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Renovação artística da igreja e do mosteiro

102 estacas de pereiros, 121 vides e 11 enxertos»

2.4.1. Renovação artística da igreja e do mosteiro

No período de mudanças e de recuperação das normas de conduta

monástica que se seguiu à reforma da Ordem, levada a cabo pela Congregação dos Monges Negros, impunha-se também uma alteração e recuperação do traçado da igreja e do mosteiro. As alterações realizadas deram origem a um magestoso conjunto arquitectónico, digno «de hua See Cathedral»105. Assim, foi derrubado o antigo edifício e, no seu lugar, começou-

se a erigir um novo templo e novos claustros. Estas alterações começaram no triénio do abade Frei Bento da Ascensão (1719-1721) e duraram até 1725, originando a igreja actual. De anos posteriores datam acrescentos e embelezamentos à estrutura base: de 1744 a 1746 alargamento da capela-mor e um retábulo novo com a imagem de Santa Maria; de 1748 as duas torres; de

103 DIAS Geraldo J.A Coelho - O murteiro de Pombeiro, pp.49-50.

104 FELGUEIRAS, Fátima - Pombeiro m «Felgueiras - Cidade», Felgueiras, Pelouro da Cultura da

Câmara Municipal de Felgueiras, ano 2, n°5, Setembro, 1994, p.47. los s xoMÁS, Frei Leão de - Benedictina Lusitana, t.II, cap.XI, p.77.

1767 a 1795 Frei José de Santo António Ferreira Vilaça enriquecia a igreja e o mosteiro com as suas magníficas obras de talha e escultura (o retábulo-mor 1770/ 73; os retábulos laterais 1774/ 77 e 1777/ 80; os púlpitos 1776/ 77; entre outras106); de 1780 datam os azulejos do claustro representando cenas

bíblicas107.

No ano de 1726, Francisco Xavier de Sena Craesbeeck dá-nos uma descrição de como se encontrava o mosteiro à época: «Na entrada do mosteiro

fica um grande terreiro [...]. Este terreiro tem um magestoso cruzeiro no principio e parte do Norte; e no mesmo terreiro se achão três capellas dos

Passos, que fabrica a Confraria do Senhor. Fica o mosteiro a Sul neste terreiro [...]. A igreja que lhe fica contígua com a capella-mór ao Nascente [...]. Tem o mosteiro 3 escadas: huma em roda da portaria; outra de dous lanços, que vem do refeitório; e outra que vem da ante-sachristia: todas com magestade e grandeza. Tem 4 dormitórios em quadro: hum para o Nascente, outro para o Sul, outro para o Poente e outro para o Norte, que cobre o corpo da igreja; mas sobre a portaria lhe deixa hum grande salão com 5 janellas de sacada com suas grades de ferro. Sobre tudo não só hão os dormitórios altos, mas outro debaixo; e por baixo deste, todas as oficinas com grandeza, com hum grande reffeitorio e casa de capitulo; e o claustro com 7 janellas por cada banda com suas grades de ferro, e com 16 columnas também por cada banda muito groças, inteirissas e de pedra fina com seos capiteis muito bem feito tudo; e de alto cada columna 15 palmos; e o claustro em quadra 42 varas e de largo desde a parede athe as columnas 18 palmos. No meio está um magestoso

chafariz108 de três taças e no alto de huma banda =1702= e na que lhe

corresponde as armas da religião, e nas outras duas das ilhargas, em cada, huma comenda da Ordem de Christo. A cerca é toda murada e grande com hum ribeiro, que lhe passa peito meio, e nella todo o regalto de vinhas,

pomares, ortas, campos e terra de pam» 109

106 FERREIRA ALVES Natália Marinho - Um caso único da talha efectuada por Frei António Vilaça, in «Felgueiras - Cidade», Felgueiras, Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Felgueiras, Ano 2, n°5, Setembro 1994, p.53.

