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O QUOTIDIANO DOS MONGES DE POMBEIRO 624 Estrutura das horas canónicas e outras

J S Bento de Aniane

O QUOTIDIANO DOS MONGES DE POMBEIRO 624 Estrutura das horas canónicas e outras

actividades ligadas ao ofício

Trina oratio (Pai-Nosso, Avé Maria e Credo)

15 salmos graduais Matinas

Matinas e Laudes a Nossa Senhora (ofício menor de Nossa Senhora), a todos os santos e aos defuntos

orações diversas

procissão ao altar do Crucifixo525

Outras actividades do quotidiano monástico

Levantar

Três salmos Uma lição orações finais

Prima do ofício menor de Nossa Senhora e seus salmos familiares

7 salmos penitenciais

ladainhas e orações a Nossa Senhora

Regresso ao dormitório se ainda não houver luz do dia. Ao surgir da aurora, levantam-se, lavam as mãos e regressam à igreja

Trocar os sapatos de noite pelos de dia

524 - Eslc esquema tem em conta o horário de Verão dos monges e foi estabelecido segundo o Costumeiro de Pombeiro e a obra de Fre. Leão de S. Thomaz, Benedtctina

Lusitana t 11 cap X § 1 p 57 No Costumeiro de Pombeiro nâo há referências explícitas ao trabalho manual, o que acentua ainda anus a dedicação quase exclusiva dos monges negros ao Oficio Divino, por oposição aos cistercienses que valorizam mais esse trabalho manual, de acordo com o espírito da Regra, cujos pólos fundamentais do espírito beneditino eram ora et labora. . , , , , . . „

5:5 É de assinalar aqui estas duas notas da espiritualidade Mariana e da Paixão. A devoção a Nossa Senhora e à Paixão do Senhor são constantes do ritual litúrgico

Depois de PRIMA Capítulo:

obrigatória a presença de toda a comunidade, incluindo crianças e doentes

1a parte - litúrgica e de edificação (recitação

de algumas orações, leitura de um capítulo da

Regra e seu comentário, ou duma passagem

do Evangelho)

2a parte - administração do temporal do

mosteiro (todos os oficiais dão conta de assuntos respeitantes à comunidade) 3a parte - disciplinar

Depois de PRIMA

Missa matinal c. 9h00 TERCIA Salmos e orações

Tércia a Nossa Senhora e seus salmos familiares

c. 9h00

Depois de TÉRCIA Missa maior

12h00 SEXTA Salmos e orações

Sexta de Nossa Senhora e seus salmos familiares

12h00

Depois de SEXTA Almoço:

2 pratos de alimentos cozidos (peixe e carne de aves)

1 prato de legumes e/ ou fruta pão

vinho 12h00

Depois de SEXTA

período de leitura, descanso ou conversação

c.15h00 NOA Salmos e orações

Sexta de Nossa Senhora e seus salmos familiares

Depois de NOA Bebida a meio da tarde c.17hOO VÉSPERAS 19 salmos

orações pelos defuntos Vésperas

Salmos e orações

Vésperas de Nossa Senhora e seus salmos familiares

Lava-pés (mandatum fratrum) c.17hOO

Depois de VÉSPERAS

Jantar (refeição mais leve que a primeira) c.17hOO

Depois de VÉSPERAS

Período de leitura em voz alta no coro c.19h30 COMPLETAS Salmos e orações

Completas de Nossa Senhora 20hOO Depois de

COMPLETAS

Deitar.

3.4.7. A educação das crianças

Para atingir os conhecimentos necessários de latim e de música, de cômputo e de exegese, os monges tiveram da garantir eles mesmos o ensino criando escolas, pelo menos para as necessidades internas. Estavam, portanto, encarregados da educação dos meninos, tanto dos que no mosteiro quisessem professar como daqueles que apenas queriam adquirir uma formação cultural junto dos monges. Segundo os Estatutos de Lanfranco, que reflectiam a prática da época, as crianças eram educadas no claustro e só faziam a sua profissão quando atingissem a idade da adolescência (caps.CV e CIX). De igual modo, os cluniacenses tinham as suas crianças em grande consideração. A sua educação estava a cargo dos magistrí

puerorum, que nunca deveriam ser menos de dois em cada casa. Estas

crianças tinham lições onde lhes ensinavam a escrever, a 1er, a salmodia e, sem dúvida, alguns rudimentos das ciências profanas.

Os monges ensinavam às crianças as primeiras letras, tanto mais que elas tinham uma função primordial no culto divino526. Ao mesmo tempo, os

meninos aprendiam a 1er e a escrever, o que facilitava o conhecimento das letras. Passava-se, então, ao estudo do saltério, livro de leitura e que ao mesmo tempo se decorava. Aprendia-se depois a cantar, decorando melodias que serviam de padrão. Este ensino elementar compreendia ainda o cálculo, com a ajuda dos dedos e de pedras ou marcas.

