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J S Bento de Aniane

541 apenas ao evangelho «Vai, vende os teus bens, dá-os aos pobres» ,

3.4.11. O Código Penal

3.4.12.1. O vestuário

É uma vez mais pela Regra de S. Bento que se orientam os monges quanto ao vestuário. Segundo esta mesma regra, para os monges das

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regiões de temperatura mediana são suficientes uma cogula e uma túnica597 para cada um, a cogula felpuda no Inverno, fina ou mais usada no

Verão, e um escapulário598 para o trabalho; para os pés meias e calçado.

592 S THOMAZ Frei Leão de - Benedictina Lusitana, t. II, cap. X, § III. pp.61-62.

593 Consuetudines Farfenses, lib. II, XIV, XV in ALBERS, Bruno - Consuetudines monasticae. vol. I.

594 Decreta Lanjranci, caps. 99-101 in Corpus consuetudinum monasticarum. t. III. pp.81-85; Decreta

Lanfranci. cap. XVI, in PL. t. CL. col.497-500.

595 Consuetudines Hirsaugienses, lib. I, LVII. lib. II, cap. IV-VIII m PL. t. CL. col. 987-988. 1042-

***JÀ cogula era uma veste exterior, espécie de manto muito amplo com grande capuz (cucullus)». A Regra de S. Bento. 2' ed., Singeverga. 1992. p. 158.

597 «A túnica era uma veste comprida, ampla e com mangas». .4 Regra de S. Bento, i ea.

^ O ^ S p u l ^ c n i e nada ou muito pouco tem de comum com o que hoje designamos por este nome. era uma espécie de faixa, que enrolada em volta do pescoço, se vinha a cruzar no peito e nas

Basta, porém, ao monge ter duas cogulas e duas túnicas, para a noite e para poder lavá-las. As peças que guarneciam o leito consistiam em uma esteira, uma colcha, um cobertor e uma almofada. Era ainda o abade que fornecia,

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além da cogula e túnica, das meias e do calçado, o cinto e o lenço, entre outros objectos de uso pessoal (RB, cap. LV). O que importa para S. Bento é a simplicidade e que os monges se contentem com o suficente. Só em viagem aos monges eram cedidas túnicas e cogulas melhores e calças, o que mostra uma certa preocupação pela higiene e pelo decoro.

As peças de roupa de vestir menciondas por S. Bento não correspondem totalmente às usadas depois nos mosteiros; se bem que os seus nomes não tenham mudado, o significado é por vezes diferente; além de que o número de peças por monges tornou-se maior e mais variado. A túnica de lã era a peça mais importante, aliás, insubstituível. Tinha mangas e vestia-se directamente sobre o corpo; a prendê-la tinha um cinto, para nunca andar solta. A cogula consistia originalmente num simples capuz que cobria a cabeça e o pescoço ou parte dos ombros. Mais tarde adquiriu várias formas ao unir-se com outras peças do vestuário. A cogula, da regra beneditina, era talvez um manto semicircular fechado, muito largo, provido de um capuz. Constituía a peça de roupa exterior do monge, como o prova o facto de ter dois, um para o Inverno outro para o Verão. O escapulário é muito discutível. Tratar-se-ia de um modelo reduzido de cogula, ou uma cogula particularmente ligeira, adaptada ao trabalho manual, e que caía pela frente e pelas costas. Quanto ao calçado, os pedules seriam uma espécie de meias que cobriam os pés, e eventualmente as pernas. Os caligae seriam os sapatos, espécie de sandálias que protegiam a planta dos pés e que se

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segurariam por uma correia atada a perna

O Costumeiro de Pombeiro tem também algumas referências ao vestuário dos monges, nomeadamente ao usado durante os ofícios litúrgicos e ainda ao usado habitualmente. Aparecem com bastante frequência as

costas, e se atava à cinta, a fim de apertar e de ajustar ao corpo a ampla túnica flutuante e facilitar assim os movimentos». A Regra de S. Bento. T ed. Singeverga. 1992. p. 158.

599 «O termo bracile, usado por S. Bento, designa um cinto muito largo, espécie de faixa. que. ao

mesmo tempo que servia para ajustar as vestes ao corpo, fazia também as vezes de bolsos». A Regra de S. Bento, 2* ed, Singeverga, 1992. p. 158.

referências às capas601 e albas602, à casula603, à dalmática604, à infula605, à

estola606, ao báculo607, à mitra608, ao pálio609 e às vestes sacerdotais610 e

vestes em geral611. O Costumeiro refere-se ainda às túnicas612 e cogulas

{flocus613) e ao manto614, ao calcado dos monges (calciamenta615), aos

diurnales616 e nocturnales617 e aos pedules618.

