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Por Antoine Yan Monory, publicado na revista “Flor das Águas”

O Tabaco é uma planta forte, considerada como uma "planta de poder" (ou relacionada com o uso de outras destas), de caráter mágica, originária das Ameríndias. No nosso mundo nativo americano, o Tabaco era e é usado de várias formas, seja fumado em cachimbo ou charuto, em forma de rapé, mastigado ou ingerido (seja para vomitórios de limpeza ou para outros fins), e até em forma de enemas (uma forma de absorção anal das plantas de poder que evita transtornos estomacais e digestivos, sendo que esta forma de uso já era praticada medicinalmente pelos próprios astecas). O livro de Pierre Chaumeil nos diz: "Presente em toda cura, a fumaça do tabaco é a panacéia da medicina tradicional ‘Yagua’".

Se utiliza a nicotina para destruir a "filaria" (Filariose ou Elefantíase, doença causada pelos parasitas nematóides Wuchereria bancrofti, Brugia malayi e Brugia timori, que se alojam nos vasos linfáticos causando linfedema) . O suco do tabaco é bebido puro ou misturado a outras substâncias enteógenas para produzir ou modificar o transe. Assim, dentro do mundo xamânico, ele tem um lugar importante, sendo um elemento de troca e ligação com o mundo sobrenatural, e presente em toda a sessão de cura deste gênero em alguns povos, seja fumado em charuto ou cachimbo. A fumaça é considerada, de modo geral, e particularmente a de tabaco, a "via" ou caminho pelos qual os espíritos, no sentido largo, se movem (a fumaça é associada a água, que é o caminho do povo d'agua, sendo esta o “Caminho das almas”, da mesma forma a fumaça é associada à Via Láctea e às nuvens). A fumaça do cachimbo é considerada, por muitas tribos (senão todas) e culturas primitivas como o "sustento divino" dos deuses e dos seres sobrenaturais, sendo seu alimento espiritual e essencial. É assim atribuído a mesma necessidade desta aos xamãs como a eles, tendo sido criado uma relação de interdependência entre os humanos e os seres espirituais. Nos Waraos, da Venezuela, a única planta enteógena usada pelos xamãs é o Tabaco. Eles fumam incessante quantidades para cumprir a promessa primordial feita aos deuses e como meio de comunicar-se e de viajar para outro mundo. São construídas com fumaça de Tabaco as casas espirituais que eles irão morar após a morte.

O Tabaco pertence a família das solanáceas, da qual pertence, por exemplo, a Beladona, sendo que existe até quarenta e cinco espécies. Os dois tipos, Tabacum e Rústica, são plantas híbridas criadas originalmente nas regiões dos Andes e espalhadas pelos dois continentes. O último tipo é o mais forte, é o tabaco próprio dos xamãs. Seria o sagrado "Peciél" da medicina asteca, e o antigo "Petum" do Brasil. No mundo primitivo antigo era totalmente desconhecido o uso do Tabaco pelo bel prazer. Se trata de um "enervante" ritual e muito sagrado.

Ao contrário das outras planntas psicodélicas pela maioria, o Tabaco tem um caráter aditivo psicológico, e até físico. O que é reconhecido pelas testemunhas indígenas, mas sendo um aliado primordial dos xamãs, e não se trata de uma adição em termos atualmente conhecidos em nossa sociedade. Ele é usado, às vezes, de forma parecida com a Coca, mastigado para aliviar a fome e o cansaço. É usado medicinalmente para também clarear as ideias e tirar a dor de cabeça. Ele é muito presente no mundo dos ayahuasqueiros, e até na própria preparação da Planta de Nicotiana tabacum

ayahuasca (lembremos o sentido do nome, o Vinho da Alma), são consagradas ou imantadas tanto a panela como cada camada de cipó e folhas com umas baforadas de fumaça.

Nos índios Huichols, no México, ele é associado ao uso do Peiote, sendo que, ao que parece, uma forma de purificação prévia. É igualmente queimado em forma de incenso como oferenda ou para defumação. E é também soprado aos quatro pontos cardeais em sessão xamânica. Lembremos do ritual do "Cachimbo da Paz", em que ele (ou outras plantas) é fumado ritualmente, passando o cachimbo de um a um, estabelecendo uma corrente harmonia e união entre os participantes. A própria preparação dos cachimbos pelos xamãs segue todo um ritual, e esta pode demorar muitos e muitos dias. É fabricado tanto pelas mulheres como pelos homens.