O mosteiro, tendo em conta as suas necessidades internas, via-se obrigado a formar um escriba, que tinha de aperfeiçoar os seus conhecimentos de latim. Os meninos começavam então a compreender o significado das palavras latinas, passando depois para o estudo da gramática. Finalmente, as crianças aprendiam alguma coisa de prosódia, para conhecerem os acentos e as pausas. Neste estudo, a recitação do ofício divino e o canto sagrado eram indispensáveis para os meninos se

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habituarem a conhecer a acentuação .

5:6 Costumeiro. ff.6v, 9v. 12v, 40v. 44r. 45v. etc. „ , , -0 527 MATTOSO José -A cultura monástica em Portugal (875-1200) in Religião e Cultura, pp.358- 366- VALOUS Guv de - Le monachisme clunisien. pp.303-306: GARCIA Y GARCIA Antonio -

Derecho canónico y vida cotidiana en el medioevo. sep. «Revista Portuguesa de História», t. XXIV.

Segundo o Costumeiro de Pombeiro, as aulas começavam depois de se levantarem, cerca das seis da manhã, rezavam-se os três salmos matinais e terminavam antes do ofício de Prima528. À tarde, e a seguir ao almoço,

depois da hora de Noa (cerca das quatro da tarde), até Vésperas: «Postea

(Nona) vadant in refectoríum deinde sedeant post refectionem in claustro et vacent lectioni cantentque et scríbant et gramatici exeant légère usquequo sonetur ad Vésperas»529. O armarius verificava, então, se as crianças

estavam suficientemente preparadas para participarem activamente nos ofícios solenes {«Unus ex magistris infantum déférât librum ad locum ubi sunt

dicente lectiones in node ante quam accédant ad collacionem. Et sciendum quod abscultande sunt prius ab armário tan infantum quam fratrum quamvis boni clerici sint super infantes summo mane post Terciam très psalmos recitatos vel post Primam si tempus fuerite ).

As crianças estão sempre acompanhadas dos seus mestres, que as educam tanto no ofício divino como na sua instrução em geral531. Assim, o ensino

intelectual era completado pela preparação moral e monástica: na Quinta- feira Santa, os meninos também lavavam os pés aos pobres e davam-lhes esmola532; tomavam parte no capítulo dos monges e tinham reuniões

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capitulares com os seus mestres .

3.4.8. Os doentes e os mais velhos

Quanto aos irmãos doentes diz assim a Regra: «Antes de tudo e acima de tudo deve tratar-se dos enfermos de modo que se lhes sirva como verdadeiramente ao Cristo» (RB, cap.XXXVI, 1). Estabelece ainda que haja uma divisão própria para eles e um irmão encarregado de os tratar (cap.XXXVI, 7). Aos enfermos é ainda permitido o consumo de carne, para o

5:8 Costumeiro, f.l2v. 5:9 Costumeiro. f.50r/v. 530 Costumeiro. f.99v.

531 Costumeiro. ff.44r. 45v. 47v. 54v. 55r, etc. 53: Costumeiro. ff.45v, 46r.

533 Quanto aos outros costumeiros com que se vem estabelecendo comparação, ver

seu mais rápido estabelecimento (cap.XXXVI, 9). Os mais velhos sejam tratados com misericórdia, e no que diz respeito aos alimentos não seja mantido com eles o rigor da Regra (RB, cap.XXXVII, 1-2).

Estar doente é abstrair-se e excluir-se por um tempo da vida em comunidade, essência da vida monástica. Um irmão que se começa a sentir doente pede para intervir no capítulo e expõe o que sente. Recebe a ordem de se afastar do coro para se poder sentar onde quiser, e o celerário assegura que ele não saia do refeitório sem receber a pitância. Ao fim de dois ou três dias, se a sua saúde não melhorar, o prior convida-o a dirigir-se à domus infirmorum (Costum., f.11r). Nos dois ou três dias seguintes, se o seu estado permanece estacionário, o prior vai vê-lo à horas das refeições, levando-lhe carne e obrigando-o a comer. A partir deste momento não entra no capítulo, mas ouve à porta a leitura do evangelho e da passagem da

Regra; não assiste ao capítulo das culpas; nas duas missas conventuais

(matinal e maior) vem à igreja, mas na missa maior fica apenas até depois do evangelho. Em caso de agravamento da doença, o monge ao sentir aproximar-se o seu fim manda chamar o abade ou o prior para se confessar e receber a extrema-unção. Todos os irmãos se despedem dele, incluindo as crianças, junto do seu leito. Nos últimos momentos está sempre acompanhado pelo monge encarregado dos doentes ou pelos seus ajudantes, para que a sua morte não passe desapercebida. Enquanto está

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moribundo acorre todo o convento para recitar as últimas orações .

O Costumeiro de Pombeiro determina que se os doentes estiverem na cama não lhes será imposta a Regra535; os doentes podem comer a horas

C'y?

diferentes536; os doentes devem assistir ao capítulo da véspera de Natal ;

os doentes, na missa maior, depois de ouvirem a homília sobre o evangelho podem-se retirar para a enfermaria538; os doentes terminais - «extremum

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