O Ordo Cluniacensis prevê que cada monge tenha duas túnicas e duas cogulas, dois pares de calções com meias, dois pares de sandálias, um forrado para o Inverno e outro sem forro para o Verão, dois pares de sapatos, três mantos, um dos quais seja gonela, um gorro forrado e cinco pares de meias619. Por esta descrição podemos ver que os monges

beneditinos medievais eram dotados de muitas mais peças de vestuário do que as inicialmente previstas pela Regra. E esta descrição não é única, segundo as Constituições de Uldarico o vestuário do monge cluniacense era muito semelhante ao acima descrito pelo Ordo Cluniacensis 620. Também as

Constituições de Farfa determinam quais as vestes dos frades e qual o seu

tamanho621! Ainda relativamente ao vestuário dos monges se referem as

601 Costumeiro, ff.8v, 9r, 9v, etc. 602 Costumeiro, ff.6r, 9v, lOv, etc. 603 Costumeiro, ff.99r, lOlr. 604 Costumeiro, ff.llr, 12v, etc. 605 Costumeiro, ff.94v, 96r, 98v. 606 Costumeiro, ff.30v, 34v, 41r, etc. 607 Costumeiro, ff.95r, 96r. 608 Costumeiro, ff.95r, 96r. 609 Costumeiro, ff.37v, 46r, etc. 6X0 Costumeiro, f.lOOr. 611 Costumeiro, ff.45v, 96r, etc. 612 Costumeiro, ff.llr, 12v, 45r, etc. 613 Costumeiro, ff.34v, 47v, 95r, etc. 6,4 Costumeiro, f.34r. 615 Costumeiro, ff.50r, 50v.

616 Costumeiro. ff.lOv, 33r, 34v, etc. 617 Costumeiro. ff.38v, 44r.

618 Costumeiro. f.77r.

619 «Unusquisque fratrum habere potest regulariter et pro consuetudine generali primo sunt duo

frocci [túnicas], et duae cucuilae [cogulas], duae staminae. duo paria femoralium [calções com

meias] et duo calceorum cum corrigia [sandálias], unum per calceorum nocturnalium cum filtronibus

ad hvemem et aliud par sine filtro ad aestivas noctes; dua paria caligarum [sapatos], tna pelhaa

[manto capa] vel una pro tercio gonella, cappellum de pelíibus [gorro forrado], aumque pana

pedulum [meias], bracile lineum quo femoralia succinguntur, corrigia cervina» (Ordo Cluniacensis.

lib. I.cap. V.p.146).

620 VALOUS, Guy de - Le monachisme clunisien, p.246: também sobre o vestuário dos monges. pp.229-246.

Constituições de Hirsau, quando e como devem ser usadas as roupas dos

monges622, e as Constituições de Fruttuaría, no capítulo relativo ao

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camaranus .

Para a celebração do ofício havia paramentos próprios: os clérigos vestiam alva comprida, casula, amicto e estola. Branca e até aos pés, a alva manteve-se invariável em forma do século XIII ao século XV. A casula do século XII assemelha-se mais a um manto. Nos séculos XIII e XIV surgiu um novo tipo de casula, fendida de ambos os lados e com corte diferente nas costas e à frente. Os diáconos e os bispos envergavam dalmáticas, cuja forma durante a Idade Média variou apenas no tipo das mangas: muito curtas no século XII, compridas na centúria seguinte, voltando a subir no século XIV. O calçado obedecia mais ou menos à moda da época, com pontas mais ou menos acentuadas. Mitra, báculo, cruz, capa, etc., não se distanciavam muito das formas actuais624. Os sínodos medievais portugueses não se

cansam de legislar sobre o vestuário dos clérigos, pois a compostura exterior era considerada como um espelho da pureza da alma e de grandeza espiritual. O canon 16 do IV Concílio de Latrão (1215) trata do vestuário do clero, do uso da tonsura, do calçado, das capas mais ou menos longas, dos freios, selas e peitorais dourados nas montadas, do uso de anéis, de fibulas e de outros objectos de ouro. Era esta legislação que os sínodos portugueses mandavam observar durante os séculos XIII, XIV e XV. Por exemplo, o sínodo de Lisboa de 1240 proíbe que os clérigos usem capas com mangas largas, obriga-os a usar tonsura e não admite o uso de alvas

coe

com ornatos supérfluos

622 Consuetuãnes Hirsaugienses, lib. I, XLIV in PL, t. CL, col. 975-976.

623 Consuetuãnes Fructuariensis, Ordo de oboedientiis II, cap. XXII in Corpus consuetudinum

monasticarum, L XII, vol. II, pp.246-247.

