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Normas gerais e abstratas, individuais e concretas

Capítulo 1. Propedêutica geral

1.3. Norma jurídica

1.3.5. Normas gerais e abstratas, individuais e concretas

As normas jurídicas podem ser classificadas em gerais e abstratas, gerais e concretas, individuais e abstratas e individuais e concretas. Essa classificação tem como justificativa facilitar a vida do intérprete na identificação de características que assumem as normas, sendo homogêneas no seu plano sintático, mas heterogêneas no seu plano semântico.

TÁREK MOUSSALLEM, ao comentar essa classificação, apontou diferença existente entre essas normas. Considerou que a norma será abstrata ou concreta quando analisada do prisma do antecedente. Os atributos geral e individual apontam para a análise do conseqüente normativo.28

Entendemos que a diferença existente na classificação adotada está no fato de que, na norma geral, o sujeito passivo é indeterminado; já na individual, o sujeito passivo ou ativo é determinado.

A diferença entre a abstrata e a concreta está na conotação do fato jurídico no antecedente da norma, do prisma empírico, pois não se pode falar que na norma abstrata há a presença do fato jurídico, mas apenas uma conotação do mesmo.

A norma será abstrata quando houver apenas “a indicação de classes com as notas que um acontecimento precisa ter para ser considerado fato jurídico (no antecedente), implicando a indicação de classes com as notas que uma relação tem de ter para ser considerada como relação jurídica (no conseqüente)”.29

A norma será concreta quando houver efetivamente a subsunção do conceito fato ao conceito norma, passando da posição de fato do mundo fenomênico para o mundo da linguagem do direito. Com isso, esse fato traduzido em linguagem jurídica assume, no antecedente normativo, a figura de um enunciado denotativo.

28 Fontes do direito tributário, p. 103.

Em breve síntese, podemos afirmar que a norma geral e abstrata possui antecedente normativo com descritor hipotético de uma classe de eventos de possível ocorrência, e com conseqüente normativo amplo, que atinge pessoas indeterminadas, possuidoras de condições de serem sujeitos de direitos e obrigações.

Por norma individual e concreta, entendemos aquela que vincula antecedente realizado em um determinado tempo e espaço, sendo fato passado, com conseqüente individualizado, em que se identificam os sujeitos da relação jurídica.

PAULO DE BARROS CARVALHO entende que “costuma-se referir a generalidade e a individualidade da norma ao quadro de seus destinatários: geral, aquela que se dirige a um conjunto de sujeitos indeterminados quanto ao número; individual, a que se volta a certo indivíduo ou a grupo identificado de pessoas. Já abstração e a concretude dizem respeito ao modo como se toma o fato descrito no antecedente. A tipificação de um conjunto de fatos realiza uma previsão abstrata, ao passo que a conduta especificada no espaço e no tempo dá caráter concreto ao comando normativo”.30

NORBERTO BOBBIO ensina que há nas proposições prescritivas dois elementos constitutivos e imprescindíveis: o sujeito a quem a norma se dirige e o objeto da prescrição, que é a ação prescrita. As normas gerais são as universais em relação aos destinatários, e as abstratas são universais em relação à ação. As normas individuais são as que possuem destinatário individualizado; já nas concretas o que é individualizada é a ação.31

Nesses termos, podemos trazer exemplos de normas para melhor visualizar a classificação adotada. As normas gerais e abstratas são a maior parte das leis, a regra de isenção, a regra-matriz de incidência,32 a regra de imunidade, a regra de competência etc.

30 Idem, ibidem, p. 33.

31 Teoria da norma jurídica, p. 178-181.

32 Expressão criada por Paulo de Barros Carvalho, referindo-se à norma tributária em sentido estrito, classificada

como geral e abstrata, formada por um antecedente e um conseqüente com elementos mínimos, com a mesma estrutura sintática inerente a toda norma jurídica.

As normas gerais e concretas são os veículos introdutores de normas, que inserem outras normas no sistema jurídico, sendo geral por atingir pessoas indeterminadas, e concreta por ter sido o fato traduzido em linguagem competente, especifico no tempo e no espaço.

Entendemos por veículos introdutores as normas jurídicas que introduzem outras normas no sistema jurídico, consideradas por alguns juristas como fontes formais de direito.