Sabemos que o famoso xamã "Mestre Irineu", às vezes, usava um charuto nas suas sessões, e devia ser especial. No mundo afrobrasileiro e na Umbanda ele é muito presente também, sendo a planta dos Pretos Velhos, que fumam em cachimbo, enquanto os caboclos de pena preferem os charutos, isto não sendo uma regra fixa. A fumaça é usada justamente nos passes, ajudando a efetuar as limpezas fluídicas de cargas negativas.

O ato de fumar, além de atuar como uma defumação, tem alguma função no próprio trabalho de incorporação da entidade, promovendo uma ligação com o plano astral (como pudemos ver anteriormente) e facilitando o assentimento da energia espiritual no médium, além de ser um objeto de referência da entidade neste trabalho. Isto não é uma regra, e o uso do tabaco não é necessariamente condizente com a mediunidade em sí, além de ser no caso o uso restrito a alguns tipos de entidades. Na verdade podemos reparar que o Tabaco traz com ele neste trabalho uma energia mais densa de alguma forma, mas pesada e de uma forte ligação com a terra, de "pés no chão" (e a cabeça no espaço, e assim lida adequadamente com energias mais pesadas... Lembremos da história da Helena Blavastsky, uma das fundadoras da Teosofia, que fumava cigarro para ficar em terra).

Bem a planta em sí é bonita, forte, de finas flores cor de rosa contrastando com uma certa aspereza das folhas; é justamente uma planta dos Pretos Velhos, e podemos tomar um banho destas se quisermos entrar em contato com esta energia, ou para outra finalidade. Porém não podemos usar o banho das folhas na cabeça, sendo as folhas mais de descarrego. É uma planta de proteção que afasta a cobra dos quintais aonde é plantada; da mesma forma que ela protege quando se anda na mata, além de repelir insetos (fumando).

Agora temos que diferenciar bem o uso dessa planta em rituais, ou de um uso moderado e/ ou para algum fim mais condizente com a espiritualidade em nossa vida do uso comum que se dá no mundo com os cigarros industrializados. O cigarro é feito, podemos dizer "de cara" para viciar e alimentar vício.

“O Espírito do Tabaco é um Grande Ancestral e muito respeitado por todas as pessoas que fazem uso dele no xamanismo”. (Anand)

Efeitos

A nicotina age sobre os receptores nicotínicos de acetilcolina, em pequenas quantidades estimula estes, o que causa uma libertação de adrenalina, emoção e em grandes quantidades bloqueia-os sendo esta a causa da sua toxicidade e eficácia como inseticida.

O seu efeito quando consumida como tabaco manifesta-se de duas maneiras distintas: tem um efeito estimulante e, após algumas tragadas profundas, tem efeito tranquilizante, bloqueando o stress. Seu uso causa dependência psíquica e física, provocando sensações desconfortáveis na abstinência. Em doses excessivas, é extremamente tóxica: provoca náuseas, dor de cabeça, vômitos, convulsão, paralisia e até a morte. A dose letal (LD50) é de apenas 0.5-1.0 mg/kg em adultos o que faz dela um veneno muito forte.

Na indústria, é obtida através de toda a planta Nicotiana tabacum, e é utilizada como um inseticida respiratório (na agricultura) sob a forma de sulfato de nicotina e vermífugo (na pecuária). Pode ainda ser convertido para o ácido nicotínico e, então, ser usado como suplemento alimentar.