624 MARQUES. AH. de Oliveira - .-1 sociedade medieval portuguesa. Lisboa. Sa da Costa. IV»/. p. 166. , . . 625 PEREIRA, Isaías da Rosa - .-1 vida do clero e o ensino da doutrina cnstã através dos sínodos

medievais portugueses (sécs. XIII-W. sep. «Lusitânia Sacra». 10 (1978). p.112; Lisboa - Sínodo de

1240 in Sy-nodicon Hispanum, dir. Garcia y Garcia, vol. II - Portugal Madrid Biblioteca de Autores Cristianos. 1982, pp.285-297.

3.4.12.2. A higiene

Podem-se acrescentar aqui alguns pormenores da higiene dos monges, particularmente referidos no Costumeiro de Pombeiro. Os monges dormiam com os seus hábitos, e quando se levantavam para o ofício da noite não faziam toilette, ou seja, não se lavavam nem penteavam626, só a faziam

quando mudavam para os sapatos de dia (diurnales), antes da hora de Tércia. Então iam ao lavatório627, onde havia uma luz628, lavavam as mãos e

a cara e penteavam o cabelo629. Depois de Sexta iam descansar um pouco

no dormitório, e quando se levantavam lavavam as mãos e a cara e penteavam o cabelo630. Tinham ainda o hábito de lavar os pés depois da

hora de Noa631. Os monges também lavavam e cuidavam da propriedade

comum do mosteiro, lavando as mesas e objectos do refeitório {«tabule

refectorii lavari debent a singulis elemosinahis et vasa et iusticie et cifi a

quibusdam ex rogatu refectorarii»632), limpando o dormitório («In isto die

(sabbato ante dominicam ramis palmarum) et in omnibus sabbatis usque in kalendis octobris dormitorium mundetur et aqua aspergatur de super» ), e a

igreja {«In his ergo vigiliis (principales solempnitates) ecclesia pnus a sacristis

mundetur a sordibus»634).

As Constituições de Hirsau têm um capítulo que determina quando e

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onde devem os monges lavar as suas roupas

626 Costumeiro, f.lv

627 Costumeiro, ff.34v, 47r, 54v. etc. 628 Costumeiro, f.95v.

629 Costumeiro, ff.44r, 54v, Ir, 10 Ir. 630 Costumeiro, ff.9v, 41v.

631 Costumeiro, ff.35r, 35v, 50v. 632 Costumeiro, f.34r.

633 Costumeiro, f.40v. 634 Costumeiro, f.94v.

635 Consuetudines Hirsaugienses. lib. I. XLVI in PL. t. CL. col. 977. «Si quid ei placuent de panms

suis lavari, quod consuetudinaliter potest facere in coquina regulari, ad hoc solum invent caldanum, in quo calefiat aqua, et temperetur lixivium; in claustrum vero truncum amplissimum cum plensque intervallis cavatum, ut hic stamineum, ibi femoralia lavari possint separatim. Quae et ante capitulum mittit in aquam calidam, ut mollescant; post tabulae percussionem lavât, et non diutius [...]. Si vero est quadragésima et dies privata, post capitulum et post sextam lavât, etiamsi non loquamur m claustro. Ouidquid autem lavât, quoquo modo sit lavatum, post hora lavandi aufert et siccat; ne jaceat ita ~sordidum et torridum ante óculos fratrum de refectorio exeuntium».

Neste capítulo pode-se ainda acrescentar dois dos hábitos mais frequentes dos monges: a rasura e o sanguine minutio. Quanto ao primeiro, os monges eram obrigados a usar tonsura e cortavam o cabelo e a barba de quinze em quinze dias («a quindecim in quindecim diebus vos debemus radere», f.100r), além de certos dias do ano em que estava estabelecido esse costume (f.100r). A este costume referem-se também o Ordo

Cluniacensis636, os Costumes de Farfa637, os Decreta Lanfrancf38, as

Constituições de Hirsau639 e os Costumes de Fruttuaria640. O hábito da

sangria era muito frequente entre os monges, que o praticavam tanto com um espírito de sacrifício, como para se sentirem bem consigo próprios. No

Costumeiro as referências a esta prática aparecem com uma certa

frequência641. Este hábito é ainda previsto pelos Decreta Lanfrancf42 e pelas

Constituições de Hirsau643, os Costumes de Fruttuaria prevêem que a cura da

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sangria seja feita pelo refectoranus .