107 DIAS, Geraldo J.A Coelho - O mosteiro de Pombeiro, p.49. 108 Vendido a particulares no inicio da Republica.

109 Francisco Xavier de Sena Craesbeeck - Memórias ressuscitadas da Província d'Entre Doiro e Minho,

Frei Leão de S. Thomaz também se refere à igreja do mosteiro. Na primeira metade do século XVII a igreja «he grande & fermosa, & representa a

magestade de huma See Cathedral. Sobre a porta principal tem hum espelho grande, & fermoso, que terá em circuito de nouenta até cem palmos: & por remate da parede tem hum Leão rompente. [...] Defronte da porta principal estaua huma Galilé de três naues muy altas, & fermosa toda de abobada, & esquadria na qual estauâo por ordem abertas todas as armas da nobresa antiga de Portugal [...]. Toda esta fabrica com as injurias do tempo veyo ao chão, & se perdeo esta grandesa particular de Pombeiro»"0.

Hoje pode-se admirar a frontaria da igreja, simples e elegante, ostentando ao centro «uma rosácea, bela e grandiosa, que liga as duas altas

torres quadrangulares, e forma uma abóboda de arco abatido, ao fundo do qual se abre a porta principal. Esta porta é constituída por seis arcos seguidos, concêntricos e ornamentados, que assentam sobre capitéis coríntios. De cada lado do patamar um túmulo com a estátua de um cavaleiro, deitado de costas, sobre a tampa. Um destes túmulos tem um escudo brasonado com cinco flores de lis; o outro um escudo com cinco palas. Do lado exterior da porta, uma

sepultura que tem gravada, na tampa, uma espada, o contorno já sumido de um escudo brasonado, uma inscrição de caracteres tão gastos que mal se lê a palavra "comitis" e a data de 1260 (que corresponde a 1222 da era cristã); julga-se que tenha sido a sepultura de qualquer conde dos primitivos Sousas,

padroeiros do velho mosteiro111. O interior da igreja, dividido em três naves por

editada por Edições Carvalhos de Basto, Ponte de Lima, 1992). A transcrição acima atada encontra-se em FERNANDES. Antonino - Felgueiras, pp. 131-133. Esta descrição de Craesbeeck e muito semelhante à que faz Frei Leão de S. Thomaz na sua Benedictina Lusitana, cap.XI, pp.77-78: «Todo o mais Mosteyro, & oficinas delle se fizerão de nouo do tempo da reformação pêra ca. Tem três dormitórios em quadro, hum com as janellas pêra o Oriente, outro pêra o meyo dia, o terceiro pêra o Poente com cellas altas, & baixas. Da parte do Norte o fica emparedando a Igreja. Aos lados da porta principal delia se fiserão duas torres, em que estão os sinos, & relógio, todas de cantaria, muy bem lauradas com seus curucheos, & remates, obra muy perfeita; e como tal custou muytos mil cruzados; e serve de grande ornato para a entrada da Igreja. Tem huma Claustra muy grande, & comprida, de colunas muy grossas, & no andar de cima de galaria por respeito dos temporaes; Em hum lanço do mesmo Claustro tem hum refeitório muy bem acabado, & seu Capitulo. Tem também huma Sancnstia noua muy bastante, & ornada com painéis perfeitos, & bem acabados. Tem huma antesancnstia obra de magestade Tem huma cerca grande. & famosa toda de pedra, & cal, & dentro tem %inha, pomares, hortas, campos, & terras de pão, & hum ribeiro de agoa pello meyo, que as faz mais fructifères e fecundas».

1.0 S TOMÁS, Frei Leão de - Benedictina Lusitana, t.ll, cap.XI, p.77.

elegante arcaria, talvez do primitivo templo, não tem a ornamentação dos capitéis de pedra, que os frades mandaram cortar e substituir por outra, de madeira, no estilo coríntio. Junto do cruzeiro, um pequeno zimbório abre janelas em toda a volta, sobre a nave central. A capela-mor, com a sua tribuna, é magestosa; os altares, os púlpitos e o coro são e/eganfes»112. Na igreja é de

destacar o precioso conjunto de talha barroca da autoria de Frei António Vilaça, a que já nos referimos mais acima, e o monumental órgão de tubos. Junto da entrada para a sacristia pode-se hoje ver, sob a parede actual em parte destruída, vestígios de antigas colunas e arcos românicos, com frescos originais. A sacristia dava acesso ao coro e comunicava com os dormitórios do convento e galerias do claustro, hoje desmantelado, só com uma ala de colunas e azulejos partidos113.