Dados estatísticos indicam que há uma clara correlação entre o número de cigarros fumados diariamente e o risco de morte por câncer no pulmão e doenças cardiovasculares. De acordo com a American Cancer Society, "(...) mais pessoas morrem todos os dias por doenças relacionadas ao fumo do que por AIDS, álcool, acidentes de carro, incêndios, drogas, assassinatos e suicídios juntos." Numerosos estudos comprovam que o consumo de tabaco causa diversos males à saúde, mas, mesmo assim, todos os dias milhares de jovens e adolescentes começam seu caminho à dependência química da nicotina. Embora existam muitos centros de apoio à recuperação dos drogados (muitos mesmo na internet), e uma enorme campanha educativa para a prevenção ao vício, o número de fumantes não diminui com o passar dos anos. As pessoas assumem, conscientemente, o risco real de contrair inúmeros males, tanto pelo efeito de dependência criado pelo tabaco como por vontade própria.

Química

Nicotina é o nome de uma substância alcalóide básica, líquido de cor amarela com cheiro desagradável e venenoso, que constitui o princípio ativo do tabaco e foi utilizado em agrotóxicos, hoje temos os neocotineóides, moléculas que se assemelham a ele; provoca cancro nos pulmões devido à metilização que ocorre no DNA (liga um radical metila, CH3). A pirrolidina (nicotina) sofre reações metabólicas (com NO+), oxidação e abertura do anel transformando-se em 4-(n- metil-n-nitrosamino)-1-(3-piridil)-1-butanona (Cetona) e 4-(n-metil-n- nitrosamino)-4-(3-piridil)-butanal (Aldeído). O nitrosamino possui uma forma de ressonância onde um carbocátion é facilmente doado a uma base nitrogenada do DNA (guanina, citosina, adenina ou timina), causando uma falha de transcrição, levando à possibilidade de desenvolvimento do câncer.

A Nicotina no cérebro

No exemplar de 22 de setembro de 1995 da revista Science, pesquisadores do Columbia-Presbyterian Medical Center publicaram um artigo revelando o mecanismo de ação da nicotina no SNC.

Eles identificaram um novo receptor, chamado de receptor nicotínico, que leva esse nome por ser ativado pela nicotina. Este receptor, normalmente, ativa-se com acetilcolina, mas na presença de nicotina é ativado também por esta.

A nicotina induz a liberação do neurotransmissor glutamato, que é um neurotransmissor excitatório envolvido na plasticidade sináptica sendo esta uma das possíveis causas para o efeito da nicotina em melhorar a memória (normalmente não pela forma de tabaco, o que reduz a oxigenação cerebral). [1]

O vicio do tabaco é causado pelo aumento de dopamina nos circuitos de recompensa do cérebro tal como nas outras drogas viciantes, atualmente põe-se a hipótese que outros compostos no fumo do tabaco que não a nicotina sejam inibidores da Monoamina Oxidase(MAO), que é a enzima responsável pela degradação da dopamina no cérebro, incluindo no circuito de recompensa. [2]

Dois anos mais tarde, dois cientistas do National Institute of Environmental Health Sciences, em Washington D.C., descobriram que estes receptores, no hipocampo, estão associados aos processos de aprendizado e memória. Os cientistas também elaboraram um mecanismo molecular que pode ajudar a explicar algumas patologias, como algumas formas de epilepsia, doenças de Alzheimer e Parkinson, dependência de nicotina e depressão. Seu trabalho foi publicado, em 1997, no Journal of Physiology.

As ações da nicotina se fazem fundamentalmente através do sistema nervoso autônomo. Ocorre uma resposta bifásica, em geral com estímulo colinérgico inicial, seguido de antagonismo dependendo das doses empregadas. Pequenas doses de nicotina agem nos gânglios do sistema nervoso autônomo, inicialmente como estímulo à neurotransmissão e, subsequentemente, como depressor. O uso de altas doses de nicotina tem rápido efeito estimulante seguido de efeito depressor duradouro possivelmente tóxico.

Rapé

O rapé tem seu uso igualmente interessante. Dentro da tradição indígena, o seu uso enquanto psicodélico ativo é feito em alguns casos, ingerindo quantidade relativamente importante graças a tubos de ossos ou madeira, sendo que uma pessoa sopra nas narinas da outra, dando um efeito poderoso. É também misturado com outras plantas, e diferentes plantas psicoativas são usadas desta maneira nas culturas primitivas.

