, 1995. p. 393.

rendas do Estado, em economias cujo crescimento era mais moroso do que antes de 1973.237 E, nesse contexto, os ideais do neoliberalismo ganharam reforço pela falta de capacidade de solução da crise pelas políticas econômicas convencionais.

Disserta Lewandovski que, a partir dos anos setenta, a mundialização – globalização – assumiu um prisma ideológico predominantemente neoliberal,238 o qual colocou os governos dos Estados à mercê do mercado mundial, ressaltando-se que, com o estabelecimento do domínio da economia transnacional sobre o mundo, a soberania estatal foi reduzida, e organizações que tinham como campo de ação os limites do território estatal tiveram perdas consideráveis – como sindicatos, parlamentos, sistemas públicos de rádio e televisão nacionais. Em contrapartida, organizações que não sofreram essas limitações tiveram ganhos – como as empresas transnacionais, o mercado de moeda internacional e os meios de comunicação da era do satélite. É relevante observar que, durante o auge do neoliberalismo, o Estado também perdeu expressão em razão da prática de desviar atividades exercidas por órgãos públicos para particulares.239

No mesmo sentido leciona Faria, para quem os setores vinculados ao sistema capitalista transnacional e em condições de atuar na chamada “economia-mundo”, exerceram pressão junto aos Estados, com o objetivo de melhorar e ampliar as condições de competitividade sistêmica, reivindicando a eliminação dos entraves que bloqueavam a abertura comercial, a desregulamentação dos mercados, a adoção de programas de desestatização, a flexibilização da legislação trabalhista e a implementação de outros projetos de deslegalização e de desconstitucionalização.240

Assim, para Ferreira, como uma das características do neoliberalismo, a globalização tornou-se um instrumento de divulgação e convencimento dos países para a implementação da teoria neoliberal, como modo de inserção destes no contexto internacional, no qual a visão de mercado predomina sobre o Estado. 241

Destarte, pode-se dizer que a globalização e o neoliberalismo se encontram interligados. Consoante afirma Santos, o neoliberalismo induz e mantém a globalização, que,

237 HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século xx: 1914-1991. Trad. Marcos Santarrita. São Paulo:

Companhia das Letras, 1995. p. 397.

238 LEWANDOWSKI, Enrique Ricardo. Globalização, regionalização e soberania. São Paulo: Juarez de

Oliveira, 2004. p. 59.

239 HOBSBAWM, op. cit., p. 413-414.

240 FARIA, José Eduardo. O direito na economia globalizada. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 25.

241 FERREIRA, Cloves Augusto Alves Cabral. Globalização e poder judiciário: os valores considerados na

reforma do Poder Judiciário no Brasil. Dissertação (Mestrado em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade Federal de Santa Catarina, 2005. p. 40.

por seu turno, sustenta a globalização social, política e cultural, transformando a ideologia neoliberal em pensamento interno, natural e hegemônico.242

Desse modo, as estruturas administrativa, política e jurídica do Estado-nação foram reformadas e redimensionadas por meio de processos de deslegalização e privatização pensados e justificados em nome da governabilidade, do equacionamento da crise fiscal, da adequação dos mecanismos de formação de preços e custos econômicos reais, da flexibilização das relações salariais, da captação de recursos externos para investimentos produtivos, do acesso a tecnologia e a novos produtos e processos, do aumento da produtividade industrial e da competitividade comercial e da inserção da economia nacional na economia transnacionalizada.243

Tal conjuntura repercutiu diretamente no sistema jurídico do Estado-nação, uma vez que a economia direciona suas decisões políticas e jurídicas. Desse modo, quanto à repercussão do fenômeno da globalização nas instituições jurídicas do Estado, adverte Faria que este, conquanto tenha continuado a legislar, teve sua influência de intervenção reduzida nessa atividade. Além disso, foi constrangido, muitas vezes, a compartilhar sua titularidade de iniciativa legislativa com outras forças externas ao âmbito nacional, ou seja, foi obrigado a considerar o contexto econômico-financeiro internacional.244

Mencione-se, a exemplo, os governos latino-americanos, que, precisando de capitais externos para estabilizar suas moedas, foram obrigados a desregulamentar seus mercados e a oferecer altas taxas de juros reais para atraí-los, ou seja, o Estado e suas instituições não poderiam interferir na autonomia de cada sistema, devendo tão-somente conduzi-lo a ouvir as diferentes pressões oriundas dos demais sistemas circundantes.

