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Os abades perpétuos de Pombeiro muito contribuíram também para o enriquecimento patrimonial do mosteiro. Frei António Meirelles, nas suas

Memórias do citado mosteiro, faz a enumeração destes abades, referindo

brevemente a actividade de cada um83. Também Frei Leão de S. Thomaz tem

um catálogo dos abades perpétuos do mosteiro com uma breve descrição do governo de cada abade84. Geraldo Coelho Dias atesta que durante o governo

do abade D. Martinho Peres (1289-1317), o quantitativo dos rendimentos 85

aumentou muito devido às doações do arcebispo de Braga, D. Martinho

Não se pode deixar de referir um episódio muito desagradável ocorrido neste mosteiro, sob o governo do abade Martinho, no ano de 1214. Segundo a bula pontifícia de Inocêncio III (28/ Julho/ 1214), um antigo cisterciense de nome Martinho obteve pelo poder de leigos o abadado desse mosteiro. Destruiu e delapidou os seus bens, tratava mal os monges e tinha costumes devassos, ao ponto de mandar enforcar um dos monges no claustro. Por

intervenção dos juízes nomeados pelo Papa, Mestre Vicente, deão de Lisboa, o prior e um cónego de S. Vicente de Fora, estabeleceu-se a concórdia, tendo sido vendido o escravo mouro que tinha servido de carrasco e tendo-se fixado

80 MEIRELLES - Memórias do mosteiro de Pombeiro, p.6; S. TOMÁS. Frei Leão de - Bénédictine L „ » , t . I I , c a p . r X , p . 5 4 ; FERNANDES, M.Antordno - F e /g ™ pp.85-86.

81 MEIRELLES - Memórias do mosteiro de Pombeiro, pp.75-111; S. TOMAS, Frei Leão de

BeZcnna Lusitana, t.II, cap.DC. pp.53-57; DIAS, Geraldo J.A. Coelho - O most.ro de Pombe.ro,

p.46; FERNANDES, M.Antonino - Felgueiras, p.86.

82 DIAS, Geraldo J.A Coelho - O mosteiro de Pombeiro, pp.46-47. 83 MEIRELLES -Memórias do mosteiro de Pombeiro, pp. 16-33.

84 S. TOMÁS, Frei Leão de - Benedictina Lusitana, t.II, cap.X, pp.71-73. 85 DIAS, Geraldo J.A Coelho - O mosteiro de Pombeiro, p.46.

o sustento dos monges. O que estaria na base desta questão era um problema de observâncias, resistindo os monges às modificações dos costumes e privilégios adquiridos86.

2.3. A decadência e a Reforma Monástica

2.3.1. A decadência monástica tardo-medieval

Na Baixa Idade Média deu-se uma degradação progressiva da instituição monástica beneditina. Em estreita relação com este acontecimento estava a recusa dos beneditinos de se deslocarem para sul; o voto de estabilidade ao seu mosteiro, que os tornava administradores da casa e não os

incentivava a visitas pastorais; a eleição do abade gerava disputas religiosas, políticas e sociais por parte dos patronos; desde o século XIII, especialmente a partir de 1290, instaurou-se a claustra, ou seja, a partilha dos bens do mosteiro entre a mesa abacial com dois terços, e a mesa conventual com um; a praga dos abades comendatários a partir do século XV; os impostos a que estavam obrigados os mosteiros, como o jantar, aposentadoria e pousada; a intervenção dos bispos nos assuntos internos dos mosteiros; os monges aproveitavam a sua condição de oratores para se dispensarem de trabalhos agrícolas e manuais, entregues a servos e rendeiros, mas eles, em contrapartida, não se entregavam ao trabalho intelectual nos scriptoria e nas escolas monásticas87.

Os mosteiros continuavam a funcionar mas os monges entregavam-se a uma vida sem motivações, numa degradação moral e espiritual.