Os caboclos usam rapés para entrar na mata e

para se harmonizarem com os seres da floresta. Seu uso mais comum atualmente é o rapé simples, e o associado a outras plantas. Assim a receita amazônica popular contém muitos outros ingredientes como a Buchinha do Norte (sinusite), cravo, canela, cumaru-de-cheiro, copaíba, noz moscada e muitas outras. Cada um na verdade faz sua própria receita. Os ingredientes são torrados e faz-se um pó mais fino possível. Como podemos perceber o Tabaco é e sempre será um valioso instrumento de Poder e Cura para os males que assombram os seres humanos.

“O meu primeiro contato com o tabaco veio quando depois de ter feito um curso de Reiki Xamânico Ma´he´a, adquiri um cachimbo simples da Tribo dos Kariri Xocó. Comecei a usá-lo e quando menos percebi estava tendo um contato e um chamado muito forte para trabalhar e conhecer mais a fundo os poderes do mestre Tabaco. Hoje faço uso dele somente em rituais xamânicos porque percebi que seu uso contínuo acaba afastando as nossas intenções e causando um afastamento dos espíritos aliados. Um amigo que é xamã há anos uma vez me disse que quando recebemos visitas em nossa casa devemos oferecer o cachimbo para fortificar e honrar a nossa relação, e assim eu faço, às vezes, mais ainda, insisto em afirmar que o uso Ritual do Cachimbo o torna um objeto mágico religioso que

nos transfere poder e força quando necessitamos. Aprendi depois de muito contato e ensinamentos desse poderoso auxiliar que o seu uso deve ser com responsabilidade e dedicação constante”. (Anand Milan)

Logo fica a dica, um tanto difícil de ser seguida, mas como costumo respeitar as plantas, vou fazer ao máximo para aplicar isto ao Tabaco também. Gosto de fumar mas me preocupo com a saúde, logo são duas coisas que posso juntar, como gosto tanto, usarei como um enteógeno e não como a Souza cruz quer que eu use, até vou lhe falar uma coisa que nunca notei e após ler este texto. Caso você fume fumo de corda ou de saquinho, pegue um punhado e note o cheiro de terra que ele tem , hehe, já sentiu o cheiro de terra né?

PS: Nem fumo mais cigarro industrializado, só paeiro, mas ainda não foge disto.

Identificando

São ervas anuais ou perenes, arbustos ou plantas arborescentes, até 10 metros de altura (temos algo em torno de 65 espécies do gênero). Ramos e folhas com tricomas simples pluricelulares e tricomas glandulares, com cabeça uni ou pluricelular e, às vezes, ramificados.

Folhas simples, inteiras, helicoidais, glabras (parece que tem pelos) ou glanduloso pubescentes, sésseis ou pecioladas, decurrentes ou não, 2-100 cm de comprimento, formando uma roseta basal em algumas espécies.

Pecíolo menor do que o limbo, geralmente alado. Inflorescência racemosa ou paniculada terminal,brácteas solitárias associadas às flores.

Flores diclamídeas, gamopétalas, monoclinas, actinomorfas ou ligeiramente zigomorfas.

Cálice tubuloso, campanulado, poculiforme ou elíptico ovalado, pentafendido, geralmente persistente no fruto.

Corola infundibuliforme, tubular ou hipocrateriforme, 5-90 mm de comprimento, cinco lobos mais curtos ou do mesmo tamanho do que o tubo da corola.

Androceu com cinco estames iguais ou desiguais, epipétalos inseridos em diferentes alturas no tubo da corola; filetes retos ou curvados, geniculados na base ou não; anteras ditecas, dorsifixas, deiscência longitudinal. Gineceu com ovário súpero, bicarpelar, gamocarpelar e bilocular, polispérmico, placentação axial; estilete inteiro e filiforme; estigma capitado.

Nectário navicular, coloração variando entre amarelo, laranja e vermelho. Fruto cápsula septicida loculicida, 4-28 mm de comprimento, deiscência apical por duas valvas, cada uma destas bipartida no ápice.

Sementes pequenas, 0,4-1,3 mm de comprimento, numerosas, rotundo-elípticas, oblongo elípticas ou reniformes, superfície reticulado ondulada ou reticulado lisa; embrião reto ou levemente curvo.

No documento Psycodelia Tem Objetivos _ Chaves Do Universo (páginas 116-124)