É de se observar também que os países periféricos foram os mais vulneráveis às exigências da doutrina neoliberal, veiculadas por meio da globalização, as quais foram transformadas pelas instituições financeiras multilaterais em condições para a renegociação da dívida externa mediante programas de ajustamento estrutural.245

Nesse sentido, Oliveira disserta que em 1989 realizou-se uma reunião em Washington, Estados Unidos, denominada de Latin American Adjustment: How Much Has

Happened?, promovida pelo Institute for International Economics, a qual visava elaborar um

programa de reformas econômicas para os países latino-americanos. Merece destaque um

242 SANTOS, Boaventura de Sousa. Os processos de globalização. In: SANTOS, B. S. (Org). A globalização e

as ciências sociais. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005. p. 31.

243 FARIA, José Eduardo. O direito na economia globalizada. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 37. 244 Ibid., p. 141; 144.

artigo do economista inglês John Williamson – responsável pela terminologia Consenso de Washington246 –, que desenvolveu um manual de política de ajustes para serem efetivados pelos países em desenvolvimento, em especial por aqueles que objetivavam obter ajuda financeira para retomar o crescimento.247

Nas lições de Williamson, o Consenso de Washington podia ser resumido nos seguintes pontos: redução dos défices orçamentários de modo a possibilitar financiamentos sem recorrer ao imposto inflacionário; redirecionamento dos gastos públicos de áreas de pouco retorno para campos negligenciados com possibilidade de altos retornos econômicos e com potencial para melhoria na distribuição de renda, a exemplo de educação, saúde e infraestrutura; reforma tributária; liberalização financeira, com o objetivo final de que as taxas de juros fossem estabelecidas pelo mercado; unificação da taxa de câmbio a um nível competitivo, para elevar as exportações não tradicionais; restrições comerciais quantitativas, para serem substituídas por tarifas que seriam reduzidas progressivamente até se atingir uma taxa uniforme de dez a vinte por cento; abolição de barreiras, para investimento estrangeiro direto; privatização de empresas; fim de regulamentações impeditivas de entrada de novas empresas ou restritivas de competição; provisão de direitos de propriedade, sobretudo para o setor informal.248

Assim, o Consenso e suas recomendações podiam ser divididos em três partes. A primeira referia-se às políticas macroeconômicas, sugerindo-se a austeridade fiscal e a disciplina monetária aos países captadores de recursos. A segunda propunha uma reformulação em nível microeconômico, com o escopo de aumentar a competitividade no

246 Consenso de Washington: reunião ocorrida na capital norte–americana, em novembro 1989, no International

Institute for Economy, com funcionários do governo dos EUA, dos organismos internacionais e com economistas latino-americanos, na qual foi sugerida um conjunto de reformas essenciais para que a América Latina superasse a crise econômica e retomasse o caminho do crescimento. A conclusão desse encontro passou a ser denominada, informalmente, como o Consenso de Washington, expressão atribuída ao economista inglês John Williamson. Constitui um conjunto de recomendações neoliberais para os países latino-americanos, adotadas pelo FMI, Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, governo de Washington e pelas principais instituições de pesquisa econômica localizadas naquela cidade, que podem ser sumariadas nos seguintes pontos:

• orçamento equilibrado e disciplina fiscal (i. e., combate aos défices públicos); • correção de preços relativos (especialmente, da taxa de juros e da taxa de câmbio); • liberalização do comércio e dos investimentos internacionais;

• privatização;

• desregulamentação dos mercados domésticos (i.e., remoção dos mecanismos de intervenção no livre funcionamento dos mercados que objetivam o controle, por exemplo, do mercado de trabalho, preços, importações, investimentos e das remessa de lucro);

• fortalecimento dos direitos de propriedade (por exemplo, da propriedade industrial e intelectual).

247 OLIVEIRA, Odete Maria de. Teorias Globais e suas revoluções: impérios de poder e modos de produção.

Ijuí: Unijui, 2005. v. 2. p. 207-208.

248 WILLIAMSON, John. Nossa agenda e o consenso de Washington. In: WILLIAMSON, John; KUCZYNSKI,

Pedro-Pablo (Orgs.). Depois do Consenso de Washington: retomando o crescimento e a reforma na América Latina. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 284.

mercado internacional, aberto e desregulado. Já a terceira ordem de recomendações relacionava-se à reestruturação do modelo de industrialização.249

Tais recomendações foram difundidas pelo FMI e pelo Banco Mundial, que passaram a condicionar a concessão de empréstimos financeiros à adoção de um ajuste estrutural interno em conformidade com as diretrizes neoliberais, quadro que repercutiu diretamente na América Latina e, em consequência, no Brasil. Logo, o país que pretendesse obter recursos junto às instituições internacionais de crédito teria a opção de celebrar um stand-by

arrangement – ou acordo de confirmação –, neste embutidas as condicionalidades,

consistentes na demonstração da intenção do tomador do capital de promover o equilíbrio de suas finanças mediante a implementação de ajustes estruturais.

CAPÍTULO 4 - O FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL E OS ACORDOS