PAULO DE BARROS CARVALHO destaca a importância dos veículos introdutores, considerando que a norma só é inserida no sistema jurídico por uma outra norma de mesma ou maior hierarquia. Daí o fato de as normas andarem aos pares (uma introdutora e uma introduzida).

O jurista citado considera ainda que os veículos introdutores podem ser classificados em primários e secundários. Os primários são os únicos a promover o ingresso de regras inaugurais no sistema jurídico. Os secundários, por sua vez, não possuem capacidade de alterar as estruturas do mundo do direito positivo, o que implica uma hierarquia própria do sistema jurídico traduzida na impossibilidade de se alterarem leis, medidas provisórias, decretos legislativos, por meio de instruções normativas, portarias, decretos etc.

Com razão, os juristas TÁREK MOUSSALLEM33e EURICO DE SANTI34

descrevem que essa classificação é insuficiente para abarcar o amplo espectro da fenomenologia das fontes do direito tributário, isso porque o critério da “utilidade” utilizado nessa classificação é inaplicável, pois as classificações jurídicas apontam em dois planos, o da validade e invalidade para o Direito Positivo, e o da verdade ou falsidade para a Ciência do Direito.

A crítica é construtiva, haja vista que não foram contempladas nessa classificação as normas jurídicas individuais e concretas produzidas pelo Poder Judiciário e as normas gerais e

33 Fontes do direito tributário, p. 188.

34 SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Análise crítica das definições e classificações jurídicas como instrumentos

abstratas produzidas pelo Poder Executivo, que são importantes decisões a serem analisadas no presente estudo, quando tratarmos da aplicação do princípio da seletividade tributária.

Nesse sentido, adotaremos a classificação utilizada por TÁREK MOUSSALLEM, que especifica os veículos introdutores de normas em: (1) veículo introdutor-legislativo; (2) veículo introdutor-judiciário; (3) veículo introdutor-executivo; e (4) veículo introdutor- particular.35

Esse autor considerou como veículos introdutores-legislativos as normas concretas e gerais expedidas pelo Poder Legislativo, como a Constituição Federal, as emendas constitucionais, as leis, os decretos legislativos e as resoluções do Senado.

Os veículos introdutores-executivos são as normas concretas e gerais expedidas pelo Poder Executivo, como a lei delegada, a medida provisória, o decreto regulamentar, as instruções ministeriais, as circulares, as portarias, o lançamento de ofício etc.

Os veículos introdutores-judiciários são as normas gerais e concretas expedidas pelo Poder Judiciário, como as decisões interlocutórias, as sentenças e os acórdãos dos tribunais.

Por fim, os veículos introdutores-particulares são as normas concretas e gerais expedidas pelos particulares, como o polêmico “lançamento por homologação”.

De volta às normas individuais e abstratas, podemos exemplificá-las como as regras que tratam de benefícios fiscais de ICMS concedidos aos contribuintes localizados em determinado Estado da Federação. Caso a empresa se instale nesse Estado e atenda ás exigências legais, então o ente político deverá conceder aquele benefício fiscal ao contribuinte.

Por fim, como exemplo de normas individuais e concretas, têm-se decisões (decisão, sentença ou acórdão) expedidas pelos magistrados, em que se aplica o direito ao caso concreto, atingindo pessoas determinadas, constituindo ou desconstituindo relações jurídicas

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entre sujeitos de direitos e obrigações, com a descrição no antecedente dessa norma de um fato jurídico já traduzido em linguagem competente. Outros exemplos podem ser trazidos, como o lançamento tributário, os contratos, as declarações fiscais feitas pelos contribuintes etc.

Como bem assevera PAULO DE BARROS CARVALHO, no direito posto, há uma grande tendência de as normas gerais e abstratas concentrarem-se em escalões mais altos, surgindo as outras normas à medida que o direito vai-se positivando.

Entretanto, isso não quer dizer que se trata de uma hierarquia rígida. O exemplo maior de que essa hierarquia se inverte está nas decisões prolatadas pelo Supremo Tribunal Federal, em que por meio da expedição de norma individual e concreta (via controle difuso) ou geral e concreta (via controle concentrado em sede liminar) pode-se afastar a incidência de norma geral e abstrata prevista na Constituição Federal.