O mosteiro de Pombeiro não escapou, infelizmente, à conjuntura da época. Na Baixa Idade Média, o mosteiro sofreu crises diversas e sujeitou-se a

86 MEIRELLES -Memórias do mosteiro de Pombeiro, pp. 14-15; MATTOSO, José -A vida reli ff osa dos

beneditinos portugueses durante o século XIII in Religião e Cultura pp. 168-170 ^tonada Igreja em Portusal dirigida por Fortunato de Almeida, Coimbra, Imprensa Académica, t.I, 1910 p.535.

*" DIAS 'Geraldo J.A Coelho - O mosteiro de Tibâes e a reforma dos beneditinos portugueses no século

XVI sep. «Revista de História», Porto, Centro de Históna da Umvers.dade do Porto, vol.XII 1993

pp.%-99. De futuro citaremos esta obra de forma abreviada: DIAS, Geraldo J.A. Coelho - O mosteiro de

problemas vários por culpa de abades pouco empenhados no governo dos bens e por falta de disciplina dos próprios monges.

A carta de visitação de 6 de Março de 1378 deixada no mosteiro pelos visitadores apostólicos D. Lourenço, bispo de Lamego e Vasco Domingues, chantre de Braga, deixa entrever o estado em que se encontrava o mosteiro.

Uma das prescrições impostas pelos visitadores foi cortar imediatamente com o abuso do abade de reduzir as rações dos monges; outra foi obrigar que se respeitassem os privilégios do convento, ou seja, do prior e dos monges, que se fizesse tocar para o ofício nocturno e que se nomeasse um porteiro com a função expressa de impedir a entrada de mulheres na clausura; outra das insistências dos visitadores foi que se praticasse a confissão e comunhão mensais. As trangressões da Regra verificavam-se também no que diz respeito ao refeitório, dormitório e enfermaria. Os visitadores proibiam ainda o amanho da terra a título individual ou privado, pois concorria para eliminar o espírito da vida em comunidade .

Esta situação tornou-se ainda pior com o aparecimento da praga dos abades comendatários, que contribuíram para a ruína do mosteiro, preocupados apenas com o seu bem estar pessoal e delapidando os bens do mosteiro. Foram as comendas a principal causa da decadência dos séculos XV e XVI89. E, tal como diz Frei António Meirelles, o mosteiro de Pombeiro

perseverou na observância regular até à invasão dos comendatários «os quais

disfrutando todos, nenhum reparava os edifícios primeiros, em que a pesada mão do tempo ostentava seu poder, até que no fim do governo do senhor D. António [...] se arruinou o mosteiro de maneira que os monges destituídos de todas as oficinas necessárias n'uma Caza Regular, vivião em choupanas

térreas cubertas de colmo, próximas à igreja para acudirem ao Coro, e altar, no qual com desprezo da Religião faltavão, não digo alfaias, e paramentos

88 MARQUES, José -A arquidiocese de Braga, pp.644-645; MARQUES, José - O espado dos mosteiros

beneditinos da arquidiocese de Braga no século XT, sep. «Bracara Augusta», Braga. vol. XXXV

fase 79 (92) 1981 pp 20-21. Situações semelhantes a esta repetiram-se, infelizmente, num grande n L c r o de mosteiros; L deles foi o de Santo Tirso, e dos seu estado dá-nos conta a carta de visitação ao mosteiro de 1437, in MARQUES, José - Aspectos da vida interna do mosteiro de Santo Tirso, segundo a

visitação de 1437, separata das Actas do Colóquio de História Local e Regional, Santo Tirso, 1979

" D I A S , Geraldo j X Coelho - O mosteiro de Pombeiro, p.47; SCHMITZ, Philibert - Histoire de

preciozos [...], sim os ornamentos da primeira necessidade para celebrar com

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mediana decência o tremendo sacrifício dos nossos altares» .

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Os comendatários terão começado em Pombeiro por volta de 1427 , quando D. João I deu as rendas do mosteiro ao franciscano D. Frei Amaro. Contam-se doze abades comendatários de Pombeiro, incluindo S. Carlos Borromeo de que não há memória no cartório, tendo sido o último D. António,

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